Celso Lungaretti: 'OS MÃOS SUJAS CONTRA-ATACAM'

Celso Lungaretti: ‘GRITO DE LULISTAS NA INTERNET GANHOU ADESÃO DE RENAN CALHEIROS

Por Demétrio Magnoli

GRITO DE LULISTAS NA INTERNET 

GANHOU ADESÃO DE RENAN CALHEIROS

ANa Itália, a Operação Mãos Limpas destruiu a Democracia-Cristã e o Partido Socialista, antes de derrubar o primeiro governo Berlusconi, em 1994. Contudo, entre 1996 e 2000, sob gabinetes liderados pelo Partido Democrático da Esquerda, organizou-se um extenso arco de deputados de direita e esquerda devotado a sabotar a operação judicial. Então, votaram-se leis para retardar processos e antecipar prescrições. Não chegamos lá, mas multiplicam-se os sinais de que a elite política organiza-se para sabotar a Lava Jato.

Uma articulação na Câmara tentou avançar um projeto, por enquanto congelado, de anistia do caixa 2 partidário. Renan Calheiros, figura dotada de curiosos poderes de sobrevivência, patrocina o projeto de lei sobre abuso de autoridade que, mesmo com méritos intrínsecos, funcionaria como ponto de ancoragem para iniciativas legislativas destinadas a dificultar as operações anticorrupção. Gilmar Mendes, um ministro que fala demais, intensifica suas reclamações contra a onda de prisões preventivas de réus e investigados. Na imprensa e nas zonas francas da internet, lulistas fanáticos encontram-se com ferrenhos antilulistas num estranho consenso sobre alegados desvios da Lava Jato.

Renan Calheiros e seus “curiosos poderes de sobrevivência”

Sergio Moro comete erros, assim como os procuradores da força-tarefa. O juiz tende a expandir em demasia a prerrogativa de decretação de prisões cautelares. Às vezes, enfeitiçados pelos holofotes, os procuradores estendem-se em discursos recheados de conjecturas. A crítica a um e outros é legítima —e, mesmo quando equivocada, faz parte da democracia. Mas o corretivo é inerente ao sistema de justiça: encontra-se na revisão judicial, em instâncias superiores. O habeas corpus está à disposição, dispensando a edição de leis e a fabricação de correntes de opinião destinadas a questionar a legitimidade das investigações.

Quando termina a Lava Jato? A pergunta circula, tangível, em conclaves de políticos e empresários, inclusive entre gente que nada deve. Argumenta-se em torno das necessidades de restabelecer a estabilidade política e econômica, de nutrir o embrião da retomada dos investimentos, de preservar o governo Temer e o programa de resgate fiscal. No fundo, são ecos involuntários de Aragão, o Breve, e de sua graxa na engrenagem, uma expressão empregada mil vezes, desde a ditadura militar, pelos nacionalistas de araque na defesa das empresas campeãs nacionais.

Há tempos, Lula acusa Moro de promover uma caçada judicial. Agora, diante de três juízes diferentes, um deles do STF, que o declararam réu, estará pronto a lançar uma acusação geral contra o Judiciário? Estado de exceção!, exclamam ridiculamente pistoleiros lulistas na internet, num grito que ganhou a previsível adesão de Calheiros e tem o potencial de inspirar figurões do governo Temer e cercanias. Diante disso, é imperativo recordar a lição italiana: a interrupção da Mãos Limpas abriu caminho para a década de Berlusconi, a partir de 2001, e a recriação das redes de negócios que asfixiaram a capacidade do Estado de identificar o interesse público.

É hora de destruição criativa. Que caiam todos os culpados, sem distinções partidárias. A graxa na engrenagem é a própria Lava Jato.

. 

Pitaco do editor

MINO CARTA ENGAJA SUA REVISTA 

NUMA MÁ CAUSA… DE NOVO!!!

Primeiramente, um esclarecimento. A farpa no parágrafo inicial do artigo de Demétrio Magnoli se refere aos editoriais que Mino Carta escrevia durante os anos de chumbo, assinando-os com suas iniciais, na condição de diretor de redação da revista veja.

No da edição de 1º de abril de 1970, p. ex., MC assoprou junto com os milicos as seis velinhas do bolo de aniversário do golpe, fazendo afirmações como estas:

 

Ontem Médici, hoje os corruptos

Quanto à CartaCapital estar empenhada em outra má causa a desqualificação da Operação Lava-Jato, isto não causa a mínima surpresa para quem ainda se lembra da enxurrada de textos inquisitoriais e panfletários  que tal revista publicou no auge do Caso Battisti, às vezes mais de um por edição, movendo céus e terras para que o Brasil entregasse a Silvio Berlusconi o troféu que ele tanto almejava: uma cabeça de esquerdista para empalhar e pendurar na sala de orgias. Tomara que a nova cruzada indigna da CartaCapital tenha o mesmo desfecho da anterior, terminando num retumbante fracasso!