Câmara de Itapetininga vai implantar a 'Semana Julio Prestes'

[004305]A proposta foi uma iniciativa da presidente da Câmara de Itapetininga, Dra. Maria Lucia Haidar

Acompanhado do presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga, jornalista Helio Rubens de Arruda e Miranda, o presidente do MIS de Itapetininga, Dr. Roberto Soares Hungria participou de uma reunião realizada dia 28 no gabinete da presidência, que contou com a presença da presidente vereador Maria Lucia Haidar e da assessora Gabi Nunes.

Exposta pela presidente a idéia dele de criar oficialmente uma ‘Semana Julio Prestes’ na Câmara, com exposições, palestras e exibição de filmes.

A idéia foi e entusiasticamente apoiada pelos representantes das organizações culturais, que incluiu a Academia Itapetiningana de Letras, fizeram questão de elogiar a inciativa da Câmara e se colocaram inteiramente à disposição da vereadora para ajudar na organização, implantação e divulgação do evento.

Mais detalhes podem ser obtidos com o presidente Roberto Hungria, tel. 15/3271-3514.

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Artigo de Hamilton Octavio de Souza: 'Desafios da esquerda frente ao novo bloco de poder'

Foto Hamilton (2) (1) (Copy)Hamilton Octavio de Souza: ‘DESAFIOS DA ESQUERDA FRENTE AO NOVO BLOCO DE PODER’

O enfrentamento do governo de transição de Michel Temer exige nova articulação e nova tática de luta das forças de oposição, que precisam ao mesmo tempo descartar a volta de Dilma e a candidatura Lula em 2018.

 

Embora boa parte das forças políticas que se articula para dar sustentação ao governo de transição de Michel Temer, do PMDB tenha participado intensamente do governo Dilma Rousseff, do PT, a nova composição formada no processo de impeachment, reforçada com PSDB, DEM, PPS e outras siglas, cria uma situação nova para a oposição de esquerda, já que o novo bloco de poder, com forte conteúdo conservador e neoliberal, tende a agredir direitos e conquistas dos trabalhadores, a reduzir ainda mais o papel moderador do Estado e a impor medidas imediatas para agradar os interesses gerais do mercado e do capital.

Nas gestões de Lula e Dilma os partidos de centro e de direita integraram a ampla coalizão concebida pelo PT, que incluiu no campo partidário desde o PCdoB até o PP de Paulo Maluf e o PRB do bispo Edir Macedo. Essa esdrúxula coalizão conseguiu colocar no mesmo balaio – durante anos – o MST e a representante do latifúndio e do agronegócio Kátia Abreu; a CUT e a FIESP de Paulo Skaf; o MTST e o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, do PSD; os movimentos católicos remanescentes da Teologia da Libertação e os representantes do fundamentalismo evangélico abrigados no PR e no PSC; enfim, o país engoliu uma enorme babel de gregos e troianos preocupada exclusivamente com a própria sustentabilidade do governo federal.

Agora o quadro é outro: a não ser que ocorram dissensões de última hora, o bloco de poder unifica praticamente todos os partidos de centro e de direita, reúne os vários setores do empresariado e a grande maioria das classes médias, além de segmentos populares representados pelos partidos e organizações dominados por grupos cristãos e igrejas evangélicas. O PT e o PCdoB, depois de 13 anos e cinco meses de acomodação na máquina federal e de convivência com a direita, foram atirados à planície da oposição, junto com desgarrados do PDT e do PSB, e onde estão o decano PSOL, o novato REDE e os partidos da esquerda socialista sem representação no Congresso Nacional, entre os quais PSTU, PCB e PCO.

Além de ter unificado o bloco partidário conservador de centro-direita, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff unificou majoritariamente também as forças do capital, em especial o empresariado industrial, agronegócio, mineração, transportes, construção civil e o setor financeiro. A dúvida fica por conta dos bancos, grandes empreiteiras e concessionárias de serviços públicos, que até o começo do presente ano ainda estavam apostando mais no resgate do governo Dilma Rousseff do que na aventura de um novo governo com o vice Michel Temer. Não porque tenham diferenças nas medidas defendidas pelo capital, mas na forma de aplicação do ajuste econômico com mais, ou menos, legitimidade e garantia de controle das ruas.

O que acontece

No entanto, a situação do governo Dilma desandou de tal maneira que o processo de impeachment se tornou uma saída emergencial para recuperar o mínimo de governabilidade e de estabilidade política e econômica. O processo foi vitaminado pela rebeldia da base aliada no Congresso Nacional, pelas investigações da Operação Lava Jato e pela grande mídia comprometida com interesses dos empresários e das classes médias. Todos esses atores operaram na única direção e jogaram pesado no “fora Dilma”, de quebra no “fora Lula” e “fora PT”, mesmo sem ter base sólida e convincente para o afastamento constitucional da presidente. Essa questão ficou em segundo plano depois do amplo consenso por um novo governo.

O PT, que durante muitos anos abandonou os movimentos sociais à própria sorte, teve de se socorrer do MST e do MTST para criar, nas ruas, a possibilidade de reação perdida no Congresso Nacional e nas alianças com o empresariado. Vale lembrar que nos governos Lula e Dilma, a CUT e outras centrais e sindicatos foram deliberadamente domesticados para evitar confrontos com os patrões e aplaudir, sem qualquer senso crítico, as ações e obras do governo, inclusive os bilhões gastos na Copa do Mundo de Futebol – um evento privado e faturado pela FIFA. Os únicos movimentos sociais de abrangência nacional que conseguiram manter alguma autonomia e combatividade, MST e MTST, foram convocados pelo lulismo para dar ao governo Dilma o gesto derradeiro de resistência ao golpe.

Agora, a se confirmar o exílio de 180 dias da presidente Dilma, com o novo bloco de poder capitaneado por Michel Temer no Palácio do Planalto, MST e MTST terão de definir se jogam suas energias no retorno de Dilma, no desgaste do governo de transição de Michel Temer e se miram ou não o novo horizonte que se abre com a articulação de uma grande frente das esquerdas e a construção de uma proposta inovadora para as eleições gerais de 2018. A não ser que a correlação de forças resulte na explosão da luta de massas, nas ruas, semelhante ao que aconteceu em 2000, na Argentina, capaz de derrubar Temer, Cunha, Renan e exigir eleições diretas já, o que se apresenta no calendário da legalidade democrática institucional é a disputa eleitoral de 2018.

O que fazer

Dificilmente Dilma Rousseff reassumirá a Presidência da República. Tudo indica que será cassada ao final do processo, a não ser que antes venha a renunciar. O PT e o lulismo tendem a perder boa parte de suas forças, estarão sob impacto do desgaste do impeachment e das denúncias da Operação Lava Jato. Lula corre sério risco de ser condenado e ficar impedido de se candidatar devido ao envolvimento com as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS, que assaltaram a Petrobras. Restará aos petistas e aos militantes do MST, do MTST e demais movimentos sociais da área de influência do lulismo estabelecer nova estratégia de enfrentamento das classes dominantes, seja o repeteco de alianças com a direita ou fazer novo alinhamento no campo da esquerda – com partidos e organizações sociais declaradamente socialistas.

A principal questão é saber se interessa ao PT refazer o rumo com outra proposta de disputa do poder e se consegue retomar a prática de fazer oposição pela esquerda com programa autenticamente transformador. Já que não fez, até hoje, qualquer autocrítica do rumo tomado desde a Carta do Povo Brasileiro, em 2002, e muito menos a avaliação crítica do processo que levou o governo Dilma a sofrer impeachment, tudo indica que o PT tende mesmo a manter prioridade nas alianças com os partidos e forças de centro e de direita, inclusive nas eleições municipais de 2016 – sem levar em conta as forças da esquerda socialista. A essas forças aparece a oportunidade de constituir, desde já e nos próximos anos, uma grande e sólida frente popular, democrática e anticapitalista não só para combater o governo de transição de Michel Temer, atrair as classes trabalhadoras e a juventude para a militância, mas também para disputar as eleições gerais de 2018 contra o novo bloco de poder marcadamente neoliberal e conservador.

A crise do impeachment abriu espaço para novo rearranjo político e nova correlação de forças no cenário nacional. O processo dialético movimenta a história. As contradições do novo bloco de poder vão aparecer rapidamente. Os trabalhadores e a população que mais demanda a ação do Estado e os serviços públicos vão perceber que o discurso da “salvação nacional” é pura engabelação. Os movimentos sociais populares e partidos de esquerda serão importantes ferramentas para a defesa da grande maioria do povo. A articulação dessa frente de oposição de esquerda depende agora da visão e decisão da militância. O Brasil inaugura nova etapa da luta de classes.

 

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor.




Academia Itapetiningana de Letras com novas atividades

Em reunião realizada no dia de ontem, 28 de abril, os membros da Academia Itapetiningana de Letras apoiaram várias propostas. Saiba quais

 

A Academia resolveu aceitar o oferecimento da Secretaria da Cultura da Prefeitura de Itapetininga e vai se instalar oficialmente no novo prédio do Centro Cultural (Largo dos Amores), quando a edificação estiver liberada.

Foi aprovada também a proposta do acadêmico Helio Rubens de colocar nas principais ruas e praças da cidade, placas com os nomes antigos desses locais, visando com isso preservar a cultura popular. O acadêmico Roberto Soares Hungria ficou encarregado de verificar junto às autoridades competentes, como pode ser feito isso.

A proposta do acadêmico Roberto Hungria também foi aprovada: sortear um brinde especial, ligado à literatura, entre os que participarem da reunião mensal da Academia.

Outra proposta aprovada foi do acadêmico Angelo Lourival Ricchetti: a Academia vai continuar dar continuidade ao projeto ‘Literatura Viva’ e sua oficina voltada ao incentivo aos novos escritores.

O presidente Mário Donato Sampaio apoiou as inciativas,

O e-meio da Academia é academiaitapetininganadeletras@gmail.com

A página no Facebook é Academia Itapetiningana de Letras




Grupo de Percussão faz concerto eclético no Conservatório de Tatuí

Apresentação será na próxima quinta-feira, dia 5 de maio, no teatro Procópio Ferreira

O Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí – instituição do Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura do Estado – faz novo concerto de temporada na próxima quinta-feira, dia 5 de maio, às 20h. Sob coordenação de Luis Marcos Caldana, o concerto será no teatro Procópio Ferreira (rua São Bento, 415), com ingressos vendidos a R$ 12 (R$ 6 meia entrada).

Para o próximo concerto, Caldana selecionou repertório eclético, privilegiando obras de compositores brasileiros e estrangeiros. De Ney Rosauro, será apresentada a obra “Abertura Japonesa”, e, de Paulo Costa Lima, “Ziriguidum”. De Jorge Camiruaga, será apresentada “Quarteto em Chico”. Também integram o programa obras de Joseph Soler (“Sons da Noite”), Jared Spears (Woven Tales) e Pat Metheny e Lyle Mays (“Minuano”) – esta última, com solos de vibrafone por Jeferson Oliveira e de contrabaixo por Letícia Carvalho.

Nesta apresentação, o grupo estará formado por Agnaldo Silva, Luis Marcos Caldana, Andreza Vieira, Bruno Andrade, Jeferson Oliveira, Jônatas Campos, Leonardo de Souza Pedro, Pâmela Simões, Renan Dias e Washington Oliveira.

Em atividade por mais de quatro décadas ininterruptas, o Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí é o mais antigo grupo do gênero no país, abrindo caminho a outros semelhantes em solo nacional. Criado em 1975, com objetivos de oferecer aos estudantes de níveis básico, intermediário e avançado da escola de música a oportunidade de executar peças específicas para grupos de percussão, algo raro no país. Com isso, os instrumentistas poderiam obter aperfeiçoamento individual e aprimorar a experiência de apresentação em grupo. Ao longo de sua história, já contou com mais de 200 percussionistas-integrantes.

Além de executar clássicos erudito e popular, o grupo estimula a composição de novas obras, incentiva a formação de público para os mais variados estilos e populariza a percussão agregando características performáticas e de dança. Sua atuação diferenciada consolida-o no cenário nacional e faz dele o pioneiro nesse segmento.

 

Conservatório de Tatuí – O Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí é um equipamento do Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura do Estado administrado pela Associação de Amigos do Conservatório de Tatuí. Fundado em 1951, é uma das mais importantes ações na área de cultura no país. Oferece formação profissional em música, luteria e artes cênicas. Sua única extensão fora do município de origem é o Polo do Conservatório de Tatuí em São José do Rio Pardo.

Apoio Cultural – Para a temporada do ano de 2016, o Conservatório de Tatuí conta com apoio cultural da Coop – Cooperativa de Consumo e Grupo CCR SPVias.
SERVIÇO
Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí
Luis Marcos Caldana, coordenação
Quando: Quinta-feira, 5 de Maio de 2016
Horário: 20h00
Onde: Teatro Procópio Ferreira – Rua São Bento, 415
Ingressos: $12 ($ 6 meia entrada), na bilheteria do teatro, de terça a sexta das 17h às 19h e nos dias de realização de eventos a partir das 18h

Informações: 15 3205-8444




Artigo de Celso Lungaretti: 'FALTA DE GRANDEZA E EXCESSO DE ESPERTEZA ESTÃO NOS CONDENANDO AO GOVERNO TEMER'

Celso Lungaretti: ‘QUEM TEM MEDO DE ELEIÇÕES?’

Por Randolfe Rodrigues

Além das superficialidades e dos escândalos que apontam soluções simples para problemas complexos, a verdadeira crise que o Brasil experimenta é a de representação. O governo não governa, o Parlamento não legisla nem fiscaliza e o povo não é chamado a decidir.

A opção neoliberal do segundo governo Dilma a afastou de sua plataforma eleitoral, agravou os gargalos na infraestrutura do país, enfraqueceu a competitividade e acentuou o atraso tecnológico, com graves reflexos na produtividade. A economia parou.

No plano institucional, o eclipse total do diálogo levou a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, a atuarem não como chefes de poderes independentes, mas como comandantes de tropas inimigas.

Enquanto Dilma se mostrava incapaz de reagrupar a base e dialogar com o Congresso, Cunha passava a trabalhar para restringir a mobilidade do governo, usando para isso manobras regimentais sucessivas. Asfixiado, o Palácio do Planalto capitulou, demonstrando que aquilo que parecia o ocaso de um governo era, de fato, o réquiem do presidencialismo de coalizão.

No plano político, os escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos partidos e líderes da situação e oposição descredenciaram o maniqueísmo e, com ele, uma saída a frio para a crise. O impasse não será resolvido se ignorarmos o desejo de participação da ampla maioria da população. O dique está prestes a ser rompido.

O que vem das ruas é a rejeição de um modelo. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 9 mostrou que 61% da população quer afastar Dilma da Presidência. A destituição de Michel Temer é desejada por 58%. A rejeição ao vice-presidente consegue a proeza de unir os movimentos favoráveis e contrários ao impeachment.

Com Dilma e Temer sem o apoio das ruas e Cunha, o terceiro na ordem de sucessão, prestes a experimentar o frio do cárcere, fica claro que um problema excepcional exige uma solução excepcional, proporcional à gravidade do momento: novas eleições.

Em resposta ao impasse político, um grupo de senadores apontou para o futuro e assinou a Proposta de Emenda à Constituição 20/16, que prevê excepcionalmente uma eleição presidencial simultânea às eleições municipais de outubro.

O voto direto como forma de superar a crise já ganhou as manchetes internacionais, o parecer de juristas renomados e a opinião majoritária das ruas. O que falta, então, para o eleitor ser chamado a decidir quem deve governar a nação?

As eleições diretas estão para a democracia como a água benta está para o rito católico: purifica a matéria, espanta o mal e potencializa os efeitos positivos da oração.

Só os agentes das sombras podem temer a luz das urnas.

MEU COMENTÁRIO –  O senador Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade, faz uma defesa convincente da realização de uma nova eleição presidencial para conferir credibilidade àquele(a) que substituirá a agônica Dilma Rousseff. 

Mas, não bastam os pequenos partidos para viabilizarem a aprovação de tal PEC. Sem o poder de fogo do PT, não conquistarão as ruas nem votos suficientes dos congressistas (três quintos do Senado e da Câmara Federal).

Há uma corrente no PT propondo que, antes da data fatídica de 11 de maio, quando ela será afastada, Dilma também envie ao Congresso sua PEC.

neste artigo) o seguinte roteiro:

  • imediata adesão do PT e outras forças de esquerda à campanha por uma nova eleição presidencial, revivendo o espírito das diretas já.

Outro complicador é o de que, se ela não renunciar, não se estará oferecendo uma opção nítida aos brasileiros. Haveria, paralelamente: 

  • uma mobilização no sentido de que se antecipasse a eleição presidencial para outubro.

Ou seja, havendo suspeita de tratar-se de um pulo do gato, a chance de a nova diretas já vingar seria praticamente nenhuma. 

Finalmente, devemos considerar os fatores Dilma e Lula.

Ela já se resignou a desocupar o Palácio, mas faz planos e mais planos (périplos gato-por-lebre inclusos) para chegar à votação decisiva, provavelmente no 4º trimestre, com o apoio de 28 dos 81 senadores, o suficiente para ser reempossada. 
Então, por mais que isto implique o alongamento da agonia a que estão submetidos os brasileiros, com a recessão atingindo os píncaros e o desemprego tangendo cada vez mais trabalhadores para o desespero e a penúria, temo que Dilma vá acalentar tal ilusão até o mais amargo fim, não se dispondo de maneira nenhuma a renunciar.


Eu diria que a aposta de Lula seja a seguinte:

  • deixar que Temer assuma, para fazer do governo dele o espantalho contra o qual o PT, encabeçando a oposição, poderá unir a esquerda.   

(por Celso Lungaretti)




Sergio Diniz da Costa: 'Morrer ou desencarnar?

Sergio Diniz

“O professor Flório nos ensinava antes, durante e depois das aulas. Oficial e extraoficialmente, portanto.”

Prof. Antonio Nelson Florio

5h00! Olhos abertos! Mais uma vez perdi o sono! De uns tempos pra cá, tenho dormido no máximo 6h diárias. Segundo o que muita gente diz, isso ‘é coisa da idade’. De acordo com esses entendidos, a pessoa idosa não tem tanta necessidade de sono. Porém, eu tenho apenas 59 anos de idade!

Perder o sono, em plena madrugada, tem me levado a um rito diário, o qual se inicia pelo rosto lavado, dentes escovados e o preparo do café, antes de começar a escrever algum texto.

E cá estou a preparar o café, quando percebo que a água já havia começado a ferver há algum tempo. E, toda vez que isso acontece, inevitavelmente me vem à memória uma das lições do meu professor de Química, Antonio Nelson Flório (lá nos idos da década de 70, na E.M. ‘Dr. Getúlio Vargas’, de Sorocaba).

O professor Flório nos ensinava antes, durante e depois das aulas. Oficial e extraoficialmente, portanto. E uma de suas lições era de ordem prática: ao fazer café, evitar deixar a água ferver por muito tempo, pois isso elimina o oxigênio e, consequentemente, o café fica com gosto ‘azedo’.

Durante a minha vida, perdi muitas pessoas queridas e, há pouco tempo, o professor Flório foi uma delas. E sequer pude ir ao seu velório, porque soube do fato praticamente na hora do enterro.

Todavia, se eu tivesse tido essa oportunidade, pediria licença pra expressar minha gratidão a ele e, por extensão, a todos os professores que já passaram por minha vida.

E, expressando meus sentimentos, inicialmente diria que não gosto de usar a palavra ‘morrer’, porque, sobre ela, o dicionário a define como ‘perder a vida, a existência’; ‘finar-se, expirar’; ‘desaparecer, sumir’.

Expressaria que a lógica e, principalmente a intuição, me levam a repudiar esse vocábulo e seus significados, pois não consigo conceber o simples desaparecimento e a finitude não da existência carnal de um ser humano, porém, daquilo que anima essa existência: a alma!

Declararia que, ao mergulhar na história da humanidade, volto à Grécia antiga e me vejo na ágora de Atenas, ouvindo as preleções de Sócrates, um dos fundadores da filosofia ocidental e que, dentre seus ensinamentos, pregava a imortalidade da alma.

A alma e sua imortalidade! A alma, que o mesmo dicionário define como ‘vida, coragem, fogo, paixão’! E, também, como ‘sentimento, coração, sensibilidade, generosidade’!

A alma imortal! Um fogo que não se apaga, um coração que bombeia sentimentos e sensibilidade e que reverbera pelos séculos e milênios afora, escrevendo a Grande Epopeia Humana!

Ao me despedir do mestre, diria a seus familiares e amigos que prefiro usar a palavra ‘desencarnar’, entretanto, sem nenhum proselitismo. Apenas exprimiria que este termo significa, singelamente, desprender-se da carne, abrir as portas da gaiola material, para elevar-se ao voo das alturas. E levando consigo todas as conquistas imateriais de sua existência terrena!

E dito isto, e terminando minha fala, me dirigiria ao mestre e, a ele, não diria ‘adeus!’, mas, tão somente, ‘até breve!’ Em algum lugar do espaço e em algum momento da eternidade!

Todavia, enquanto isso não acontece, professor Flório, fico eu aqui, fazendo meu café. E evitando deixar a água ferver por muito tempo!

 

Sergio Diniz da Costa

jornalculturalrol@gmail.com

(Publicado originariamente em 28/04/2016)




Artigo de Pedro Novaes: 'Vice'

Pedro Israel Novaes de Almeida:  ‘VICE’

 

colunista do ROL
Pedro Novaes

A figura do vice, prefeito, governador ou presidente, sempre foi pouco compreendida.

Na eleição, a principal função do vice é não atrapalhar. Se acrescentar algum voto à chapa, melhor.

É comum o candidato a titular escolher um vice de boa imagem, tentando atrair para si tal virtude. Escolhas decorrentes de acordos partidários tendem a resultar em desavenças pessoais futuras.

No entendimento popular, o vice nada mais é que um plantonista, sempre à disposição, para suprir a falta, longa ou curta, do titular. O vice ideal, na visão do titular, é aquele que nada repara, nada vê e nada ambiciona.

Para evitar a função meramente figurativa, alguns vices acabam nomeados para secretarias e ministérios. Em havendo titular solteiro, o vice pode comandar as ações sociais do executivo, cargo tradicionalmente ocupado pela primeira-dama.

Quando a gestão é considerada boa, o mérito é só do titular, mas o coitado do vice é sempre lembrado, quando a gestão acaba mal avaliada. A rigor, o vice é uma autoridade que pouco pode e nada manda.

São raras, raríssimas, as gestões que comemoram um bom relacionamento entre titulares e vices. Existem titulares que operam  malfeitos e saem em licença, deixando que os vices assinem as falcatruas.

Titulares ficam revoltados quando os vices, ocupando por curto período o cargo, tomam iniciativas pleiteadas e agradecidas pela população.  O procedimento costuma agravar as desavenças do poder.

Na verdade, o vice não deve ser um simples e obediente estepe, sendo necessário que acompanhe o dia-a-dia da administração, pois pode a qualquer momento assumi-la.   Vices de fato sugerem, discutem e, se for o caso, conspiram.

Vices são conspiradores natos, e há casos em que a conspiração chega a ser heroica.  Conspiradores sem êxito acabam distanciados do Executivo, e alguns sequer comparecem à sede da administração.

O vice não exerce qualquer função, sendo mero plantonista. É pura expectativa, e, muitas vezes, torcida.

Vice é mais um caso de “teta de homem”. Existe mas não tem utilidade alguma.

Nossos legisladores precisam, com urgência, criar funções e responsabilidades para o vice. A função ideal é exercer a Ouvidoria, do município, estado ou país.

O vice não é subalterno do titular, e não perde a identidade, quando a tem, em virtude de exercer uma expectativa. Alguns governos merecem vices que conspiram.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.