Artigo da leitora Diva Rosa de Brito: 'Tem gente que olha e não vê'.

Artigo de Diva Rosa: ‘Tem gente que olha e  não vê’

20160718_113249_resized_4 (Copy)
O homem se chama Joel. Nasceu em Avaré, mas faz uns 10 anos que reside em Itapetininga.
Conta que trabalhou na Construtora Tardelli.
Hoje, vive na Praça Paulo Soares Hungria, no Atenas do Sul,conhecida como a Praça do R., com muito verde,casas bonitas  e por acha o bairro seguro.
Deu-me permissão para fotografá-lo e narrar parte de sua história.
Outro dia um PM me disse que o Joel é gente boa, conversa bem, não usa droga. As vezes se nega a comer e já foi internado por desnutrição grave.Foi então, que tomei coragem para  falar com ele, discretamente, respeitando seus direitos.
Disse-me que tem uma proposta de trabalho para daqui a 60 dias.Talvez tenha mesmo ou achou melhor se justificar, temendo que eu fosse tentar encaminhá-lo a algum lugar.
Eu soube  pelos PMs, que certa pessoa do bairro, quis lhe dar todo o apoio para tirá-lo da rua, mas Joel preferiu ficar ali.
Notei na sua mão direita, um lápis surrado, no qual escrevia.Disse que copiava trechos de jornal e revistas que ganhava.Foi ai que tive a idéia,  para quem  daria o excesso de papéis que empoeiravam  na minha sala.
Corri para casa, catando o que pude e enchi  uma sacola de revistas. Junto, foi um exemplar do Novo Testamento, que achei que poderia ajudá-lo caso precisasse.
Imaginei que o pobre há tempos não saboreava uma fruta saborosa, por isso inclui no kit, bananas e bolachas.
Seu sorriso de agradecimento deixou à mostra suas falhas de dentes amarelados.
Ao lado do banco que senta, noto restos de uma kentinha fria  e uma garrafa d’agua.Isso tudo me fez recordar da música dos Titãs,  “Comida”, que diz assim:”A gente não só quer comida, a gente quer comida, diversão e arte.”Hora o vejo, hora não,  mas suas sacolas, cobertores , pendurados no galho da árvore,  são  sinais de que não se foi ainda.
Hoje um varredor que o conhece disse-me que o problema dele foi uma desilusão amorosa.
Sua bagagem deve ser o pouco que restou de um passado distante e breve.

Na minha vida profissional, nunca encontrei alguém semelhante . Me impressionou sua fisionomia, calada, catatonica.Quando ouvi sua voz, a coerencia do seu falar, fiquei muito feliz.Sua imaginem carregarei eternamente.

Diva Rosa de Brito
Itapetininga, 01/08//2016