Apelo das entranhas
Cláudia Lundgren: Poema ‘Apelo das entranhas’
Meu silêncio ensurdecedor ecoa em minha mente;
ouço o apelo das palavras não ditas, dos gritos tolhidos,
dia e noite, tentando me convencer desesperadamente,
com chantagens inaudíveis, do meu interior, a expeli-los.
São segredos que guardo cativos nas cadeias da minh‘alma
e que hoje clamam, veementes, para que eu erga a aldraba.
Respostas que desejei vomitar, no ímpeto do furor,
retornam à garganta, flamejando-me tal qual tórrida brasa.
Meu silêncio desperta-me da inércia e do sono
e as vozes interiores suplicam por socorro,
enquanto as águas do rio correm tranquilas
e os meus lábios, feitos túmulos, nenhuma palavra anuncia.
Pobre de mim: um ser reservado com alma frenética!
Tapo os ouvidos; não ouço os apelos das minhas entranhas
querendo expor ao mundo as angústias morféticas,
meus medos secretos e os mais lúgubres dramas.
Meu sangue correndo nas veias, brados estridentes;
bacia hidrográfica que deságua no meu coração.
‘Tum-tum’ – quer ‘dar com a língua nos dentes’
revelar os mistérios; difamação.
Engulo o choro: com ele me engasgo; a tristeza alimento;
por não ter falado o que eu deveria em certos momentos.
E nesses instantes ouço alaridos, meu eu se revolta;
mas minha boca, uma moça covarde, de atadura, se envolta.
Cláudia Lundgren
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