Marcelo Paiva Pereira: artigo 'As Cruzadas''
Marcelo Augusto Paiva Pereira – AS CRUZADAS
As cruzadas (1096 a 1270) foram incursões militares e religiosas promovidas pelos Papas e conduzidas pelos nobres europeus contra as conquistas do expansionismo islâmico (622 a
1258), dentre as quais encontrava-se a cidade de Jerusalém, localizada na Terra Santa (Oriente
Médio) e local de peregrinação dos cristãos.
Quando o profeta Maomé fugiu de Meca para Medina (em 622), iniciou o período de conquistas que somente se encerrariam sob a dinastia abássida (750-1258), com a invasão das terras muçulmanas orientais (NW da China) pelos mongóis (liderados por Gengis khan e seus sucessores).
Nesse período, os muçulmanos conquistaram Damasco (635), Jerusalém (637), Alexandria (642), a Pérsia (642), avançaram e conquistaram o N da África (661-750), invadiram o S da península ibérica (661-750), sitiaram Constantinopla (674-678) e se expandiram até o vale do rio Indo (713). A dinastia abássida conquistou o NW da China (751), o Império Bizantino (838), criou o Califado de Córdoba (912-1031) e, ao longo do séc. IX, da cidade egípcia de Alexandria conquistou as ilhas de Chipre, Sicília, Sardenha, Córsega, Baleares, bem como o S da Itália e arriscou incursões – mal sucedidas – no Reino dos Francos (atual França).
Em razão de disputas territoriais entre o leste (persas) e o oeste (árabes) durante referida dinastia, a instituição do califado perdeu força política (945-1258), deixando brechas para surgirem Estados poderosos na Pérsia, Síria, Egito, Espanha e no Maghreb (atuais Marrocos, Argélia e Tunísia). Com a conquista da cidade de Jerusalém em 1076 pelos turcos sunnitas (dinastia dos seldjúcidas), tentou-se restabelecer a força política do Islã, mas resultou infrutífera em razão do hábito de se distribuir províncias aos membros da família do califa.
Acreditando no enfraquecimento dos califados, os Papas e os nobres decidiram combater e expulsar os muçulmanos dos territórios europeus e cristãos, com vistas a duas finalidades: a primeira, de natureza econômica, era tornar a cobrar da população os tributos em favor do clero e da nobreza; a segunda, de natureza religiosa, era resgatar a identidade moral e cultural da civilização européia contra uma sociedade (ou civilização) a eles estranhas.
Em oito foram as incursões dos cruzados, sendo em 1096 a primeira (vinte anos após a conquista turca de Jerusalém); a última ocorreu em 1270, quando o Islã se encontrava estagnado e em franca decadência política, administrativa e militar. Mesmo enfraquecidos, as cruzadas deram vitória aos muçulmanos (ou sarracenos) contra os cristãos (apesar destes recuperarem Jerusalém, Nazaré e Belém, mediante o Tratado de Jaffa, em 1229, na sexta cruzada).
Resultaram as cruzadas da reação do ocidente ao expansionismo islâmico, que conquistou territórios anteriormente pertencentes a outras culturas – e civilizações – delas retirando o poder de autodeterminação e controle administrativo, submetendo-as ao controle político e financeiro dos califados. As incursões européias à Terra Santa tiveram o escopo de reconquistar a identidade ocidental e, também, o controle político e financeiro dos territórios anteriores à expansão do Islã. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira.
(o autor é advogado)