Vai-se o anel ficam os dedos

Sergio Diniz da Costa:

“Vai-se o anel e ficam os dedos” ou “Vão-se os anéis e ficam os dedos”? Eis a questão!’

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Criador de Imagens no Bing. Da plataforma DALL·E 3

Na semana passada*, publiquei neste jornal a crônica ‘Os óculos dos poetas’. E, nela, citei este provérbio português: “Vai-se o anel, ficam os dedos”.

         Um ‘amigo’ meu, e ex-colega da Faculdade de Direito, e com o qual há um bom não me correspondia ─ ou melhor, ele, em relação a mim ─, resolveu agora, por telefone, promover um ’contato imediato de 3.º grau’, entretanto, não para me abduzir, evidentemente, pois que ele ─ até prova em contrário ─ é da Terra mesmo.

         A reaproximação também não foi motivada por uma súbita ou mesmo antiga saudade, porém, para comentar que minha crônica ─ apesar de interessante ─ continha um erro de citação. E frisou isso com tanta ênfase, que fiquei imaginando se não seria um ‘erro de excitação’!

         Segundo referido amigo, o provérbio correto é: “Vão-se os anéis e ficam os dedos”! Aliás, em sabendo que, atualmente, além de escritor e poeta, também sou revisor de livros, concluiu que o que ocorreu foi, simplesmente, uma falta de revisão, da minha parte mesmo.

         Ouvi, atentamente, as observações e, em primeiríssimo lugar, perguntei como ele estava, e igualmente a família; se ainda estava trabalhando no mesmo escritório de advocacia e outras coisas mais, pois, afinal de contas, fazia um século que nós conversamos pela última vez. Minto! Exagero meu! Fazia apenas quatro anos.

         Tive, então, que defender minha ‘poli position literária’, afinal de contas, sou um recente colunista de um jornal idôneo.

         E, nessa defesa, informei-o que, ao escrever a crônica e fazer a citação, havia feito uma consulta prévia a um grande amigo meu, esclarecedor de todas as minhas dúvidas: Mr. Google! E ele me informou que o adágio correto realmente é: “Vão-se os anéis e ficam os dedos”.

Na crônica, contudo, ─ esclareci ─, optei pelo uso do singular. E justifiquei a opção! Afinal de contas, para alguém roubar um anel (a ponto de até se levar o dedo junto), este deve ser muito valioso. Isso, evidentemente, se o criminoso tiver algum pedigree, porque, se for um pé de chinelo qualquer, leva até um de R$ 1,99…

         Os tempos, entretanto ─ aduzi ─, financeiramente falando, estão difíceis para todo mundo e, por esse e outros motivos, mais violentos, e, excepcionando a hipótese de exibição de joias caríssimas em festas chiques, ninguém fica ‘dando sopa’ pelas ruas com bens caríssimos.

         Por esta lógica simplérrima, mas real, defendi que minha opção não malferiria os olhos ou os ouvidos de ninguém.

         Aliás, já que estávamos falando de ‘provérbios’, fi-lo lembrar de uma das nossas aulas de Redação Forense, na qual estudamos o célebre discurso Oração aos Moços, do mais célebre ainda, o grande mestre Rui Barbosa. E este, ao justificar sua ausência à cerimônia de formatura dos alunos do curso de Direito, da Turma de 1921, da qual era o paraninfo, escreveu uma das mais belas peças de oratória de que se tem conhecimento, e, nesta, declina vários sinônimos de ‘provérbio’, a saber: além do próprio provérbio, adágio, anexim, prolóquio.

         Portanto, terminei minha defesa perante esse amigo, justificando o porquê da minha decisão em citar o tal prolóquio no singular, todavia, ressaltando a altíssima importância dos anexins.

         Ele, do outro lado da linha ─ tive essa impressão ─, pareceu-me um tanto quanto consternado comigo, mas, suspirando fundo, desejou-me ‘tudo de bom’ e, antes de desligar, me informou ─ animadíssimo! ─, que, nestas eleições, estava se candidatando a vereador.

         E que contava comigo ─ evidentemente!

         Eu também lhe desejei ‘tudo de bom’, incluindo o ‘sucesso na futura carreira!’

         Ao desligar o telefone, porém, lembrei-me do famoso Cometa de Haley, que passa por aqui somente a cada 76 anos.

         Alguns amigos também poderiam fazer o mesmo!

* Crônicas publicadas no Jornal ROL em 6 e 13 de maio de 2016.

Sergio Diniz da Costa

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