Angelo Lourival Ricchetti: ÚLTIMA PARTE do livro que conta a história de uma família, desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas reais


angelo-a-08-de-agosto-de-2016-1Última parte do romance ‘Da arte de se criar pontes’

 

Meu caro Helio Rubens,

segue copiado abaixo a última parte do meu romance Da arte de se criar pontes. Peço o favor de publicar no ROL.

Agora, com base nas observações que as pessoas fizeram eu passo a revisar o texto tanto quanto ao conteúdo quanto à forma para posterior publicação virtual e, se conseguir dinheiro, em papel.

Agradeço muito a você por haver publicado pelo ROL esta e todas as partes.

Angelo L Ricchetti

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CAPÍTULO DÉCIMO TERCEIRO (último)

 
Cinthya foi ver como estavam as investigações sobre o assassinato do seu amigo Marco Antonio. Incomodou todo mundo na Secretaria Estadual de Segurança e não conseguia resposta alguma. Até que um delegado de polícia idoso a chamou de lado:
– Minha filha, precisa ter calma e ter sorte. Em São Paulo morrem 10 jovens a cada hora! Veja aqui.
E mostrou a ela muitos arquivos no computador.
– Com sorte pode surgir alguma pista, com sorte…
Ela voltou desconsolada.
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QUARTA PARTE DO DEPOIMENTO DO LOLOU)Sobrou um outro vicio iniciado aos dezoito anos, o de fumar. Parar de fumar foi algo tão de repente e tão simples que até hoje não sei como aconteceu.
Em uma das pensões que fui morar, sendo mista, conheci uma jovem, Maria Julia Fernandes, de Itapelinda e fomos nos conhecendo e nos casamos. Primeiro moramos em São Roque e todos os dias eu ia a São Paulo para trabalhar no Governo. Lá nasceu nosso primeiro filho, o Leon Francisco.
Mas as seguidas viagens de longas horas para ir e voltar do trabalho na Capital acabaram causando um grande desgaste física e mentalmente. Por isso e estando Julia para ter o segundo filho, conversei com meu sogro, Helio Fernandes, um dos homens com mais bondade que já encontrei em minha vida, sobre a possibilidade dele falar com o Governador do Estado, de quem era um cabo eleitoral, de conseguir meu afastamento junto à Prefeitura de Itapetininga.
Ele conseguiu e fomos morar lá quando em dezembro nasceu a Amanda.
Com o tempo descobrimos, com a ajuda de um médico professor, que tinha pedra na vesícula biliar e teria de ser removida, senão havia a possibilidade de morte.
Fiquei no hospital por cinco dias e quando fui para casa não sentia mais vontade de fumar. Imagine, eu, que acordava a cada três horas para fumar e quando não tinha cigarro, punha uma roupa e rodava Itapelinda toda para comprar um maço de cigarros, de repente, não fumava mais.
Por muitos anos continuei com funcionário público, tanto afastado junto à Prefeitura, ou órgão estadual como também no Palácio dos Bandeirantes, voltando a viver a semana toda em São Paulo, vindo a Itapetininga nos finais de semana.
Pronto. Creio que já escrevi muito sobre mim. Vou parar. Se quiser perguntar mais alguma coisa, faça isso.
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– E sobre a Munira? Pergunta Cinthya.
– Poucos meses depois que me casei, em uma agência de banco em São Paulo, eu a encontrei por acaso. Nos falamos bem pouco. Ela falou que sabia que eu me casara e desejou felicidades. Perguntei sobre ela.
– Eu me casei com um colega da Secretaria da Fazenda mas durou apenas dois meses. Munira mostrou um sorriso nos lábios mas tristeza no olhar.
Oito anos depois, trabalhando no Governo Paulista ainda, fui fazer uma reunião em uma Secretaria e nela trabalhava Dalva, uma amiga comum de Munira e de mim. Disse que a Munira estava bem. No dia seguinte voltei para continuar a reunião e havia um recado para eu falar com a Dalva. Ela disse:
– Eu menti para você. Munira está com câncer no estômago. Não passa de uma semana…
Fiquei atordoado. Quero ir ver a Munira!
– Não vai ver não! Ela me avisou para você não ir. Para lembrar dela como no passado. Ricchetti (era assim que eu era chamado por ela) ela está muito magra, muito maltratada pela doença.
Não fui. No final de semana, em casa em Itapelinda, lendo o jornal, de repente meus olhos vão para o ponto do anuncio de mortes e lá estava o nome de Munira, com 50 anos, como eu.
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Lolou, por incrível que possa parecer, superou aquele momento. Ele conta.
– Na segunda feira voltei para São Paulo, cidade que nos dois, Munira e eu, andamos muito tempo juntos, como amigos. Cheguei ao Palácio do Governo onde trabalhava, completamente desnorteado.
Minha amiga e secretaria, a Solange, quis saber o que estava acontecendo. Contei da Munira. Ela já sabia bem da história.
Enquanto falava, algo em mim parecia mudar rapidamente. Solange, muito ligada a anjos, começou a sorrir. Eu estranhei e perguntei e ela disse.
– Você está sentindo algo diferente, não está?
– Sim, a cortina na janela está tocando meu ombro.
– Não é a cortina…
– Como não é? Eu sinto um ventinho e a cortina me tocou!
– Não está ventando. Olhe.
Eu olhei e estava tudo parado mesmo. Perguntei a ela o que estava acontecendo.
– Quem tocou em seu ombro foi a Munira. Está dizendo que tudo está bem!
Baixou uma imensa paz em mim. De fato daquele momento em diante eu sentia que Munira estava em outra dimensão e se sentia bem.
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Final de semana voltamos a Itapetininga. Havia notícias que o grupo de estudos teóricos da USP sobre a questão de se ser saudável estava com bom material desenvolvido. Graças a cooperação, agora possível devido o adiantado progresso dos meios informáticos, com vários cientistas do mundo todo.
Uma questão importante fora levantada entre os cientistas. Os homens e mulheres da criação de Ciências produziam teorias que passavam a serem práticas para outros meios de ciência aplicada, tecnologias, tanto usadas para benefício como malefício para a humanidade. Porém, os habitantes do planeta Terra estavam a ponto de extinção e era necessário que os cientistas deixassem de lado ficar à serviço de capitalistas e se voltassem à sobrevivência humana.
A Cinthya vai se encontrar com as pessoas de Itapelinda envolvida com a ideia de um Município Saudável e contar as novidades.
Eu fico com o Lolou conversando:
– Lolou, você não quer dar mais depoimento. Tudo bem! É seu direito. Mas você teve um papel importante na ideia de Município Saudável. Então queria que contasse um pouco sobre você em Itapetininga.
– Volto a dizer que não fiz nada de importante aqui.
– E como você explica o chamado Instituto Julio Prestes que você coordenou durante muitos anos.
– Essa organização que nunca formalizamos foi uma ideia que surgiu da parte de três pessoas: Helio Rubens, Professor Doutor Cesário e eu. Era para ler e conversar a respeito de um novo paradigma, o da Complexidade. O autor escolhido era um pensador francês, Edgar Morin, que havia escrito muito a respeito. E foi o que fizemos, tendo participado muitas pessoas, inclusive a Professora Doutora Maria do Rosário.
Não dá para citar todas as pessoas porque foram muitas.
Além desse projeto de estudo pensou-se em projetos culturais, sendo que o do Cine Clube ganhou mais destaque e nos proporcionava falar a respeito da Complexidade por exibirmos filmes de autores, não de grandes estúdios de cinema, e após a exibição o debate sobre o conteúdo do filme.
Pronto. Não há mais nada a falar sobre mim!
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Ele tenta escapar da conversa. Aproveita que entra na sala a minha prima Laura e vem mostrar a ele desenho e pinturas que ela fez.
De fato são obras belíssimas, ela sabia combinar cores que dramatizavam o momento, criam um clima!
Com o Lolou está olhando os desenhos e pinturas que Laura mostra eu aproveito para perguntar.
– Lolou, você não contou, mas está no seu curriculum vitae que você faz parte do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga e também da Academia Itapetiningana de Letras. Vai dizer que são meros títulos que recebeu?
Ele fica me olhando por um tempo. Depois diz para Laura que os trabalhos estão ótimos e ela sai. Ele não quer me responder.
Eu continuo a insistir.
– Eu fiz as contas lendo seu currículo que a avó Maria Julia me emprestou que você trabalhou mais de vinte anos como Assessor Técnico do Governo. Isso também não tem importância? Afinal o que você fez esse tempo todo lá?
Agora ele faz uma cara feia para mim mas responde:
– Lá, em outros lugares, e aqui em Itapelinda, eu fiz muitas coisas. Mas todas elas não foram adiante. Não sei se por culpa minha ou não. Eu não considero que fui eu também que fiz, porque sempre trabalhei em grupo, em equipe e o conhecimento e as ações eram do grupo todo, mérito ou demérito de todos. Claro que algumas vezes esse demérito foi causado por mim.
– Por exemplo…
– Por exemplo, no Governo Paulista nós tentamos introduzir a gestão administrativa com tecnologias avançadas. Se você visse o Palácio do Governo, o prédio, antes de aplicarmos a gestão pela qualidade total e visse depois ia perceber como eram técnicas maravilhosamente simples.
Em outra oportunidade, sob uma liderança brilhante de um arquiteto, o Roberto, que era irmão mais velho de um amigo e colega da GV, o Celso Agune, introduzimos a Gestão do Conhecimento e Inovações.
Por falar nos colegas e amigos da GV São Paulo são tantos e não tenho como enuncia-los aqui.
Aprendi muito e errei muito nesses projetos.
Mas tudo isso é passado. Acabei descobrindo com meus estudos que nós vivemos subjugados por um modus vivendi que é nocivo à humanidade e nada por de ser feito para eliminar esse modus. Veja o caso dos filmes tanto de cinema como os de televisão. O mérito deles não á arte e sim a diversão. Afasta uma visão crítica sobre a realidade que se vive. Ao contrário, quanto mais emoção e menos razão melhor! Leva a uma infantilização das pessoas.
– Então esse projeto aqui de Itapetininga não vai modificar em nada esse modus?
– Talvez não vá. Vai ser mais um exemplo do que poderia ter sido, como foram muitos projetos dos quais eu participei.
Não sei o que responder. Com o avanço mundial da deterioração do planeta Terra causado pelos povos de todas as nações, pelos governos, sejam lá quais sejam, pela ausência das ONU – Organização das Nações Unidas, de mãos atadas quase sempre, o Lolou, com seus 83 anos, certamente não acredita em alguma vitória desse projeto de Itapelinda.
Vô Lolou resolve desabafar, andando de um lado para o outro no quarto.
– A virtualização da realidade cria continuamente redes de pessoas e organizações todos fazendo o tempo se encolher, sob esse modo da produção da vida humana com base no capital, no consumo, nos serviços e produtos com uma obsolescência cada vez mais curta de modo a tornar o consumo obrigatório.
O conhecimento é feito aos pedaços e nunca mais se ligam, são mantidas isoladas as especialidades, as ciências e, pior, não se ligam às artes e às ciências. O paradigma atual vale apenas para o que é racional.
Para, me encara para dizer com toda a gravidade:
– É um tal de se lucrar o máximo possível no menor tempo, não se importando com a destruição da natureza e da doença endêmica dos humanos por causa desses consumos de bens e serviços que degradam o ser humano.
Depois continua a andar sem parar de falar.
– Há um deslocamento dos custos de produção e propaganda dos capitalistas para os trabalhadores, consumidores em geral, por meio de salários baixos e créditos altos. Sabendo-se que créditos ao consumidor nada mais são do que pedaços de vida humana futura comprometida para pagamentos de prestações e altos juros. Cansei.
Meu vô para de falar. Usa tanta energia que não se acredita que ele ainda a tenha.  Ele senta na cadeira à minha frente e continua, depois de um breve intervalo:
– Vou contar algo que aconteceu ontem em uma loja de roupas aqui em Itapelinda para ilustrar o que desejo dizer. Como você bem sabe, todas as compras, seja de prestação de serviço, ou de produtos, usam-se o meio digital, sendo o presencial muito raro de acontecer. Por isso estranhei quando uma jovem bonita entrou na loja, na verdade um balcão com computadores e mostras de roupas sendo fotografadas para serem apresentadas pelo meio digital. Qualquer um em qualquer parte do mundo vê esse catálogo e faz o pedido. Como sou amigo da moça que faz as fotos eu estava lá falando com ela.
– Mas e a moça bonita?
– Calma, já vou contar. Ela entra e se dirige à minha amiga dizendo querer ver um vestido.  Minha amiga pergunta qual o código. Ela: que código? Ora o código que está na Internet. A bonita fala que não quer essas coisas feitas em grande quantidade, embora possa ter o modelo e a cor, etc, deseja. Ela quer algo que ela possa ver de perto, cheirar, posar na frente de um espelho. Essa coisa antiga.
Minha amiga pisca o olho para mim e diz para a moça entrar e olhar o que está sendo fotografado. Depois de um tempo a moça chega com um vestido na mão. Gostei desse, ela diz. Quanto é? Minha amiga fica surpresa. Este vestido não é para a venda pela Internet, ela diz. É de uma conhecida minha que faz vestidos por encomenda. É uma Ong. Custa dez vezes mais que os do catálogo. A bonita fica admirada: mas por que isso? Por ser um vestido feito por ela, pelas mãos delas e não por máquinas.
– Compreendi vô Lolou. À moda antiga são poucas peças e por isso custam muito mais que as feitas por máquinas. Isso me lembra a luta por produtos saudáveis.
– Isso, meu inteligente neto, isso mesmo! A idéia do Município Saudável não é possível existir no modo de produção da existência capitalista. Quem sabe no socialismo sim. Esse é o drama, ou tragédia, de todos nós aqui em Itapelinda: querer algo humanamente quando o capitalismo, em si, é desumano! Sempre há uma grande concentração de renda nas mãos de poucas famílias!
Ouvindo essas palavras do Lolou, fico com a impressão de que vamos fracassar, todos nós fracassaremos. Ele consulta a organização de arquivos no computados, organizados por mi. Abre na tela uma foto de José Mujica:
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Em maio de 2025 recebo um convite da Prefeitura de São Manuel, Estado de São Paulo, cidade natal do meu vô Lolou. Diz que seguindo o exemplo de Itapetininga foi criada uma comissão para desenvolver um programa nos moldes do Município Saudável. Olho, sorrindo para minha noiva:
– Cinthya veja esse convite. Ela toma de minha mão e lê e me olha sorrindo também.
– Você, com seu pessimismo doentio, igual o do seu avô, estão sendo contrariados pelos fatos! Vamos lá para conhecer o que está havendo!
E fomos!
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São Manuel, a antiga São Manuel do Paraiso, nome do riacho que corre na cidade, como já falei, depois do café havia se transformado em um mar de cana de açúcar, dentro do oceano que era toda a região do Estado de São Paulo. O boia fria da plantação de cana, ganhava o dobro do boia fria de Itapelinda. Teve representantes tanto na Assembleia Estadual como no Congresso, lutando por São Manuel e região. Coisa que quase não houve em Itapetininga, a não ser pelo Edson Giriboni que fez um trabalho excelente.
Quando chegamos à cidade fomos recebidos muito bem, tanto por causa de sermos da Família Ricchetti que por ali teve seu surgimento, como também pela vivência minha e de Cinthya do programa pioneiro em Itapelinda. Foi organizado um encontro entre lideranças municipais tanto do setor público como do setor privado, em especial os proprietários de grandes glebas de terras com cana de açúcar plantada.
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Estamos no amplo auditório municipal, completamente lotado de interessados nos temas.
Toma a palavra o Prefeito Guido Brancaleotti, certamente descendente de italianos:
– Estivemos em Itapetininga, após a apresentação na Assembleia Legislativa do Estado, para apreciar o programa Município Saudável. Na volta falamos com muitas lideranças sobre a possibilidade de fazer algo semelhante. Como não há duas pessoas iguais, também não há duas comunidades iguais. Aqui o programa precisa ser diferente e temos uma dúvida inicial que a Comissão por nomeada de cidadãos, empresários, agentes públicos precisa resolver e nada melhor do que ouvir o bisneto do Angelo Ricchetti, um dos empreendedores mais famosos em São Manuel nos idos de 1900, para nos ajudar com sua participação em Itapelinda.
Sou chamado a tomar assento nas cadeiras junto à mesa principal, mas não vou sozinho e levo junto comigo minha noiva.
– Esta é minha noiva, a Cinthya que participou ativamente em todo o processo, inclusive junto à Universidade de São Paulo, e vai me ajudar a responder às perguntas, se pudermos, é claro.
Vejo que há algumas risadas nos que me ouvem. Apresenta-se o presidente da Comissão e entra diretamente na dúvida que paralisa os trabalhos do programa.
– Como é sabido, São Manuel e região tem uma plantação extensiva de cana de açúcar. A maior receita do município advém dessa produção. Mas os produtores não abrem mão de usar agrotóxicos por saberem que a produtividade é alta e o rendimento compensa o uso de poucos espaços.
– Poucos espaços? São terras enormes, latifúndios que se perdem de vista!
Comenta uma pessoa das plateias. O prefeito intervém:
– Senhor João Carlos! Peça a palavra antes de falar.
Inicia-se um tumulto porque outra pessoa, produtora de cana de açúcar, acusa a esse João Carlos de “encrenqueiro” e de pequeno produtor que não aceita essa condição e quer que se acabe a produção em massa.
Há um bate boca generalizado. O prefeito pede calma e de nada adianta. Ele passa a gritar até ficar sem voz. Então, italiano ou neto como deve ser, faz algo inusitado: sobe na mesa e começa a bater palmas, cantando uma canção italiana. Todos param, sem entender. Faz o silêncio e ele sorri e desce da mesa.
– Veja meus caros convidados como é difícil começar a pensar em algo congregando todos nós em melhoria pessoal e coletiva.
Cinthya se anima, pega o microfone da mão do Prefeito Guido:
– Sempre é possível compreender o outro, criar as condições para o diálogo. Não é necessário fazer uma mudança tão grande de repente. Podemos pensar como conciliar a grande produção e os pequenos produtores. Sem que se agridam pela mesma forma.
As pessoas se entreolham ouvindo aquela moça da China, falando com sotaque, mas com entusiasmo. Ela se anima e segue em frente.
– Há produtos cujos preços dobraram quando produzidos em pequena escala, mas com qualidade muito superior para o consumo humano. O Kainã vai explicar melhor!
Creio que entendi o raciocínio dela e respiro fundo:
– O que a Cinthya está dizendo é sobre o que vivemos em Itapetininga. Lá a produção sem agrotóxicos em pequenas propriedade rurais, mas com muita organização cooperativa, consegue algo em pequena escala pessoal, mas juntas produzem o suficiente para um mercado que está disposto a pagar mais caro algo que não prejudique a saúde das pessoas.
– O açúcar que produzimos não faz mal às pessoas!
Percebo que é um dos produtores de “plantation” e tenho a resposta na ponta da língua.
– O açúcar demerara é melhor do que o refinado para a saúde humana. Se há mercado para a produção em escala de açúcar assim e consumo no mundo todo, tudo bem. As pessoas que usam ainda não perceberam a diferença.
Sou vaiado por um grande grupo de pessoas que mais tarde fico sabendo que são boias-frias, empregados a mando de proprietários dessas terras. Eu me calo, pois já dei meu recado. O prefeito, já me pedindo desculpas, encerra o encontro. Ele me diz que falta muito ainda para se pensar no programa. Na saída sou procurado por um dos líderes dos pequenos produtores.
– Entendemos muito bem a sua proposta e vamos começar por ela. Por favor, me passe os contatos de Itapelinda para conhecermos melhor como se faz esse tipo de cooperação.
Passo os dados para ele, nos despedimos do prefeito e do presidente da comissão. Cinthya diz a eles:
– É melhor começar devagar e ir aprimorando com o tempo. É possível conviver, ao menos no começo, o grande produtor e o pequeno empreendedor. A superação do uso dos produtos tóxicos e tudo o mais vai depender da conscientização das pessoas no mundo todo. Enquanto isso, senhor prefeito, outros projetos podem ser feito de forma paralela, como acontece em Itapetininga.
Saímos de São Manuel. Antes passamos pela Rua Maestro Angelo Ricchetti, no Jardim Tereza Cristina. Não seria prudente ficarmos por lá enquanto os ânimos estão tão exaltados. Queríamos tanto visitar o Museu do bisavô Angelo Ricchetti, conversar com as pessoas! Tudo bem, fica para outra oportunidade.
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A vida continua. Todos nós envolvidos com nossos amores, desamores, projetos, trabalhos, vida em frente, pois não se pode parar.
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Cinthya Lee se casou comigo no verão de 2026. Seus pais e parentes vieram da China. Foi tudo bem complicado por não entendermos nada do que eles falavam. Em compensação eles também não entendiam nada do que nós falávamos. Mas foram bem simpático e muito emotivos. Não imaginava que o povo da China fosse desse modo. O nome de minha esposa agora é Cinthya Lee Ricchetti.
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Em cinco dezembro de 2026 nasceu Cecília, muito bonita e singular: tem traços meus e da mãe. É uma chinesa brasileira.
Eu fiquei fora do quarto, como é costume da direção da Santa Casa “Francisco de Assis”, de Berlim, Alemanha. Saiu do quarto a enfermeira muito loura, alemã, sorrindo muito com a recém-nascida, embrulhada em uma toalha, vindo pelo corredor onde eu estava, parando perto de mim, rapidamente para mostrar a Cecília. Nesse momento, por incrível que possa parecer, a recém-nascida abriu os olhinhos e sorriu. Fiquei em dúvida se foi isso mesmo que aconteceu ou foi minha imaginação.
Enviamos fotos da Cecília pela Internet para os parentes na China e para os parentes em Itapelinda.
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Depois de graduados nós fomos fazer mestrado na Inglaterra. Ficamos todo esse tempo, dois anos, sem visitar os parentes em Itapelinda. Falávamos por meio de imagem e som, algumas poucas vezes com os parentes em Itapelinda e em Xangai.
Começamos, sempre estudando e trabalhando juntos, a ir para outros países. Cecília nos acompanhava. Cinthya se admirava como ela rapidamente falava outras línguas.
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Estivemos na China em dezembro de 2027, não para mostrar Cecília, e sim para assistir os funerais dos pais de Cinthya. Houve uma explosão de um reator e a região em que moravam foi muito atingida. O enterro foi simbólico. Não havia mais corpos. Cecília, a neta do casal, conheceu os avós apenas por fotografias em cima do altar, como é costume lá.
Minha esposa, desse dia em diante, perdeu muito do interesse em tudo. Nem o projeto e o esforço que ela fez para o Município Saudável a fazia retornar àquela alegria contagiante. Continuava a trabalhar, mas perdera a vivacidade de antes, o entusiasmo. Trabalhava bem, contudo.
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Agora preciso contar da última vez que estive em Itapetininga, novembro de 2024, a chamado de minha prima Amanda. Meu avô estava com problemas.
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Percebo que ele não está doente fisicamente. Porém, mentalmente muito abalado e não quer conversar. Quem me ajuda a compreender porque surgiu essa crise aguda com ele foi minha avó Maria Julia.
– Esteve aqui em casa um senhor representante de uma grande empresa internacional de produtos alimentícios enlatados.
O seu avô não queria falar com ele por nada nesse mundo.
Mas esse advogado tanto insistiu que meu marido saiu até a porta de entrada para falar com ele. Eu fiquei ouvindo. Mas não dava para compreender bem do que se tratava.
Parece que o homem queria que ele recebesse um dinheiro para ir à televisão dizer o projeto de Munícipio Saudável era uma farsa, inventada por políticos corruptos.
– Não acredito que o vô Lolou tenha aceitado.
– Claro que não aceitou e ainda por cima expulsou o tal doutor. Antes desse tipo entrar no carro ainda ameaçou meu marido. Disse que vai dar um jeito nele.
– Que absurdo!
– Seu avô entrou em casa como se um mundo tivesse caído em cima dele e a partir desse momento deixou de falar. Era só “sim”, “não”, “já vou”, etc.
Tento entrar no quarto dele para conversar. Ele me parece mais uma escultura em mármore. Rígido. Não fala, não se expressa. Parece que não vê nada à volta, não escuta nada a não ser em volume alto antiga música. Enquanto ouço Rock Around The Clock e acompanho o ritmo da bateria, ele me olha, tenta sorrir, não consegue, me abraça bem forte, quase me esmagando. E me beija na testa.
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Saio do quarto e digo a minha avó que era preciso que ele fosse ao médico ou o médico o visitasse. Ela me informa:
– Já tentei, não consegui. Não adianta. Vai ficar assim até morrer.
– Mas eu quero ir atrás desse homem! Vou colocar a polícia nesse caso!
– Não é possível fazer anda. Não há prova de nada.
Vou embora chateado. Conhecendo, como aprendi a conhecer o Lolou, penso que ele está travado por dentro. Não há o que fazer.
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Passamos os anos de 2025 a 2029, construindo pontes em vários países. As cidades se transformam em mega comunidades e precisam muito de pontes.
Cinthya e eu percebemos o que quer dizer “a arte de se criar pontes”. Não essas pontes que fazemos para se ir de um local a outro. São outras pontes, aquelas para irmos ao passado, para irmos ao futuro e compreendermos o tempo de agora no espaço e na humanização da vida. Pontes para novas ideias, novos compromissos com as pessoas.
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Em abril de 2026 recebemos uma correspondência do prefeito de São Manuel dando conta que o programa de Município Saudável, com o nome de “Vivendo Melhor, com Saúde e Educação” estava sendo implantado com razoável sucesso. As divergências estavam sendo bem administradas de modo a não impedir as medidas de melhorias. Mostro para minha esposa Cinthya que me abraça e me beija, mas não diz nenhuma palavra a respeito.
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Em novembro de 2029, eu embarco em São Paulo com Cinthya e nossa filha Celina, rumo a Paris, França.
Somos convidados a assistir à entrega de um prêmio pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO – acrônimo de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) às autoridades do Município de Itapelinda, declarando ser o primeiro a ser considerado como exemplo para os demais, de um projeto conjunto, governo e cidadãos, voltados a uma vida humana sadia em todos os sentidos.
Agora que várias comunidades no mundo todo estão se tornando saudáveis, nos termos praticados por Itapetininga, é hora de se homenagear o município pioneiro.
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Segue conosco a Mariana, uma das modelos mais fotografadas no mundo, e a Laura, reconhecida com uma das pintoras com mais quadros vendidos.
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Despedimos de nossos pais Leon Francisco e Carla, em Itapelinda. O tempo estava feio, céu escuro, muita chuva toda hora. Mas meus pais estão felizes pelo rumo que conseguimos dar às nossas vidas e nos apoiam em tudo.
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Laura e Mariana se despedem de sua mãe Amanda e de seus pais. Amanda me beija e diz para eu cuidar muito bem de suas duas filhas.
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Antes de embarcarmos, porém, procuramos um jazigo, situado fora do campo santo do cemitério. Mariana logo o encontra e nos chama.
Amanda deposita um maço de flores sobre a lápide para o Angelo Lourival Ricchetti, o Lolou, o Ange<LO LOU>rival Ricchetti, falecido em 21 de dezembro de 2024.
A avó Maria Julia pega uma das pétalas das flores, abre o livro e coloca entre as páginas. Busco ler a capa do livro:
“Da arte de se criar pontes”
Laura liga seu celular digital na música predileta do Angelo Lourival. Ouvimos todos em silêncio, olhando o jazigo.
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There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he
And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
“The greatest thing you’ll ever learn
Is just to love and be loved in return”
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“Nature Boy” é uma canção de Eden Ahbez, publicado em 1947. Foi apresentada no filme o Menino dos Cabelos Verdes, de Joseph Losey, em 1948. Era também a música preferida de James Dean, um ator enigmático, morto muito jovem. Fez apenas três filmes.
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Lolou me autorizara a publicar, com a ressalva de constar um recado a todas as pessoas com quem conviveu de que pede desculpas, mas não será possível citar tantas e tantas pessoas que o ajudaram em tudo, na infância, na juventude, na vida adulta, no trabalho, na aposentadoria, parentes, amigos, conhecidos, autoridades de todos os tipos.
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Nunca aceitei a versão de que Lolou haja se suicidado com um tiro de revolver. Qualquer perito, sendo honesto, iria desmentir o laudo apresentado. Disseram ter visto um homem ao lado do corpo de Lolou, na pequena praça no Jardim Deise, porém sumiu antes da polícia chegar. Ninguém soube dizer quem era. Não me conformo. Meu vô nunca teve revolver, nunca usou um… Para quê revolver? A sua arte era pacífica, sua arte era a de se criar pontes…
Aqui termino o que tinha de dizer sobre Lolou.
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POST SCRIPTUM
Estamos em janeiro de 2049. Nesses últimos vinte anos aconteceram muitos fatos, no início, quase sem se perceber, locais, mas se acelerando de forma intensa cada vez mais de locais para mundiais, com violência em um crescendo que agora tentamos esquecer. A humanidade se dividiu entre o socialismo e o capitalismo, entre outros grupos, religiosos e os ateus. E defensores dos capitalistas e dos socialistas, trucidaram-se de todas as formas, a partir de 2048. Muitas mortes. Não sei quantas foram. Ninguém sabe.
Da minha família sobraram minha filha Cecilia e eu. Vivemos em uma ilha pequena nos confins do Oceano Antártico. Somos cerca de duas mil pessoas. Chegamos de várias partes do mundo em vários transportes, sempre fugindo das nuvens negras e tóxicas. Melhor seria dizer duas mil pessoas sobreviventes da hecatombe nuclear mundial. Foram poucas horas, poucos dias para muitos tentarem fugir. Os meios de comunicação foram escasseando até não se ver ou ouvir nenhuma notícia mais.
Único lugar em nosso planeta, pelo que sei que se vive em amor e paz, apoiados no respeito mútuo e na prática daquele antigo projeto de Município Saudável e agora também espiritual. Passamos por uma depuração mental. Somos mais leves.
Escrevi este texto à mão na capa final do exemplar que ficou comigo do romance Da arte de se criar pontes. Como se fosse um final de carta para você que encontre, por acaso este livro, depois de nós.  SHALOM ALECHEM, IRMÃOS EM CRISTO.
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Nestes anexos coloquei os dados que me foram enviados.
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Anexo um
Nomes Grau    País     Estado Cidade            Ano     Mês     Dia
Lucila de Campos Mello Ricchetti    minha mãe      Brasil   São Paulo        São Manuel1914        04        19
Angelo Ricchetti        meu avô paterno         Itália               Castelluccio almaggiore
1866    08        02
Maria Giovanna D’Andrea Ricchetti minha avó paterna      Itália               San Bartolomeio in Galdo     1868    03            14
Bento de Campos Mello        meu avô materno        Brasil   São Paulo        São Manuel
Catita  minha avó materna     Brasil   São Paulo        São Manuel     0000    00        00
José Eduardo Ricchetti          meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Vera Maria Ricchetti Meneguelli       minha irmã      Brasil   São Paulo        São Manuel    
Antonio Geraldo Ricchetti    meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Manoel Fernando Ricchetti   meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Henrique Ricchetti     meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
Linda Ricchetti Ricci minha tia paterna        Itália                                                  
Fausto Ricchetti         meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
Hermínio Ricchetti     meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
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Anexo dois
Família de José Eduardo Ricchetti
Filho 1º Maria Estela Ricchetti de Oliveira casada com Valmir de Oliveira, seus filhos…
Humberto, Leticia, e André, hoje Leticia casada com Fabio e tem uma filha a Rebeca, bisneta do Eduardo e da Terezinha.
Filho 2º José Eduardo Ricchetti Junior casado com Lourdes, seus filhos Fernando e Gabriela.
Filho 3º Paulo Rogerio Ricchetti casado com Lúcia seus filhos Michael, Camila, Raíssa, Paul e Richard.
Filho 4º Lucimara Aparecida Ricchetti Carvalho, casada com Rui, seus filhos Leon e Guilherme.
Filho 5º Márcia Andreia Ricchetti da Silva, casada com Niceu, seus filhos Renan e Pamela.
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Anexo três
Família de Sylvio Laís Ricchetti
Sylvio Laís Ricchetti, filho de Henrique Ricchetti e Sylvia Duarte Espindola, e neto de Angelo Ricchetti e Maria Giovanna D’Andrea Ricchetti.
Nascido na cidade de São Manuel, Estado de São Paulo – Brasil.
Atualmente casado com Selma Francelina de Oliveira com quem tenho dois filhos, Ricardo e Camila.
O Ricardo é casado com Juliana Matozinho Ricchetti. Eles têm (?) um filho nascido em São Paulo cujo nome é Giuzeppe.
A Camila é nossa filha solteira.
Anteriormente casado com Norma Lux Ricchetti, falecida, com quem tiveram três filhos:
1-Sylvio Roberto (divorciado) teve duas filhas, Mariana e Gabriela.
Após seu divorcio Sylvio Roberto teve mais um filho, o Enzo.
2-Marcus (divorciado) teve dois filhos, Julia e Pedro Henrique.
3-Wania, casada com Marcio Pedro Basso, têm dois filhos, Danilo e Bruna.
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Anexo quatro
Família de Angelo Lourival Ricchetti e de Maria Julia Fernandes Ricchetti
Angelo Lourival Ricchetti, nascido em 19 de novembro de 1939, filho de Uth Ricchetti, nascido em 11 de outubro de 1911 e falecido em 18 de julho de 2001 e de Lucila de Campos Mello Ricchetti, nascida em 19 de abril de 1915 e falecida em 11 de junho de 2006. Filho de Angelo, Leon Francisco Fernandes Ricchetti, nascido em 11 de outubro de 1981, casado com Carla Ignácio, filho do Leon e Carla, Cainã Ignácio Ricchetti, nascido em 28 de abril de 2002. Filha de Angelo, Amanda Fernandes Ricchetti, nascida em 23 de dezembro de 1982, sendo filha da Amanda, Mariana Fernandes Barreti, nascida em 11 de dezembro de 2002 e Laura Fernandes Marques, nascida em 13 de março de 2007. Angelo é casado no civil em oito de agosto de 1981, no religioso em 16 de julho de 1983, com Maria Julia Fernandes Ricchetti, nascida em 18 de maio de 1961, filha de Helio Fernandes, nascido em 16 de outubro de 1934 e falecido em 18 de janeiro de 2006 e de Maria Rodrigues Galvão Fernandes, nascida em 30 de março de 1932 e falecida em 20 de março de 1998.
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Anexo cinco
Família de Mario Portes e Celina de Campos Mello Portes
Mário Portes, (30/04/1914), casado com Celina de Campos Mello Portes (15/06/1924), filhos Mário Portes Júnior (17/08/1945), Ana Elisa Portes (02/03/1947), Carlos Alberto Portes (20/01/1951), Maria Aparecida Portes (14/06/1952) e Rita de Cassia Portes (01/07/1954). Netos são filhas do Mário Jr., Maria Lúcia Portes (21/05/1971), Ana Cecilia Portes (25/11/1975) e Ana Paula Portes (02/02/1983). Filho do Beto, Carlos Alberto Portes Junior (10/03/1979), filhos da Maria, Aline Maria Portes de Miranda (03/01/1985), Ana Beatriz Portes de Miranda (08/03/1988), Regina Helena Portes de Miranda (18/09/1989); filhos da Rita, Rodrigo Portes Ureshino (29/04/1983) e Thais Portes Ureshino (29/04/1986). Bisnetos de Celina e Mario, da Ana Cecilia, Bruno Portes Pisconti Povh (12/09/1995), Gabriela Portes Pisconti Povh (06/05/1998), Victor Portes Pisconti Povh (05/01/2001) e Laura Portes Rocha (05/09/2011); da Regina Helena, Maria Julia Capistrano de Miranda (20/12/2006); da Aline Maria, Alice Portes de Miranda Carneiro (04/06/2010).
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Anexo seis
Família de Manuel Fernando Ricchetti e Vilma Ricchetti
Filho Jean Luciano Ricchetti
Filha Fernanda Ricchetti Adamovich casada com Pedro Von Adamovich
 E filho Otto Ricchetti Von Adamovich
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Angelo Lourival Ricchetti: Continuação do livro que conta a história de uma família, desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas reais

Angelo Lourival Ricchetti:  Continuação do livro ‘DA ARTE DE SE CRIAR PONTES’ 

SÉTIMO PEDAÇO DO ROMANCE DA ARTE DE SE FAZER PONTES
(continuação)
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Desse momento em diante iria começar a maior luta de minha vida.
A família dela não queria o nosso namoro.
Nessa ocasião eu dirigia a entrega de jornal “O Movimento” juntamente com o João Macedo.
Eu havia contado a ele a minha felicidade e eu queria entregar os jornais rapidamente para encontrá-la na missa.
Mas muito mais rapidamente a mãe dela (D. Catita) soube do namoro e contou ao marido (Sr. Bento) e ambos começaram a combater o nosso idílio. 
Prenderam a Lucila em casa e mandavam as irmãs menores me vigiar. A Marina, logo abaixo de Lucila também namorava o meu amigo Lauro e os pais não queriam o namoro.
A Lalá recebia da mãe duzentos reis para contar se nós nos encontrávamos e eu dava outros duzentos reis para ela não contar nada. E ela contava tudo recebendo dos dois lados.
Afora as meninas ainda havia um espanhol, cria da casa que na mocidade fora o acompanhante do Sr. Bento quando percorria as fazendas.
O nome dele era Leão Morales. Para nos vigiar ele procurava os lugares escuros e nada. Nós estávamos bem no claro e rindo do modo do pobre homem.
Também nos olhavam o Sr. José da Silva Teles, a mãe de Nonhô Unzer e outros.
Nós nos encontrávamos nas casas de colegas da escola. Na casa da Silverinha e Hercília Araújo, filhas de Francisca Gerônimo Araújo, sempre nos encontrávamos.
O diretor da Escola Normal era outro que nos denunciava.
Não tínhamos saída para nada.
O diretor Dr. Homero de Alcântara Silveira (o diretor da E. Normal) chegou a pedir a Lucila em casamento e também arrumou uma classe no Jardim da Infância para ela (não estava ainda formada professora). Lucila, não dando esperanças ao Doutor. Ele veio a casar com outra colega chamada Silvia Rafanelli, filha do Sr. Rafanelli, gerente do Banco Francês-Italiano.
O “Dr.” fazia intrigas com o meu irmão Hermínio para ele ficar contra nós.
No Clube Recreativo havia um “rinque” para a patinação e eu patinava lá. Na parte de baixo do Clube havia uma mesa de ping-pong e as meninas do ginásio iam disputar as partidas e a Lucila ia também.
Num desses dias assisti a um caso que muito me desgostou.
O tal Genésio queria voltar com a Lucila e como ela não queria mais nada com ele, o tal, muito nervoso devolveu o romance que ambos escreviam. A Lucila chorou e eu fiquei muito chateado com a cena. Quis acabar ali mesmo o nosso namoro. A Lucila deu-me umas explicações e eu acabei esquecendo o incidente.
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Estamos em contato, Vô Lolou e eu por meio do Skype, um produto antigo, mas ainda muito bom para troca de som e imagem à distância. Reina um silêncio inquietante, rompido pelo Lolou. Aqui no meu apartamento as luzes ainda não foram acesas e tudo está envolvo em uma penumbra. Vem um som de música eletrônica do apartamento vizinho.
– Eu menti ontem quando falei sobre primeira visão da morte.
– Mas nós dois havíamos combinado que iríamos falar de vida, de amor…
– Sim, sim, vamos, mas preciso corrigir meu erro. Eu sei que não vou contar tudo sobre mim. Mas o que contar tem que ser contado certo.
– O que é certo para você pode ser errado para mim, que diferença faz?
– E o que é verdade para você pode ser falso, mentira, para mim! Porém eu vou revelar a você algo que ninguém sabe.
– Nesse caso tudo bem. Gosto que confie em mim. Prometo que não conto… vamos deixar as promessas de lado. Conte, por favor.
– Na casa do Santuário nós já éramos três irmãos, eu, o José Eduardo e uma nascida há poucos meses, a Vera Maria. Uma vez estávamos brincando na sala da casa. Ela estava lá em um canto, minha mãe perto dela, conversando com uma vizinha e mais para cá o Zé Eduardo e eu brincando de puxar um tapete.
Acontece que esse tapete, na outra ponta, era onde estava sentada a Vera Maria. Meu irmão foi buscar um brinquedo no quarto. Estando sozinho resolvi dar um puxão no tapete para mais perto de mim. Minha irmã caiu e bateu a cabeça no chão. Minha mãe gritou, socorrendo a menina. Ela ficou dois dias em coma, beirando a morte. Todas as atenções eram para a Vera Maria. Lembro-me dela em um caixão pequeno de defunto. Não sei se era isso mesmo ou já estava alucinado por uma culpa que nunca mais me deixou.
– Mas ela não morreu que eu saiba.
– Não morreu. Parece que de repente, meus pais chorando, os parentes todos ali na sala escura, ela começou a melhorar e sair do coma. De tão culpado eu me senti que fiquei mais de trinta anos sem conseguir olhar para ela, falar com ela. Essa foi uma das minhas culpas, houve outras.
– Vamos falar de vida agora, de amor, certo Vô Lolou?
– Sim, sim vamos.
– Tem essa parte da devolução do livro que um namorado devolve por estarem escrevendo juntos e ela não querer mais voltar com ele por já estar namorando com o bisavô Uth. Ele ficou muito chateado. Seu pai sempre teve essa devoção por livros?
– Creio que não era devoção. Antes de eu começar a estudar no primeiro ano ele me obrigava a ler livros. Para ele era preciso que eu fosse o primeiro aluno da classe para orgulho dele. De modo geral os Ricchetti de São Manuel e seus descendentes tem orgulho de serem dessa família. Devia começar os estudos escolares já sabendo ler, escrever, fazer contas etc. A relação dele com os livros sempre foi algo como uma ferramenta para ter sucesso.
– Nesse caso por que ele ficou chateado com a devolução do livro que estava sendo escrito por sua mãe e um antigo namorado?
– Eu não sei. O que presenciei muitas vezes é que ele cuidava de minha mãe a ponto dele escolher tudo por ela.
Ele tinha muitos ciúmes dos outros que se aproximavam da Cila. Ela era católica praticante, mas depois de casada, meu pai a impedia ir à missa, “namorar o padre”. No começo ele ia também a acompanhava, mas o costume eram os homens saíram antes do sermão.
Para meu pai o padre não podia saber mais do que ele, pois nem podia casar como ia orientar as moças? Ele se dizia crente no espiritismo. Eu creio que naquele tempo a sociedade era mais machista do que hoje é.
– Mas você e todos os seus irmãos foram batizados.
– Fomos sim e cheguei a ser coroinha, expulso junto com os colegas, pegos que fomos quando roubávamos vinho da eucaristia no meio da semana e nos embriagávamos. Sempre tive problema com bebida alcoólica, depois falo disso.
– A sua mãe se formou em que?
– Não se formou. Depois de casada deixou o curso normal sem terminar. O desejo maior dela, ser professora, foi barrado pelo meu pai.
– Era para a gente conversar sobre vida, sobre amor e, no entanto, Vô Lolou você está traçando um quadro horrível do seu pai. Você não o amava?
– Sim e ainda o amo, mesmo morto, pois reconheço a fibra dele de lutar para que não morrêssemos de fome, tão pobres nós éramos.
Ele lutou muito para que cada um de nós tivesse o mínimo de estudo para “vencer na vida”.
Meu pai, ao contrário de mim que sempre fui muito covarde, enfrentou com coragem tudo que vinha atrapalhar nossa vida.
Lembro quando ele recebia o salário da Prefeitura de São Manuel e passava em um bar antes de chegar em casa comprando croquetes de carne para todos nós. A maior parte dos outros dias não podia comprar carne. Minha mãe era muito criativa e inventava pratos com massas, com mistura para comermos junto com o arroz feijão.
– Entendo. Ser pobre é uma situação horrível. Parece que os pobres perdem seus sentimentos, ficam embrutecidos.
– Concordo em parte, pois ricos são brutos também. Mas isso é outro lado da história.
Meu pai detestava me encontrar fora de casa quando chegava, ainda mais se eu estava jogando futebol na frente do Santuário com outros meninos tão pobres quanto eu. Éramos tão pobres todos nós jogadores que a gente pintava no corpo, a camisa do time, as meias…
Várias vezes esqueci do horário que ele chegava da Prefeitura e quando o via, começava a tremer de medo. Ele me mandava entrar em casa, tirava a cinta e me batia dizendo que eu não podia ficar com esses meninos da rua.
– Uma relação de amor e ódio você tinha para com ele.
– Eu e a maior parte das crianças, pois os pais naqueles tempos seguiam o costume das “palpadas” para se educar.
– Meu pai também me batia quando era menor. Mas não vou falar mal dele porque ele foi sempre um lutador.
– Fiquei chateado por contar essas coisas do meu pai e de mim. Acho melhor nós dois encerrarmos essa conversa sobre o texto do seu bisavô.
Não quero mais falar sobre isso. Fico amargurado. Sinto-me injusto para com a memória do meu pai.
– Também não estou gostando… Melhor pararmos mesmo. Vamos conversar outras coisas menos essas coisas de família.
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Uma semana depois, por curiosidade, voltei a ler o texto do Uth Ricchetti. Não ia comentar nada com Lolou. Queria conhecer melhor uma personalidade complexa como o pai dele.
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(Décimo texto do Uth Ricchetti)
Em 1932 arrebentou uma revolução em São Paulo e eu estava lá passeando.
Cheguei a me alistar no batalhão “Borba Gato” onde já estavam o meu irmão Fausto e os seus cunhados. Quando o meu irmão Fausto soube do meu alistamento me desligou do batalhão e eu voltei para São Manuel (eu estava com vinte anos).
Chegando em São Manuel eu e uns amigos formamos um batalhão Samanuelense.
Havia aqui muitos discursos para convocar os moços para defender São Paulo.
Minha futura sogra não sabia que o próprio filho dela e eu já estávamos organizando um batalhão e quando o promotor público Dr. Orlando de Sá Cardoso estava convocando a mocidade eu falei alto:
– Eu não vou para morrer coisa nenhuma.
E minha sogra indignada respondeu do palanque:
– Só os sangues de barata não irão.
Ora, eu, sangue de barata? Um moleque ativo que sempre fui? O pulador de cerca da chácara da Nicota Gato, onde furtava as laranjas? 
O pai dessa Nicota Gato era um bom atirador de bodoque (estilingue), pois até o “Dito louco” já havia recebido uma bodocada nas nádegas, porque ao pular a cerca ficou preso num galho da laranjeira.
Mais tarde o velho arrumou um cachorrão, mas nós tirávamos um pau da cerca e o cachorro saia para dar suas voltas e aí nós entravamos tranquilos.
Roubávamos bananas na plantação da “Estrela”, propriedade dos Duarte (mãe da Dona Linda Brolo).
Tomávamos banhos numa cachoeira que estava proibida a entrada para as pessoas estranhas.
Onde hoje é a Escola Agrícola, era uma fazenda e lá roubávamos os ovos das galinhas e os colonos corriam atrás da gente.
Na parte alta da cidade, no pasto do Pascoalino de propriedade de Pascoal Raimo (ao lado do cemitério), pegávamos cachos de bananas verde e enterrávamos para amadurecer.
Com uma cinta no pescoço do animal, montávamos os cavalos e morríamos de medo de um touro preto que havia por lá.
Certa vez o meu amigo Lauro de Oliveira e eu estávamos vigiando enquanto os outros roubaram e o tal touro apareceu, então nós trepamos numa árvore e o bichão ficou embaixo e só saiu dali quando os outros chegaram e desviaram a atenção do bruto. A árvore era um coqueiro.
Quando nossos pais souberam foi aquela sova, mas assim mesmo continuávamos a enfrentar o que para nós era o perigo.
Meu futuro cunhado Fernando fazia parte da turma, o primo Carlito Campos Mello também e às vezes outro irmão da Lucila, o Álvaro.
Mal sabia Dona Catita, mãe da Lucila, que dia depois jurávamos amor eterno diante de um crucifixo:
– Meu Jesus nos uma na vida e na morte! 
E ele nos uniu e continuamos unidos.
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Fico imaginando o amor do Uth pela Lucila sem saber se posso dizer também “o amor da Lucila pelo Uth”. Mas como ela aceitava esse poder que ele tinha sobre ela? Todas as jovens, ou quase todas, eram assim submissas aos maridos? Pelo amor que recebiam as mulheres nessa cultura machista não se rebelavam? Não aguento ficar pensando sem saber alguma resposta. Vou criar coragem e falar com meu avô Lolou. Mas quando ligo o notebook uma mensagem já está lá na minha tela:
– Prezado neto Kainã, depois de refletir cheguei à conclusão que podemos continuar a conversar sobre o texto do meu pai. Afinal eu estou me portando como uma pessoa adulta que procura entender como foi a vida dele, de meu avô, de meus parentes.
Para entender preciso fazer uma reflexão como e porque as pessoas agiam como agiram. Não são nossos tempos atuais.
Agora, em 2023, são outros tempos, outras estruturas de poder, o mundo ficou pequeno, as pessoas todas têm mais informações, há muitas e variadas influências e não podemos julgar fazer juízos de valor, sem antes compreender bem como as pessoas agiam sob um paradigma com valores e razões que não são de hoje.
Temos novos paradigmas.
Quando ler o que escrevi, por favor, diga se deseja continuar ou desistir.
– Pode ser coincidência vô Lolou, mas ia lhe escrever sobre isso mesmo. Fico cheio de dúvidas. Não entendo aqueles comportamentos.
– Que bom que estamos nos entendendo. Vamos continuar então.
Eu conto a meu avô que já pesquisei um pouco na história e na geografia para saber mais sobre o café, os barões do café, os políticos desde a proclamação da Republica,
Estudei o mapa, o relevo, etc. para entender um pouco mais sobre a produção agrícola de São Manuel, no centro do mapa do Estado de São Paulo, Brasil.
Li bastante sobre a imigração italiana, sobre as famílias que tinham uma existência de séculos atrás com valores tradicionais tão diferentes dos italianos que vieram “fazer a América” como diziam esses italianos. Na prática, tiveram de abandonar as suas terras por causa da grave crise do 1900.  Digo a Lolou:
– Eu me sinto mais preparado também por estar conhecendo mais sobre a China como primeira nação mais importante do planeta, em todos os sentidos, pela população que já é um terço de todas as populações das demais nações, com sobrevivem e como tem de preservar o ambiente com a falta de petróleo, de água, de território.
– Porque a China?
– Porque a Cinthya é nascida lá e me conta e em termos de estudos de Arquitetura eu preciso saber tudo isso, tanto o passado como o presente e imaginar o futuro.
Percebo que o mundo cada vez mais precisa de pontes para a locomoção de pessoas e cargas, grandes e necessárias obras arquitetônicas que pretendo criar e será o foco dos meus estudos.
– Construir pontes? Você fala de pontes materiais? Mas é preciso outras formas de pontes…
Não entendo o que ele diz de outras formas de pontes e não quero falar sobre isso e sim sobre o namoro. Mais cedo ou mais tarde vou ter mesmo que falar. Crio coragem, respiro fundo e digo:
– Estou namorando a Cinthya, agora é sério. O desejo dela é fazer pós-graduação para a construção de pontes usando tecnologia de ponta.
– E você?
– Sou apaixonado por pontes e pretendo trabalhar em alguma empresa de construções de pontes gigantescas!
Com cuidado começo a falar sobre minha namorada.
Você vai gostar da Cinthya, Lolou. E ela me ajuda muito a compreender tudo que preciso. Ela quer conhecer essa pessoa com quem tanto falo.
– Nosso acordo vai por água abaixo?
– Pode confiar nela. É uma jovem compenetrada de suas responsabilidades e nos amamos.
– Vou aceitar, embora não sei como ela vai guardar segredos, o que vai pensar de mim escrevendo sobre meus parentes desse modo tão cruel.
– No próximo sábado, quando formos, eu e ela, para Itapelinda vou leva-la para que você possa conhecê-la.
– E eu a ela… Vamos deixar as perguntar para o fim da semana então.
Fico aliviado que o Lolou está aceitando abrir as guardas, como falamos no Box, para irmos mais fundo nesse conhecimento. Menos apreensivo continuo a ler. Será que esse material daria um romance? Um ‘“novo” Julieta e Romeu?
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(Décimo primeiro texto de Uth Ricchetti)
Dias depois o Sr. Eliseu Augusto Teixeira pagava um vagão de passageiros que foi engatado num trem e nos levava para São Paulo e tomamos lugar no Batalhão Esportivo.
Embarcamos no dia 19 de junho. Na estação alguns membros das nossas famílias e as namoradas.
Eu estava preocupado, pois deixara mamãe chorando e o meu irmão Hermínio muito nervoso.
Despedi-me da Lucila e seu irmão Fernando despedia-se da Araci Padovam, filha de Cirilo Padovam (já falecido na época).
A Lucila me deu uma linda medalha de Nossa Senhora da Aparecida que perdi numa retirada brusca.
Ao chegar em São Paulo, alguns foram para Duque de Caxias antiga Quintaúna. Foram eles: Francisco Borges, Otávio Pascoal, Elias Francisco Araújo (Chicão), Gino, Menocchi, Domingos Felipe, Otto Kermer, Zito Zergelli.
Essa primeira turma somava cento e sessenta entre mais velhos, os moços e menores como o Mário Portes e eu. O Mário, menor de 16 anos, não foi recebido, precisava autorização do pai.
O irmão dele, Argemiro Portes trabalhava no Correio aéreo. Era quem recebia e enviava as nossas cartas da trincheira.
O Argemiro recebeu cartas do pai pedindo para o Mário voltar, pois a mãe estava de dieta de parto e muito nervosa.
Vim trazer o Mário e queria encontrar com a Lucila, mas a sua amiga Silveirinha falou que a Lucila não queria falar comigo. Era mentira.
No dia seguinte, antes do meu embarque a Lucila veio encontrar-se comigo e muito chorosa dizendo que não fosse por que ela estava com forte pressentimento de que algo iria me acontecer e fui ferido mesmo nos dois pés e no peito por isso baixei no hospital para tratamento. 
Quando cheguei em São Paulo o Batalhão Esportivo havia partido e eu fui procurar um outro que ia para o Este onde estavam os meus companheiros.
Alistei-me no Batalhão de Comércio que se incorporou depois no sétimo de Emergência.
Quando estávamos para partir soube que o Mário Portes estava no Batalhão dos Estudantes do Comércio e como eu conhecia o Capitão (do Batalhão) pedi para dispensar o Mário Portes, pois esse Batalhão ia se incorporar a Coluna Dalton de Oliveira que ia para o sul.
Levei o Mário para o meu Batalhão que seguiu para a cidade de Amparo para retomá-la dos inimigos que haviam ocupado um dia antes.
Chegamos à noite e a cidade estava às escuras. O Mário seguiu para um morro enquanto eu fui para outro morro. Quando amanheceu entramos num fogo cerrado. Conseguimos afastá-los, mas eles vieram novamente com uma força maior.
Chegaram: Infantaria, a cavalaria e Artilharia. Eles nos cercaram onde o nosso Tenente foi um herói. Ele disse:
 – Sargentos (eu era um deles) vou enfrentar com a metralhadora e vou fazer fogo de barragem para vocês se retirarem com os seus homens.
E foi aí que pudemos fugir,
Nunca mais vi o tenente, Deve ter morrido, pois o cerco foi forte.
Retiramos para a cidade de Pedreiras. Quando chegamos não vi o Mário Portes e fiquei muito nervoso.
Eu e os meus homens íamos procurá-lo, mas ele chegou com outros homens.
O capitão por minha desobediência de querer voltar e procurar o companheiro deu ordens de prisão, juntamente com todo o meu grupo (eu era sargento). Fomos para um vagão que seguia para Campinas no dia seguinte. O Capitão tirou a minha divisa e a do cabo.
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Estou indo de São Paulo para Itapetininga de carro com a minha namorada e seu veloz carro. Aproveito para ligar meu notebook e falar com Lolou.
– Vovô Lolou estamos a caminho! Logo mais estaremos ai. Avise a família toda.
– Estamos aguardando. Já está aqui em casa o seu pai Leon Francisco, sua mãe a Carla, sua irmã Amanda e suas filhas Mariana e Laura. A Maria Júlia, sua avó também está querendo conhecer a Cinthya. Todos estão. Mas você está dirigindo o carro e teclando? Não faça isso! É um grande risco!
– Calma, vô, quem está levando o carro e a Cinthya.
– Tudo bem. Diga a ela que a Maria Julia, minha esposa está falando que será bem vinda à nossa casa.
– Não desligue vô, deixa dizer que li a parte do seu pai na Revolução de 1932. Fiquei admirado! Ele foi um herói!
– Sem dúvida! Mas conversamos depois.
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Relato de Maria Júlia para mim sobre a ansiedade do marido, vendo vovô Lolou toda hora indo ver pela janelinha da frente da casa se Cinthya e eu estávamos chegando:
– Já deviam estar chegando… Júlia, será que aconteceu alguma coisa na estrada?
– Calma! Você sempre está imaginando coisas… Pior que só pensa ruim. Já vão chegar. Deixa de toda hora ir olhar se o carro já apareceu…
– Júlia, o carro dela não é com o nosso. É moderno, veloz. O almoço já está pronto Amanda?
– Não venha me apressar que tudo estará pronto na hora que tiver que estar. Vá ver se o Leon e Carla estão querendo para o almoço.
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O dia está maravilhoso! Muito sol, pouca poluição, pouco trânsito, quando entramos na cidade de Itapelinda. Já estamos chegando à casa do Lolou. Vejo que estão todos a postos, bem vestidos. Meus pais, minha avó Julia, minha irmã Amanda, as filhas minhas primas, a Mariana e a Laura. Parece que todos estão prontos para uma festa! Sinto um frio na espinha. Do meu lado está a minha primeira e espero que única namorada, muito nervosa.
– Kai estou bem? Meu cabelo está despenteado. Me sinto feia, Kai. Ela diz olhando-se rapidamente no espelhinho do carro.
– Você está linda! Dou um beijo nela, não nos lábios, no lado do rosto, porque ela está dirigindo. Agora estacionou. Todos saem da casa sorrindo e muito curiosos. Quando saio do carro minhas primas batem palmas e gritam:
– Kainã vai casar! Kainã vai casar!
Fico mais nervoso ainda e olho para Cinthya que está sorrindo e me agarra pelo braço para sentir mais segurança.
Todo mundo abraça todo mundo. Alguns vizinhos vem olhar o que está acontecendo. Penso: porque tudo isso? Vamos apenas anunciar nosso namoro!
Maria Julia começa a empurrar todo mundo para dentro da casa:
– Vamos entrando senão o almoço esfria! E a Amanda caprichou bastante!
Meu vô se adianta, pega as mãos de Cinthya e as minhas:
– Seja bem vinda Cinthya!
Ela olha, sorrindo para ele que. O olhar dele permanece no olhar dela por um breve tempo. Ele sorri.
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O almoço consta de bacalhau e batatas feito pela avó Maria Júlia e arroz de forno com salmão grelhado feito pela minha tia Amanda. Minha namorada adora muito o que lhe é oferecido e, aos poucos, está encantando a todos com sua graça e com seu modo franco de falar.
Anda pela casa toda conhecendo cada cantinho, as muitas fotos mostradas pela Mariana e Laura que se degradiam para mostrar e falar com ela.
Muitas histórias vão sendo contadas. No corredor se depara com as fotos dos antepassados da vó Maria Júlia e do vô Lolou. Quer saber detalhes das fotos.
Quando foi possível senta-se finalmente no sofá da sala de estar com vários de nós ao seu redor. Fala de sua comunidade na China, nos usos e costumes que deixou por lá, de suas saudades, de como o Brasil, São Paulo e outros lugares conquistam sua admiração.
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Agora estou mostrando como é a cidade para ela. Vamos de carro mas paramos várias vezes e descemos do carro. Eu mesmo estou “me mostrando” a minha cidade para mim. Porque está diferente! Digo isso para Cinthya e ela pergunta:
– Por que está diferente? Quanto tempo você não vem aqui?
– Faz três anos que moro em São Paulo Meu pai Leon Francisco e minha mãe Carla pagam minha despesa lá. Assim pude fazer cursos e me preparar para fazer a Faculdade. Venho poucas vezes a Itapetininga.
– Mas o que você está estranhando na sua cidade?
– Primeiro: parece que as pessoas estão mais alegres, mais felizes. Segundo: há muitos poucos carros nas ruas. Antes tudo ficava muito congestionado.
– Tem muita ciclovia pelo que reparo. As pessoas me parecem bem saudáveis. Não são pessoas gordas como encontramos em São Paulo.
– Há vários centros esportivos. Antes havia bem poucos. Estou achando diferentes também esses avisos nas lojas, no comércio, alertando para os planos de Munícipio Saudável. O que será isso?
– Na China houve algo parecido quando eu era menina. Bem antes havia acontecido uma chamada Revolução Cultural para a mudança de usos e costumes que não levassem em conta o socialismo.
A segunda dita revolução faz menos de 10 anos. Eu ainda vivia lá, antes de vir para o Brasil com meu pai.
– Mas aqui não é a China. Quando voltarmos vamos falar com o Lolou.
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Vô Lolou tenta não dar importância sobre o que está acontecendo. Diz que foram eleitas pessoas diferentes com outras idéias. Estava começando a haver mudanças. Nada imposto, tudo partindo de conversar e convencer as pessoas. Tem havido muita reação contra as passeatas, os discursos na Câmara, os encontros populares com os governantes. Jornais, rádios, a TV da antiga Rede Globo tem se manifestado contra essas mudanças.
– O que vem a ser esse plano de Município Saudável, vô? Eu pergunto ao mesmo tempo em que no íntimo pergunto a mim mesmo como não reparei e nunca soube disso tudo que ele conta.
– Não fiquem muito entusiasmados com isso. Não é um plano e sim um conjunto de planos. Talvez fracasse e na próxima eleição esse prefeito e companheiros na Câmara não sejam reeleitos.
– Sêo Lolou, me conte um pouco desses planos, por favor! Cinthya pede com aquele jeitinho faceiro de mocinha vinda da China.
– Vou falar por alto, moça. Alguns planos são fáceis e estão sendo implantados. Porém esse prefeito e vereadores tem muita audácia. Precisa de muita coragem para dizer à população e às lideranças escolhidas para transformar a agropecuária que usa agrotóxicos, a divisão das grandes terras agrícolas, rumo ao que se pode chamar de respeito total ao meio ambiente, à saúde e sua preservação, extinguindo as grandes pastagens, as extensas plantações de produtos com uso intenso de agrotóxicos, a eliminação de alimentos industrializados e a troca por alimentação vegetariana.
– Isso é mesmo. Fico imaginando as pessoas que lucram com essas coisas como vão reagir.
– Está muito no começo ainda. Não se sabe se vai dar certo. Por enquanto o que está sendo feito está dando algum resultado já. Os planos são decenais. E estamos ainda nos primeiros cinco anos!
– E tudo isso em menos de 10 anos? Como vai ser possível? Vô Lolou explica:
– A maior parte da população foi sendo atingida pela educação para a vida, os agricultores, os comerciantes, as poucas indústrias foram sendo doutrinadas pelo mal que fazem ao ambiente e à saúde. As pessoas com interesses na situação anterior se rebelaram e fizeram de tudo para que os candidatos aos cargos públicos não fossem eleitos. Mas eles foram e com o apoio da maior parte dos residentes em Itapelinda iniciaram os processos de inovação.
Minha namorada rí em todos os momentos, sempre admirada. Impressionada começa a falar como seu país inovou totalmente o modo de viver lá, como a vida humana passou a ser respeitada mais do que os demais valores, como passou a ser a primeira economia mundial conservando o meio ambiente, a natureza e o sentido profundo de se viver com responsabilidades.
Mas sua terra de nascença precisava da ajuda de outras nações, pois seu território não podia mais conter a população crescente, mesmo com a restrição de filhos por casal.
Além disso, todos os recursos naturais precisavam de métodos para não se esgotar rapidamente.
A educação comunitária e geral se voltou para incentivar descobertas, pesquisas, atividades que poupassem o uso desses recursos. Há muitos projetos de reciclagem de lixo, bem como propostas de não se produzir tanto lixo.
Foi considerado crime grave o consumismo desenfreado, característica dos países dominados pelo capitalismo selvagem. E termina assim:
– Então fico muito emocionada com o que está acontecendo aqui nesta cidade, neste município e como poderemos compartilhar e estreitar as relações de Itapetininga com a China!
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Quase 10 horas da noite. Mariana e Laura vem buscar a Cinthya para conhecer seus amigos e amigas, bem como a casa dos meus pais.
Ficamos eu e meu vô no quarto de estudos do Lolou para conversarmos.
– Mas aqui não é a China. Quando voltarmos vamos falar com o Lolou.
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Vô Lolou tenta não dar importância sobre o que está acontecendo. Diz que foram eleitas pessoas diferentes com outras idéias. Estava começando a haver mudanças. Nada imposto, tudo partindo de conversar e convencer as pessoas. Tem havido muita reação contra as passeatas, os discursos na Câmara, os encontros populares com os governantes. Jornais, rádios, a TV da antiga Rede Globo tem se manifestado contra essas mudanças.
– O que vem a ser esse plano de Município Saudável, vô? Eu pergunto ao mesmo tempo em que no íntimo pergunto a mim mesmo como não reparei e nunca soube disso tudo que ele conta.
– Não fiquem muito entusiasmados com isso. Não é um plano e sim um conjunto de planos. Talvez fracasse e na próxima eleição esse prefeito e companheiros na Câmara não sejam reeleitos.
– Sêo Lolou, me conte um pouco desses planos, por favor! Cinthya pede com aquele jeitinho faceiro de mocinha vinda da China.
– Vou falar por alto, moça. Alguns planos são fáceis e estão sendo implantados. Porém esse prefeito e vereadores tem muita audácia. Precisa de muita coragem para dizer à população e às lideranças escolhidas para transformar a agropecuária que usa agrotóxicos, a divisão das grandes terras agrícolas, rumo ao que se pode chamar de respeito total ao meio ambiente, à saúde e sua preservação, extinguindo as grandes pastagens, as extensas plantações de produtos com uso intenso de agrotóxicos, a eliminação de alimentos industrializados e a troca por alimentação vegetariana.
– Isso é mesmo. Fico imaginando as pessoas que lucram com essas coisas como vão reagir.
– Está muito no começo ainda. Não se sabe se vai dar certo. Por enquanto o que está sendo feito está dando algum resultado já. Os planos são decenais. E estamos ainda nos primeiros cinco anos!
– E tudo isso em menos de 10 anos? Como vai ser possível? Vô Lolou explica:
– A maior parte da população foi sendo atingida pela educação para a vida, os agricultores, os comerciantes, as poucas indústrias foram sendo doutrinadas pelo mal que fazem ao ambiente e à saúde. As pessoas com interesses na situação anterior se rebelaram e fizeram de tudo para que os candidatos aos cargos públicos não fossem eleitos. Mas eles foram e com o apoio da maior parte dos residentes em Itapelinda iniciaram os processos de inovação.
Minha namorada rí em todos os momentos, sempre admirada. Impressionada começa a falar como seu país inovou totalmente o modo de viver lá, como a vida humana passou a ser respeitada mais do que os demais valores, como passou a ser a primeira economia mundial conservando o meio ambiente, a natureza e o sentido profundo de se viver com responsabilidades.
Mas sua terra de nascença precisava da ajuda de outras nações, pois seu território não podia mais conter a população crescente, mesmo com a restrição de filhos por casal.
Além disso, todos os recursos naturais precisavam de métodos para não se esgotar rapidamente.
A educação comunitária e geral se voltou para incentivar descobertas, pesquisas, atividades que poupassem o uso desses recursos. Há muitos projetos de reciclagem de lixo, bem como propostas de não se produzir tanto lixo.
Foi considerado crime grave o consumismo desenfreado, característica dos países dominados pelo capitalismo selvagem. E termina assim:
– Então fico muito emocionada com o que está acontecendo aqui nesta cidade, neste município e como poderemos compartilhar e estreitar as relações de Itapetininga com a China!
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Quase 10 horas da noite. Mariana e Laura vem buscar a Cinthya para conhecer seus amigos e amigas, bem como a casa dos meus pais.
Ficamos eu e meu vô no quarto de estudos do Lolou para conversarmos.
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– Lolou pode confiar nesta moça. Faremos um juramento, certo?
– Que juramento?
Eu e Cinthya juramos juntos que tudo que estamos conversando sobre seus antepassados não será comentado para mais ninguém, a não ser com concordância sua.
– Duvido.
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A Laura, a Mariana e a Cinthya voltam dos passeios. Passa da meia noite. Conto para minha namorada do juramento. Lolou está passando pelo corredor e ela o chama:
– O Kai já me explicou tudo. Eu juro senhor Lolou! O que sei a respeito dos textos, dos comentários são muito importantes para sua família. São muito importantes para muitas pessoas, mas a decisão sobre uma publicação em forma de livro ou virtual precisa ser tomada por nós pensando bem em nossa responsabilidade e na imagem de sua família.
O Lolou, embora ele nunca vá admitir, também está tomado pela simpatia de Cinthya.
– É, concordo, pode ser que não valha a pena, o esforço, o sacrifício, ao menos o meu, pois estou emotivamente envolvido com os textos e comentários. Se, ao final, valer a pena, for para ajudar outras pessoas e não houver ninguém prejudicado, podemos pensar em publicação. Mas falta muito ainda a ser lido e comentado, não é?
– Que bom que você Lolou entende o que estamos propondo! A participação da minha namorada (quase que falo “futura noiva”, porém paro rápido) vai ser importante. Você vai perceber. E ela agora é da família, ou quase.
Vovô sorri. E explica:
– Eu tive um colega e amigo da Faculdade, o Manoel Cesário Simões, que uma vez me disse, que eu era da família dele. De fato conheci todos da família dele, inclusive uma jovem cantora que depois ficou conhecida internacionalmente. E também, mais tarde, outra jovem cantora e compositora.
Eu digo a ele que vamos continuar a ler e comentar. O que não ficar bom, excluímos sem dó em nossas notas. Lolou não concorda com isso:
– Isso não admito! Vamos respeitar os textos escritos pelo meu pai Uth Ricchetti. Não sei por que ele escreveu. Ainda precisamos pensar nessa questão. Em cerca de um ano, ele, certamente narrando de memória os fatos e achados à minha mãe, e ela escrevendo, nos deixaram todos esses textos. Ficar como estão é uma opção também, enquanto não soubermos por que ambos nos deixaram esse legado.
Nos levantamos os três e vamos dormir. Antes a Amanda anuncia que vamos tomar a sopa de feijão, amanhã, que é uma das maravilhas da culinária da minha tia. Como é inverno e está bem frio, a sopa vem em boa hora.
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Acordo bem cedo e já vou ler outro texto do Uth quando Cinthya acorda e fica me observando.
– O que foi? Está me admirando minha beleza?
– Ah bobinho! Bela sou eu!
Ela se levanta e bem me beijar.
– Gosto muito daqui! O ar parece tão limpo, o silêncio me faz escutar os menores barulhos…
– É por isso que sempre trago de São Paulo quando venho aqui um vidrinho e uma gravação. Eu falo misteriosamente. Ela me olha sem entender:
– O quê? Me explica, não estou entendendo nada. Eu dou uma gargalhada:
– Quando começo a sentir esse não poluído começo a passar mal e então abro o vidrinho que tem o ar poluído de São Paulo e aspiro um pouco…
Ela fica brava:
– Você é mesmo um bobão! E a gravação para que serve?
– Quando esse silêncio começa a me incomodar eu ouça a gravação dos ruídos de São…
Não consigo terminar. Ela joga um travesseiro em cima de mim, dando risada.
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(continua)