Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Dia Internacional da Mulher'

Carlos Carvalho Cavalheiro: ‘Dia Internacional da Mulher’

 

Dia 8 de março, dia internacional da mulher.  As explicações sobre a escolha da data se perdem no túnel da história. A versão mais famosa é a de que nessa data, em meados do século XIX, operárias estadunidenses foram queimadas dentro dos muros da fábrica de tecidos por protestarem contra as abusivas jornadas de trabalho.

Por muito tempo, contou-se a história dessas 129 operárias de Nova Iorque, cuja morte teria ocorrido em 8 de março de  1857. Para maior dramatização, dizia a lenda que as mulheres tentaram se proteger das chamas enrolando seus corpos com tecidos produzidos na fábrica, os quais eram de cor lilás. Daí a escolha dessa cor como símbolo da luta da mulher por sua emancipação social.

Há alguns anos essa versão foi questionada – e é difícil encontrá-la hoje na internet – sendo substituída por outra, na qual 146 operárias (os números variam) teriam sido carbonizadas dentro da fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova Iorque, num incêndio ocorrido em 25 de março de 1911, provavelmente por falta de segurança no local de trabalho. No entanto, há registros de que o Dia da Mulher já havia sido comemorado anos antes, por volta de 1908 ou 1909.

A falta de informações precisas não ofusca um fato: seja qual for a origem desse dia, ele surgiu pela necessidade da mulher lutar pela igualdade.

Passados alguns séculos, no entanto, o que perdura ainda é a opressão e a desigualdade. A começar pelo imaginário reforçado pelas propagandas comerciais. Nas de cerveja, por exemplo, as mulheres são tratadas como “complementos” da bebida, servindo a homens não somente o líquido como o deleite da visão de seus corpos esculturais, serviçais e seminus.

Uma das marcas de cerveja ostenta como nome um sinônimo para “libertina”, “depravada”, “licenciosa”. Para reforçar a marca do produto, apresenta o desenho de uma mulher de biquíni.

Propagandas de automóveis, em geral, apresentam homens ao volante. As de produtos de limpeza, mulheres. E assim vamos construindo nosso imaginário em torno daquilo que concebemos como sendo papéis masculinos e papéis femininos.

Não é à toa que a atual primeira dama foi apresentada por uma revista de circulação nacional como tendo as qualidades de “bela, recatada e do lar”, poucos dias depois do impeachment de Dilma Rousself. Fica nítida a contraposição entre o que a sociedade entende como o papel da mulher e a “ousadia” daquela que ocupou o cargo máximo do Executivo no país.

De acordo com a ONG “Compromisso e Atitude”, em relatório disponibilizado em página na internet, “Do total de atendimentos realizados pelo Ligue 180 – a Central de Atendimento à Mulher no 1º semestre de 2016, 12,23% (67.962) corresponderam a relatos de violência. Entre esses relatos, 51,06% corresponderam à violência física; 31,10%, violência psicológica; 6,51%, violência moral; 4,86%, cárcere privado; 4,30%, violência sexual; 1,93%, violência patrimonial; e 0,24%, tráfico de pessoas” (http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-e-estatisticas-sobre-violencia-contra-as-mulheres/).

Enquanto esses números alarmantes ainda existirem, pouco ou nada há para se comemorar no dia Internacional da Mulher. Por outro lado, ainda será uma data que incita a luta pela igualdade.

 

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

06.03.2017