Sei que entendes o que eu estou passando.
E, ainda que o vale queira me engolir
Ou o “Novo” queira me assustar
É por lá que eu preciso passar
É por este mar Senhor
É por este mar!
Que agitado por vezes faz meu barco querer naufragar.
Ainda que as ondas retornem com toda a grandeza
E eu pequena folha seca
Cheia de medo não consiga ver o farol
O vento me ajudará
Soprará em meu favor
Eu voarei na direção certa
Porque tudo o que Tu queres
É que eu olhe para Ti
Porque tudo o que Tu queres
É que eu confie o suficiente em Ti.
Senhor, aquilo que traçou pra mim
Brilha mais do que as estrelas do cais
Eu brincava na escuridão
E Tu me achaste!
Faz-me então aceitar
Que sou nascida do Teu Espírito e que junto a Ti é o meu lugar.
E quando por águas violentas eu passar
Tua mão irá me sustentar
E quando por águas violentas eu passar
Eu possa a cada dia em Ti confiar.
Andreia Caires
Andeia Caires: 'O barulho do rio'
O barulho do rio
Eu possuía seis olheiras profundas, três debaixo de cada olho. Chorava dia e noite dizendo: “Deus, eu quero morrer!” Lembrei-me de uma crônica que fiz para o meu segundo livro, “As sementes que plantei”, que falava sobre um ditado antigo que dizia que para um ser humano morrer em paz ele deveria cumprir três regras básicas na vida, que era “plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro.”
Eu já plantei árvores. Mais de uma! Já escrevi três livros e, convicta de que não são best sellers, mas, são livros! Meu Deus, só peço perdão por não ter feito um filho. Faltou aquele instinto materno, a vontade de embalar criança, trocar fraldas, ou, talvez, fazer alguns exames pra ver porquê meus óvulos estão tão preguiçosos… enfim, acho que a gestação foi transferida para os ditos livros… O que eu estou querendo dizer é que já posso morrer em paz sem ter de ficar preocupada com esse ditado tão controverso. Chega de enfeitar essa minha vida que nunca foi fácil e sempre me machucou.
Meu pai não está mais aqui! A pessoa que mais me amou nessa vida se foi! Eu não tenho mais aqueles olhos que brilhavam quando me via chegar. Aquele beijo doce, o abraço caloroso… aquela voz no celular que, preocupada, me dizia: “Se precisar de qualquer coisa, ‘fia’, não hesite em nos procurar. Somos sua família e essa sempre será a sua casa.
Meu peito dilacera ao lembrar disso. Do cuidado como se eu ainda fosse uma menininha. Para os pais os filhos nunca crescem mesmo, mas alguns exageram assim como meu velho fazia comigo e com meus irmãos. Quando crianças nos chamava sempre de ‘fofinhos’. “Oi fofinhos!” “Cadê os fofinhos?”. Quando passamos para a adolescência ele parou com o apelido.
Quarenta e cinco anos depois e eu aqui escrevendo para tentar domar a minha angústia através das palavras. O que quase sempre funciona, pelo menos com o meu primeiro livro O Diário da Borboleta Azul, foi assim. Putz! Confesso que agora é bem diferente… Agora entendo quando me falaram certa vez que algumas situações difíceis são para nos preparar para situações bem mais difíceis que virão. Meus Deus, reparei que só falo do primeiro livro, O Diário da borboleta azul, e porquê será? Por que eu agora tenho a impressão de que realmente era uma nova metamorfose? De que a primeira fora apenas uma ‘amostra grátis’?
O cotidiano depois da partida de meu pai era gritante e quase impossível de suportar. Por mais que eu tentasse me esquivar ou me distrair com alguma coisa acabava lembrando automaticamente dele e do jeito carinhoso que tratava nossa família. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, de que foi o homem que mais me tratou bem nessa vida. Por que ele teve que ser tão bom pra mim? Por quê? Talvez se ele tivesse sido um carrasco ou um ‘meio carrasco’ eu não tivesse aqui agora sentindo essa dor. Meu Deus, perdoe-me o egoísmo em forma de devaneios… perdoe-me, mas é que busco uma rota de fuga para eu não sentir mais essa dor. Para eu não mais sonhar com ele como aquele último sonho, no qual ele estendeu-me sua mão e eu a segurei firme e então ele veio se deitar em meu colo. O rosto liso, claro, saudável e jovial que nada tinha a ver com o velhinho sofrido qual partira. E, quando fui tocar-lhe a face, senti um arrepio de uma agonia pois a minha mão atravessou seu rosto. Ele tinha um corpo transformado e senti vontade de ir embora com ele, mas sabia que não podia. Eu apenas disse: “Eu te amo!” “Eu te amo muitooooooo!” Era o tempo que eu tinha para dizer e repeti por três vezes : Te amo! Eu te amo! Eu te amooooo…!
Andreia Caires
Andreia Caires: 'O dia em que a Terra quase parou'
O dia em que a Terra quase parou
Confesso que não estou entendo muito bem esse ano de 2023. Tudo bem que o ano está apenas começando, mas, que ‘tá sinistro’, isso está!
Sei que é comum vermos pessoas dizer que o ano só começa pra valer depois do carnaval, mas, esse 2023 está uma mistura de ‘começo com fim de mundo’ que não sabemos se já podemos levar a nossa vida adiante no meio de tanta loucura que sinto-me meia deslocada. E, por falar em ‘deslocada’, quem se deslocou essa semana foi o núcleo interno da Terra. Meu Deus, que susto! Eu soube pela internet que uma esfera do tamanho do planeta Plutão teria invertido o sentido de sua rotação. Imagino a NASA, os cientistas e todos os pesquisadores tentando entender aquele fenômeno e, pior, tendo que dar a notícia a todos, pois foi algo tipo: “O dia em que a Terra parou”, do Raul Seixas, sabe? Lembrei da música e ela cabe direitinho o que estamos vivendo com ou sem eixo da Terra. Poderia também ser :”O dia em que a Terra quase parou”.
Nosso próprio dia a dia já está de ponta cabeça mesmo. O que é a Terra girando um pouquinho ao contrário, não é mesmo?
O que eu sei é que mesmo os cientistas, tentando acalmar as pessoas, dizendo que isso é natural ou quase natural e ( convenhamos, o Planeta mudar a sua rotação não é normal ) e que isso acontece de sete em sete anos eu não me lembro ter um clima tão diferente no mundo inteiro antes, não. É como se não existisse mais as quatro estações, por exemplo. Aquelas que a gente estudava no colégio e adorava pintar. Primavera, cheia de florzinhas e passarinhos, verão, sol e mar com muito calor, outono, com seu ventinho frio e folhas secas forrando o chão e inverno com muito frio, tempo cinza e garoa incessante.
Hoje está tudo mudado, e não sabemos que roupa usar ao sair de casa, se para calor ou frio. Geralmente eu saio vestida de cebola: Vou com casaco grosso, blusa por baixo e uma regatinha leve. Vou tirando uma a uma no decorrer do dia e assim vou sobrevivendo.
Realmente, o homem maltratou demais nosso Planeta, e hoje vemos o resultado desse desgaste. Percebemos o quanto somos frágeis e pequenos diante disso tudo e, que existe sim, algo muito maior e que nem mesmo os cientistas conseguem decifrar. Quem garante que a Terra sofrerá só esse deslocamento de rotação e que não acontecerá mais vezes e não de sete em sete anos como disseram? Quem poderá prever isso? Pois, as coisas estão caminhando em um ritmo absurdo e aumentou a quantidade de pessoas que dizem a mesma coisa: que os dias parecem estar mais curtos. Essa frase é clichê, mas é verdadeira! Deus quer nos dizer algo: Para que nos apressamos.
É isso o que eu entendi essa semana com essa notícia da Terra. Somos tão pequenos diante da grandeza de Deus que achamos mais fácil descobrir ou o inventar respostas prontas para o que vem ocorrendo, quando na verdade todas as catástrofes, desgastes naturais, núcleo interno da Terra que quase parou, nada mais é do que mais um aviso de Deus para nos desapegarmos. Seja do egoísmo, das mágoas, do ódio, da ira…Olhar ao nosso redor e prestar atenção naquilo que realmente interessa e tem importância em nossa vida: família, amigos, alguém necessitado, um animal de rua…Fazendo isso eu começo a entender esse ano de 2023, que ter mais consciência e cuidar do planeta é cuidar de mim e do meu próximo.
Andreia Caires
Andreia Caires: 'Um bichinho chamado esperança'
Um bichinho chamado esperança
Confesso que nos últimos tempos estava irritando-me aquelas frases prontas e clichês, tipo: “Quem espera sempre alcança” ou “A esperança é a última que morre”. Pois nada daquilo que eu esperava chegava. Eu pensava: Chega! Quem inventou tais frases foi só pra gente não cometer suicídio. Pra mim, já deu!
Olho a minha volta e, tantos papéis desarrumados e textos pra corrigir, enviar e a vontade é de ir para Nárnia.
Chega de confusão, pessoas desonestas e arrogantes, soberbas, gananciosas a ponto de jogar o seu próximo numa fogueira. Sim, cheguei a conclusão que voltamos a era medieval e estão caçando as bruxas. Escondi minha vassoura porque sei que mais cedo ou mais tarde virão atrás de mim. O crime? Pensar, se expressar…ter opinião muitas vezes é um crime numa sociedade doente. Abrir a boca se tornou um perigo nos dias de hoje!
Respiro fundo…onde foi que eu me perdi mesmo? Onde eu estava? Ah, sim…transformando a mim mesma! Um passo de cada vez, como disse o filósofo Lao Tsé.
Ao pensar nessas coisas percebo o bichinho verde no batente da janela. Uma pequena esperança! O que esse bichinho está querendo me dizer, hein? Lá vai eu buscando respostas em pequenos seres. Simplesmente eu estou aqui e não desisti de você! Está tudo de pé! As promessas, lembra? Seus sonhos, seus projetos, tudo está como deveria estar. Bagunçou um pouco mas, te suporto. Lembra há anos atrás quando eu te disse que iria até o fim nessa tua loucura? Pois estou aqui, Seus sonhos não morreram e, agora estão ainda mais verdinhos, mais brilhantes, mais vivos!
Não desista, não retroceda, se tiver que tomar fôlego tome mas, jamais olhe para trás ou virará uma estátua de sal, assim como a mulher de Ló. Atrás ficam os homens cruéis, os invejosos, os que pensam que são e nada são, os infelizes, os de coração de pedra. Sua missão é seguir em frente! A esperança me disse: Se você parar eu não morro, continuo existindo mas fica impossível você me alcançar. E se você não parar me alcançará e não precisará eu ficar vindo aqui o tempo todo para lhe avisar.
Andreia Caires
Andreia Caires: 'Amor animal'
Amor animal
Eu não tinha bonecas. Meus brinquedos preferidos eram sempre bichinhos de pelúcia. Tinha um cachorrinho pequinês igual ao verdadeiro que eu amarrava uma cordinha de varal e saía puxando. Do lado de minha cama era um verdadeiro zoológico. Eu tinha urso, coelho, girafa, elefante, macaco… bichinhos com os quais eu conversava e inventava brincadeiras.
Todos os meus amigos tinham um animalzinho de estimação. Uns tinham cachorro, outros tinham um gato, outros tinham peixinho, outros tartaruga e tinha um garoto na minha rua que tinha um lagarto! As pessoas achavam estranho, mas eu achava o máximo! Fiquei encantada quando ele certo dia levou o bicho verde na porta do colégio. Foi um alvoroço de alunos se aglomerando pra ver. Depois, vi uma menina na sala que tinha um rato branco. A maioria das meninas morriam de medo de ratos e eu, também tinha, mas a vontade de ter um ratinho branco era maior e minha mãe só de pensar apavorava-se com a ideia e também porque tinha nojo.
Resolvi pedir um cachorro para os meus pais. Minha mãe protestou e, resultado: não aceitaram!
Chorei litros e me senti a criança mais azarada do mundo. Eu não entendia porquê as outras crianças que eu conhecia tinham um bichinho, mas menos eu! Até os personagens das histórias em quadrinho que eu lia tinham um animalzinho de estimação: o Cebolinha tinha o cachorro Floquinho, a Magali tinha o gatinho Mingau, o Franjinha tinha o famoso Bidú, o Mickey tinha o Pluto e ( apesar de até hoje eu não entender como um rato tinha um cachorro de estimação ) o Charlie Brown tinha o Snoopy…
Resolvi então criar uma joaninha que capturei enquanto brincava no terreno ao lado de minha casa. Coloquei-a num pote com tampa transparente, fiz pequenos furos para que ela pudesse respirar, algumas folhas que trocava sempre que secavam e água numa tampinha de garrafa. Pronto, eu tinha o meu bichinho de estimação!
Às vezes dava a impressão de que o pequeno besouro estava se acostumando comigo, pois eu o soltava quase todos os dias dentro de casa e o inseto voava pela sala e voltava muitas vezes sozinho para dentro do pote. Eu achava incrível e amava aquele bichinho cor de abóbora com pintinhas pretas.
Porém, depois de mais ou menos um mês a joaninha morreu e fiquei bastante entristecida. Perguntava pra Deus se era justo a minha joaninha ter morrido e ficava buscando respostas imaginando se, de repente, lhe faltou o ar ou os furos na tampa não haviam sido suficientes, ou se ela não estava bebendo água. As folhinhas colocadas dentro do pote estavam sempre picotadas e isso era sinal de que ela se alimentava bem. Jamais passara na minha cabeça de criança que ela pudesse ter morrido simplesmente porquê acabara seu ciclo de inseto. Apenas me restava a tristeza e um jeito de desfazer do seu corpinho redondo e empalhado.
Antes de atirá-la no meio do mato do terreno de casa, olhei uma ou duas vezes na esperança de que, de repente, ela se move-se mas, era inútil. Sua pequena carcaça seca e as perninhas encolhidas pra dentro dava a impressão de que era somente uma simples casquinha. Lembro que foi um domingo bastante triste para mim, pois eu ainda não era uma pessoa resolvida nesse assunto de morte. Tinha pouco mais de dez anos de idade.
Passado um tempo capturei um vagalume e tentei fazer a mesma coisa que havia feito com a joaninha. Coloquei o inseto num pote com tampa transparente e fiz alguns furos. Mas não deu certo, um belo dia fui pra escola e esqueci o pote meio aberto debaixo da cama. Minha mãe foi arrumar meu quarto e levou o maior susto da vida dela! O inseto piscante voando descontrolado batendo nas paredes do quarto e ela não pensou duas vezes e jogou fora o pote, deixando a porta aberta para o bicho sair. Ao chegar em casa, ainda levei um grande sermão. Minha mãe questionando o tempo inteiro sobre aquela minha loucura de capturar insetos e perguntando quando aquilo iria acabar.
Andreia Caires
Andreia Caires: 'Acordar com as flores'
Acordar com as flores
A maioria das pessoas com certeza levou um susto quando olhou para o calendário hoje e percebeu que já estamos praticamente no mês de setembro.
Deu-me um frio na barriga saber que já estamos quase no final do ano e, apesar de fazer muitos planejamentos, não consegui cumprir com muitas coisas ainda.
Mas, aprendi ( ainda na minha vida de lagarta ) que não adianta lamentar e ficar se perguntando ‘por quê?’ “. Tudo acontece do jeito que é para acontecer. Ponto.
Isso dói? Sim! Quem não quer fazer tudo certinho como o planejado na sua agenda de metas para o ano? Porém, a gente acaba descobrindo que não é assim, quando o tempo nos pega de ‘calça curta’ e ele é muito mais rápido do que as nossas vontades, desejos, metas, objetivos etc. E esse mesmo tempo traiçoeiro acaba nos ensinando e tudo vira lição. A lição do ‘o que passou, passou’, agora é olhar pra frente!
Há tempos que comecei a exercitar esse negócio de não me cobrar tanto.
A vida da gente é repleta de regras a serem seguidas mas o destino acaba tomando as rédeas.
Planejei muitas coisas, e acabei pegando o tal vírus da covid no mês de julho. Como tenho imunidade baixa e problemas com a rinite o negócio se estendeu dois meses praticamente. Agora, imagine, se eu tinha ânimo pra fazer alguma coisa? Nem ânimo, nem olfato, nem paladar…Houve momentos em que eu dizia: – Deus, você está me vendo aqui? Porque tá dificil!
– Claro que estou! – a voz conhecida me dizia. Você ainda vai acordar com as flores.
Acordar com as flores? Será que vou morrer? É isso que Ele está me dizendo?
Hoje entendo que o acordar com as flores é um novo dia. Um dia cheio de renovação, colorido, cheio de Vida.
Não foi fácil, contudo, busquei forças e desesperadamente comecei bater minhas asas porque não se subestima uma borboleta quando ela não se importa quanto tempo tem de Vida. Ela apenas quer voar! Encontrar as flores, sentir novamente o perfume…
Setembro está chegando e logo no final dele vem a Primavera. É um novo ciclo e sempre estamos fechando e começando novos ciclos. Reclamar do quê? Murmurar do quê? Estou saudável, cheia de fé e com o coração recolocado no lugar. Os dias na cama me renderam orações, leituras cristãs que me fizeram voltar a entender que desta vida não levamos Nada. Nada mesmo, com letra maiúscula. Ninguém leva e precisamos focar no que realmente importa: a eternidade com Cristo e a Salvação.
Não posso viver correndo feito o coelho branco de Alice. Isso não é pra mim. Viver desesperada sempre atrás de alguma coisa.
Por isso não dá pra trocar a pessoa que eu me tornei hoje, que é mil vezes melhor que a pessoa que eu queria me tornar há nove meses. Preciso evoluir a cada dia e é justamente nas horas mais difíceis que aprendemos as melhores lições. E eu, aprendi mais essa.
As flores? Elas já começaram a brotar em meu coração.
Andreia Caires
Andreia Caires: 'Não há monstros debaixo da cama'
Não há monstros debaixo da cama
Mesmo assim eu fingia que ‘seguia minha vida’, de certa forma, e um dia ao entrar apressada no prédio e fazendo alguns planos para o final de semana, senti uma sombra grande e veloz passando por cima da minha cabeça. Cheguei até a abaixar-me um pouco, mas depois imaginei ser a luz que estava piscando. Em seguida, senti algo batendo na minha cabeça e enroscando-se nos meus cabelos. Apavorada, gritei, passando as mãos rapidamente para tentar me livrar daquela coisa que eu ainda não sabia do que se tratava. Com isso, caiu a bolsa no chão, esparramando todos os objetos pelo piso: celular, absorventes, batom, lenços de papel, óculos de sol, Dorflex, fones de ouvido, escova de dentes… Então eu pude ver a mariposa gigante e escura voando desesperada e sumindo pelas escadas.
– A senhorita está bem? – o porteiro me olhava curioso.
Eu, muito sem graça, olhei para aquele senhor magro, alto, narigudo e muito prestativo, que se parecia com o Visconde de Sabugosa, movimentando meus olhos pra baixo, olhando minhas coisas no chão.
– Quer ajuda, moça? – ele insistia.
Se eu dissesse que não, poderia soar orgulho, então ensaiei fazer piada de tudo aquilo, rir daquela minha cena patética, porque tudo o que eu não queria era que a imagem de uma mulher descabelada, com o salto quebrado e apanhando suas quinquilharias no chão, ficasse na mente dele. E eu era mestra em ‘pagar micos’.
– Obrigada! Já peguei praticamente tudo. – eu ri nervosa, ajeitando os cabelos com uma mão e com a outra enfiando rapidamente o restante das coisas de uma vez só na bolsa.
– Borboleta enorme, né? Desde cedo estou tentando pegá-la para pôr pra fora e não tive sucesso. A danada é esperta!
De pé, ri alto, tentando ser engraçada.
– É sinal de sorte, viu moça?
– Tomara! Estou precisando! – eu disse, já recomposta e agradecendo a atenção do porteiro.
Entrei no elevador e apertei o botão do nono andar, segurando os sapatos e imaginando se mais alguém viu a cena. Que vergonha! Cair na portaria do prédio! Entrei no apartamento e fui direto para o banho; levei um susto pior do que o anterior e que fez meu coração dessa vez querer saltar pela boca.
A borboleta gigante estava lá, feito um morcego no teto do banheiro! Era a mesma! Porque não seria possível que o prédio estivesse ‘infestado de borboletas’.
Por onde ela havia entrado? Ela começou a voar quando acendi a luz e então, abri rapidamente a janela para que ela pudesse sair. Ufa! Que perseguição!
Depois do banho eu ainda pensava no susto que havia passado com a enorme borboleta marrom escura, e numa frase que uma pessoa havia me dito certa vez, que se eu encontrasse uma borboleta dentro de casa, seria uma espécie de presságio, principalmente se ela fosse como aquela, grande e escura.
Por onde ela havia entrado? Ela começou a voar quando acendi a luz e então, abri rapidamente a janela para que ela pudesse sair. Ufa! Que perseguição!
Depois do banho eu ainda pensava no susto que havia passado com a enorme borboleta marrom escura, e numa frase que uma pessoa havia me dito certa vez, que se eu encontrasse uma borboleta dentro de casa, seria uma espécie de presságio, principalmente se ela fosse como aquela, grande e escura.
Nunca acreditei que aquilo pudesse ser um sinal para eu me prevenir de alguma coisa, mas preferi apegar-me na frase do porteiro, que disse: ‘Trazem sorte!’.
Eu nunca presenciara fenômenos do tipo ver disco-voadores ou fantasmas, mas que eu estava vendo borboletas demais nos últimos tempos, isso eu estava.
Apesar do susto com a borboleta, senti que as decepções e perrengues da vida me tornaram meio como Tati Bernardes descreve: “A mulher de medos bobos e coragens absurdas”. Eu já havia passado por tantas avalanches, que não era uma borboleta escura que me faria ficar preocupada; a não ser as ‘borboletas da minha barriga’, que agora se manifestavam como uma ânsia enorme de poder cumprir o meu destino. Podia sim, ser um sinal para eu sepultar o passado de vez e poder percorrer meu caminho, sem perguntar a ninguém se o que eu estaria fazendo seria certo ou errado; mas seguir meu destino!