A matriarca de toda manifestação cultural
Natália Tamara
Artigo: ‘A matriarca de toda manifestação cultural’
Considerando que a Literatura é uma manifestação artística humana, entende-se então que suas ramificações permeiam de forma objetiva e subjetiva toda uma unidade ‘sígnica’ representativa, que compreende desde um indivíduo, grupo, comunidade, até o conceito de sociedade.
A Literatura nos oferece um saboroso banquete, põe à nossa frente uma mesa audaciosa, que nos remete a cores e sabores, levando-nos a sensações extraordinárias. Tal gula, quando saciada, deixa o ser humano em sério perigo de adquirir uma doença rara, denominada de ‘senso crítico’. Segundo Todorov, em Literatura em Perigo: “Assim como a filosofia e as ciências humanas, a literatura é pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos”. (2009-p. 77); compreende-se então que a Literatura não diz respeito apenas a um mero componente curricular do ensino médio, ela vai muito além do que sua nomenclatura pode contemplar.
A Literatura esteve na Taverna com Álvares de Azevedo e os seus, esteve no Navio Negreiro, bradou no peito do poeta dos escravos, dançou ofegante a valsa de Casimiro de Abreu, chorou a solitude de Florbela Espanca, conheceu a intimidade de Cecília Meireles, olhou pela fechadura da dúvida a traição de Capitu. Degustou com Dionísio/Baco os melhores vinhos, amou e morreu nos braços apaixonados de Shakespeare, e, modesta que é, fingiu ser quem não é pelos olhos de Fernando Pessoa, carregando nas costas todo o sentimento do mundo, que já não cabia mais no peito de Drummond.
A literatura está nos bares, nas calçadas do dia a dia, está nos lares, no beijo dos enamorados, está na poesia marginal de Sérgio Vaz, se mostra esplendorosa na escultura ‘escriturária’ do mestre Olavo Bilac. Podemos evidenciar esta postulação em O Demônio da Teoria de Compagnon, onde o autor expõe: “No sentido restrito, a (Literatura, fronteira entre o literário e o não literário) varia consideravelmente segundo as épocas e as culturas” (199-p. 30).
A senhora Literatura, outrora vista apenas como fonte de deleite, por vezes sacramentada no papel de instruir o leitor, tem por sua verdade um poder moral perante a sociedade. Compagnon vem reafirmar tal conceito em Literatura Para Quê?: “Uma segunda definição do poder da literatura, surgida com o Século das Luzes e aprofundada pelo romantismo, faz dela não mais um meio de instruir deleitando, mas um remédio. Ela liberta o indivíduo de sua sujeição às autoridades, pensavam os filósofos; ela o cura, em particular, do obscurantismo religioso. A literatura instrumento de justiça e de tolerância, e a literatura (leitura), experiência de autonomia contribuem para liberdade e para responsabilidade do indivíduo” (2009-pp.33,34).
Contudo, é de extrema naturalidade que a visibilidade de literatura esteja atrelada a todos os moldes de uma sociedade; interligada diretamente com o campo artístico e cultural. Desta forma, podemos conceber a Literatura como a Matriarca de todas as manifestações culturais.
Natália Tamara
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