Carlos Cavalheiro: 'A mais firme, incansável e enérgica oposição'

Carlos Cavalheiro
Carlos Cavalheiro

Logo após o seu afastamento definitivo da Presidência da República, Dilma Rousseff proferiu um discurso em que prometia ao “governo golpista a mais firme, incansável e enérgica oposição”. O recado parecia ter sido endereçado diretamente aos militantes de movimentos sociais, pois as medidas apontadas pelo atual governo atingem duramente as fatias menos favorecidas da população.

Reformas na Previdência – embora apresentadas inicialmente pelo governo Dilma em fevereiro deste ano – com sugestões de equiparações de regime entre homens e mulheres, entre profissões distintas, com idade a partir de 65 anos, alcançam a maior parte da população trabalhadora deste país. Não fosse somente isso, ecos de sugestões como extinção do SUS (Sistema Único de Saúde), congelamento de salários, extinção de 13º, fim de direitos sociais e trabalhistas, cortes em programas de incentivo à educação são fantasmas que assustam e tiram o sono de muita gente.

O próprio Michel Temer assumiu que as medidas que seu governo iria tomar seriam impopulares. No entanto, menosprezando a reação às mesmas, chegou a afirmar que o número de manifestantes contra seu governo ficaria entre 40 a 100 pessoas.

O último domingo mostrou que o presidente estava equivocado. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o seu governo e engrossar o movimento que já ficou cunhado de “Fora Temer”. Só na capital paulista, estima-se que foi 100 mil o número de pessoas que se manifestaram pedindo a saída de Temer e a convocação de novas eleições como garantia da manutenção da ordem democrática.

Infelizmente, foi nessa cidade em que a manifestação terminou com violência, aparentemente iniciada pelo despreparo da Polícia Militar. O jornalista Luis Nassif, em publicação no site do jornal GGN, diz que a manifestação pacífica contra Michel Temer terminou em pancadaria quando policiais militares começaram a expulsar as pessoas que queriam adentrar á estação do Metrô, cercada por PMs sob “a gestão truculenta de Geraldo Alckmin”(http://jornalggn.com.br/noticia/a-repressao-da-pm-e-a-criacao-da-nova-geracao-politica). O jornal “O Estado de São Paulo” publicou, em reticente nota, que “O ato começou no domingo, 4, à tarde, na Avenida Paulista, região central, e foi dispersado à noite pela Polícia Militar com o uso de bombas e jato d’água depois de um princípio de tumulto no Largo da Batata, na zona oeste. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), nove manifestantes foram detidos” (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ato-pelo-fora-temer-se-concentra-na-av-paulista,10000074031).

As mídias alternativas apresentam imagens que aparentam exagero na ação da Polícia Militar de São Paulo, que, em tese, nem deveria ter agido dessa forma tendo em vista que deveria salvaguardar o direito constitucional – já que ainda estamos dentro de um Estado democrático de direitos – de se expressar e se manifestar pacificamente. A coleção de resultados negativos da ação da PM de São Paulo, durante a semana, coloca em dúvida se a corporação foi devidamente preparada para lidar com esse tipo de situação. A pergunta sobressai quando os veículos de comunicação informam que apenas em São Paulo as manifestações terminaram com violência.

De outro lado, há a remota possibilidade de que algum grupo, dentre a centena de milhares de pessoas que ganharam as ruas da capital no domingo, tivesse provocado o tumulto. Ainda assim é de se perguntar se a ação da PM foi proporcional à situação que enfrentou. O uso de bombas de gás e balas de borracha, como atestam vários veículos de comunicação, foi realmente necessário e imprescindível naquele momento?

O que se espera é que os fatos sejam devidamente apurados e que a sociedade tenha uma resposta plausível sobre tais acontecimentos. Se a violência partiu da tropa da Polícia Militar, que os culpados sejam julgados e punidos de acordo com a lei. O mesmo vale para quem tenha comprovadamente cometido qualquer crime naquele ato. Afinal, o rigor da legislação é para todos.

Enquanto os fatos não são devidamente apurados, ficamos ouvindo os ecos das histórias que nos chegam a todo o momento pelos mais diversos meios: televisão, rádio, internet, whatsapp, jornal, redes sociais…

Como em todas as histórias, há a versão do lobo e a versão dos porquinhos. Qual é a mais convincente?

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

05.09.2016