Marcelo Paiva Pereira: 'A Revolução Russa'
Marcelo Augusto Paiva Pereira – ‘A REVOLUÇÃO RUSSA’
Revolução russa é o nome atribuído ao período em que ocorreram duas revoluções – fevereiro e outubro – em 1917, na Rússia do Czar Nicolau II. Apesar de terem sido conduzidas pelos membros do partido social-democrata russo, se distinguiram ideologicamente por defenderem instituições e finalidades próprias.
A primeira, movida pelos mencheviques e liderada por Aleksandr Fiodorovitch Kerenski, aproveitou-se da desastrosa campanha das forças militares russas na Primeira Guerra Mundial, das greves populares, da insurreição espontânea e da renúncia do Czar Nicolau II. Nomearam o príncipe Lvov para o primeiro governo provisório (março-maio), assistido pelo conselho popular (soviet). Participavam de eleições, admitiam o partido como representante do proletariado e eventuais coalizões com a burguesia.
A segunda, movida pelos bolcheviques e liderada por Vladimir Ilitch Ulianov – dito Lênin –, inicialmente compôs com os mencheviques o segundo governo provisório (maio-julho) de Lvov que, demitido, deixou espaço para Kerenski tentar um governo estável (julho-outubro), sem sucesso. Lênin promoveu a revolução, extinguindo todas as instituições burguesas existentes e ocupou somente com bolcheviques os soviets espalhados pelo país. Admitiam o partido como vanguarda revolucionária do proletariado e eram contrários à existência de qualquer instituição burguesa.
Enquanto a primeira consistiu em uma “revolução burguesa” – nos moldes da sociedade russa da época –, a segunda foi a genuína revolução comunista, prevista pelos pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels, autores da obra “Manifesto Comunista” (1848), no qual previam o surgimento de uma sociedade livre da opressão dos capitalistas sobre os trabalhadores (Marx admitia uma ditadura provisória para assegurar o sucesso da revolução, que logo após entregaria à sociedade o controle do Estado).
Mas, diferentemente do previsto pelos inventores do comunismo, Lênin introduziu o controle do Estado pela sociedade através do partido único, ao qual todos deviam se filiar para obter cidadania e seus efeitos: burocratizou-se o Estado Soviético criando a ditadura dos funcionários, submetendo a sociedade aos caprichos do governante e subvertendo a previsão marxista de subordinar o Estado ao controle da sociedade (essa inversão ideológica durou até a extinção definitiva da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, após o fracasso do golpe militar dos defensores do comunismo, em 1991).
Ao extinguir as instituições burguesas, o comunismo suprimiu a propriedade privada, a família, a identidade e a religião, para garantir ao Estado o monopólio do poder e da propriedade (estatização dos instrumentos de produção) e o controle dos indivíduos, tornando-os iguais (rotulando-os de camarada) perante o Estado.
A falência do Estado Soviético ocorreu pela ausência da iniciativa privada – atributo individual à produção e ao lucro – porque a qualquer Estado a finalidade única é obter o bem comum (interesse público) e não o lucro. Sem um sustentáculo econômico dinâmico a URSS se autodestruiu, desmembrou-se em diversos Estados independentes e abriu as fronteiras ao capitalismo. O sonho (de Marx e Lênin) acabou. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(o autor é advogado)