Pedro Novaes: 'Guerra sem fim'

colunista do ROL

Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘GUERRA SEM FIM’

 

Persiste, desafiador, o problema das drogas ilícitas.

Recursos públicos bilionários são destinados ao combate à produção  e venda de cocaína, crack e maconha, dentre outras. Na eterna luta entre polícia e traficantes, com vencedores e perdedores de ambos os lados, quem perde, sempre, é a sociedade.

O atrativo financeiro da produção e venda de drogas gera quadrilhas altamente sofisticadas, capazes de corromper governos e agentes públicos, além de manter ativa a fábrica de dependentes, repletos de estranho glamour. As iniciativas e inovações das forças policiais são prontamente compensadas por outras iniciativas e inovações de produtores e traficantes, e assim seguimos, alternando perdedores e vencedores.

A situação é tão grotesca que, nas cracolândias, o tráfico persiste à luz do dia, nutrindo uma legião de escravizados. Em nossas prisões, drogas dividem espaços com celulares e armas, além de sofisticadas bebidas e alimentos, em celas frequentadas por prisioneiros em boa condição financeira ou social.

Pensadores de todas as tendências polemizam a respeito do tema, que segue irresoluto. Para uns, a droga integra o rol de opções pessoais, cujas consequências devem ser sofridas tão somente pelo usuário.  Ocorre que o uso de algumas drogas tem reflexos e consequências que atingem toda a sociedade.

É inegável o permanente vínculo entre drogas e criminalidade, aspecto ignorado por dependentes românticos e sonhadores, cujas buscas de sensações podem envolver, no roteiro entre a produção e uso, sangue e infelicidades. Foi pensando em tal vínculo, e reconhecendo a impossibilidade de uma vitória final e consagradora das forças policiais, que alguns governos optaram pela liberação do consumo de maconha. Tal iniciativa ainda não amadureceu, adiando conclusões apressadas a respeito de seu êxito.

A triste realidade é que continuamos prendendo traficantes e usuários indiscriminadamente, superlotando nossa já repletas penitenciárias. Na prática, o aprisionamento como traficante pode vitimar um usuário, doente, conduzindo-o ao cárcere. A distinção pode, por outro lado, ensejar o tráfico de formiguinha, com aspecto de condução para uso.

Nossa principal arma, no combate às drogas, encontra-se na família, escola e ambiente social.  A família aboliu o diálogo, a escola optou pela doutrinação ideológica e o ambiente social não cultiva valores.

A segurança jurídica do problema ainda aguarda um posicionamento da Suprema Corte, já tardio. Temos perdido a batalha pelo esclarecimento cabal das consequências físicas, psíquicas e sociais do uso de drogas, diariamente abastecida por desinformações e incentivos camuflados.

E assim seguimos, gastando os recursos que não temos, em guerra que jamais venceremos, com as armas que temos utilizado. É triste !

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.