Artigo de Celso Lungaretti: 'DILMA QUER NOS LEGAR UMA TERRA ARRASADA + A EXPULSÃO DE MARIA LUÍZA E SEU GRUPO'

Celso Lungaretti: ‘QUANDO FOR AFASTADA, DILMA BATALHARÁ PARA QUE O BRASIL SEJA SUSPENSO DO MERCOSUL’


Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.

A ainda presidente Dilma Rousseff, face à horrorosa repercussão do que jamais deveria ter cogitado e muito menos anunciado, recuou de sua intenção de fazer demagogia barata contra o impeachment numa reunião da ONU dedicada a desafios climáticos como o aquecimento global (e não à cabeça quente de algum participante).

Mas, não poderia retornar dos EUA sem  dar o habitual tiro no pé. E foi dos piores: falando à imprensa, ameaçou recorrer à cláusula democrática do Mercosul caso seja afastada do poder pelo Senado. Sua retórica foi ruim na forma e péssima no conteúdo:

Eu alegarei a cláusula inexoravelmente… de fato (se houver) a partir de agora uma ruptura do que eu considero processo democrático.

Assim, a partir de agora, ele se arroga a condição de única juíza do que seja ou não democrático. Acima da Constituição, do STF e do Congresso Nacional. Durante a ditadura os militares pensavam com seus botões mais ou menos isso, mas nem mesmo um Médici teve a coragem de afirmá-lo em alto e bom som!

Se houver ruptura do que Dilma considera ser o processo democrático, ela vai fazer tudo ao seu alcance para atrair o dilúvio sobre nós. Depois de arrastar o Brasil à pior recessão da História, ela quer aprofundá-la erguendo obstáculos ao comércio internacional do País.

O último argumento que lhe resta, portanto, é este: “Ou vocês me engolem ou engolirão pedras, pois vou deixá-los na miséria!”.

Mas, como nada do que ela pretende e tenta tem se tornado realidade, o melhor mesmo é pagarmos para ver.

Eu que, pelo contrário, tenho acertado em quase tudo que prevejo, antecipo sem medo de errar: o Brasil NÃO será suspenso. O Mercosul também vai deixar a Dilma falando sozinha.

 
Desabafo de Dalton Rosado

O DESVIRTUAMENTO DE PRINCÍPIOS

No tempo da ingenuidade, que todos temos pois ninguém nasce experiente, eu acreditava que poderia haver partidos políticos que respeitassem as opiniões divergentes na busca da melhor solução para os problemas sociais. Cheguei à conclusão que isso não é possível, pois o poder corrompe e a continuidade no poder corrompe muito mais.

Foi imbuído do sentimento de credulidade ingênua que ajudei a criar o PT em Fortaleza e, por extensão, no Ceará. Era o ano de 1981. A vida nos ensina e retira de nós a ingenuidade, mas podemos preservar a pureza de sentimentos. É o que tento fazer.

Advogado defensor de quem era preso pela Polícia Federal; de favelados despejados de suas moradias; de sindicatos que sofriam intervenções ditatoriais; e defensor da anistia aos presos políticos e redemocratização, entre outras lutas, vivi um período em que as diferenças no campo ideológico da esquerda eram mascaradas por um objetivo comum: derrubar o regime militar e restaurar o estado de Direito.

A direita e a esquerda se aliaram no ataque á administração popular de Maria Luíza, que terminou o seu mandato graças à tenacidade de muitos combatentes revolucionários que se ombrearam em sua defesa. Ali já ficava claro o rumo político de conciliação com a burguesia que o PT iria tomar objetivando o acesso e a tentativa de permanência no poder. Fomos expulsos do PT.

Assim, relembremos como Lula respondeu a uma pergunta sobre nós no programa Roda Viva:

AUGUSTO NUNES: Lula, por que o candidato [apoiado por] Maria Luiza [Dalton Rosado, do Partido Humanista], nesse caso, teve 3% dos votos? Você acha que o povo foi tão ingrato assim?

LULA: Em Fortaleza, a grande briga que houve -e a imprensa publicou com certa dosagem de razão-, o grande problema que existia era a briga entre o partido e Maria Luiza. Porque a companheira Maria Luiza -eu não tenho procuração; não tive para defendê-la, como não tenho para acusá-la- entendeu que o partido não existia e não houve relacionamento com o partido. 

Ou seja, não é que o partido quer administrar, mas o partido tem responsabilidade perante a sociedade, porque é ele que responde para a sociedade; e, quando o partido tenta elaborar um projeto, o partido não elabora um projeto para a prefeita cumprir ou para o prefeito cumprir, o partido elabora um projeto para ser discutido no centro da sociedade como proposta partidária. E é exatamente aí que trombaram PT e Maria Luiza, e é por isso que ela se afastou do partido e saiu muito desgastada. 

Está aí o resultado. E por que ela saiu do PT? Porque ela imaginava que, no PT, ainda se podia fazer política na base do coronelismo, ou seja, alguém, por ser famoso, coloca um candidato debaixo do braço e, a partir daí, obriga o partido a aceitar. Ela tentou impor um candidato, o partido tinha feito uma coligação democraticamente discutida no partido e o partido resolveu indicar outro. O que aconteceu? O partido provou que estava certo e que a Maria Luiza tinha entrado num barco furado.

ADMINISTRAÇÃO POPULAR x CONCILIAÇÃO 

DO PT COM AS FORÇAS CONSERVADORAS 

A verdade é que Maria Luíza foi a primeira prefeita mulher de uma capital e a primeira vitória do PT para um cargo executivo importante. Isto sem contar com nenhum vereador e sem que as capitais tivessem autonomia financeira (pois funcionavam como secretarias do Estado, uma vez que até então os prefeitos eram escolhidos pelos governadores, distorção que somente foi superada pela Constituição de outubro de 1988, cuja entrada em vigência se deu em 1989, após o fim do seu mandato).

Assim, lutou com imensas dificuldades e, inclusive, com a oposição de parte do PT local e nacional, pois a prefeita não aceitava compactuar com métodos de administração tradicionais (o habitual toma-lá-dá-cá).

Ademais, havia uma divergência ideológica com parte do PT local e nacional, pois o grupo de Maria Luíza tinha orientação marxista, e os marxistas estavam sendo perseguidos pelo grupo Articulação, do Lula. Muitos marxistas aderiram ao lulismo petista (José Dirceu, José Genoíno, Tarso Genro, José Guimarães e outros) e escaparam da degola. A expulsão da Maria Luíza, juntamente com o seu candidato à sucessão (eu, Dalton Rosado), que tinha amplas chances de vitória interna, no diretório municipal, deu-se por decisão de cúpula do diretório regional, obedecendo a orientação do diretório nacional, pela não aceitação da postura política e administrativa do seu grupo.

A conciliação do PT nacional com segmentos tradicionais e seus tradicionais métodos começou a se evidenciar a partir daí. Além da perseguição petista, da oposição de partidos como o PCdoB e hostilização que sofria da imprensa tradicional, a chamada Administração Popular sofreu a perseguição dos governos Tasso Jereissati (estadual) e do José Sarney (federal) num momento de forte dependência econômica e tributária a esses governos.

Daí decorreram graves dificuldades de administração, que lhe acarretaram impopularidade, mas pôde equilibrar as finanças públicas municipais, de modo a que o seu sucessor, Ciro Gomes, encontrasse uma prefeitura saneada e apta a receber os inúmeros projetos que se encontravam encalhados no Governo Federal (além de poder com a nova realidade de recursos financeiros estabelecidos na nova Constituição). Ciro Gomes se beneficiou dessa condição inicial, pois subiu meteoricamente de prefeito para Governador em apenas um ano de mandato.

Assim, não é verdade  que eu, Dalton Rosado, advogado de causas populares e militante do PT desde 1981,  secretário de Finanças da Administração Popular, fosse um candidato de algibeira, como se diz no jargão dos coronéis do sertão. Os fatos estavam em desacordo com a afirmação de Lula.

 

 

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Genealogista lançou livro sobre sua familia

Capa do livro Eu e os Meus de Afranio Mello 001 (Copy)‘Eu e os Meus – Orsi e Ramacciotti’ foi lançado em cerimonia realizada na Câmara de Itapetininga

 

O genealogista Afrânio Franco de Oliveira Mello, que já atendeu gratuitamente a mais de 600 solicitações de estudos genealógicos solicitados por leitores do ROL, lançou dia 15 ultimo, em sessão especial do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga, seu livro ‘Eu e os Meus – Orsi e Ramacciotti”. onde conta fatos e dados sobre os dois principais ramos de sua familia.

Foi uma cerimônia muito concorrida, com o plenário lotado e que contou com presenças importantes, como a da presidente da Câmara de Itapetininga Dra. Maria Lucia Aydar e palestras brilhantes, como a da professora Maria Maria Mazzarino.

O autor, feliz com o sucesso do evento, narrou da tribuna outros detalhes que envolveram a feitura do seu livro de 492 páginas.

Nas fotos abaixo, alguns momentos da sessão solene (fotos Ana Elisa), que foi presidida pelo presidente do IHGGI, jornalista Helio Rubens de Arruda e Miranda

Grupo de amigos no lanpçamento do livro Eu e os Meus de Afrânio Mello dia 15 abril 2016

Os amigos e parentes prestigiaram o autor (ao centro).

José Ribeiro, Edmundo Prestes, Roberto Hungria e HR no lanpçamento do livro Eu e os Meus de Afrânio Mello dia 15 abril 2016Seus amigos e colegas do IHGGI José de Almeida Ribeiro, Edmundo Prestes
Nogueira, Roberto Soares Hungria e Helio Rubens de Arruda e Miranda

Margarida Maria Mazzarino no lanpçamento do livro Eu e os Meus de Afrânio Mello dia 15 abril 2016 (Copy)A professora Maria Margarida Mazzarino foi uma das palestrantes

HR presisiu a sessão no lanpçamento do livro Eu e os Meus de Afrânio Mello dia 15 abril 2016 (Copy)A sessão foi presidida pelo presidente do IHGGI




Destaque cultural de Capão Bonito por Alexandre Mendes

Ator capão bonitense brilha e integra grupo profissional de teatro

 

Com 6 anos de existência o curso de teatro do Ponto de Cultura da Associação Comunitária Flor do Panema já colhe frutos culturais e reconhecimento na região, com várias apresentações, atividades, workshops, encontros e alunos seguindo carreira artística. O projeto social tem permitido a iniciação teatral com aulas práticas e teóricas de arte e teatro, e possibilitando compartilhar conhecimento a seus participantes como ocorreu com ex-aluno Alisson Marcelo Dos Santos Oliveira, que após 2 anos estudando arte e teatro decidiu seguir carreira profissional e este mês estreou na CIA profissional de teatro  Barracão da Vó da cidade de Sorocaba/SP.

Seus primeiros passos no mundo do teatro foram no Ponto de Cultura com as peças: Cabaré, Macabeth e Vermelho Brasil, sob direção de Alexandre Mendes.

“Quem me apresentou e me orientou nesse meu primeiro contato com o teatro e se perpetuou por dois anos seguidos foi o Professor: Alexandre Mendes, a quem guardo uma admiração imensa e um grande respeito. Seu trabalho é algo fantástico e um tesouro para cidade! Devo também a vários amigos que apoiaram e foram super-receptivos no curso. Foi lá onde me preparei e me fortaleci; com orientações, dicas e experiência. Para alcançar novos horizontes em outras cidades, como em Itapetininga e Sorocaba”, destacou o jovem ator Alisson.

Após passagem pelo SESI-Itapetininga hoje o capão bonitense Alisson integra o Grupo Teatral Barracão da Vó de Sorocaba, com direção de Rodrigo Cintra, um diretor e ator reconhecido pelos seus trabalhos como o espetáculo de rua/teatro chamado “Truques e Circaria”, Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014 do Barracão da Vó: “Historia do Dito Historiadô”,  espetáculo contemplado pela LINC 2015 (Lei de Incentivo a Cultura de Sorocaba) “Benecleto Os causo de Noé Godinho”.

A associação Comunitária Flor do Panema tem presidência de Flávio Monteiro e mantém 45 atores/alunos divididos em três turmas, o curso de teatro é gratuito, tem duração de três anos, não oferece DRT, para participar é necessário passar por seletiva prática e as inscrições abrem em fevereiro de 2017.

Maiores informações – (15) 3543 1539  Falar com a secretária  Janaina / Rua Treze de Maio, 25 B, Centro.

Site: https://www.facebook.com/pontodeculturaradiolegal

 

(cena do peça que Alisson participa em Sorocaba)

ator CBator CB2




Dani Black no Sesi de Itapetininga

O SESI Itapetininga apresenta no próximo dia 29 de abril às 20 horas, o cantor e compositor Dani Black, um dos principais nomes da nova geração da MPB 

A apresentação traz no repertório composições autorais de seu novo trabalho e suas consagradas canções como Linha Tênue, Só Sorriso e Miragem.

Dani Black vem chamando a atenção do público e da crítica com sua voz marcante, carisma e o som característico de um exímio violonista e guitarrista.

Entrada gratuita – os ingressos podem ser reservados pelo site www.sesisp.org.br/meu-sesi.

As reservas são liberadas para as apresentações que acontecem na mesma semana, a partir de segunda, às 12h, e até quarta, às 17h.

Uma cota de ingressos também será distribuída na bilheteria da unidade até 1h antes do espetáculo.




Música caipira anima almoço de domingo do Sesc Sorocaba

A  apresentação faz parte do projeto música de bandeja e acompanha o cardápio especial da comedoria

 

 

Durante todo o mês de abril, o projeto música de bandeja, que acompanha os almoços de domingo no Sesc Sorocaba, trouxe repertórios musicais aliados a questionamentos sobre as verdades e mentiras que permeiam as histórias do mundo. Para fechar a programação deste mês de abril, o violeiro e artesão, Levi Ramiro faz seu show no dia 24/04.

O violeiro e artesão começou sua carreira tocando violão popular e em meados de 1995 adotou a viola como principal instrumento. Levi acabou por tornar-se mestre tanto na arte de tocar como na de fabricar o instrumento. Com base nos valores da cultura caipira e misturando elementos que formam a Música Brasileira, Levi Ramiro traz em suas composições, a poesia e a simplicidade da vida interiorana.

Suas composições trazem temas voltados à preservação da natureza e  já foram gravadas por nomes como Ana Salvagni, Matuto Moderno, Dércio Marques, Paula Veloso, Tânia Grinberg, Jorge Curuca, João Carlos e Maurício, Duo Catrumano, Carlos Vergalim, Valdir Verona, João Arruda, Zé Esmerindo e outros nomes da música brasileira. O músico também participou da direção musical de vários CDs como “As liras pedem socorro” (Socorro Lira), “Sentimento matuto” (Júlio Santin), “Canto das horas” (Adriano Rosa), “Lufada em Viola de Cocho” (Daniel de Paula), “Estilo Caipira” (Mauro Silva e Oliveira), “Viajem violeira” (Carlos Vergalin), entre outros.

Como artesão, Levi Ramiro ministra oficinas de fabricação e toque de viola pelo Brasil através de projetos desenvolvidos por Delegacias Regionais e Secretarias e Pontos de Cultura de estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do sul e Bahia. Levi recebeu o Prêmio Rozini 2010 “Excelência da Viola Caipira”, na categoria de Violeiro Solo, e já gravou um programa de duas horas para a Rádio WKCR da Cidade de NY, USA.

A apresentação de Levi acontece neste domingo, a partir das 13h, na área de convivência do SESC Sorocaba. A entrada é gratuita.




Sergio Diniz da Costa: 'Insônia, Mussorgsky e Durrenmatt'

Sergio Diniz da Costa

 Insônia, Mussorgsky e Dürrenmatt

Modest Mussorgsky (1839 – 1881)

Sou um insone inveterado, como já declinei em outra crônica desta revista.* E, como tal, nas infindáveis horas de vigília, nas madrugadas, as minhas opções são assistir a filmes ou escrever.

Filmes em geral, porém ─ e infelizmente –, apresentam excesso de violência. Uma péssima companhia para conciliar o sono! E, de violência em violência, gasto as pilhas do meu controle remoto, trocando de canais.

A saída, nesse caso, é buscar algum canal com músicas. Preferentemente, de qualidade. E, na TV paga, deparo-me com o canal Arte 1.

São quase 3h da manhã e uma agradável e saudosa surpresa: no Arte1 In Concert, uma orquestra executa a peça Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, um compositor e militar russo, nascido em 21 de março de 1839, em Toropets, Rússia, e conhecido por suas composições sobre a história da Rússia medieval, que me transporta ─ emocionado ─ para o ano de 1975, quando então, com 18 anos de idade, participava do teatro amador de Sorocaba, sendo membro do Grupo TEMA (Teatro Moderno de Amadores), sob a direção de Moisés Miastkowosky, um dos diretores mais importantes do teatro moderno brasileiro que, infelizmente, em 2014 cumpriu sua missão terrena.

Friedrich Dürrenmatt  (1921 – 1990)

E, nesse transporte temporal, revejo um jovem aprendiz de teatro, encenando a peça A Pane, do autor e dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (Konolfingen, 5 de janeiro de 1921), um proponente do teatro épico, cujas peças, mais do que propiciarem simples diversão passiva, implicavam um debate teórico. Essa peça, na verdade, um conto, publicado em 1955, apresenta uma alegoria da Justiça como cena teatral e induz a conclusões desorientadoras.

Nele, o carro de um caixeiro-viajante (Alfred Traps) quebra no meio da estrada e ele é obrigado a procurar auxílio num pequeno vilarejo, onde acaba decidindo pernoitar. Como a estalagem está lotada, recorre a um velho juiz aposentado que aluga quartos em sua casa. Durante o jantar, um verdadeiro banquete para o qual também foram convidados três outros velhos amigos do anfitrião, ao caixeiro-viajante é proposto um jogo: participar como réu da encenação de um julgamento em que os quatro velhos aposentados interpretarão as suas antigas funções de juiz, promotor, advogado de defesa e carrasco. E, no meio de uma verdadeira orgia gastronômica, Traps se julga verdadeiramente autor de um crime que não cometera, o que o leva ao suicídio.

A peça, com figurino e cenário riquíssimos, foi emoldurada por Mussorgsky, com Quadros de uma Exposição, uma suíte escrita para piano, em junho de 1874, que descreve, em metáforas, um passeio em uma exposição de quadros, e foi composta como uma homenagem do compositor a um amigo falecido em 1873, o arquiteto e pintor Viktor Hartmann, cujos quadros  estavam expostos numa galeria de São Petersburgo.

Essa peça, de certa forma, induziu-me a seguir a carreira advocatícia. E, depois de trabalhar por 12 anos como técnico químico, nela ingressei e permaneci por pouco mais de duas décadas, imaginando que poderia defender muitos Alfred Traps, das ciladas que algumas pessoas impõem a outras.

O advogado de Traps – na peça – não conseguiu absolvê-lo, o que o levou ao suicídio. Da minha feita, os anos me fizeram constatar que eu fui um Dom Quixote, lutando contra os moinhos de uma Justiça excessivamente formal, lenta, desaparelhada. Ao contrário de Traps, todavia, não me suicidei; aposentei-me e encerrei a carreira jurídica para, a partir de então, abraçar, plenamente, a carreira literária.

Hoje, sou outro tipo de Dom Quixote. Todavia, ao contrário do personagem de Cervantes, não luto contra moinhos de vento; luto contra uma tela em branco que, muitas vezes, recusa-se a ser preenchida por letras pretas e ideias coloridas. Até que, de repente, no meio da madrugada, Mussorgsky e Dürrenmatt me livram dessa pane inspiratória e me levam para visitar os quadros de uma exposição.

* O que eu vim fazer neste mundo?

(Revista Bemporto. Edição de maio/ 2015)




Rogerio Sardela entrevista Luiz Mendes

Rogério Sardella: ‘Por Onde Anda Luiz Mendes?’

(por Rogério Sardella)

12884534_1550468975250676_1267135849_nLonge dos microfones enquanto negocia seu retorno, Luiz Mendes conta que a carreira de radialista surgiu após a sugestão de uma psicóloga. Entre vários assuntos, ele falou sobre a luta de sua mãe para educá-lo, o acidente que sofreu quando trabalhava em ferrovias, sua experiência em rádios comunitárias e também sobre política partidária

 

Iniciada em nossa edição anterior, a série Por Onde Anda?, reserva muitas entrevistas para o leitor mais top da cidade, afinal, o objetivo é, além de homenagear, surpreender e emocionar o público, resgatando para nossas páginas histórias com pessoas que marcaram época em diferentes segmentos.

Conhecido pelo bordão ‘deixe de lero-lero, é samba que eu quero’, Luiz Antonio Mendes recebeu a Revista Top da Cidade/ROL – Região On Line -, em sua residência, localizada não muito longe do centro de Itapetininga.

Aos 60 anos e ainda conservando jeito de menino, nosso entrevistado comentou ter nascido em São Paulo no dia 20 de dezembro, onde morava com seus pais, Terezinha de Jesus Rodrigues Mendes e Luiz Gonzaga Mendes. Aos cinco anos veio residir em Itapetininga, com sua mãe, na casa de seu tio José, após a separação, sendo ele o único filho dessa relação.

Vila Santana foi o bairro em que Mendes passou praticamente toda a sua existência, incluindo fases como infância, adolescência e adulta.

Emocionado, ele citou com orgulho sobre a luta da mãe, que trabalhava como doméstica em casas de família para poder educá-lo e que chegou até mesmo a passar fome. A mãe trazia comida das casas das patroas para alimentar Luiz e a irmã Rita de Cássia. Os dois também se alimentavam na Legião da Boa Vontade, que ficava na Dr. Lobato.

Na vida escolar frequentou inicialmente a EE Sebastião Pinto, passando posteriormente para a EE Major Fonseca e na EE Prof. Abílio Fontes concluiu o Ensino Médio. “Gostaria de ter feito Jornalismo. É um sonho ainda não realizado”, revelou o entrevistado.

Ainda na infância, morou nas vilas Piedade e Rosa, procurando ajudar a mãe vendendo bananas, biju e foi engraxate no Mercado Municipal.

O trabalho na linha ferroviária estaria mesmo traçado em sua trajetória, tanto que aos 14 anos já era aprendiz, através do Curso de Formação de Transportes, quando entre 1969 e 1970, aconteceu a mudança da Sorocabana para Fepasa. Aprendeu o ofício de maquinista e aposentou-se como técnico de segurança patrimonial.

Luiz Mendes falou sobre o acidente que sofrera aos 30 anos, em São Paulo, passando por diversas avaliações médicas. Foi durante uma sessão com uma psicóloga, ao fazer uma careação sobre os fatos, ouviu dela que não deveria ficar tão triste e deprimido como estava, pois tinha um potencial muito grande na voz, podendo pensar em desenvolver algo como cantor ou locutor.

Mendes conta que a partir daquele momento passou a pensar seriamente na possibilidade de explorar a voz e que através do amigo Simas, também conhecido como Marapé (da dupla Morandi & Marapé), acabou conhecendo durante um festival sertanejo a dupla Joaquim & Manoel. Para a sua sorte, a pessoa que fazia as narrações comerciais do evento havia faltado, quando Mendes acabou encontrando a oportunidade de se apresentar publicamente, tendo Joaquim gostado de seu timbre de voz e posteriormente o levou para gravar na rádio Iguatemi mensagens publicitárias do programa Joaquim & Manoel. “Ali comecei a descobrir o mundo mágico do rádio, comecei a imaginar a minha voz saindo de um aparelho para milhares de pessoas”, recorda-se, comentando ter recebido muitos incentivos e que fez curso de radialista em São Paulo e continuou sendo ferroviário, até que em 1990, já casado, retornou para Itapetininga com a família, onde a trajetória no rádio continuaria.

Afastado de sua função de maquinista e trabalhando no escritório da Fepasa, através de um primo, surgiu para Mendes a oportunidade de fazer plantão esportivo para a Rádio Clube, onde tudo começou.

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Recorda-se Luiz que após um desentendimento com o sonoplasta Lobão, conversou com o diretor comercial e resolvera deixar a emissora, até que um dia encontrou passando pela linha férrea o radialista Moacyr Oliveira, o qual comentou que Valter Nakan estava sobrecarregado na Difusora e que deveria ir para lá, onde foi apresentado ao empresário José Abrão.

Já na nova casa, começou a apresentar o programa esportivo da faixa das 18 horas, dividindo o espaço com Valter Nakan e Toninho Sales, além do plantão esportivo aos finais de semana, bem como o Domingo Esportivo Musical.

Durante a entrevista, Luiz Mendes citou com saudosismo o nome de cada colega de trabalho que se lembrava, como Fernando Leonel, Carlinhos José, Cidinha Moura, Paula Guarnieri, Valmor, Cristofer, José Augusto (Berimbelo), João Francisco, Brandão Filho, entre outros. “Aprendi muito, inclusive com os operadores de som. Nessa profissão temos que ter muita humildade”, enfatizou.

Contou Mendes que quando morava em São Paulo, o estilo musical que predominava nas paradas de sucesso era o pagode, como Raça Negra, Negritude Jr., Sensação, entre outros grupos do gênero e que após consenso entre os operadores de som da Difusora, inseriram o estilo no plantão esportivo.

Uma grande mudança ocorreria na vida de nosso entrevistado com a chegada das rádios comunitárias.

“Eu, sem malícia nenhuma, comecei a gravar vinhetas para o César José dos Santos (César Cardoso), que foi o pioneiro no ramo em Itapetininga, com a Educativa FM”, recorda-se Mendes”, que levou bronca de José Abrão, o qual lhe disse que ou ele trabalhava em rádio comercial ou numa pirata. “Não tiro a razão dele. Foi uma lição”, disse Mendes.

“O trabalho no rádio tem que ter dom para poder desenvolvê-lo, e além de tudo acaba-se sendo um formador de opinião”, ensina o radialista, citando como exemplo que já trabalhou para vários políticos e que inclusive apresentou vários comícios, não sendo apenas um locutor de estúdio, mas um apresentador de eventos diversos, não tendo qualquer timidez e interagindo com o público.

Fora da Difusora, Mendes continuou seu trabalho na Educativa FM e lembra-se que naquele período, por volta de 1997, o movimento das rádios comunitárias em Itapetininga era muito grande e que posteriormente foram criadas diversas outras emissoras, tendo ele numa oportunidade viajado num desses movimentos para Brasília pela legalização, chegando a ser processado.

Segundo o radialista, houve uma pausa no rádio e começou a fazer a campanha de políticos como Ricardo Barbará e Roberto Ramalho, além das campanhas dos prefeitos de Campina do Monte Alegre, Eduardo Ribeiro, e de Alambari, Hudson José Gomes, além de ação de vendas em estabelecimentos comerciais de Itapetininga e Região e também cerimoniais diversos.

Luiz Mendes conta que a oportunidade de voltar ao rádio aconteceu após a segunda campanha de Roberto Ramalho, quando voltou para a Rádio Clube, já como Rádio Globo, onde apresentou o programa Manhã da Globo, permanecendo até ano passado. “Comecei a ver que o mundo do rádio tem um elo muito forte com a política. Ou você faz parte do grupo ou não faz”, dispara Mendes, deixando claro que nem todas as emissoras trabalham assim, que existem exceções.

Longe daquilo que mais ama fazer, o radialista reclama da falta de oportunidades e que fez vários contatos com a diretora da Super Difusora, Tuti Abrão Morelli, mas que não houve uma definição e que para ele “pau é pau, pedra é pedra”, que por ele já estaria lá, chegando a dizer que já está ficando “desiludido” com rádio.

luiz mendes 6Embora tenha sido batizado na Igreja Católica, o radialista comenta que também frequenta outras denominações religiosas, não prendendo-se a nenhuma e que procura fazer suas orações em casa também, independente do momento, sempre colocando Deus em primeiro lugar. “Devemos muito e a todo o momento agradecer a Deus, porque um locutor, artista, cantor, existe uma grande dificuldade para trilhar o caminho do sucesso. Tudo isso é um dom que Deus dá. Teve um período em que ainda na Difusora um padre falou para mim que estava começando, que tomasse cuidado e que todos os caminhos têm as suas rosas e seus espinhos, que muitos acabam usando a gente como tijolinho para construir seus palacetes, depois que não serve mais esse tijolinho é descartado como entulho”.

O radialista não esconde a vontade de estar novamente no rádio. “É um sonho. Ainda tenho muito lenha para queimar e agora com muito mais experiência de vida. No rádio estamos sempre aprendendo, agora está muito mais evoluído, diz, ao comparar os equipamentos utilizados nas décadas passadas e os recursos atuais.

Vale lembrar que além da Rádio Iguatemi, Luiz Mendes fez rápida passagem pela Rádio Difusora Oeste, de Osasco, onde também trabalhou seu colega Arlindo Mendes.

“Itapetininga tem que valorizar as pessoas da sua cidade. Infelizmente muitas vezes acontece o contrário”, lamenta Mendes.

Mesmo não estando na ativa, o radialista diz ser impossível deixar de escutar programas, tanto que sintoniza emissoras locais e de outras cidades, sempre procurando aprender mais. Ele explica que existe diferença entre locutor de rádio AM e FM e que descobriu isso durante uma visita numa rádio de Jundiaí, após o locutor daquela emissora ter reconhecido sua maneira de se expressar.

Tendo trabalhado tantos anos em comícios, questionamos se Luiz Mendes já pensou em ser candidato a algum cargo político.

Ele conta ser filiado em um determinado partido e que já recebeu diversos convites, mas que colocou-se à disposição para fazer parte de um grupo, não como pré-candidato. Ele acredita que não basta apenas a carreira de radialista, mas ter um trabalho mais abrangente, social, e acima de tudo saber que a corrida pelo pote de ouro é grande. Para ele, “a política não deixa de ser um jogo, uma pirâmide. Se não tiver dinheiro, dificilmente você será eleito. Sou a favor de o salário do vereador ser salário mínimo. Se eu fosse candidato, uma das bandeiras seria essa”, diz.

Divorciado há doze anos, afirma estar e morar sozinho por opção, ele, que tem seis filhas, sendo duas do primeiro relacionamento com Angela dos Santos (Patrícia e Alessandra), quando o radialista tinha apenas 15 anos e as demais do casamento de 22 anos com Walquíria do Carmo da Silva (Keli, Daiane, Tatiane e Franciele), além de 12 netos.

Perguntado sobre uma voz que admira, Mendes citou que quando era menino ouvia muito Fiori Gigliotti, radialista e locutor esportivo      .

Palmeirense, o radialista tem como frases: “a humildade é a voz silenciosa da razão” e “acreditar que é possível faz a diferença, independente de religião, sabendo que com Deus no coração e através de Deus e seu filho Jesus”.

Para Mendes, “Deus é como o ar que respiramos, uma força que não vemos, mas que está presente em todos os lugares e em todos os momentos”, concluiu.

 

Matéria para a Revista Top da Cidade/ROL – Região On Line

Rogério Sardela

Jornalista

MTB 0070270-SP

Com fotos

Credito: Rogério Sardela/Acervo pessoal