Artigo de Pedro Novaes: 'Passe livre'

  Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘PASSE LIVRE’

colunista do ROL
Pedro Novaes

O reajuste das tarifas do transporte urbano gera repetido e sempre previsível incômodo aos administradores públicos.

O transporte urbano é importante item do orçamento familiar, principalmente nos deslocamentos ao trabalho e escola. Cada brasileiro que necessita de quatro percursos tarifados, ao dia, demanda costumeira, deixa um terço do salário mínimo na tarifa de transporte.

Soa, então, lógica, a grande adesão popular aos movimentos que pregam a tarifa zero, ou passe livre. Tais movimentos eclodem com facilidade quando dos reajustes da tarifa.

Ocorre que não é Deus quem paga a conta, quando ocorre a gratuidade do transporte coletivo. Os custos do transporte urbano são pagos, total ou parcialmente, pelos cofres públicos.

Existe, no imaginário popular, a ideia de que os governos fabricam dinheiro, ou que existe uma torneirinha mágica que despeja dinheiro, sem parar. É notória, e acertada, a constatação de que os governos não têm um só tostão que não tenha sido tirado de alguém.

A gratuidade do transporte coletivo, para estudantes, idosos e portadores de necessidades especiais, já é subsidiada pelos cofres públicos. A instituição de subsídios é sempre complicada, e exige lançar, a todos, o custo dos benefícios a alguns.

Haddad e Alckmin, políticos de orientações políticas e ideológicas opostas, seguem irmanados no reajuste das tarifas, sendo apedrejados pela multidão que clama por transporte gratuito. Ambos sabem que administram populações carentes, e conhecem de perto as necessidades públicas, segurança, saúde e educação, ainda pouco assistidas.

O Brasil é useiro e vezeiro na má instituição e condução de subsídios oficiais. O crédito e seguro rurais, os incentivos sem retorno à indústria automobilística, e a contenção artificial dos preços dos combustíveis figuram, dentre outros na longa lista de bobagens e desperdícios que já praticamos.

Só um ou outro município, de grande arrecadação e poucos habitantes, possui condições de implantar a tarifa zero, sem prejudicar o atendimento das necessidades públicas. A interiorização do desenvolvimento ameniza o problema do transporte público.

No Brasil, o transporte público é ruim e caro, e as tais planilhas de custo seguem quase secretas. Vans e taxis, de custo superior, não raro praticam preços menores que as praticadas pelos ônibus.

Na verdade, o problema decorre de sermos pobres e carentes, em país onde os administradores alternam incompetência, fisiologismo e corrupção.   É difícil explicar, à multidão, que os cofres públicos, tão assaltados, não possuem condições de arcar com a tarifa zero. Argumentam os mandatários que a tarifa zero prejudicaria outros setores básicos, mas a tarifa segue intacta e os setores básicos seguem desassistidos.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado




Carta aberta ao governador

Reinaldo Canto: ‘ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE REVOGAÇÃO DE NORMAS AMBIENTAIS PODE COMPROMETER RECUPERAÇÃO DE FLORESTAS’

Em Carta Aberta ao governador, entidades que já recuperaram 50 mil hectares de florestas, protestam contra revogação de Resolução da Secretaria de Meio Ambiente

 

São Paulo, 21 de janeiro de 2016 – Entidades e redes ligadas à defesa do meio ambiente, que monitoram a lenta regularização do Código Florestal modificado há três anos no Congresso Nacional, enviaram hoje uma Carta Aberta ao governador de São Paulo, protestando contra a revogação de uma Resolução da Secretaria de Meio Ambiente que detalhava regras para a realização do Programa de Regularização Ambiental (PRA) do Estado.

O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, a Rede de ONGs da Mata Atlântica e o Observatório do Código Florestal se disseram “perplexos” com a revogação, que pode prejudicar o cumprimento dos compromissos de restauração florestal assumidos por São Paulo na COP 21 e demonstraram preocupação com a insegurança jurídica causada pelo ato de anulação, já que o Decreto 61.792/16, não é específico e carece de regulamentação.

 

 As entidades que assinam a carta têm desenvolvido vários projetos de conservação, manejo e recuperação dos recursos naturais. As áreas reflorestadas por algumas destas organizações somam mais de 50 mil hectares.

Baseadas em sua própria experiência de restauração, feita sempre com várias parcerias, como proprietários rurais, comunidades, universidades, elas defendem pontos que estavam contidos na Resolução revogada menos de uma semana depois de sua publicação. O principal é que as propriedades do Estado com déficit de Reserva Legal (percentual mínimo de vegetação nativa obrigatório em todas as propriedades rurais) e que prefiram compensar o déficit em outras propriedades, sejam obrigadas a fazê-lo em bacias de estados vizinhos, contribuindo para a segurança hídrica em São Paulo.

 

Na carta, redes e entidades também defendem que o governador defina critérios específicos para dispensa de recomposição, compensação ou regeneração de desmatamento em margens de rios, nascentes e topos de morros (Áreas de Proteção Permanente) e de Reservas Legais.

 

As entidades também cobram do governador Geraldo Alckmin os incentivos econômicos que o Código Florestal previa que fossem criados para facilitar a adequação das propriedades rurais ao Código, assim como o estímulo a aplicação de boas práticas para conservação do solo e da água, via assistência técnica e incentivos aos produtores.

Por fim é cobrado um processo de debate e consulta à sociedade, feito com representatividade, mas sem atrasar ainda mais o processo de implementação da lei florestal.

Para marcar esta campanha foi escolhida a #MAISFlorestaPRASãoPaulo

Confira a íntegra da carta no link abaixo:

 

http://www.iniciativaverde.org.br/comunicacao-artigos-e-noticias-detalhes/florestas-pra-sao-paulo-carta-ao-governador-geraldo-alckmin

 

Informações para Imprensa:

Cassuça Benevides – 61 8188-2973 – cassuca@gmail.com (Quartzo Comunicações)

Reinaldo Canto – 11 3647-9293 e 11 99976-1610 – imprensa@iniciativaverde.org.br




Lançamento de livro em Porto Feliz

“O Negro em Porto Feliz” será lançado no dia 29 de janeiro

O Negro

O livro “O Negro em Porto Feliz”, uma compilação de 16 artigos do professor e historiador Carlos Carvalho Cavalheiro, publicados entre 2013 e 2014 no jornal Tribuna das Monções, de Porto Feliz, e outros dez inéditos, que tem como tema a negritude em contraposição a chamada “história oficial” que tende a tornar invisíveis as tensões sociais e os personagens das classes subalternizadas, será lançado no próximo dia 29 de janeiro, sexta-feira.
Publicado com apoio do Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Sorocaba e região (Siproem), o livro será editado pela Crearte Editora que já lançou vários títulos do autor.
Professor de História da rede pública municipal de Porto Feliz, exercendo suas funções na EMEF. Coronel Esmédio, Carlos Cavalheiro tem realizado levantamento de informações e pesquisa sobre a história e a cultura dos negros na cidade.
Encontrou informações curiosas e importantes para o entendimento das relações sociais que se estabeleceram a partir da formação histórica da cidade e seus personagens. A obra ainda reúne artigos assinados pelos historiadores porto-felicenses Sonia Belon e Jonas Soares de Souza.
Este último, assina também o prefácio.
Para essa edição, foram impressos apenas 100 exemplares, dos quais apenas 80 serão comercializados.
 O livro O negro em Porto Feliz, que será lançado no dia 29 de janeiro, no Shopping Miller Boulervard (Rua Ademar de Barros, 345, Porto Feliz), onde será comercializado ao preço de R$ 20,00.



Oportunidade para aprendizado de música

Escola de Música Municipal de Itapetininga com inscrições abertas para diversos instrumentos

Idade mínima é de seis anos e os interessados podem se inscrever desde o dia 25

A Escola Livre de Música Municipal ‘Maestro José Soares’ está com inscrições abertas para vagas remanescentes.

As oportunidades são para os cursos de flauta doce, flauta transversal, percussão e saxofone.

As inscrições começaram dia 25 de janeiro.

A idade mínima para participar é seis anos e as inscrições podem ser feitas na Escola de Música, que fica à rua Dr. Júlio Prestes, 701, Centro.

No ato da inscrição é necessário levar 1 foto 3×4, 1 pasta com elástico, cópia do RG e CPF do responsável e comprovante de residência. A mensalidade tem o valor de 1 UFM, no valor de 84,60.

Mais informações pelo telefone 3271-7711.




Artigo de Pedro Novaes: 'Jogando dinheiro fora'

Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘JOGANDO DINHEIRO FORA’

colunista do ROL
Pedro Novaes

Diversos prefeitos, Brasil afora, anunciaram a redução ou até mesmo a total retirada dos recursos públicos destinados ao carnaval.

A atitude, que rendeu aplausos e protestos, surge em meio à crise econômica que assola o país, com expectativas de agravamento.  Estados e União passam por severa queda de arrecadação, diminuindo o repasse aos municípios.

As crises revelam a real dimensão dos administradores públicos, desnudando a ridícula e perversa escala de prioridades, adotada na maioria de nossos municípios.  Em geral, nossos alcaides administram cercados por uma multidão de comissionados, muitos escolhidos por conveniências partidárias e até mesmo familiares.

A remuneração dos comissionados raramente é modesta, e nem todos são versados nas funções para as quais foram nomeados. À exceção de ambulâncias e veículos escolares, os carros à disposição dos administradores diferem, por mais luxuosos, daqueles que bastam ao cidadão pagador de impostos.

Faltam recursos à saúde, e sobram buracos nas ruas, avenidas e estradas rurais. Não faltam recursos a inaugurações, nem às pomposas recepções a autoridades estaduais e federais.

Alguns municípios investem, ainda, em portais e calçadões, enquanto faltam centros populares de esportes e artes, tão importantes na educação de crianças e jovens. Prefeitos, muitos, parecem surdos e omissos aos reclamos da população, atormentada pelo barulho da vizinhança e pela costumeira violência e depravação reinante em alguns botecos.

São poucos, mas ainda há prefeitos que patrocinam shows populares, com a contratação de artistas famosos. Outros patrocinam rodeios e provas de laço.

Na verdade, não existem municípios com os cofres repletos; existem municípios com prioridades não atendidas. O carnaval, salvo alguns casos em que a festa integra e fomenta a economia regional, envolve um luxo desnecessário.

Carnavalescos possuem condições de arcar com os ônus da festa, bastando adequá-los ao porte econômico do grupo.   É injusto destinar recursos públicos aos festejos de Momo, enquanto cidadãos sofrem carências básicas.

Em tempos de crise, perde a autoridade para alegar qualquer falta de recursos o prefeito que patrocinar festejos. Soará estranho haver recurso público para o carnaval, enquanto munícipes buscam o Judiciário para terem acesso ao medicamento de que necessitam.

É tempo de eleger prioridades e cobrar eficiência e responsabilidade. O espírito festeiro e informal do carnaval não deve contaminar as administrações públicas.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.




Artigo de Marcelo Paiva Pereira: 'Arquitetura moderna: a modernidade do tempo'

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘ARQUITETURA MODERNA: A MODERNIDADE DO TEMPO’

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A arquitetura moderna surgiu das transformações do pensamento artístico, tecnológico e científico, cujas fontes remotas são do período do Neoclassicismo, e próximas do início do século XX, configurando-a com as características que a instruíram. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, o percurso efetuado.

Do Neoclassicismo em oposição ao Renascimento

O Neoclassicismo foi um movimento artístico (e historicista) que surgiu no século XVIII fundamentado na teoria do Iluminismo e junto à descoberta dos novos materiais concreto e aço, com a finalidade de combater o princípio da autoridade, que não acolhia o método científico e legitimava a representação (cópia, reprodução) dos objetos.

Aludido movimento se opôs à intensa religiosidade da estética dos movimentos anteriores (Renascimento, Maneirismo e Barroco), dos quais o mais influente foi o Renascimento, que se fundamentava na teoria do Humanismo, pela qual o ser humano é a medida de todas as coisas, mas subserviente ao Criador (Deus fez o homem à sua imagem e semelhança).

No Renascimento acolheu-se as relações de proporção da harmonia musical de intervalos consonantes, de Pitágoras. Era um sistema matemático de intervalos proporcionais, que justificavam a harmonia universal, inclusive a alma humana. Eram:

  1. Oitava: relação de 1:2;
  2. Quinta: relação de 2:3;
  3. Quarta: relação de 3:4.

Alberti, no século XV, acolheu esse sistema, constituído dos números fundamentais definidos por Platão (1:2:4:8 e 1:3:9:27). No século XVI, Palladio criou o sistema harmônico de intervalos dissonantes, os quais não se restringiam à sequência dos números fundamentais.

Ambos os sistemas harmônicos – de intervalos consonantes e dissonantes – eram modelos apriorísticos, estáticos e externos às artes, porque fixavam regras pré-concebidas, imutáveis e oriundas da força divina, as quais eram utilizadas pelos artistas para mensurarem os objetos em conformidade com as proporções (das almas) humanas. Como resultado, as partes se uniam e formavam o todo, dele se tornando inseparáveis (assim como as almas pertencem a Deus).

O Neoclassicismo combateu e abandonou esses dogmas, acolhendo novos entendimentos para justificar suas obras, como seguem:

  1. Eliminou os modelos apriorísticos e conferiu autonomia às artes, permitindo conceber os edifícios e outras obras com princípios próprios das disciplinas;
  2. A natureza deixou de ser copiada (ou reproduzida) para ser examinada com critérios técnicos das disciplinas e dela extrair suas elementares;
  3. Em seguida, criou os tipos, formas a posteriori definidos por elementares, que se modificavam no tempo e no espaço;
  4. O projeto de cada edifício passou a ser composto pelos tipos e ter destinação própria, definida pela tipologia a ele conferido.

Com esse arcabouço principiológico, a proporção deixou de ser fixada pela matemática da harmonia universal e passou a sê-la pela sensibilidade individual do artista; as partes componentes se tornaram independentes e permitiram manipular a composição entre elas; a independência e a manipulação permitiram atribuir a cada obra o caráter e a monumentalidade (destinação); a arquitetura ganhou autonomia; a ornamentação, valiosa no Renascimento (também no Maneirismo e no Barroco), tornou-se equipamento acessório, decorativo.

Para desenhar os edifícios, porém, utilizava-se de dois eixos perpendiculares de simetria e dividia-se o edifício – preferencialmente – em quatro partes iguais e os espaços eram hierarquizados. No Neoclassicismo ainda havia muita rigidez (estética) compositiva.

O princípio compositivo – independência das partes – foi inaugurado pelos franceses Etiénne-Louis Boullée (1728-1799) e Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806) e sistematizado por Jean-Nicolas-Louis Durand, que foi aluno de Boullée (este priorizou os aspectos estéticos).

Durand quebrou a rigidez compositiva do Neoclassicismo para fazer uso de outro método, formado por um eixo principal cortado por diversos outros, perpendiculares a ele, e organizou os edifícios com simetria bilateral mais flexível. A ele o edifício era mais do que a composição das partes; era um conjunto de partes articuladas entre si (não se submetiam à rigidez compositiva, mas ainda se submetiam à hierarquia).

A ele a adequação e a estética do edifício resultavam – eram consequências – da correta aplicação dos princípios econômicos e funcionais ao projeto de cada edifício e priorizou os aspectos utilitários do edifício. Sua concepção estética ainda era acadêmica, mas como resultado.

O método de projeto de Durand fez uso de princípios analíticos, com os quais atribuiu utilidade aos espaços; este método não determinava – a priori – o aspecto final da composição. As lições de arquitetura de Durand, lecionadas na École Polytechnique de Paris, foram publicadas em 1801 e 1805, aperfeiçoadas em 1821 e difundidas por todo o século XIX e pelo início do século XX.

Posteriormente, ao final do século XIX, o professor Julien Guadet, da École de Beaux-Arts de Paris, foi o elo entre o método de Durand e o sistema compositivo empregado no século XX. Assim como Durand, Guadet dedicou-se ao exame da composição do edifício, que para ele era o modo de organizar espacialmente os elementos funcionais e estruturais, os quais estariam previamente estabelecidos pelas características dos materiais e pela análise do programa.

Guadet eliminou os eixos de referência que Durand usava para projetar e deixou de ser hierarquizado. Sua teoria vinculava-se à estética acadêmica, porém, como resultado, efeito. Ele fez a transição para a Arquitetura Moderna.

Da Arquitetura Moderna e Le Corbusier

A Arquitetura Moderna tem sua gênese técnica oriunda dos estudos do neoclassicista Julien Guadet, mas sua gênese etimológica encontra-se nas palavras gregas “arkhein” (primazia, superioridade ou preferência) e “tektonikos” (construtor ou carpinteiro) e na palavra latina “modernus” (modo + hodiernus), das quais se extraiu a gênese conceitual.

No período medieval o latim daquela época cunhou a palavra “modernus” (modo + hodiernus) com o significado de presente ou corrente. No século XVII a palavra “moderno” adquiriu o significado “novo” em oposição a “antigo” e, no século XIX passou a significar momentâneo, transitório.  Ao longo dos séculos a palavra “moderno” adquiriu o significado de tempo atual, do momento presente, em alusão à contemporaneidade da própria existência.

Derivada de moderno, a palavra “modernidade” indica as qualidades específicas do tempo presente que o distinguem do passado. São: novo, corrente, momentâneo e atual.

A palavra “modernismo” surgiu em meados do século XIX para identificar o pensamento, ideia, teoria, corrente ou movimento literário, artístico e técnico que aflorava. Visava abarcar os novos princípios e atuais propostas, do momento presente, em oposição a tudo o quanto fosse antigo.

A arquitetura moderna é a obra primaz atual, contemporânea, e os princípios que a informam conferem autonomia. Eliminou as proporções matemáticas, os eixos de referência, a hierarquia dos ambientes, a estética acadêmica e o historicismo.

Ela surgiu com o propósito de criar estilos novos, sem resgatá-los do passado. A ideia que se exteriorizava era criar obras inéditas, sem lastro com o passado, num processo criativo sempre presente, atual e contemporâneo. Tornou-se dominante no cenário das artes e das construções no início do século XX, após afastar os movimentos historicistas contra os quais concorria.

Os movimentos (ou correntes) historicistas surgiram no século XVIII e visavam resgatar e recriar a arquitetura dos tempos passados, acrescida das técnicas modernas de construção (aço e concreto). Foram historicistas (ou revivalistas) o Neoclassicismo, o Neogótico, o Ecletismo e o “Art Nouveau”.

Le Corbusier (1887-1965), apelido de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, é considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, junto a Frank Lloyd Wright, Ludwig Mies van der Rohe, Alvar Aalto e Oscar Niemeyer. A importância dada a ele está no enorme poder de síntese em abstrair a essência das obras visitadas e na influência doutrinária à Arquitetura Moderna.

Ele veio ao mundo por ocasião da Segunda Revolução Industrial (ocorrida na Alemanha ao final do século XIX) e conheceu a importância da indústria para a realização do conforto às pessoas na medida da condição econômica de cada, e também as transformações e as inovações tecnológicas do período, como são exemplos a invenção do automóvel de combustão interna, o telégrafo, o telefone, a lâmpada elétrica, o rádio, o avião, a televisão e a produção de veículos em série iniciada por Henry Ford.

Em muitas foram as contribuições de Le Corbusier para a formação doutrinária (teórica e principiológica) da Arquitetura Moderna, das quais três se destacam: a Casa Dominó, os Cinco Pontos da Arquitetura Moderna e o Modulor.

No período de 1914 a 1917 ele desenvolveu a Casa Dominó (ou “Dom-ino House”), sistema construtivo constituído de lajes planas, pilares e fundações em concreto armado com vistas a permear os edifícios de elementos formais, que abaixo seguem:

  1. Elementos formais abstratos: padronização (ou universalidade), redução de custos, rapidez, rigor técnico e precisão na construção;
  2. Elementos formais concretos: plantas e fachadas livres, uso de pilotis, pisos em balanço, etc;

No ano de 1926 foi publicada a síntese dos estudos que fez no início da carreira sobre as elementares que deveriam instruir a arquitetura de vanguarda – a arquitetura moderna – e o resultado foi os cinco pontos que abaixo seguem:

  1. Pilotis: colunas de sustentação do edifício recuadas das bordas, permitem no espaço urbano outra perspectiva entre o observador e o morador, também oferecem a oportunidade de redesenhar o espaço urbano, integrando os edifícios por outro enfoque urbanístico;
  2. Terraço-jardim (ou teto-jardim): espaço de lazer sobre a laje do último pavimento, simboliza a conquista da tecnologia industrial, capacitada a suportar as intempéries climáticas (chuva, neve e umidade);
  3. Planta livre: permite a elaboração de espaços divididos por paredes sem função estrutural, diminuindo custos e emprego de materiais;
  4. Fachada livre: a ausência de obstáculos permite o desenho de fachadas desimpedidas, com projetos flexíveis de aberturas para as janelas;
  5. Janela em fita: desenhada de um ponto a outro da fachada, orientada pela melhor orientação solar à iluminação dos ambientes do edifício.

Ao tempo da Segunda Guerra Mundial ele criou o Modulor, sistema de medidas baseada no módulo (unidade de medida) e na seção áurea, em que a divisão de uma reta deve ser efetuada de modo a ser a mesma razão entre o segmento menor para o maior e o segmento maior para o todo.

O Modulor está fundado da proporção áurea, com a qual fez duas séries de medidas, quais sejam a azul (composta de dois quadrados de 1,10 m de aresta cada) e a vermelha (um só quadrado, cuja aresta – 1,10 m – atinge o umbigo da pessoa). Delas se desdobraram medidas proporcionais, de 27 a 226 cm, distribuídas em degraus de 16 e 27 cm.

O Modulor nunca foi produzido industrialmente nem aceito comercialmente. Foi alvo de várias críticas, dentre elas as de Ernst Neufert. Serviu, entretanto, para estudos doutrinários e desenvolver as ideias de proporção, simetria (ou comodulação), harmonia e euritmia (ritmo equilibrado).

O modelo da casa Dominó e os cinco pontos da arquitetura moderna, entretanto, preponderaram nas suas obras. Seu projeto mais significativo, da Villa Savoye, localizada na cidade francesa de Poissy-sur-Seine, reproduziu-os inteiramente, expondo a funcionalidade dos espaços, fundada nas necessidades das pessoas.

A funcionalidade – realizada nas obras de Le Corbusier – não é exclusiva dele. Foi consolidada na frase “A forma segue a função”, de Louis Sullivan (1856-1924), arquiteto americano, pai dos edifícios “arranha-céus” de Chicago, E.U.A., que por primeiro defendeu essa ideia ainda na segunda metade do século XIX. Sua célebre frase foi acolhida pelos arquitetos e movimentos modernistas, dos quais Le Corbusier a e BAUHAUS eram dois deles.

A diferença entre Le Corbusier e Louis Sullivan está na aplicação da mencionada frase na elaboração dos projetos: enquanto para o autor da frase a arquitetura deveria ser orgânica (como efeito da função ou funcionalidade), para Le Corbusier deveria ser geométrica, sem contornos recortados ou detalhados (ele acolhia a arte ou movimento purista no desenho arquitetônico, em que as formas tinham contorno geométrico proporcional e todos os adornos e excessos deviam ser eliminados).

A BAUHAUS, escola de artes e ofícios criada por Walter Gropius em 1919 na cidade alemã de Weimar, também acolheu a frase “A forma segue a função” para justificar a oposição à ornamentação, por vezes exagerada, dos movimentos artísticos contra os quais ainda concorria – o “Art Nouveau” e o Ecletismo.

Na esteira da funcionalidade da célebre frase, Le Corbusier criou a frase “Máquina de Morar” em alusão à forma dada a cada elemento segue a função a que se destina. A ele a casa era uma máquina de morar porque a função de habitar – suprir necessidades – definia a forma de cada elemento (mobiliário e equipamentos domésticos, por exemplo).

Ao lado da funcionalidade, Le Corbusier também acolheu a ideia de monumentalidade às suas obras, tanto para os edifícios habitacionais quanto aos institucionais. Ele, entretanto, não a entendeu como causa determinante (suntuosidade memorial), mas como efeito ou resultado do projeto. São exemplos os projetos em grande escala de edifícios habitacionais sob autoestradas para a cidade do Rio de Janeiro (1929) e para a cidade de Algiers (1933). A realização dessa monumentalidade ocorreu com a construção do capitólio de Chandigard (1951) capital do novo Estado indiano do Punjab e, posteriormente, a “Unité d’habitation” de Marselha (1952), na França.

Em razão das teorias, princípios e projetos de Le Corbusier e de outros arquitetos e escolas de arquitetura, a Arquitetura Moderna adquiriu arcabouço doutrinário (teórico e principiológico) que a ela conferiu autonomia.

DA CONCLUSÃO

A Arquitetura Moderna tem origem remota no Neoclassicismo do século XVIII (ao tempo do Iluminismo) e origem próxima nas doutrinas de Le Corbusier e outros arquitetos contemporâneos a ele, no início do século XX.

Caracterizou-se a Arquitetura Moderna por ser autônoma, ter princípios próprios, ser contemporânea, visar à funcionalidade dos espaços e mobiliários, ter liberdade de criação, estética purista, monumentalidade e representação.

Distingue-se dos movimentos anteriores porque não se prende ao passado como fonte – ou causa determinante – dos projetos, não tem interesse de resgatar o passado para atualizá-lo com os modernos materiais de construção. A Arquitetura Moderna não é historicista; ela é contemporânea, por estar sempre pensando nos projetos do tempo presente.

A tipologia adotada também difere da existente no Neoclassicismo, porque enquanto no movimento mais antigo ela não se destinava à funcionalidade, no movimento moderno ela se destina à funcionalidade (do projeto).

Também se distingue dos movimentos anteriores em relação ao purismo, funcionalidade, monumentalidade e representação, pelos motivos que abaixo seguem:

  1. Em relação à estética purista (ou purismo), tem causa na racionalidade do projeto (precisão, simplicidade e harmonia proporcional ao desenho ou ao objeto) com vistas à funcionalidade do projeto, e não ao caráter dele;
  2. Em relação à funcionalidade, esta tem causa nas necessidades humanas, e não na destinação (caráter) dada ao projeto ou ao edifício;
  3. Em relação à monumentalidade, esta é efeito, resultado do projeto, que adquire a dimensão dos espaços destinados às necessidades humanas e na medida do projeto final; ela existe a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo);
  4. Em relação à representação, esta representa a industrialização dos materiais utilizados na construção dos edifícios, mas como efeito ou resultado do projeto, e não como causa determinante; a representação surge a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo).

Comparativamente, enquanto os valores pré-estabelecidos no Renascimento eram a ordem natural e divina e no Neoclassicismo (ou Iluminismo) eram a ordem racional e tipológica, no Modernismo (ou Arquitetura Moderna) são a ordem racional e funcional.

Finalmente, a Arquitetura Moderna é a modernidade do tempo porque ela é contemporânea do momento em que cada projeto é desenhado e realizado, e se prolonga no tempo pelo tempo com que se atualiza. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira.

(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)

 

FONTES DE PESQUISA

  1. OBRAS:

AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. 4. Ed. Rio de Janeiro: Delta, 1958. 5 v.

 

  1. SITES:

 

 




Curso de Iniciação ao Teatro: ainda é possível participar

Se você tem pelo menos 15 anos e vontade de fazer teatro, fique atento, pois já começaram as aulas

Iniciado no último dia 26, o curso acontece às terças e quintas, das 20 às 22  horas, no Clube Recreativo de Itapetininga.

Segundo Bene Luís, um dos idealizadores do evento, o curso está sendo realizado pelos grupos ‘Detrás do Pano’ e ‘Ciranda da Lua’ e a edição deste ano é em homenagem ao diretor e ator Antonio Luís Pedroso Balint, recentemente falecido.

Aqueles que não se inscreveram e que ainda desejam participar, devem se dirigir nos dias mencionados até o Clube Recreativo de Itapetininga, mas vale ficar atento ao prazo final, que é até o próximo dia 4.

Ainda conforme Bene, a duração do curso ainda está sendo definida e haverá encenação de uma ou duas peças.

O homenageado

Antonio Luís Pedroso Balint fundou e dirigiu por mais de quatro décadas o Grupo de Teatro ArcoIris, responsável pela produção da Paixão de Cristo em Itapetininga de 1976 a 2009, retomando a produção do espetáculo em 2014, tendo protagonizado o espetáculo por vários anos, além de ter produzido inúmeras peças, como As Desgraças de Uma Criança, A Casa de Bernarda Alba, Os Outros, O Contrato, O Santo Inquérito, entre muitas outras, tendo criado o Núcleo de Pesquisas Teatrais de Itapetininga e responsável pela realização anual de cursos de iniciação ao teatro, revelando muitos talentos.

Balint faleceu em setembro do ano passado.