José LouroPaisagem Alada nº 8. Quadro do artista plástico português Ricardo Cardoso. Projeto Paisagens Aladas com efervescência do pensamento
Pinceladas de inconformismo vivem secretamente nas tuas mãos Com elas dás azo às paisagens que te iluminam, que te inquietam, que te assombram e que te perseguem
Pinceladas de vida saem das tuas mãos dando vida aos segredos da tua mente e ao pulsar do teu coração
Transportas nas tuas mãos o poder do olhar de quem ousa ver para lá das estrelas, procurando alcançar a paz e o belo que só a arte pode dar
Evani RochaImagem criada por IA do Canva – 1º de julho de 2025, às 09:00 PM
Tua poesia desabou em mim como tempestade, Abriu valas, levou galhos e entulhos… Choveu, chuva torrencial! Me lavou inteira! Branqueou a carne antes vermelha, Agora branca como um véu. Carregadas nuvens num sisudo céu sem estrelas… Correu em minhas veias enxurradas, Dilatou meus vasos e regou meus olhos. Extasiou-me… E eu encharcada de teus versos – Aldravia! Deixei-me levar pelas palavras mínimas e molhadas, Que embebiam meu ser: Imerso, disforme, profundo… Feito grãos de terra árida, Agora água em turbilhão que escorre Sobre a pele encrespada e úmida. Era nascente menina a borbulhar ao encontro do rio! Hoje refeita e única, entrego-me vencida e absoluta, Aos braços líricos do teu versejar!
José Antonio TorresImagem criada por IAdo Bing – 1º de julho de 2025, às 08:36 PM
Quantas vezes diante de você Eu não soube o que dizer e me calei. A voz ficava presa, os pensamentos confusos. Não conseguia organizá-los e me abrir para você.
Quando chegava perto de você, Meu coração, cheio de amor, Disparava de ansiedade, Feito um louco alucinado.
Quantas vezes ensaiei o que precisava falar, Mas na hora em que a encontrava, Tal e qual um menino assustado, me perguntava: E agora, o que dizer? Tanto tempo desperdiçado por insegurança.
Depois de muito sofrer com essa angústia, Entendi que essa atitude precisava mudar. O destino engendrou um acaso. Será mesmo?
Sem qualquer planejamento, Nos encontramos e começamos a conversar. Não sei se o fato de não haver a ansiedade de um encontro marcado, Me fez relaxar.
A conversa fluiu e você pegou a minha mão. Um gesto casual. Nesse momento, apertei firmemente a sua mão e disse: ‘a amo!’ Saiu assim, leve, fácil… cheio de ternura.
Quase desfaleci quando você, Com um sorriso doce, E, olhando no fundo dos meus olhos, falou: ‘Eu também! Sempre desejei ouvir isso de você’.
Como somos tolos. A vida é tão mais simples do que imaginamos… Quanto tempo perdemos por medo de abrir o coração. Quantos momentos de felicidade deixamos de vivenciar… Ambos desejávamos a mesma coisa. Um não falava, e o outro só precisava ouvir.
Bruna Rosalem” A vida acontece, ela não para. Mas ela exige que seja sentida!” Imagem criada por IA do Bing – 30 de junho de 2025, às 23:26 PM
“Não se pode criar experiência, é preciso passar por ela.“ Albert Camus
Em um mundo em que as informações estão tão atropeladas, imediatistas, palavras rápidas no julgamento de pessoas e situações altamente conclusivas, superficiais, chegando como uma avalanche que atravessa nosso cotidiano, minuto a minuto, impulsionado pela velocidade e amplitude que as redes sociais alcançam, ao simples deslizar de dedo na tela, passando de notícia em notícia, eventos, ocorrências, agenda cultural para o final de semana, cotação do dólar, o destino de viagem do momento, ou ainda, notícias de guerras em outros países, desastres, acidentes, mortes e assassinatos, isso tudo em fração de segundos, diante dos olhos, o que então permanece? Apenas fragmentos, restos, resquícios completamente esquecíveis, descartáveis. Não há tempo e espaço para que algo se torne uma experiência marcante, sentida, significada.
Este ritmo frenético colocado em cena nos permite refletir sobre a dificuldade dos tempos atuais com relação à duração de algo que nos atravessa e faz efeito, marca, move, transforma. E para que isso aconteça é necessário voltar a sentir, pensar, meditar na preciosidade das palavras e suas significações e entregar-se à observação, contemplar, imaginar, divagar. Nem que seja por algumas horas, deixar de filmar, postar, repostar, curtir, compartilhar e comentar.
A intenção aqui não é ditar como as coisas deveriam ser, mas propor que não percamos a capacidade que temos de inferir significado às experiências e ser transformados por ela. Mesmo passageiras, o importante é apontar para que o fica impresso e elaborar sobre isso.
Afinal, tudo o que vemos neste mundo não perdura, é finito. Porém, a sensação que se tem é de que o tempo de permanência parece estar mais encurtado do que nunca, e isso pode afetar nossa inscrição de maneira subjetiva na narrativa de nossa história enquanto segmentação passado/presente/futuro como pressuposto de existência e continuidade do ser.
Somos seres feitos de encontros, perdas, memórias. De experiências, vivências boas e ruins, que podem nos ensinar a cada ciclo. Muitas vezes é fazer da dor uma nova maneira de enxergar as coisas e as relações ao redor. O sujeito precisa sofrer. Não transpassar, não saltar, não fugir do que gera sofrimento, mas tentar tornar o tormento passageiro em aprendizagem.
Freud escreveu certa vez sobre a ideia de transitoriedade (1916). Enquanto dialogava com um poeta, este dizia estar triste pela constatação de que toda a exuberância da paisagem natural que observava, assim como toda a beleza criada pelos humanos, estaria fadada à extinção, à finitude. Continua ele, diz que tudo aquilo que um dia foi amado e admirado ao longo de sua vida parecia-lhe desprovido de valor por estar fadado à transitoriedade.
Freud contesta esta afirmação colocando que justamente pelas coisas não serem eternas é que as fazem privilegiadas. Atribuímos mais valor àquilo que um dia deixará de existir. Por serem efêmeros, os objetos e as relações objetais que estabelecemos durante a complexa jornada da existência, podem se tornar valiosos. É, muitas vezes, na contingência que reside o belo, o surpreendente, o admirável. Freud nos traz a relação da transitoriedade com a escassez do tempo onde a possibilidade do fim eleva o valor da fruição.
Diante desta passagem, é possível dizer que para atribuir realmente valor de experiência e fruição é necessário que exista, mesmo que ilusória, a ideia de permanência para que isto marque, imprima e gere efeitos de significação. Então, será que a ideia de transitoriedade defendida por Freud e contestada pelo poeta se aplicaria na contemporaneidade?
Será que há espaços de vivência, de entrega, de experimentação, de sentir na carne e na alma? Para residir o belo, o surpreendente e o admirável assim apontado por Freud durante o percurso da vida, trazendo para os tempos atuais, será necessário refletir sobre a maneira como construímos nossas relações com o outro, com as coisas, com a natureza?
Afinal, retomando ao início deste texto, o que de fato está permanecendo em nós? Estamos vivendo apenas de dejetos espalhados por onde passamos? Ou apenas replicando o que escutamos? Imitando fazeres? Vomitando palavras vazias? Expurgando? Medicando-se em demasia para esquecer, soterrar, ‘desmemorizar’ nossos processos de luto, frustrações e decepções?
A questão que se coloca é: o que estamos fazendo com nossa existência para que ela seja valiosa, valorosa?
Fernando Pessoa nos diz:
Eu amo tudo o que foi, Tudo o que já não é, A dor que já me não dói, A antiga e errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria
Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia.
O tempo passa, outro dia chega, o sol é sempre pontual e a lua inaugura mais uma noite. A vida acontece, ela não para. Mas ela exige que seja sentida!
Sergio DinizImagem criada por IA do Bing – 29 de junho de 2025, às 14:40 PM
“O escritor é, indubitavelmente, um criador de mundos. Mundos incorpóreos. Pequenos ou imensuráveis. Mundos refletidos num singelo comentário nas redes sociais, e-mails e cartões de felicitações, ou num livro best-seller.”
Os seres humanos nunca tiveram, em toda a história da humanidade, tanta facilidade para aprender a ler, escrever e pesquisar quanto estão tendo nos tempos atuais. E isso porque o Ensino Público se universalizou, as bibliotecas (inclusive as comunitárias) se multiplicaram e as fontes de pesquisa, encontradas por meio de um dos maiores instrumentos para tal fim – o Google, dentre outros – estão acessíveis num simples clicar do mouse.
Apesar disso, o mundo atual, pelo menos no Brasil, traz uma gritante contradição: por um lado, o número absurdo dos denominados analfabetos totais (11,4 milhões, segundo o IBGE), ou seja, aquelas pessoas que não têm qualquer nível de alfabetização.
De outro lado, mas na mesma linha, e talvez ainda pior do que esse dado é aquele que reflete o chamado ‘analfabetismo funcional’ (cerca de 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos, de acordo com o Inaf), que é “ incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidade de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas” (Wikipédia).
Portanto, no Brasil, significativa parte da população, de uma forma geral, ou não sabe escrever, ou, quando sabe, escreve mal. E, dos que sabem ler, escrevem mal porque também leem mal (e aqui significa ler textos sem muita qualidade literária) e desconhecem regras básicas da própria língua. E tudo isso alinhavado com uma falta generalizada de conhecimentos gerais.
O ato de escrever, no entanto, é um ato religioso. E, quando digo “religioso” evidentemente não estou querendo identificá-lo a qualquer denominação religiosa em particular. Refiro-me, por analogia, ao respeito que, semelhantemente ao ato de entrega entre um ser humano e o Deus cultuado por ele, o escritor, de forma amadora ou profissional, deve ter com o destinatário de seus textos e reflexões.
E, por respeito, entendo não apenas a mensagem do texto em si, elaborada de forma a chegar ao destinatário claramente, sem ruídos, mas, também, dentro do próprio processo de elaboração textual, o qual se inicia às vezes como uma ideia vaga e, paulatinamente, vai ganhando contornos.
O escritor é, indubitavelmente, um criador de mundos. Mundos incorpóreos. Pequenos ou imensuráveis. Mundos refletidos num singelo comentário nas redes sociais, e-mails e cartões de felicitações, ou num livro “best-seller”.
O ato de escrever é a oração do escritor, na qual ele, no silêncio de seu espaço físico reúne, em torno de sua alma, o cabedal de conhecimentos e sentimentos adquiridos nas experiências da vida. Para o escritor, o papel é a alva toalha do altar, a pena, o aspersório, e o texto final, a sua bênção!
Você vai escrever um comentário no Facebook ou comentar uma bela mensagem recebida num e-meio? Ou, ainda, escrever algumas palavras felicitando por um aniversário, um nascimento ou uma formatura? Escreva, sim! Mas faça de seu singelo texto um quadro de Da Vinci ou a escultura de Michelangelo, pois o tempo e as pessoas passarão, mas você, em seu texto, ecoará na eternidade!