Ranielton Dario Colle: 'Um oi!'

Ranielton Dario Colle: ‘UM OI!’

– Oi! – ela me disse.

E, depois, ao final daquela noite, eu fiquei pensando nisso: um ‘oi’ que poderia não significar nada, ser só um cumprimento banal ─ e provavelmente o era ─, mudou todo o rumo das coisas, porque, naquela noite, aquilo era um sinal: era ela me dizendo que eu era alguém digno de ser notado; mais que isso, eu era digno de receber um ‘oi’ seu. O seu ‘oi’ era ela me dizendo que, de alguma forma, eu era importante.

Olhei bem para o seu rosto: ela era bonita, tinha um sorriso encantador, e provavelmente era cobiçada pela maioria das pessoas que estavam ali naquela festa. E eu sabia que não fui a única pessoa a quem ela cumprimentara, porém ela não cumprimentava todo mundo e, dentre todos, eu era um daqueles que eram dignos de seu cumprimento. E isso significava alguma coisa!

Ana tinha cabelos compridos e escuros, estatura mediana, uma pele alva que, com seus olhos de um azul oceânico, contrastavam com seus cabelos que, refletidos iluminação noturna daquele lugar, davam a ela uma aura sedutoramente feminina.

Há quanto tempo eu a conhecia? Um ano? Talvez mais? A verdade é que ela era amiga de amigos, uma pessoa cuja beleza eu admirava e que parecia ter um jeito extremamente cativante que me fascinava, embora eu mesmo não me aproximasse dela e me mantivesse distante. Por quê? Eu não sei… talvez por medo, um medo irracional de que as coisas pudessem dar errado ou, pior, que pudessem dar certo e aí eu não saberia o que fazer.

Tudo tem um começo e, para mim, aquela festa começou a existir depois daquele simples ‘oi’. Talvez o leitor deduza que, depois daquilo, nós conversamos e eventualmente eu a seduzi e tive uma noite coroada de felicidade. Nada poderia estar mais errado. Não a parte da felicidade, a outra. Talvez naquela época eu não me sentisse à sua altura; talvez eu pensasse que ela era boa demais para mim; não importa. O que de fato importa é que, depois daquele singelo cumprimento, o meu astral mudou.

Nós até conversamos um pouco e, depois, cada um foi para o seu lado. Não obstante, aquela sementinha de alegria e autoconfiança que Ana plantou em meu coração, naquele momento, me permitiu que eu conhecesse Laura, minha atual esposa e mãe de meus filhos.

Não foi Ana que nos apresentou, todavia, embora ela nunca tenha sabido disso, ela foi indiretamente a responsável por nossa união, porque, naquela noite, eu me sentia um fracassado e apenas havia saído graças à insistência de meus amigos.

Hoje, depois de mais de dez anos, é que soube por uma conversa com João que Ana tinha uma quedinha por mim e que, naquela noite, eles sabendo que estávamos ambos sozinhos e que eu estava mal,  meio que planejaram o nosso encontro naquele ambiente…

Agora isso ficou na minha cabeça… repetindo-se como um mantra…

Eu realmente amo a Laura, entenda…

Só que… eu sentia uma atração tão grande pela Ana e a admirava tanto…

É impossível para minha pessoa não pensar no que teria sido se eu tivesse aproveitado a coragem que aquele ‘oi’ me despertara e tivesse ficado com ela… Onde será que ela mora? Será que está casada? Como seria revê-la? São só pensamentos…