Artigo de Carlos Cavalheiro: 'São Bento participou da revolução de 1932 doando troféus ao MMDC'

São Bento participou da revolução de 1932 doando troféus ao MMDC

09/07/2014 10h05 – Atualizado em 09/07/2014 14h19
 

Clube de Sorocaba entregou seis peças às forças constitucionalistas, além de duas medalhas de ouro. E um mistério cerca as taças que teriam sido derretidas

Por Eric MantuanSorocaba, SP

Historiador Carlos Cavalheiro pesquisou a participação do São Bento em 32 (Foto: Arquivo pessoal )Historiador Carlos Cavalheiro pesquisou participação do São Bento em 32 (Arquivo pessoal)

Em 9 de julho de 1932, há 82 anos, os paulistas pegavam em armas para lutar em nome da democracia no Brasil: era a Revolução Constitucionalista de 1932, um movimento contra o governo de Getúlio Vargas que durou entre julho e outubro daquele ano. O objetivo era cobrar uma constituição para o país, e o Esporte Clube São Bento, de Sorocaba (a 100km de São Paulo), participou dessa história.

Para municiar as tropas paulistas que estavam em combate com as do governo, o movimento MMDC (sigla com os nomes de Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, jovens paulistas mortos pelas forças de Vargas) saiu em campanha para arrecadar dinheiro e ouro, ou metais que pudessem ser derretidos e transformados em projéteis. Atendendo ao apelo dos revolucionários estampado nos jornais sorocabanos, em 19 de agosto de 1932 o clube anunciou a entrega de seis troféus ao setor de material bélico das forças constitucionalistas, além de duas medalhas de ouro.

– O movimento precisava não somente de metais preciosos, mas de qualquer material que pudesse ser derretido para virar munição. O São Bento, então, entregou as taças que tinha, numa demonstração de desapego e de esperança que São Paulo fosse vencedor, que valesse a pena – conta o historiador sorocabano Carlos Cavalheiro.

Taça Pierrot, primeiro trofeu do São Bento, escapou de ser derretido (Foto: William Alves/Associação Vamos Subir Bento)Primeiro trofeu do São Bento escapou de ser derretido (Foto:William Alves/AVSB)

 A doação foi aceita por unanimidade em uma assembleia. Os troféus foram entregues a um jornal da cidade pelo então presidente do São Bento, Pascoal Ciardi, o tesoureiro José Nappo, o dirigente Antonio de Paula Santos e o primeiro secretário José de Campos.

Segundo Cavalheiro, um representante do movimento revolucionário, chamado João Genésio de Luca, levou as taças para serem derretidas, juntamente com brincos de ouro, pratarias e outros itens de cobre, latão, zinco e chumbo doados pela população.

Mas o engajamento do São Bento e do povo paulista, entretanto, não foi suficiente para evitar que as tropas constitucionalistas fossem derrotadas pouco mais de um mês depois.

Mistério

Um mistério cerca as taças que teriam sido derretidas. Segundo a imprensa da época, foram entregues ao movimento MMDC três taças de 1922, das quais duas do campeonato sorocabano (equivalente ao atual Campeonato Varzeano), do primeiro e do segundo quadro; a taça João Rosa Júnior, conquistada em 1931; outra, do mesmo ano; e até mesmo a Taça Pierrot, de 1917, o primeiro troféu conquistado pelo São Bento. Mas duas delas – a Pierrot e a do campeonato sorocabano de 1922 – existem até hoje no acervo do clube e foram recuperadas recentemente pelo restaurador Paulo Henrique Bérgamo.

Taça Pierrot, primeiro trofeu do São Bento, escapou de ser derretido (Foto: William Alves/Associação Vamos Subir Bento)
Restaurador Paulo Henrique Bérgamo com a Taça Pierrot, do acervo do São Bento (Foto: William Alves / AVSB)