Jorge Facury: crônica 'A arte de Maria Jacinta e a entrevista sonhada'

JORGE FACURY: A ARTE DE MARIA JACINTA E A ENTREVISTA SONHADA

 

Vim, a saber, da história de uma mocinha que me encantou pela singeleza…

Ao mesmo tempo, tocou-me por sua solidão. Solta no mundo, despreocupada de ancestralidades, põe-se a fazer arte. Arte milenar. Nem tanto por prazer, posto que, primeiro por necessidade, sem seu trabalho, ela se perderia.

Trabalha com a mais abundante matéria–prima da natureza, o barro, paraíso dos oleiros…

Quando soube de suas artes, interroguei-me de sua engenhosidade. Tão sensível, tão bela, absorta em seu trabalho cativante.

Creio que Jacinta deveria ter o João de Barro como pássaro-símbolo de sua história, por uma razão que exponho a seguir.

Não trabalha com cores, nem com mistura de materiais, mas, com argila pura.

Não aprecia companhias durante o ato criativo, mas, preza o silêncio, mantendo-se discreta. Os que a conhecem sabem que quase passa despercebida e faz questão disso.

Quem me falou dela foi um negro velho, conhecer de muitas histórias.

Com sua magistral sabedoria, disse-me: – ela veio ao mundo para ser só, mas, em verdade não padece de solidão, pois, é a melhor companhia para si mesma.

Que figura! – pensei. Só vi uma arte sua e já fiquei prenhe de admiração!

Gostaria de entrevistá-la para saber de seus sentimentos, de seus anseios e cabedal criativo, porém, de antemão sabendo que tal oportunidade nunca acontecerá.

Não, Jacinta não morreu… Não é isso. Apenas está por aí, aonde não sei. Maria Jacinta é o nome popular de uma vespinha preta…

Ela – imagine só – faz sua própria casa, com argila, na vertical das paredes, em forma de cana, e dá-se ao luxo de abrir janelinhas em série.

É apenas um inseto e, eu, tornei-me seu fã número 1!…

 

Jorge Facury