Sergio Diniz da Costa: 'Das músicas que nos atormentam a mente'

Sergio Diniz

 Das músicas que nos atormentam a mente

Não adianta nem tentar. É simplesmente impossível impedir que ela chegue e se instale, feito inquilino mau pagador.

E ela chega nas horas e nos locais mais improváveis. Sorrateiramente. Insidiosamente.

Pois uma dessas me pegou logo pela manhã, ao acordar.

Ainda grogue de sono, mal abri os olhos e, ao pôr os pés no chão, lá veio ela, em alto e bom som, retumbando dentro da minha cabeça: ‘Meu pintinho amarelinho/ Cabe aqui na minha mão/ Na minha mão…’.

E, com o tal ‘pintinho amarelinho’, escovei os dentes, tomei banho e o café da manhã.

Aquela tormentosa ciscação me fez lembrar da primeira vez que ouvi a bendita música. Na época em que só tinha os canais abertos, o drama era achar alguma coisa que prestasse na TV. E muda daqui, muda de lá os canais, a falha do botão me fez parar, desgraçadamente, no programa apresentado pelo Gugu Liberato.

E lá estava ele, suas colaboradoras de palco e outros artistas a lascarem o tal ‘pintinho amarelinho’ nos olhos e ouvidos dos telespectadores.

Ridículo! Não, é pouco. Inominável!  Bem, talvez para as crianças fosse um deleite, mas a minha ‘criança interior’ já estava andando de bengala há muito tempo pra certas coisas.

Eu me lembro muito bem que, na época, aquela cena e aquele tal pintinho amarelinho já haviam inoculado dentro de mim o vírus deste tipo de obsessão: autoautormentar-se com coisas que não suportamos, mas que, talvez por isso mesmo, nos autoatormentamos, a fim de nos autopunirmos. Uma espécie de ‘sacanagem psicológica’ contra nós mesmos. E um prato cheio para os psicanalistas!

Enquanto me lembrava do primeiro e infeliz momento em que tive o traumático encontro imediato de 3.º grau com o tal pintinho, ele continuava lá, forte e rijo, ciscandinho na minha cabeça.

Todavia, enquanto as maledetas dessas músicas ficam apenas dentro da nossa cabeça, o problema não é tão problemático. O drama, a tragédia começa mesmo quando a música dá um jeitinho de escapar de dentro da cabeça e, alcançando a boca, impele-a a se abrir. E, uma vez aberta, feita um gênio do mal que acabou de sair da garrafa, nos promove, de cantores de chuveiro, para cantores de rua.

Começamos, assim, o nosso ‘show’. No começo, bem baixinho. Depois, totalmente obsidiados, vamos aumentando paulatinamente o tom. E, dependendo da música, dançandinho, também!

Quando a música é de qualidade, ainda vá! Quem nos olha, se desconhecido, pode nos tomar por compositor, músico e até um maestro (neste caso, quando, totalmente possessos, gesticulamos como se fôssemos passarinhos aprendendo a voar).

A desgraça, contudo, é quando a música obsessora é uma daquelas tipo… tipo ‘pintinho amarelinho’!

Enquanto estou cá eu ruminando no quê fazer com o tal pintinho, pois, daqui a pouco preciso siar às ruas, repentinamente me vem à lembrança uma sugestão que um amigo me deu há muito tempo: compartilhar a tal música com terceiros!

Nesse caso, e segundo esse amigo – a música muda de ‘hospedeiro’, libertando-nos dela.

Eu nunca coloquei em prática essa sugestão, mas, como nunca é tarde pra começar, estou aqui propondo a você, amigo leitor, um altíssimo ato de solidariedade de sua parte.

E, pra facilitar a sua desprendida generosidade, vai aqui a letra completa:

‘Meu pintinho amarelinho/ Cabe aqui na minha mão/ Na minha mão/ (bis) Quando quer comer bichinhos/ Com seus pezinhos ele cisca o chão (bis)/ Ele bate as asas,/ ele faz piu piu/ Mas, tem muito medo/ É do gavião’. (bis)

 

Sergio Diniz da Costa

sergiodiniz.costa2014@gmail.com