A leitura e a formação de professores leitores
Fidel Fernando:
‘A leitura e a formação de professores leitores’
Em nossas salas de aula, a frase “É importante ler” ecoa, muitas vezes, como um mantra repetido por professores que se tornam, para seus alunos, meros transmissores de conhecimento. Contudo, se olharmos mais de perto, perceberemos que muitos desses educadores não são, de facto, leitores ávidos. Se os questionarmos sobre suas leituras, haverá, com certeza, uma hesitação, um titubear, como se os livros tivessem se tornado sombras de um passado distante. É um paradoxo inquietante: como podem exigir que seus alunos se tornem leitores se eles mesmos não se dedicam a essa prática?
A educação, em sua essência, é um reflexo do que vivemos e do que praticamos. Professores são, ao lado das famílias, os principais modelos que as crianças têm. Se esses exemplos não se dedicam à leitura, como podem esperar que as crianças desenvolvam esse hábito? A leitura é uma ferramenta fundamental para o conhecimento em diversas áreas. Como bem observa Gabriela Velasquez, Coordenadora do Programa AaZ, “começamos por aprender a ler para depois ler para aprender”. É nesse ciclo que a educação se fortalece, mas, para que isso aconteça, é imprescindível que os educadores sejam leitores.
Solimar Silva, autora do livro “50 atitudes do professor de sucesso”, destaca que o professor leitor é aquele que se reinventa constantemente, que busca novas referências e que, ao partilhar suas leituras, instiga a curiosidade e o amor pelo conhecimento em seus alunos. A falta de leitura entre os educadores cria um vazio que se reflecte na formação das futuras gerações. O que se observa em muitos subsistemas de ensino é uma rotina que pouco estimula o hábito da leitura, e isso tem de ser repensado. Diversos autores enfatizam essa necessidade. Paulo Freire, por exemplo, sempre defendeu que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Isso significa que, para formar cidadãos críticos e conscientes, é necessário que os educadores sejam os primeiros a se engajar nesse processo. A leitura não deve ser um mero adorno nas aulas, mas, sim, uma prática constante e apaixonante.
Assim, é urgente que se crie um ambiente onde os professores possam se tornar leitores. Que as instituições de ensino promovam formações continuadas, clubes de leitura e debates sobre obras que os inspirem. E mais importante, que os educadores reconheçam que são, e devem ser, referências para seus alunos. Ao se tornarem leitores, eles abrem um mundo de possibilidades não apenas para si, mas também para suas turmas.
A transformação da educação passa pela leitura. E essa mudança começa dentro da sala de aula, com professores que leem e, assim, inspiram seus alunos a fazer o mesmo. O futuro da leitura nas nossas escolas depende, em grande parte, da capacidade dos educadores de se tornarem não apenas transmissores de conhecimento, mas também verdadeiros apaixonados pela literatura. Que possamos cultivar uma geração de leitores, começando pelo exemplo daqueles que têm a missão de ensinar.
Fidel Fernando