“Então não permita Deus que eu morra/ sem ver um fio de esperança brilhar,/ sem ver a derrubada da masmorra,/ sem ver o Sabiá e o povo,/ aqui de novo, cantar..”
Assim versejou Dias na Canção do Exílio:
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores….”
Será?
Hoje na minha terra a palmeira
ainda é verdejante
mas as aves em revoada,
entristecidas gorjeiam pra la.
O nosso céu ainda azul
impávido assiste esse colosso
deitar em catre, adoecido;
Nossas matas desmatadas,
nossos bosque sem flores,
nossa vida em teu seio, Mãe
chora as dores
de um povo maltratado e esquecido.
À noite fico cismando
qual é o meu prazer?
É ver diariamente um bando armado
distribuindo bala de aço sem lei
que rasga sem clemência a carne inocente?
Sim, minha terra tem palmeira
Onde já não canta o Sabiá,
Mas tem gente!
onde resmunga os sem eira nem beira,
mas ecoa o riso fácil do rei.
Minha terra de antigos primores
escancara à minha cara as vilanias,
os prazeres são dissabores
nas cidades e cercanias.
Então não permita Deus que eu morra
sem ver um fio de esperança brilhar,
sem ver a derrubada da masmorra,
sem ver o Sabiá e o povo, aqui de novo, cantar.
Andrade Jorge – andradejorge2@bol.com.br
22/03/2018