Artigo de Celso Lungaretti: ''DILMA SAI DO ALVORADA PARA ENTRAR NA REALIDADE PARALELA'
Celso Lungaretti: “ME DIGA AGORA/ O QUE É QUE EU DIGO AO POVO/ O QUE É QUE TEM DE NOVO/ PRA DEIXAR?/ NÃO/ FOI TUDO ESCRITO EM VÃO/ E EU LHE PEÇO PERDÃO/ MAS NÃO VOU LASTIMAR!” (“O VELHO”, CHICO BUARQUE)
Não sou vaidoso, prefiro o barbeiro a 50 metros da minha casa do que qualquer cabeleireiro masculino chique, que me faria perder tempo no trajeto e cobraria os olhos da cara.
E foi ele, o Adriano, quem me garantiu: “O olhar da Dilma é de quem tem problemas mentais”. Desfiou uma série de episódios noticiados que comprovariam sua tese.
Já o Rui Martins, velho guerreiro do jornalismo, a vê como uma pessoa que paira numa realidade paralela e ignora olimpicamente tudo que contrarie suas convicções. Teve o azar de qualificar tal estado de autismo, como outros comentaristas políticos já haviam feito, mas sobre ele desabou uma tempestade de e-mails indignados, como consequência da ação concertada de um desses grupos de pressão que pululam na internet.
O paralelo foi mesmo infeliz, mas o coitado do Rui não merecia ser tratado com tamanha contundência, como se fosse um traficante, um pedófilo ou um corrupto da política…
Como isto não está na esfera dos meus conhecimentos, não darei palpite nenhum sobre o que levou a Dilma se tornar tão ensimesmada e incapaz de levar em consideração o que lhe contraponham. Só direi que tal comportamento me causa espanto.
Um exemplo: a Advocacia Geral da União me move uma encarniçada perseguição jurídica, evitando pagar-me o que milhares de anistiados já receberam, perdendo três julgamentos no STJ por unanimidade (8×0, 7×0 e 8×0) e recorrendo a um verdadeiro arsenal de medidas protelatórias para retardar indefinidamente o único desfecho possível do caso, num aberrante abuso de poder.
Amigos mandaram mensagem à Dilma e, para não parecer ingrato, mandei também. A resposta foi sempre a mesma: como presidente da República, ela não poderia interferir num assunto de competência do Judiciário.
Evidentemente, respondemos que na esfera do Judiciário a questão ficara decidida quando do julgamento do mérito da questão em fevereiro de 2011, só continuando pendente graças à guerrilha jurídica da AGU, que é vinculada ao Executivo e não ao Judiciário. E a resposta que recebemos da Dilma foi a repetição com outras palavras da anterior, ou seja, simplesmente ignorou nossa contestação.
O pior é que ela age assim também em assuntos amplamente noticiados, não apenas no que diz respeito a direitos violentados de antigos companheiros de ideais.
Acaba de afirmar, p. ex., que o processo de impeachment não foi aberto em função da voz das ruas. Ora, se ela estava com um índice de aprovação reduzido a irrisórios 10% e os defensores do impedimento ganhavam de goleada todas as batalhas nas ruas (promoviam as maiores manifestações, realizavam protestos num número superior de municípios e mobilizavam mais pessoas no cômputo geral), qual seria, afinal, a voz das ruas?
Mas, Dilma continua sustentando até hoje que o processo só foi aberto porque o grande vilão Eduardo Cunha quis chantagear o governo e não foi atendido. Ora, quem acompanhou passo a passo os acontecimentos, atentamente e sem antolhos ideológicos, percebeu que Cunha, pelo contrário, retardou a abertura do processo, enquanto barganhava com os dois lados.
Havia dezenas de pedidos, evidentemente a situação brasileira era tão grave que justificava tal questionamento da forma como Dilma governava o país. O papel do presidente da Câmara Federal, portanto, era o de submeter a questão, consecutivamente, à assessoria jurídica, a uma comissão especial e ao plenário, ao invés de se comportar como um novo arquivador geral da Nação. Quando enfim o fez, todas estas barreiras foram facilmente transpostas.
É simplesmente patético que, só conseguindo o apoio de 137 deputados, contra 367 favoráveis ao impedimento (eram necessários 342), Dilma e os dilmistas continuem até agora inculpando Eduardo Cunha!
Dois terços dos deputados e outro tanto de senadores estão mandando Dilma para casa, depois de quase nove meses de trâmites parlamentares e recursos ao Supremo Tribunal Federal, com o último julgamento sendo conduzido pelo presidente do STF, num país em que ninguém foi preso, ninguém foi torturado, ninguém foi assassinado, nenhum texto jornalístico foi censurado, nenhum parlamentar foi cassado e o mais amplo direito de defesa foi assegurado. Lá isto se parece com um golpe?
Certamente não com os do século passado, quase sempre com tanques na rua e marcados por banhos de sangue. E nem mesmo com o episódio que os dilmistas alegaram ser semelhante, a destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo, que começou e terminou em apenas dois dias!
E o que dizer dos elogios em boca própria ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco, aquela maracutaia orçada em R$ 4,6 bilhões, que já consumiu R$ 12,2 bilhões e vai exigir, pelo menos, outros R$ 10 bilhões, sem resultados para apresentar após 10 anos e que já recebeu o apelido de bolsa-empresário?! Alguém esqueceu de avisar a Dilma que a transposição é o maior elefante branco dos governos petistas?
Por último: de tudo que Dilma e os dilmistas vêm falando desde 2 de dezembro de 2015, quando o impeachment começou, faltou, simplesmente… o fundamental!
Pois o motivo real do impeachment, todos sabemos, é a terrível recessão a que Dilma conduziu o país e o fato de que passara 16 meses do seu segundo mandato sem conseguir governar e sem saber o que fazer, numa paralisia governamental inacreditável, enquanto o povo sofria e o abismo se aprofundava.
O que ela precisaria fazer para alterar o ânimo nacional favorável ao impedimento? Convencer a opinião pública de que já tinha uma saída para a crise e seria capaz de dar a volta por cima.
Foi o que ela não fez em nenhum momento, talvez porque não vislumbrasse mesmo saída nenhuma.
Então, por que fazia tanta questão de continuar no poder? Para prolongar nossa agonia? Porque seu ego se ressentia?
Não lamento sua desdita, pois ela em nenhum momento teve a humildade de admitir seus erros e colocar o drama dos coitadezas acima de seus melindres pessoais. Choro é pelos desempregados e suas famílias, que não têm onde cair mortos e, desesperados, nem sequer receberam um alento da esquerda palaciana, pois sua própria existência equivalia a uma muda acusação à Dilma e atrapalhava os esforços para lhe salvarem o pescoço.
Foi para defender a causa dos explorados e proteger os indefesos que aderi à esquerda no longínquo ano de 1967, aos 16 anos. Eu não mudei. Lamento que tantos outros tenham mudado. A revolução é uma grande devoradora de caracteres.
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