Pedro Novaes: 'Última esperança'
Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘ÚLTIMA ESPERANÇA’
A crise brasileira tem causas e circunstancias absolutamente nacionais, e ocorre quando o mundo inteiro sofre as agruras da desventura humana.
A tragédia síria vitima diariamente milhares de cidadãos, levando famílias inteiras à perigosa e incerta aventura de buscar a sobrevivência em terras estranhas, deixando para trás casa, emprego, escola e convivências.
O terrorismo internacional atinge níveis jamais imaginados, destruindo templos, edificações históricas e registros culturais, com barbáries como degolas e atentados que ceifam vidas e tentam disseminar a intranquilidade em todo o mundo.
O terrorismo internacional tem sido marcado pela anulação do mais natural dos princípios: o da própria sobrevivência. Os atentados são praticados por suicidas, que morrem juntamente com suas vítimas.
O incestuoso elo entre política e religião gera convicções que escravizam, e em todo o mundo surgem ditadores, militantes e sistemas desumanos, a pretexto de ideais tanto dogmáticos quanto indiscutidos.
A Coréia do Norte, distante, e Venezuela, nossa vizinha, são exemplos gritantes de desrespeito humano, onde a criminalização da discordância gera multidões de migrantes. O poder, exercido com truculência, acaba transformado em galardão pessoal, e todos os recantos públicos acabam subservientes à vontade soberana do ditador.
Por aqui, já experimentamos os efeitos da crise, cuja violência é, enganadoramente, diferente das que assolam centenas de países, mundo afora. Nossa crise é de desesperança, e pode ser constatada na falência dos sistemas públicos de saúde, segurança, educação e empregos.
Nossa crise não decorre da ação de ditadores violentos, mas da pacífica, rotineira e continuada pilhagem de recursos e estruturas públicas. Por séculos, vivemos um sistema eleitoral injusto e direcionado à eleição e reeleição dos que usam indevidamente o poder econômico e político.
Nossos meandros políticos e partidários sempre afugentaram as iniciativas de forçar alguma idoneidade e ética, acenando com quinquilharias e bijuterias, à menor ameaça de participação social realmente popular. Sofremos, ao longo do tempo, o afunilamento dos agentes políticos e partidários, premiando corruptos e desonestos.
Temos uma bela Constituição, e poderes constituídos em plena atuação, além de imprensa livre. Ainda podemos gritar protestos e agrupar pessoas. Só não nos é permitido encaminhar todas as estruturas públicas ao atendimento eficiente e justo atendimento às necessidades da população.
Somos escravos da desonestidade oficial, dos poderosos que insistem em assim permanecer. Nossos ditadores praticam atos odiosos, entremeados por discursos maravilhosos e humanistas.
Em meio a séculos e séculos de desmandos, surgiu, tão imprevista quanto justiceira, a operação Lava Jato, aplaudida em todas as esquinas mas sabotada nos mais infectos gabinetes e porões oficiais. A Lava Jato é a derradeira esperança, e deve ser prestigiada, ainda que deixemos de lado nossa histórica passividade e precisemos afrontar poderosos.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.