UM BOM ARTIGO SOBRE O ATENTADO AO JORNAL CHARLIE
Atendendo a pedido de leitor, reprodução de um texto de Rosa Guerreiro
Os muçulmanos vieram à Franca porque chamados a trabalhar nas grandes fabricas montadoras de automóveis durante as “30 glorieuses” na França. Nos anos 70, iniciou-se a politica do reagrupamento familiar, construíram-se edifícios horrendos nos subúrbios, começou um fenômeno de “ghetoisazao”, o trabalho industrial foi minguando, a crise instalou-se de maneira durável. é o que vivemos. Hoje, os jovens já são franceses enquanto seus pais e avos ainda pensavam em retornar para o”bled”, as cidadezinhas de onde eram oriundos sobretudo da Argélia. Essa juventude tomou vários caminhos, pois diferentemente do que se pensa, muitos puderam aproveitar o sistema francês de ensino e se tornaram personalidades em diversos campos, inclusive, no Charlie, trabalhavam muçulmanos. Outros, de fato, ficaram em ambientes desfavorecidos e com o tempo, se sentiram marginalizados, psicologicamente fragilizados.
Nosso mundo moderno, globalizado, “virtualizado” foi paradoxalmente uma ferramenta para eles acessarem essas imagens violentíssimas do Jihad que ao mesmo tempo, lhes oferecia uma “nova fraternidade” na “Umma” comunidade só deles, com suas regras de vida e alimentando em mentes frágeis o sentimento de pode virar herói, de assumir uma “identidade” que para eles, era-lhes negada pelo “Ocidente”. Esse ocidente que lhes acolheu e bem ou mal, tentou integra-los, como conseguiu fazer com os inúmeros asiáticos franceses. Então, os “cartoons” só são a ponta de um iceberg, a pergunta que não quer calar é que modelo de integração com politicas inovadoras pode-se conceber para que essa radicalização seque?
Ai esta o grande desafio tanto da Franca como da Europa e dos Estados Unidos. Cada um terá um resposta em função da realidade que enfrentam. A primeira resposta é acabar com essa expansão do EI que é um verdadeiro chamariz para jovens europeus muçulmanos e convertidos, estes às vezes os piores. Segundo: repressão é importante, é poder antecipar, escrutar onde e como estes grupos se movem para que não haja negligências. Mas terceiro: informação e educação, tanto dos imas que têm um papel predominante em guiarem os jovens muçulmanos para que se tornem cidadãos e não assassinos, sobretudo em nome da sua religião mal compreendida e usada para aniquilar inocentes, na Europa mas sobretudo no próprio mundo muçulmano (incluo aqui a Nigéria com forte maioria muçulmana) onde minorias cristas de todas denominações, Yezidis e também ateus são chacinados, mulheres estupradas.
Poderia dizer muito mais como historiadora das religiões, tendo visitado subúrbios “quentes” nos arredores de Paris. Veremos como a situação evolui. Estou no Rio, mas se estivesse em Paris seria uma pequena Charlie desfilando junto com amigos e colegas e bradando: isto nunca mais.
E aqui da praia, do meu posto, gargalhando “in petto”, pois como disse : rir é o melhor remédio, esses selvagens “no pasaran”…
ROSA GUERREIRO”