Sônyah Moreira: 'Qual o valor $ do cala boca?'
Sônyah Moreira – sonyah.moreira@gmail.com – Qual o valor $ do cala boca?
Pra começar a descrever em palavras minha indignação, vou recorrer a um provérbio japonês do século XVII, denominada os Três macacos sábios, esta figura ilustra a entrada do estábulo sagrado, no Templo Toshogu na cidade Nikko no Japão.
Seus nomes são: Mizaru (o que cobre os olhos), Kikasaru (o que cobre os ouvidos), e por fim Iwazaru (o que tapa a boca), a tradução é: Não olhe o mal, não ouça o mal e não fale o mal. Depois de séculos na história, voltemos para nosso presente e de forma inversa vamos fazer essa analogia.
Tapar os olhos, para as lagrimas de uma família no velório de um ente querido, morto por negligencia médica, ou imperícia de um policial.
Tapar os ouvidos para o descaso em todos os níveis da sociedade, não ouvir o choro de uma criança com fome, ou o choro de uma mãe com a perda de um filho pelas mãos inescrupulosas de um criminoso.
Tapar a boca, ao se calar diante de injustiças, ao omitir-se da verdade, condenando um inocente.
Nisso tudo voltamos ao título: qual o valor do cala boca…? Ouvidos mocos… Do cego que não quer enxergar? Que forma aritmética pode ser usada para conseguir mensurar o custo de uma vida? A perda da dignidade ou a falta de liberdade?
Por mais que eu goste de números não consegui chegar ao denominador comum, precisamos dos graduados em jeitinho, em conchavo, ou em lobby, uma palavra em voga atualmente, para conseguir chegar a essa fórmula mágica.
Quem sabe essa fórmula da média ponderada possa nos ajudar no cálculo?Bom! Deixemos isso para os catedráticos da matemática de varinha de condão.
Diariamente lemos notícias de processos bilionários para reparar-se algum dano, seja moral, material ou emocional, como se uma vida houvesse algum número físico que pudesse indenizar sua perda, ou a dor e a vergonha tenha uma etiqueta de preço.
A dignidade é reparada com somas vultosas, as ofensas morais, os assédios sexuais, as vidas perdidas, tudo hoje é mensurado monetariamente, e aí os senhores PHDs conseguem como se fossem mágicos mensurar o valor do cala boca, dos ouvidos mocos, ou da vista grossa.
O dinheiro não pode comprar tudo, dizer que ser indenizado pelo Estado poderá amenizar a dor é absurdo, mesmo por que o Estado somos nós, os mesmo injustiçados, a conta será paga em valores que sairá de nossos bolsos rasgados pela canalhice.
Até quando vamos nos calar, ao ouvir um gemido de dor, ou fechar os olhos para o flagelo em portas de hospitais superlotados que falta dinheiro até para esparadrapo?Até quando fecharemos os olhos para sentenças estudadas minuciosamente para prejudicar inocentes?
O Estado é formado pelo povo amordaçado pelas leis votadas na calada da noite e usando a figura mítica da justiça que é cega, ou deveria ser para não se subjugar pelo poder de fogo do dinheiro, a lei deveria ser igualitária.
Gostaria de ao invés de Três macacos sábios (as avessas, claro), mencionar uma magnífica frase da lendária fábula Os três mosqueteiros, do romancista francês, (Alexandre Dumas 1802 -1870) “Um por todos e todos por um”.Lutar juntos contra as injustiças, sofrer com as dores de um semelhante, usar o mesmo lenço para enxugar as lágrimas de uma mãe.
Infelizmente na atual conjuntura o que mais se encaixa no cenário dantesco que se tornou o mundo é. Cada um por si e Deus pra todos! (Provérbio português).
Volto a perguntar? Qual o valor do cala boca? Vai depender de quantos dígitos terá o cheque! Qual sua preferência, Dólares ou Euros, etc.?
Sônyah Moreira – sonyah.moreira@gmail.com