O Negro d’Água
SAÚDE INTEGRAL
Joelson Mora
‘O Negro d’Água e os mistérios da alma humana’


às 20:30 PM
O Brasil é terra de encantos, crenças e tradições que atravessam gerações. Agosto, mês do folclore, nos convida a olhar para nossas raízes culturais e compreender como elas dialogam com a vida, a saúde e a espiritualidade. Entre as histórias que emergem das águas profundas dos rios amazônicos, encontramos a figura enigmática e temida: o Negro d’Água.
A Lenda Amazônica
O Negro d’Água — ou Nego d’Água — é descrito como um ser místico, metade homem, metade peixe, de pele escura e olhos cintilantes como brasas. Vive nos rios, igarapés e lagoas da Amazônia, e sua missão é proteger a natureza e os segredos das águas. Diz a tradição que ele aparece repentinamente para pescadores desavisados, virando canoas, afundando barcos e assustando aqueles que exploram o rio sem respeito.
Conta-se que, quando o Negro d’Água emerge, a superfície do rio se agita como se estivesse em fúria, revelando a força da natureza contra quem ousa abusar de sua generosidade. O ribeirinho sabe: não se deve pescar além da necessidade, nem desrespeitar a vida que habita as águas, pois o guardião pode se levantar.
Essa lenda não é apenas um conto para amedrontar crianças. Ela traz uma lição profunda: o equilíbrio entre o homem e o meio ambiente. O Negro d’Água surge como lembrança de que o ser humano não é dono da natureza, mas parte dela.
Assim como os rios têm sua força e mistério, também o corpo humano guarda correntes invisíveis que fluem em silêncio — o sangue que circula, a respiração que nos dá vida, a energia que nos move.
Se olharmos para além do mito, percebemos que o Negro d’Água pode ser compreendido como metáfora daquilo que habita as profundezas da alma: nossos medos, angústias, traumas e sombras internas. Assim como o pescador precisa aprender a respeitar as águas, cada um de nós precisa olhar para dentro e respeitar os movimentos ocultos de nossa mente e coração.
Muitas vezes, quando negamos nossas emoções, quando reprimimos sentimentos, o ‘Negro d’Água interior’ pode emergir em forma de ansiedade, estresse, depressão ou até doenças psicossomáticas. A saúde integral nos convida a reconhecer e dialogar com essas forças, buscando harmonia entre corpo, mente e espírito.
Assim como o Negro d’Água guarda o rio, somos chamados a sermos guardiões de nosso próprio corpo e da casa comum — o planeta. Respeitar nossos limites, nutrir a mente com pensamentos saudáveis, cuidar da respiração, exercitar o corpo, alimentar-se com equilíbrio e buscar espiritualidade são formas de honrar a vida.
O folclore, portanto, não é apenas uma lembrança cultural: é uma chave de sabedoria para o presente. A lenda amazônica ecoa como alerta: se abusarmos do que nos foi dado, seja no ambiente ou na própria saúde, o desequilíbrio se levantará contra nós.
Que neste mês do folclore possamos ouvir a voz ancestral que ressoa nas águas do Brasil profundo. O Negro d’Água não é apenas um ser do imaginário popular, mas um símbolo que nos lembra da importância de respeitar a natureza, honrar nossas raízes e cuidar de nossa saúde integral.
Assim como os rios precisam fluir livres e limpos, nossa vida também precisa correr em equilíbrio — para que corpo, mente e espírito naveguem em paz.