Antônio Fernandes do Rêgo: 'A noite interior'

Antônio Fernandes do Rêgo

A noite interior

Fazemos parte desta mesma aldeia,

não há de como me chamar de humano,

se não me atinge a dor e a angústia aleia,

e me nego a quem me chamar de mano.

 

Ouço gemidos (não me encontro mouco),

clamando pelos braços da ciência,

pelos corredores ouço o alarido rouco

de quem da dor de alguém tem consciência.

 

Nas cidades inteiras, vilarejos,

as notícias só trazem a tristeza,

são notas tétricas de realejos

pelo meio da noite na frieza.

 

Esta é uma noite insípida do ermo,

mas há outra noite, a noite interior,

que é onde habita a fé sem meio-termo,

poesia que alça ao cômoro do amor.

 

Não abandonarei minha esperança,

minha poesia é um navio ao mar

de tormenta esperando a calmaria,

porque conjugo o verbo esperançar.

 

Quando o luar se lança na montanha

e vem banhar a alfombra da ribeira,

vai se ter consolação tamanha,

e vai-se a abelha da espirradeira.

 

Antônio Fernandes do Rêgo

aferego@yahoo.com. br