O leitor escreve: 'Teatro, ame-o ou deixe-o'

João Gabriel Frehley – Teatro, ame-o ou deixe-o

 

Teatro é brasa, é calor. E o ator é o carvão, que sem pudores ou limites, se queima, desfaz- se e se liquida: o carvão arde pelo fogo e o ator pela arte. O carvão só arde uma vez, o ator arde infinitas vezes, e cada vez tem de ser mais quente e mais brilhante que outrora. O carvão faz o fogo, o ator faz a arte. O fogo faz fumaça, o ator faz aplausos. A fumaça existe porque o fogo existe, mas o fogo existiria muito bem sem a fumaça. A fumaça entorpece, não menos que os aplausos. O aplauso é o ópio do ator.
Teatro também é paixão e (ar)dor, só quem já o fez sabe como são os espasmos de tirar uma outra pessoa de dentro das suas mais profundas e intrínsecas vísceras.

Teatro é esforço, suor, tremor, é noite sem dormir, é estudo e dedicação árdua. É fúria e violência. É tempestade, terremoto e maré. É desgraça. Teatro é mergulho, inserção.

Teatro é o rufar dos corações, é afogar em lágrimas, é ensurdecer-se de risos. Teatro é sobre todas as coisas, intensidade.
E caso não saiba lidar, ou não concorde com tantas definições e óbices, saia: ou espere ser arremessado para fora pelo mesmo, feito um corpo estranho expelido por um organismo.

Teatro, ame-o ou deixe-o.