Sergio Diniz da Costa: ‘ETÉREAS: MEUS DEVANEIOS POÉTICOS – III’

Sergio Diniz da Costa: ‘ETÉREAS: UM NOVO HORIZONTE’

 

Sergio Diniz da Costa
Sergio Diniz da Costa

(COSTA, Sergio Diniz da. Etéreas: um novo horizonte. Sorocaba/SP: Crearte Editora, 2015)

 

MANOEL DE BARROS*

Manoel não se foi

Foi é construir casas de barro

Como se fora um João

Um João Alguém

Que ninguém vai esquecer

Pois, do barro, fez Deus o homem

E do homem, a poesia.

 

(Uma singela homenagem ao poeta mato-grossense Manoel de Barros

(Cuiabá, 19 de dezembro de 1916  — Campo Grande, 13 de novembro de 2014)

um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente, à Geração de 45,

mas formalmente ao pós-Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas

europeias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade.

 

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AURORA

 

Vem, aurora do dia,

E traz consigo, também,

A aurora da vida.

Ilumina-nos,

Com o sol da manhã

E a prece da esperança.

 

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BEIJA-FLOR

 

Beija-flor

Beija flores

Com cores.

 

Voa como a luz

Que induz

E seduz

 

E nesse voar

Em cruz

No cruzeiro

Me puz

Como a estrela

Que reluz.

 

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DEDILHANDO

 

As cordas acordam

Num acordo mútuo

E recordam, que hoje,

É dia de vibrar.

 

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A MOÇA E O PÁSSARO

 

Um pássaro, no alto do galho

Canta e encanta

Lá embaixo, no chão,

Uma moça desencanta

E, nessa permuta de sentimentos,

O canto e o encanto se vão.

 

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COMPOSITOR

 

De tuas mãos brotam letras

Da alma emanam músicas.

São letras que bailam

Na melodia

Da noite ou do dia.

 

Faz da vida infinita pauta

Faz das cordas e teclados

Dos sopros e percussão

A sinfonia do riso, do choro

Dos sonhos e imaginação.

 

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TROVERSANDO

 

Ouço trovões ao longe…

Talvez seja a chuva benfazeja

Tão esperada, tão bendita.

Talvez seja, porém,

O ribombar de um tambor

Que algum deus do Olimpo

Fez soar, sob clamor…

 

Ouço trovões ao longe…

Talvez batalhas distantes

Talvez só imaginação

Ou, talvez, indignação

De quem não espera em vão.

 

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POUSO E REPOUSO

 

Pousa, nobre ave,

Pousa neste galho

Que te faz um ninho

E canta, como se cantasse

Pela última vez.

E, quando te fores,

Leva contigo a sombra

Desta árvore

E de meus amores.

 

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EFÊMERO

 

Somos todos viajantes

Nestas plagas terrestres.

Caminhantes, andantes,

De perto, ou distantes.

Somos um sopro, um alento

Despertos ou sonolentos

Somos todos viajantes

Que, num instante,

Ancião ou infante

Sem chorar, mas rir

Um dia,

Temos de partir.