Angelo Ricchetti lança seu novo livro: 'Da Arte de se Criar Pontes'

Da Arte de se Criar Pontes

A editora Flor Comunica lança seu primeiro livro: Da Arte de Se Criar Pontes, de Angelo Lourival Ricchetti, escritor itapetiningano..

Obra de ficção, embora baseada numa extensa e profunda pesquisa da vida dos membros da família Ricchetti desde 1600 até 2049.

 O livro em papel sai em maio

Maria do Rosário Silveira Porto

Membro da Academia Itapetiningana de Letras




Academia de Letras de Itapetininga com inscrições abertas até o dia 25, para oficina gratuita para iniciantes em Literatura

O que é O PROJETO LITERATURA VIVA – OFICINA PARA ESCRITORES INICIANTES?

A oOficina para Escritores Iniciantes é uma criação da AIL – Academia Itapetiningana de Letras  que, pratica e escrita literária visando examinar o processo completo, desde a criação, revisão, edição e a publicação de textos, em papel ou modo digital, como romance, conto, poema, crônica, peça teatral, roteiro para TV, jogos e cinema, etc.
O projeto da AIL prevê a realização de sessões para a escrita de textos literários,  decorrer das sessões, exatamente como são feitos em outros ambientes durante o dia-d-dia.
Segundo o coordenador do programa, o acadêmico Ângelo Ricchetti, “haverá um cronograma de dias e horários a serem planejados com todos os participantes”.
O coordenador e os inscritos interessados vão estabelecer como se dá o processo de criação, colocação em algum suporte para poder ser revisado e recriado um texto literário e a sua posterior edição e publicação, seja por meio virtual, seja por meio impresso.
Durante as sessões os participantes vão escrever um texto, le-lo e receber observações dos demais. Também será solicitada a escrita de um texto, durante a semana, para ser trazido, impresso e sem nome, para serem criticados na sessão seguinte.
Na primeira sessão é preciso saber quem é essa pessoa chamada de autor, o que é literatura e a diferença entre texto de ficção e os demais.
Na segunda, usando a imaginação, os interessados vão criar personagens, cenários, tempo e local, trama, etc.
Na terceira os alunos aprednerão como se faz edição de um texto, usando os textos trazidos de casa.
Na quarta sessão, como se dá a publicação on line, em papel e em outras formas de suporte para texto.
Na quinta, os interessados vão se organizar para a publicação digital em grupo ou não. Também é a ocasião para se tirar dúvidas.
Na última sessão, finalmente, os interessados vão fazer todo o processo, desde escrever um texto, revisar e publicar em algum suporte. Nesta fase haverá a entrega dos certificados para quem não faltou ou faltou apenas uma vez e se justificou.
Para se inscrever neste evento, que é a Sexta Oficina para Escritores Iniciantes, precisa entrar  em contato com o coordenador Angelo Lourival Ricchetti até o dia 25 de maio de 2017, 20 horas, por meio do fone 3272 7525, celular 9 9171 7672, e-mail aricchetti@yahoo.com e Facebook.



Cine Clube de Itapetininga apresentará dia 13 dois curta-metragens

‘FIM DA LINHA’ e ‘A CARTOMANTE DO PARQUE’ serão exibidos pelo Cine Clube Antonio Luiz Pedroso Balint, de Itapetininga

A sessão será no dia 13 fevereiro de 2017, segunda feira, às 19h30, no Centro Cultural e Histórico Brazílio Ayres de Aguirre, localizado no Largo dos Amores, Centro de Itapetininga.
No programa o curta premiére ‘CINE PORK’S – FABIO JURERA’, que apresentará dois curta-metragens:
Fim da linha
Em momentos na vida que acreditamos estar no controle estamos na verdade adiando o inevitável. Quando se trata de amor não existe forma, cor ou cheiro, simplesmente se ama. E ele vem de maneiras diferentes, ao virar uma rua, ao dizer um bom dia ou meramente no olhar, e parte do segredo de ser feliz e encontrar esse olhar, esperando nesse momento que a atitude seguinte seja uma frase que venha inspirada em sentimento puro… Uma frase que diga eu te amo.
A cartomante do parque
As previsões são normais na natureza humana… Mesmo os mais incrédulos um dia se renderam aos oráculos atuais, o desconhecido aguça nossa curiosidade, mas o que fazer quando uma pessoa cética se encontra com uma cartomante? Sorte, Futuro, adivinhação e morte.
Como a disponibilidade do espaço do Centro Cultural comporta a presença de cerca de 50 pessoas, recomenda-se a reserva de lugares pelo celular de Angelo Lourival Ricchetti, coordenador do Cine Clube 15 9 9171 7672 e pelo telefone do Centro Cultural 15 3272 3401.
O evento é gratuito e liberado para todas as pessoas interessada na Arte do Cinema. Após a exibição haverá roda de conversa sobre os filmes apresentados com a presença do cineasta Fabio Jurera.
 
 
 O coordenador do Cine Clube é Angelo Ricchetti
443 pessoas
aricchetti@yahoo.com
Adic. a círc.
Mostrar detalhes



Um filme árabe será exibido pelo Cine Clube de Itapetininga no domingo dia 22

 Filme A cor do paraiso 5‘A COR DO PARAÍSO’ é o nome do filme que será exibido pelo Cine Clube de Itapetininga, em parceria com a Secretaria de Cultura

O coordenador do Cine Clube, Angelo Lourival Ricchetti, está convidando para todos assistirem ao filme ‘A COR DO PARAÍSO’, do cineasta do Irã Majid Majidid.
A exibição é gratuita e realizada pelo Cine Clube Antonio Luiz Pedroso Ballint, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Itapetininga.
O filme será exibido no domingo, 22 de janeiro, às 15h30, no Auditório Abílio Victor, à Praça 09 de julho, 518 Centro.
Após a exibição haverá sorteio de livro e roda de conversa sobre o filme com as pessoas presentes.
Faça suas reservas pelo celular 15 9 9171 7672 e pelo Facebook com Angelo Lourival Ricchetti.
Não há limite de idade para assistir este filme.
De acordo com a psicóloga e Gestalterapeuta Patrícia Simone Santos, “A Cor do Paraíso narra a comovente história de Mohammad, um menino cego que mora numa escola para deficientes. Com a chegada das férias, ele espera passar algum tempo com as irmãs, a avó e o pai no vilarejo onde mora a família. Viúvo, o pai encontra-se com dois problemas em relação ao filho: não tem mais condições de mantê-lo na escola especial, e pretende se casar novamente e o menino deficiente é como um obstáculo para isso. Por isso, não quer que ele passe as férias em casa, mas junto a um marceneiro cego que pode tomar o menino como aprendiz. O filme gira em torno desta delicada relação entre pai e filho, dos laços de família e da sensibilidade do menino cego. Mohammad é um garoto muito vivo que tem uma enorme sensibilidade. Seu jeito simples de “ver o mundo” é uma lição de vida.”.
 



Angelo Lourival Ricchetti: ÚLTIMA PARTE do livro que conta a história de uma família, desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas reais


angelo-a-08-de-agosto-de-2016-1Última parte do romance ‘Da arte de se criar pontes’

 

Meu caro Helio Rubens,

segue copiado abaixo a última parte do meu romance Da arte de se criar pontes. Peço o favor de publicar no ROL.

Agora, com base nas observações que as pessoas fizeram eu passo a revisar o texto tanto quanto ao conteúdo quanto à forma para posterior publicação virtual e, se conseguir dinheiro, em papel.

Agradeço muito a você por haver publicado pelo ROL esta e todas as partes.

Angelo L Ricchetti

**********************************************************************************************

CAPÍTULO DÉCIMO TERCEIRO (último)

 
Cinthya foi ver como estavam as investigações sobre o assassinato do seu amigo Marco Antonio. Incomodou todo mundo na Secretaria Estadual de Segurança e não conseguia resposta alguma. Até que um delegado de polícia idoso a chamou de lado:
– Minha filha, precisa ter calma e ter sorte. Em São Paulo morrem 10 jovens a cada hora! Veja aqui.
E mostrou a ela muitos arquivos no computador.
– Com sorte pode surgir alguma pista, com sorte…
Ela voltou desconsolada.
<> 
QUARTA PARTE DO DEPOIMENTO DO LOLOU)Sobrou um outro vicio iniciado aos dezoito anos, o de fumar. Parar de fumar foi algo tão de repente e tão simples que até hoje não sei como aconteceu.
Em uma das pensões que fui morar, sendo mista, conheci uma jovem, Maria Julia Fernandes, de Itapelinda e fomos nos conhecendo e nos casamos. Primeiro moramos em São Roque e todos os dias eu ia a São Paulo para trabalhar no Governo. Lá nasceu nosso primeiro filho, o Leon Francisco.
Mas as seguidas viagens de longas horas para ir e voltar do trabalho na Capital acabaram causando um grande desgaste física e mentalmente. Por isso e estando Julia para ter o segundo filho, conversei com meu sogro, Helio Fernandes, um dos homens com mais bondade que já encontrei em minha vida, sobre a possibilidade dele falar com o Governador do Estado, de quem era um cabo eleitoral, de conseguir meu afastamento junto à Prefeitura de Itapetininga.
Ele conseguiu e fomos morar lá quando em dezembro nasceu a Amanda.
Com o tempo descobrimos, com a ajuda de um médico professor, que tinha pedra na vesícula biliar e teria de ser removida, senão havia a possibilidade de morte.
Fiquei no hospital por cinco dias e quando fui para casa não sentia mais vontade de fumar. Imagine, eu, que acordava a cada três horas para fumar e quando não tinha cigarro, punha uma roupa e rodava Itapelinda toda para comprar um maço de cigarros, de repente, não fumava mais.
Por muitos anos continuei com funcionário público, tanto afastado junto à Prefeitura, ou órgão estadual como também no Palácio dos Bandeirantes, voltando a viver a semana toda em São Paulo, vindo a Itapetininga nos finais de semana.
Pronto. Creio que já escrevi muito sobre mim. Vou parar. Se quiser perguntar mais alguma coisa, faça isso.
<> 
– E sobre a Munira? Pergunta Cinthya.
– Poucos meses depois que me casei, em uma agência de banco em São Paulo, eu a encontrei por acaso. Nos falamos bem pouco. Ela falou que sabia que eu me casara e desejou felicidades. Perguntei sobre ela.
– Eu me casei com um colega da Secretaria da Fazenda mas durou apenas dois meses. Munira mostrou um sorriso nos lábios mas tristeza no olhar.
Oito anos depois, trabalhando no Governo Paulista ainda, fui fazer uma reunião em uma Secretaria e nela trabalhava Dalva, uma amiga comum de Munira e de mim. Disse que a Munira estava bem. No dia seguinte voltei para continuar a reunião e havia um recado para eu falar com a Dalva. Ela disse:
– Eu menti para você. Munira está com câncer no estômago. Não passa de uma semana…
Fiquei atordoado. Quero ir ver a Munira!
– Não vai ver não! Ela me avisou para você não ir. Para lembrar dela como no passado. Ricchetti (era assim que eu era chamado por ela) ela está muito magra, muito maltratada pela doença.
Não fui. No final de semana, em casa em Itapelinda, lendo o jornal, de repente meus olhos vão para o ponto do anuncio de mortes e lá estava o nome de Munira, com 50 anos, como eu.
<> 
Lolou, por incrível que possa parecer, superou aquele momento. Ele conta.
– Na segunda feira voltei para São Paulo, cidade que nos dois, Munira e eu, andamos muito tempo juntos, como amigos. Cheguei ao Palácio do Governo onde trabalhava, completamente desnorteado.
Minha amiga e secretaria, a Solange, quis saber o que estava acontecendo. Contei da Munira. Ela já sabia bem da história.
Enquanto falava, algo em mim parecia mudar rapidamente. Solange, muito ligada a anjos, começou a sorrir. Eu estranhei e perguntei e ela disse.
– Você está sentindo algo diferente, não está?
– Sim, a cortina na janela está tocando meu ombro.
– Não é a cortina…
– Como não é? Eu sinto um ventinho e a cortina me tocou!
– Não está ventando. Olhe.
Eu olhei e estava tudo parado mesmo. Perguntei a ela o que estava acontecendo.
– Quem tocou em seu ombro foi a Munira. Está dizendo que tudo está bem!
Baixou uma imensa paz em mim. De fato daquele momento em diante eu sentia que Munira estava em outra dimensão e se sentia bem.
<> 
Final de semana voltamos a Itapetininga. Havia notícias que o grupo de estudos teóricos da USP sobre a questão de se ser saudável estava com bom material desenvolvido. Graças a cooperação, agora possível devido o adiantado progresso dos meios informáticos, com vários cientistas do mundo todo.
Uma questão importante fora levantada entre os cientistas. Os homens e mulheres da criação de Ciências produziam teorias que passavam a serem práticas para outros meios de ciência aplicada, tecnologias, tanto usadas para benefício como malefício para a humanidade. Porém, os habitantes do planeta Terra estavam a ponto de extinção e era necessário que os cientistas deixassem de lado ficar à serviço de capitalistas e se voltassem à sobrevivência humana.
A Cinthya vai se encontrar com as pessoas de Itapelinda envolvida com a ideia de um Município Saudável e contar as novidades.
Eu fico com o Lolou conversando:
– Lolou, você não quer dar mais depoimento. Tudo bem! É seu direito. Mas você teve um papel importante na ideia de Município Saudável. Então queria que contasse um pouco sobre você em Itapetininga.
– Volto a dizer que não fiz nada de importante aqui.
– E como você explica o chamado Instituto Julio Prestes que você coordenou durante muitos anos.
– Essa organização que nunca formalizamos foi uma ideia que surgiu da parte de três pessoas: Helio Rubens, Professor Doutor Cesário e eu. Era para ler e conversar a respeito de um novo paradigma, o da Complexidade. O autor escolhido era um pensador francês, Edgar Morin, que havia escrito muito a respeito. E foi o que fizemos, tendo participado muitas pessoas, inclusive a Professora Doutora Maria do Rosário.
Não dá para citar todas as pessoas porque foram muitas.
Além desse projeto de estudo pensou-se em projetos culturais, sendo que o do Cine Clube ganhou mais destaque e nos proporcionava falar a respeito da Complexidade por exibirmos filmes de autores, não de grandes estúdios de cinema, e após a exibição o debate sobre o conteúdo do filme.
Pronto. Não há mais nada a falar sobre mim!
<> 
Ele tenta escapar da conversa. Aproveita que entra na sala a minha prima Laura e vem mostrar a ele desenho e pinturas que ela fez.
De fato são obras belíssimas, ela sabia combinar cores que dramatizavam o momento, criam um clima!
Com o Lolou está olhando os desenhos e pinturas que Laura mostra eu aproveito para perguntar.
– Lolou, você não contou, mas está no seu curriculum vitae que você faz parte do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga e também da Academia Itapetiningana de Letras. Vai dizer que são meros títulos que recebeu?
Ele fica me olhando por um tempo. Depois diz para Laura que os trabalhos estão ótimos e ela sai. Ele não quer me responder.
Eu continuo a insistir.
– Eu fiz as contas lendo seu currículo que a avó Maria Julia me emprestou que você trabalhou mais de vinte anos como Assessor Técnico do Governo. Isso também não tem importância? Afinal o que você fez esse tempo todo lá?
Agora ele faz uma cara feia para mim mas responde:
– Lá, em outros lugares, e aqui em Itapelinda, eu fiz muitas coisas. Mas todas elas não foram adiante. Não sei se por culpa minha ou não. Eu não considero que fui eu também que fiz, porque sempre trabalhei em grupo, em equipe e o conhecimento e as ações eram do grupo todo, mérito ou demérito de todos. Claro que algumas vezes esse demérito foi causado por mim.
– Por exemplo…
– Por exemplo, no Governo Paulista nós tentamos introduzir a gestão administrativa com tecnologias avançadas. Se você visse o Palácio do Governo, o prédio, antes de aplicarmos a gestão pela qualidade total e visse depois ia perceber como eram técnicas maravilhosamente simples.
Em outra oportunidade, sob uma liderança brilhante de um arquiteto, o Roberto, que era irmão mais velho de um amigo e colega da GV, o Celso Agune, introduzimos a Gestão do Conhecimento e Inovações.
Por falar nos colegas e amigos da GV São Paulo são tantos e não tenho como enuncia-los aqui.
Aprendi muito e errei muito nesses projetos.
Mas tudo isso é passado. Acabei descobrindo com meus estudos que nós vivemos subjugados por um modus vivendi que é nocivo à humanidade e nada por de ser feito para eliminar esse modus. Veja o caso dos filmes tanto de cinema como os de televisão. O mérito deles não á arte e sim a diversão. Afasta uma visão crítica sobre a realidade que se vive. Ao contrário, quanto mais emoção e menos razão melhor! Leva a uma infantilização das pessoas.
– Então esse projeto aqui de Itapetininga não vai modificar em nada esse modus?
– Talvez não vá. Vai ser mais um exemplo do que poderia ter sido, como foram muitos projetos dos quais eu participei.
Não sei o que responder. Com o avanço mundial da deterioração do planeta Terra causado pelos povos de todas as nações, pelos governos, sejam lá quais sejam, pela ausência das ONU – Organização das Nações Unidas, de mãos atadas quase sempre, o Lolou, com seus 83 anos, certamente não acredita em alguma vitória desse projeto de Itapelinda.
Vô Lolou resolve desabafar, andando de um lado para o outro no quarto.
– A virtualização da realidade cria continuamente redes de pessoas e organizações todos fazendo o tempo se encolher, sob esse modo da produção da vida humana com base no capital, no consumo, nos serviços e produtos com uma obsolescência cada vez mais curta de modo a tornar o consumo obrigatório.
O conhecimento é feito aos pedaços e nunca mais se ligam, são mantidas isoladas as especialidades, as ciências e, pior, não se ligam às artes e às ciências. O paradigma atual vale apenas para o que é racional.
Para, me encara para dizer com toda a gravidade:
– É um tal de se lucrar o máximo possível no menor tempo, não se importando com a destruição da natureza e da doença endêmica dos humanos por causa desses consumos de bens e serviços que degradam o ser humano.
Depois continua a andar sem parar de falar.
– Há um deslocamento dos custos de produção e propaganda dos capitalistas para os trabalhadores, consumidores em geral, por meio de salários baixos e créditos altos. Sabendo-se que créditos ao consumidor nada mais são do que pedaços de vida humana futura comprometida para pagamentos de prestações e altos juros. Cansei.
Meu vô para de falar. Usa tanta energia que não se acredita que ele ainda a tenha.  Ele senta na cadeira à minha frente e continua, depois de um breve intervalo:
– Vou contar algo que aconteceu ontem em uma loja de roupas aqui em Itapelinda para ilustrar o que desejo dizer. Como você bem sabe, todas as compras, seja de prestação de serviço, ou de produtos, usam-se o meio digital, sendo o presencial muito raro de acontecer. Por isso estranhei quando uma jovem bonita entrou na loja, na verdade um balcão com computadores e mostras de roupas sendo fotografadas para serem apresentadas pelo meio digital. Qualquer um em qualquer parte do mundo vê esse catálogo e faz o pedido. Como sou amigo da moça que faz as fotos eu estava lá falando com ela.
– Mas e a moça bonita?
– Calma, já vou contar. Ela entra e se dirige à minha amiga dizendo querer ver um vestido.  Minha amiga pergunta qual o código. Ela: que código? Ora o código que está na Internet. A bonita fala que não quer essas coisas feitas em grande quantidade, embora possa ter o modelo e a cor, etc, deseja. Ela quer algo que ela possa ver de perto, cheirar, posar na frente de um espelho. Essa coisa antiga.
Minha amiga pisca o olho para mim e diz para a moça entrar e olhar o que está sendo fotografado. Depois de um tempo a moça chega com um vestido na mão. Gostei desse, ela diz. Quanto é? Minha amiga fica surpresa. Este vestido não é para a venda pela Internet, ela diz. É de uma conhecida minha que faz vestidos por encomenda. É uma Ong. Custa dez vezes mais que os do catálogo. A bonita fica admirada: mas por que isso? Por ser um vestido feito por ela, pelas mãos delas e não por máquinas.
– Compreendi vô Lolou. À moda antiga são poucas peças e por isso custam muito mais que as feitas por máquinas. Isso me lembra a luta por produtos saudáveis.
– Isso, meu inteligente neto, isso mesmo! A idéia do Município Saudável não é possível existir no modo de produção da existência capitalista. Quem sabe no socialismo sim. Esse é o drama, ou tragédia, de todos nós aqui em Itapelinda: querer algo humanamente quando o capitalismo, em si, é desumano! Sempre há uma grande concentração de renda nas mãos de poucas famílias!
Ouvindo essas palavras do Lolou, fico com a impressão de que vamos fracassar, todos nós fracassaremos. Ele consulta a organização de arquivos no computados, organizados por mi. Abre na tela uma foto de José Mujica:
<> 
Em maio de 2025 recebo um convite da Prefeitura de São Manuel, Estado de São Paulo, cidade natal do meu vô Lolou. Diz que seguindo o exemplo de Itapetininga foi criada uma comissão para desenvolver um programa nos moldes do Município Saudável. Olho, sorrindo para minha noiva:
– Cinthya veja esse convite. Ela toma de minha mão e lê e me olha sorrindo também.
– Você, com seu pessimismo doentio, igual o do seu avô, estão sendo contrariados pelos fatos! Vamos lá para conhecer o que está havendo!
E fomos!
<> 
São Manuel, a antiga São Manuel do Paraiso, nome do riacho que corre na cidade, como já falei, depois do café havia se transformado em um mar de cana de açúcar, dentro do oceano que era toda a região do Estado de São Paulo. O boia fria da plantação de cana, ganhava o dobro do boia fria de Itapelinda. Teve representantes tanto na Assembleia Estadual como no Congresso, lutando por São Manuel e região. Coisa que quase não houve em Itapetininga, a não ser pelo Edson Giriboni que fez um trabalho excelente.
Quando chegamos à cidade fomos recebidos muito bem, tanto por causa de sermos da Família Ricchetti que por ali teve seu surgimento, como também pela vivência minha e de Cinthya do programa pioneiro em Itapelinda. Foi organizado um encontro entre lideranças municipais tanto do setor público como do setor privado, em especial os proprietários de grandes glebas de terras com cana de açúcar plantada.
<> 
Estamos no amplo auditório municipal, completamente lotado de interessados nos temas.
Toma a palavra o Prefeito Guido Brancaleotti, certamente descendente de italianos:
– Estivemos em Itapetininga, após a apresentação na Assembleia Legislativa do Estado, para apreciar o programa Município Saudável. Na volta falamos com muitas lideranças sobre a possibilidade de fazer algo semelhante. Como não há duas pessoas iguais, também não há duas comunidades iguais. Aqui o programa precisa ser diferente e temos uma dúvida inicial que a Comissão por nomeada de cidadãos, empresários, agentes públicos precisa resolver e nada melhor do que ouvir o bisneto do Angelo Ricchetti, um dos empreendedores mais famosos em São Manuel nos idos de 1900, para nos ajudar com sua participação em Itapelinda.
Sou chamado a tomar assento nas cadeiras junto à mesa principal, mas não vou sozinho e levo junto comigo minha noiva.
– Esta é minha noiva, a Cinthya que participou ativamente em todo o processo, inclusive junto à Universidade de São Paulo, e vai me ajudar a responder às perguntas, se pudermos, é claro.
Vejo que há algumas risadas nos que me ouvem. Apresenta-se o presidente da Comissão e entra diretamente na dúvida que paralisa os trabalhos do programa.
– Como é sabido, São Manuel e região tem uma plantação extensiva de cana de açúcar. A maior receita do município advém dessa produção. Mas os produtores não abrem mão de usar agrotóxicos por saberem que a produtividade é alta e o rendimento compensa o uso de poucos espaços.
– Poucos espaços? São terras enormes, latifúndios que se perdem de vista!
Comenta uma pessoa das plateias. O prefeito intervém:
– Senhor João Carlos! Peça a palavra antes de falar.
Inicia-se um tumulto porque outra pessoa, produtora de cana de açúcar, acusa a esse João Carlos de “encrenqueiro” e de pequeno produtor que não aceita essa condição e quer que se acabe a produção em massa.
Há um bate boca generalizado. O prefeito pede calma e de nada adianta. Ele passa a gritar até ficar sem voz. Então, italiano ou neto como deve ser, faz algo inusitado: sobe na mesa e começa a bater palmas, cantando uma canção italiana. Todos param, sem entender. Faz o silêncio e ele sorri e desce da mesa.
– Veja meus caros convidados como é difícil começar a pensar em algo congregando todos nós em melhoria pessoal e coletiva.
Cinthya se anima, pega o microfone da mão do Prefeito Guido:
– Sempre é possível compreender o outro, criar as condições para o diálogo. Não é necessário fazer uma mudança tão grande de repente. Podemos pensar como conciliar a grande produção e os pequenos produtores. Sem que se agridam pela mesma forma.
As pessoas se entreolham ouvindo aquela moça da China, falando com sotaque, mas com entusiasmo. Ela se anima e segue em frente.
– Há produtos cujos preços dobraram quando produzidos em pequena escala, mas com qualidade muito superior para o consumo humano. O Kainã vai explicar melhor!
Creio que entendi o raciocínio dela e respiro fundo:
– O que a Cinthya está dizendo é sobre o que vivemos em Itapetininga. Lá a produção sem agrotóxicos em pequenas propriedade rurais, mas com muita organização cooperativa, consegue algo em pequena escala pessoal, mas juntas produzem o suficiente para um mercado que está disposto a pagar mais caro algo que não prejudique a saúde das pessoas.
– O açúcar que produzimos não faz mal às pessoas!
Percebo que é um dos produtores de “plantation” e tenho a resposta na ponta da língua.
– O açúcar demerara é melhor do que o refinado para a saúde humana. Se há mercado para a produção em escala de açúcar assim e consumo no mundo todo, tudo bem. As pessoas que usam ainda não perceberam a diferença.
Sou vaiado por um grande grupo de pessoas que mais tarde fico sabendo que são boias-frias, empregados a mando de proprietários dessas terras. Eu me calo, pois já dei meu recado. O prefeito, já me pedindo desculpas, encerra o encontro. Ele me diz que falta muito ainda para se pensar no programa. Na saída sou procurado por um dos líderes dos pequenos produtores.
– Entendemos muito bem a sua proposta e vamos começar por ela. Por favor, me passe os contatos de Itapelinda para conhecermos melhor como se faz esse tipo de cooperação.
Passo os dados para ele, nos despedimos do prefeito e do presidente da comissão. Cinthya diz a eles:
– É melhor começar devagar e ir aprimorando com o tempo. É possível conviver, ao menos no começo, o grande produtor e o pequeno empreendedor. A superação do uso dos produtos tóxicos e tudo o mais vai depender da conscientização das pessoas no mundo todo. Enquanto isso, senhor prefeito, outros projetos podem ser feito de forma paralela, como acontece em Itapetininga.
Saímos de São Manuel. Antes passamos pela Rua Maestro Angelo Ricchetti, no Jardim Tereza Cristina. Não seria prudente ficarmos por lá enquanto os ânimos estão tão exaltados. Queríamos tanto visitar o Museu do bisavô Angelo Ricchetti, conversar com as pessoas! Tudo bem, fica para outra oportunidade.
<> 
A vida continua. Todos nós envolvidos com nossos amores, desamores, projetos, trabalhos, vida em frente, pois não se pode parar.
<> 
Cinthya Lee se casou comigo no verão de 2026. Seus pais e parentes vieram da China. Foi tudo bem complicado por não entendermos nada do que eles falavam. Em compensação eles também não entendiam nada do que nós falávamos. Mas foram bem simpático e muito emotivos. Não imaginava que o povo da China fosse desse modo. O nome de minha esposa agora é Cinthya Lee Ricchetti.
<> 
Em cinco dezembro de 2026 nasceu Cecília, muito bonita e singular: tem traços meus e da mãe. É uma chinesa brasileira.
Eu fiquei fora do quarto, como é costume da direção da Santa Casa “Francisco de Assis”, de Berlim, Alemanha. Saiu do quarto a enfermeira muito loura, alemã, sorrindo muito com a recém-nascida, embrulhada em uma toalha, vindo pelo corredor onde eu estava, parando perto de mim, rapidamente para mostrar a Cecília. Nesse momento, por incrível que possa parecer, a recém-nascida abriu os olhinhos e sorriu. Fiquei em dúvida se foi isso mesmo que aconteceu ou foi minha imaginação.
Enviamos fotos da Cecília pela Internet para os parentes na China e para os parentes em Itapelinda.
<> 
Depois de graduados nós fomos fazer mestrado na Inglaterra. Ficamos todo esse tempo, dois anos, sem visitar os parentes em Itapelinda. Falávamos por meio de imagem e som, algumas poucas vezes com os parentes em Itapelinda e em Xangai.
Começamos, sempre estudando e trabalhando juntos, a ir para outros países. Cecília nos acompanhava. Cinthya se admirava como ela rapidamente falava outras línguas.
<> 
Estivemos na China em dezembro de 2027, não para mostrar Cecília, e sim para assistir os funerais dos pais de Cinthya. Houve uma explosão de um reator e a região em que moravam foi muito atingida. O enterro foi simbólico. Não havia mais corpos. Cecília, a neta do casal, conheceu os avós apenas por fotografias em cima do altar, como é costume lá.
Minha esposa, desse dia em diante, perdeu muito do interesse em tudo. Nem o projeto e o esforço que ela fez para o Município Saudável a fazia retornar àquela alegria contagiante. Continuava a trabalhar, mas perdera a vivacidade de antes, o entusiasmo. Trabalhava bem, contudo.
<> 
Agora preciso contar da última vez que estive em Itapetininga, novembro de 2024, a chamado de minha prima Amanda. Meu avô estava com problemas.
<> 
Percebo que ele não está doente fisicamente. Porém, mentalmente muito abalado e não quer conversar. Quem me ajuda a compreender porque surgiu essa crise aguda com ele foi minha avó Maria Julia.
– Esteve aqui em casa um senhor representante de uma grande empresa internacional de produtos alimentícios enlatados.
O seu avô não queria falar com ele por nada nesse mundo.
Mas esse advogado tanto insistiu que meu marido saiu até a porta de entrada para falar com ele. Eu fiquei ouvindo. Mas não dava para compreender bem do que se tratava.
Parece que o homem queria que ele recebesse um dinheiro para ir à televisão dizer o projeto de Munícipio Saudável era uma farsa, inventada por políticos corruptos.
– Não acredito que o vô Lolou tenha aceitado.
– Claro que não aceitou e ainda por cima expulsou o tal doutor. Antes desse tipo entrar no carro ainda ameaçou meu marido. Disse que vai dar um jeito nele.
– Que absurdo!
– Seu avô entrou em casa como se um mundo tivesse caído em cima dele e a partir desse momento deixou de falar. Era só “sim”, “não”, “já vou”, etc.
Tento entrar no quarto dele para conversar. Ele me parece mais uma escultura em mármore. Rígido. Não fala, não se expressa. Parece que não vê nada à volta, não escuta nada a não ser em volume alto antiga música. Enquanto ouço Rock Around The Clock e acompanho o ritmo da bateria, ele me olha, tenta sorrir, não consegue, me abraça bem forte, quase me esmagando. E me beija na testa.
<> 
Saio do quarto e digo a minha avó que era preciso que ele fosse ao médico ou o médico o visitasse. Ela me informa:
– Já tentei, não consegui. Não adianta. Vai ficar assim até morrer.
– Mas eu quero ir atrás desse homem! Vou colocar a polícia nesse caso!
– Não é possível fazer anda. Não há prova de nada.
Vou embora chateado. Conhecendo, como aprendi a conhecer o Lolou, penso que ele está travado por dentro. Não há o que fazer.
<> 
Passamos os anos de 2025 a 2029, construindo pontes em vários países. As cidades se transformam em mega comunidades e precisam muito de pontes.
Cinthya e eu percebemos o que quer dizer “a arte de se criar pontes”. Não essas pontes que fazemos para se ir de um local a outro. São outras pontes, aquelas para irmos ao passado, para irmos ao futuro e compreendermos o tempo de agora no espaço e na humanização da vida. Pontes para novas ideias, novos compromissos com as pessoas.
<> 
Em abril de 2026 recebemos uma correspondência do prefeito de São Manuel dando conta que o programa de Município Saudável, com o nome de “Vivendo Melhor, com Saúde e Educação” estava sendo implantado com razoável sucesso. As divergências estavam sendo bem administradas de modo a não impedir as medidas de melhorias. Mostro para minha esposa Cinthya que me abraça e me beija, mas não diz nenhuma palavra a respeito.
<> 
Em novembro de 2029, eu embarco em São Paulo com Cinthya e nossa filha Celina, rumo a Paris, França.
Somos convidados a assistir à entrega de um prêmio pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO – acrônimo de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) às autoridades do Município de Itapelinda, declarando ser o primeiro a ser considerado como exemplo para os demais, de um projeto conjunto, governo e cidadãos, voltados a uma vida humana sadia em todos os sentidos.
Agora que várias comunidades no mundo todo estão se tornando saudáveis, nos termos praticados por Itapetininga, é hora de se homenagear o município pioneiro.
<> 
Segue conosco a Mariana, uma das modelos mais fotografadas no mundo, e a Laura, reconhecida com uma das pintoras com mais quadros vendidos.
<> 
Despedimos de nossos pais Leon Francisco e Carla, em Itapelinda. O tempo estava feio, céu escuro, muita chuva toda hora. Mas meus pais estão felizes pelo rumo que conseguimos dar às nossas vidas e nos apoiam em tudo.
<> 
Laura e Mariana se despedem de sua mãe Amanda e de seus pais. Amanda me beija e diz para eu cuidar muito bem de suas duas filhas.
<> 
Antes de embarcarmos, porém, procuramos um jazigo, situado fora do campo santo do cemitério. Mariana logo o encontra e nos chama.
Amanda deposita um maço de flores sobre a lápide para o Angelo Lourival Ricchetti, o Lolou, o Ange<LO LOU>rival Ricchetti, falecido em 21 de dezembro de 2024.
A avó Maria Julia pega uma das pétalas das flores, abre o livro e coloca entre as páginas. Busco ler a capa do livro:
“Da arte de se criar pontes”
Laura liga seu celular digital na música predileta do Angelo Lourival. Ouvimos todos em silêncio, olhando o jazigo.
<> 
There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he
And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
“The greatest thing you’ll ever learn
Is just to love and be loved in return”
<> 
“Nature Boy” é uma canção de Eden Ahbez, publicado em 1947. Foi apresentada no filme o Menino dos Cabelos Verdes, de Joseph Losey, em 1948. Era também a música preferida de James Dean, um ator enigmático, morto muito jovem. Fez apenas três filmes.
<> 
Lolou me autorizara a publicar, com a ressalva de constar um recado a todas as pessoas com quem conviveu de que pede desculpas, mas não será possível citar tantas e tantas pessoas que o ajudaram em tudo, na infância, na juventude, na vida adulta, no trabalho, na aposentadoria, parentes, amigos, conhecidos, autoridades de todos os tipos.
<> 
Nunca aceitei a versão de que Lolou haja se suicidado com um tiro de revolver. Qualquer perito, sendo honesto, iria desmentir o laudo apresentado. Disseram ter visto um homem ao lado do corpo de Lolou, na pequena praça no Jardim Deise, porém sumiu antes da polícia chegar. Ninguém soube dizer quem era. Não me conformo. Meu vô nunca teve revolver, nunca usou um… Para quê revolver? A sua arte era pacífica, sua arte era a de se criar pontes…
Aqui termino o que tinha de dizer sobre Lolou.
<> 
POST SCRIPTUM
Estamos em janeiro de 2049. Nesses últimos vinte anos aconteceram muitos fatos, no início, quase sem se perceber, locais, mas se acelerando de forma intensa cada vez mais de locais para mundiais, com violência em um crescendo que agora tentamos esquecer. A humanidade se dividiu entre o socialismo e o capitalismo, entre outros grupos, religiosos e os ateus. E defensores dos capitalistas e dos socialistas, trucidaram-se de todas as formas, a partir de 2048. Muitas mortes. Não sei quantas foram. Ninguém sabe.
Da minha família sobraram minha filha Cecilia e eu. Vivemos em uma ilha pequena nos confins do Oceano Antártico. Somos cerca de duas mil pessoas. Chegamos de várias partes do mundo em vários transportes, sempre fugindo das nuvens negras e tóxicas. Melhor seria dizer duas mil pessoas sobreviventes da hecatombe nuclear mundial. Foram poucas horas, poucos dias para muitos tentarem fugir. Os meios de comunicação foram escasseando até não se ver ou ouvir nenhuma notícia mais.
Único lugar em nosso planeta, pelo que sei que se vive em amor e paz, apoiados no respeito mútuo e na prática daquele antigo projeto de Município Saudável e agora também espiritual. Passamos por uma depuração mental. Somos mais leves.
Escrevi este texto à mão na capa final do exemplar que ficou comigo do romance Da arte de se criar pontes. Como se fosse um final de carta para você que encontre, por acaso este livro, depois de nós.  SHALOM ALECHEM, IRMÃOS EM CRISTO.
<> 
Nestes anexos coloquei os dados que me foram enviados.
<> 
Anexo um
Nomes Grau    País     Estado Cidade            Ano     Mês     Dia
Lucila de Campos Mello Ricchetti    minha mãe      Brasil   São Paulo        São Manuel1914        04        19
Angelo Ricchetti        meu avô paterno         Itália               Castelluccio almaggiore
1866    08        02
Maria Giovanna D’Andrea Ricchetti minha avó paterna      Itália               San Bartolomeio in Galdo     1868    03            14
Bento de Campos Mello        meu avô materno        Brasil   São Paulo        São Manuel
Catita  minha avó materna     Brasil   São Paulo        São Manuel     0000    00        00
José Eduardo Ricchetti          meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Vera Maria Ricchetti Meneguelli       minha irmã      Brasil   São Paulo        São Manuel    
Antonio Geraldo Ricchetti    meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Manoel Fernando Ricchetti   meu irmão       Brasil   São Paulo        São Manuel               
Henrique Ricchetti     meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
Linda Ricchetti Ricci minha tia paterna        Itália                                                  
Fausto Ricchetti         meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
Hermínio Ricchetti     meu tio paterno          Brasil   São Paulo        São Manuel               
<> 
Anexo dois
Família de José Eduardo Ricchetti
Filho 1º Maria Estela Ricchetti de Oliveira casada com Valmir de Oliveira, seus filhos…
Humberto, Leticia, e André, hoje Leticia casada com Fabio e tem uma filha a Rebeca, bisneta do Eduardo e da Terezinha.
Filho 2º José Eduardo Ricchetti Junior casado com Lourdes, seus filhos Fernando e Gabriela.
Filho 3º Paulo Rogerio Ricchetti casado com Lúcia seus filhos Michael, Camila, Raíssa, Paul e Richard.
Filho 4º Lucimara Aparecida Ricchetti Carvalho, casada com Rui, seus filhos Leon e Guilherme.
Filho 5º Márcia Andreia Ricchetti da Silva, casada com Niceu, seus filhos Renan e Pamela.
<> 
Anexo três
Família de Sylvio Laís Ricchetti
Sylvio Laís Ricchetti, filho de Henrique Ricchetti e Sylvia Duarte Espindola, e neto de Angelo Ricchetti e Maria Giovanna D’Andrea Ricchetti.
Nascido na cidade de São Manuel, Estado de São Paulo – Brasil.
Atualmente casado com Selma Francelina de Oliveira com quem tenho dois filhos, Ricardo e Camila.
O Ricardo é casado com Juliana Matozinho Ricchetti. Eles têm (?) um filho nascido em São Paulo cujo nome é Giuzeppe.
A Camila é nossa filha solteira.
Anteriormente casado com Norma Lux Ricchetti, falecida, com quem tiveram três filhos:
1-Sylvio Roberto (divorciado) teve duas filhas, Mariana e Gabriela.
Após seu divorcio Sylvio Roberto teve mais um filho, o Enzo.
2-Marcus (divorciado) teve dois filhos, Julia e Pedro Henrique.
3-Wania, casada com Marcio Pedro Basso, têm dois filhos, Danilo e Bruna.
<> 
Anexo quatro
Família de Angelo Lourival Ricchetti e de Maria Julia Fernandes Ricchetti
Angelo Lourival Ricchetti, nascido em 19 de novembro de 1939, filho de Uth Ricchetti, nascido em 11 de outubro de 1911 e falecido em 18 de julho de 2001 e de Lucila de Campos Mello Ricchetti, nascida em 19 de abril de 1915 e falecida em 11 de junho de 2006. Filho de Angelo, Leon Francisco Fernandes Ricchetti, nascido em 11 de outubro de 1981, casado com Carla Ignácio, filho do Leon e Carla, Cainã Ignácio Ricchetti, nascido em 28 de abril de 2002. Filha de Angelo, Amanda Fernandes Ricchetti, nascida em 23 de dezembro de 1982, sendo filha da Amanda, Mariana Fernandes Barreti, nascida em 11 de dezembro de 2002 e Laura Fernandes Marques, nascida em 13 de março de 2007. Angelo é casado no civil em oito de agosto de 1981, no religioso em 16 de julho de 1983, com Maria Julia Fernandes Ricchetti, nascida em 18 de maio de 1961, filha de Helio Fernandes, nascido em 16 de outubro de 1934 e falecido em 18 de janeiro de 2006 e de Maria Rodrigues Galvão Fernandes, nascida em 30 de março de 1932 e falecida em 20 de março de 1998.
<> 
Anexo cinco
Família de Mario Portes e Celina de Campos Mello Portes
Mário Portes, (30/04/1914), casado com Celina de Campos Mello Portes (15/06/1924), filhos Mário Portes Júnior (17/08/1945), Ana Elisa Portes (02/03/1947), Carlos Alberto Portes (20/01/1951), Maria Aparecida Portes (14/06/1952) e Rita de Cassia Portes (01/07/1954). Netos são filhas do Mário Jr., Maria Lúcia Portes (21/05/1971), Ana Cecilia Portes (25/11/1975) e Ana Paula Portes (02/02/1983). Filho do Beto, Carlos Alberto Portes Junior (10/03/1979), filhos da Maria, Aline Maria Portes de Miranda (03/01/1985), Ana Beatriz Portes de Miranda (08/03/1988), Regina Helena Portes de Miranda (18/09/1989); filhos da Rita, Rodrigo Portes Ureshino (29/04/1983) e Thais Portes Ureshino (29/04/1986). Bisnetos de Celina e Mario, da Ana Cecilia, Bruno Portes Pisconti Povh (12/09/1995), Gabriela Portes Pisconti Povh (06/05/1998), Victor Portes Pisconti Povh (05/01/2001) e Laura Portes Rocha (05/09/2011); da Regina Helena, Maria Julia Capistrano de Miranda (20/12/2006); da Aline Maria, Alice Portes de Miranda Carneiro (04/06/2010).
<> 
Anexo seis
Família de Manuel Fernando Ricchetti e Vilma Ricchetti
Filho Jean Luciano Ricchetti
Filha Fernanda Ricchetti Adamovich casada com Pedro Von Adamovich
 E filho Otto Ricchetti Von Adamovich
<> 



Angelo Lourival Ricchetti: Continuação do livro que conta a história de uma família, desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas reais

angelo-a-08-de-agosto-de-2016-1Angelo Ricchetti: ‘DÉCIMO QUARTO E PENÚLTIMO ‘PEDAÇO’ DO ROMANCE DA ARTE DE SE CRIAR PONTES’

 (CONTINUAÇÃO)
<> 
Estamos outra vez em São Paulo (Capital).
<> 
No bairro de São Miguel Paulista, na Vila Rosária, casa nº 5, nosso novo lar.
Em São Miguel, Vera Maria continuou os estudos de Ginásio tirando o certificado de ginásio.
Conheceu um rapaz chamado José Carlos Meneguelli com o qual se casou. Eles têm cinco filhos: Tânia Valéria, José Carlos Filho, Cássia Regina, Ana Cláudia e Elena Lúcia. Já estão mocinhos, vivem bem e felizes.
<> 
Cinthya recebe nova notícia de uma amiga da USP. Ouve atentamente e logo grita, repete “o Marco Antonio?”, de novo “o Marco Antonio?” chora sem parar, não consegue falar mais ao celular, desaba sobre mim, desesperada. Eu a amparo. Não digo nada. Espero ela se recompor.
– Ele está morto. Encontraram o corpo dele.
– Vamos voltar a São Paulo!
Bem rapidamente entramos no carro, tudo muito rápido, nem sabemos o que estamos o que estamos fazendo. Ela chora o tempo todo da viagem. Eu dirijo o mais rápido que posso, apoiando a cabeça de Cinthya com o braço esquerdo. Fomos direto para a sede da USP onde o corpo dele está sendo velado. 
<> 
Procuro saber como foi o que aconteceu. O professor do projeto me conta que o corpo foi achado junto à raia da canoagem com cinco tiros no peito. A polícia está investigando. Não se sabe o móvel do crime.
Na volta para o apartamento tento consolar minha namorada. Mas é tudo em vão. É melhor mesmo que ela chore tudo que puder.
<> 
Depois de uma semana sou informado que um dos vereadores fez um projeto de lei dando o nome de Marco Antonio para uma escola municipal.
<> 
Quero terminar logo a leitura da vida do Uth e Lucila. Quanto mais leio menos entendo porque foi eles escreveram essas “memórias”. Nem sei se posso chamar assim.
<> 
O quarto filho, Antônio Geraldo, nasceu na manhã de 24 de junho de 1945.
Aos dois meses teve uma doença que na linguagem do povo chama-se “doença de macaco”.
Meus sogros levaram logo para a igreja para o batizado pensando na morte próxima do mesmo.
Não morreu.
Cresceu forte e muito levado. Tomou parte com o irmão José Eduardo na lagoa suja, onde levou a primeira sova.
Estudou no Grupo Escolar Dr. Augusto Reis até o 3º ano. Inteligente, mas não gostava de estudar. Queria trabalhar.
Quando mudamos para Jarinú, ele foi um bom companheiro.
Conhecemos em Jarinú, o senhor Juvenal, fazendeiro e o Dr. Plínio, também fazendeiro.
Assim que chegamos comprei uma égua chamada Primavera, muito boa e mansa. A coitada sofria com as suas artes.
O Antônio foi um bom cavaleiro. Nós saímos juntos sempre. A irmã Vera Maria, que montava muito bem, também saía com a gente.
Quando chegamos lá eu o matriculei no Grupo Escolar para terminar os estudos. Ele disse: –
– Pai, pensei que aqui eu não fosse estudar.
Tirou o diploma de 4º ano do Grupo Escolar de Jarinu.
Mudamos para Jundiaí. Em Jundiaí o Antônio fez o 1º ano ginasial, juntamente com a irmã Vera Maria, que estava completando o 3º ano ginasial.
Em Jundiaí, ele corria com o irmão mais velho (José Eduardo) atrás dos balões.
No dia do seu aniversário, (24 de Junho) estando a correr atrás dos balões esbarrou numa cerca de arame farpado e fez um talho numa das pernas. Corri com ele para uma farmácia e lá foi atendido.
Aconteceu que eu ia dar um dinheiro pelo aniversário dele, mas gastei o que tinha no tratamento da perna.
Quando mudamos para São Miguel ele foi jogar num time do Jardim São Vicente. (uma das vilas de São Miguel). Nas jogadas ele era bom. Aparecia sempre como futebolista.
Foi trabalhar na Brasilit, onde o tio (Manuel de Campos Mello), irmão da Lucila, era grande na firma.
Progrediu na seção de vendas e chegou a chefe de vendas.
Conheceu no Jardim São Vicente a primeira esposa, Yolanda.
Tiveram uma filha de nome Vanessa Priscila.
Não combinavam e veio o desquite.
Casado agora com Fátima. Têm dois filhos, Cássio Fernando e Camilo Leandro.
Continua como chefe de vendas em uma outra firma.
O quinto filho, Manuel Fernando. Nasceu no dia 16 de junho à noite.
Foi sempre um menino forte.
Aos três anos seguiu com todos nós para São Paulo e logo depois para Jarinú.
Na casa em que fomos morar, as paredes eram de Duratex e duplas. Entre elas as abelhas construíram as suas casas ou enxames.
Tínhamos acabado de chegar e o menino começou a gritar que as borboletas tinham mordido o seu rosto.
Pensando em algum outro bicho fui com ele ver as borboletas. Eram as abelhas.
Era muito apegado à irmã Vera Maria. Ela mal podia sair só porque o menino ficava chorando até ela voltar.
Mudando para Jundiaí e depois para São Paulo, Manuel Fernando, já maiorzinho, começou a fazer as suas artes.
Arranjou um amiguinho de nome Roberto Baiano.
Brincavam e brigavam muito. O Roberto gostava de esperar as meninas na saída do Grupo e o Manuel Fernando ia junto.
Umas meninas deram queixas ao guarda, dizendo que os meninos estavam importunando.
O guarda correu com eles e disse que se voltassem lá, ia mandar prendê-los.
O Manuel Fernando chorou muito e pediu à mãe que não deixasse o guarda prende-lo.
Conheceu um rapaz chamado João, sobrinho de uma senhora muito boa.
Essa mulher olhou por ele quando fomos para São Manuel (1969).
Era um grande companheiro nas minhas andanças de bicicleta pelas vilas de São Miguel.
Fez o Grupo Escolar e parte do Ginásio em São Miguel, donde saiu para servir no Exército, e completou o Ginásio.
Sempre teve e tem muitos amigos. Muitas namoradas e por fim conheceu a Vilma numa viagem de ônibus e com ela se casou.
Eles têm um casal de filhos: Jean Luciano e a Fernanda. Em São Paulo trabalha com avícolas, são diversas granjas.
Ajuda-nos muito.
Ele e o Angelo tratam dos pais.
O Fernando gosta de trazer a nossa casa sempre bonita. Mandou pintá-la por dentro e por fora.
Aqui terminam as minhas memórias com as bênçãos aos meus filhos, noras, genro, netos e bisnetos.
Fim.
<> 
Cheguei ao fim dos textos do Uth?
Pior que não me veio nenhuma idéia, lendo o texto, sobre o nosso problema do Munícipio Saudável? Será que foi por causa do projeto que li tudo o que o bivô escreveu? Lolou fica sabendo que li todos os textos do pai dele. Agora só poderemos saber mais pelo que ele escrever. Pela imagem vejo Lolou coçar a cabeça:
– Por favor, não me apresse. Se fizer isso não escrevo nada. Não consigo trabalhar sob pressão.
Minha namorada que estava lendo comigo faz uma observação.
– O Sêo Uth resolve terminar tudo que está contando um pouco de repente. Por quê?
Lolou responde que não sabe bem o porquê e também parece que ele faz um resumão final de tudo, dando mais detalhes sobre os filhos.
– Lembra que nós comentamos o modo dele se referir às demais pessoas, filhos ou não, de modo sintético, resumido?
Eu lembro aos dois que os textos terminam em 1986, mas a vida continuou e muito do que ele relatou deve ter se modificado.
Lolou diz que vai mostrar o que aconteceu depois. Mas pede calma.
Eu olho para Cinthya e fazemos caretas para manifestar nosso desagrado na espera do texto do Lolou.
– Sêo Lolou tenho uma curiosidade sobre a vida de seu pai.
– Qual Cinthya?
– Você disse que seu pai e sua mãe perderam tudo que tinham três vezes. Mas não disse como foi a terceira vez.
– Está bem. Trato é trato. Vou contar como foi essa terceira. Vou escrever um texto e deixo para vocês lerem.
<> 
Em meados de 2024 recebemos o vídeo jornal de Itapelinda relatando um acidente, com fotos.
São estas as palavras do áudio do vídeo do motorista do prefeito, sêo Alcides Moraes:
Como sempre faço quando vou viajar com o prefeito Pedro levo ao posto de gasolina para uma revisão rigorosa no veículo oficial. O Cláudio que me atendo pede para esperar um pouco por estar cuidando de uma motocicleta. Tudo bem, espero e observo que são duas pessoas que não conheço. Recebo de volto o carro com o aviso do empregado que está tudo em ordem.
Vou buscar o prefeito. Ele vem, entra e se senta no banco ao lado do meu. Quando começo a fazer funcionar ele diz:
– Espera um pouco esqueci uma pasta com documentos. Sai do carro, entrando na prefeitura.
Bastou sair e percebo pelo retrovisor a motocicleta vindo de encontro ao carro. Percebo que são o motorista e o carona mas este está com um fuzil metralhadora apontada para o carro.
Mais que depressa me livro da direção e me jogo no chão do carro. Os tiros quebram os vidros traseiros do veículo e depois os da vidraça lateral do lado de onde estava o prefeito. Por sorte os cacos me atingem mas causam pequenas feridas.
O prefeito e outras pessoas, assustadas com o barulho vem ver o que acontece.
Sou transportado para uma ambulância depois de contar o que vi.
<> 
O jornalista Maurício termina a noticia dizendo que o caso está sendo apurado pela polícia, porém até o momento da edição do jornal não há ninguém preso.
Fico assustado e a Cinthya mais ainda. Algo errado deve estar com o programa do Município Saudável.
<> 
Falo pelo celular com o vô Lolou e diz que desconfia de criminosos contratados pelas organizações que estão sendo prejudicadas pelo projeto. Ele me informa que está enviando um texto sobre o que a Cinthya havia pedido.
<> 
A seguir um longo relato feito pelo Lolou conforme combinado. Resolvemos chamar de depoimento do Lolou.
<> 
(Primeira parte do depoimento do Lolou)
Vou falar de mim mesmo, o que detesto, mas vou contar a terceira vez que meus pais perderam tudo.
Como vocês já sabem sobre a morte deles vou contar o que aconteceu antes.
Em 1985 meu irmão Manuel Fernando junto com sua esposa Vilma esteve em São Manuel naquela pequena casa de Vila Ipiranga. Encontraram minha mãe largada na cama, muito magra, quase pele e osso. Meu pai Uth tinha feito de tudo para cuidar da casa, fazer comida, limpar os poucos cômodos, lavar as poucas roupas mas ele não enxergava mais bem e então tudo estava muito sujo, cheirando mal.
Fazia alguns dias que minha mãe Lucila tivera um infecção resultando em uma violenta diarreia. Por isso ficou prostrada na cama e meu pai não conseguia médico para vir vê-la. Como era feriado prolongado, os vizinhos que sempre ajudavam não estavam, tinham viajado.
Manoel Fernanda somente pode colocar meu pai sentado e minha mãe deitada no banco de trás e trazê-los para sua casa em São Paulo.
Conseguiu médico e recursos para o tratamento de minha mãe e ficou ela e meu pai hospedado em sua casa.
Os irmãos, todos nós, conversamos o que deveria ser feito. Descartamos eles voltarem para a casa em São Manuel por eles não poderem mais se cuidar. Também foi descartado colocar ambos em uma instituição para idosos.
Haveria então um rodizio entre os irmãos, mesmo que as esposas e esposo não concordassem muito, para cada um cuidar um tempo dos dois.
E assim foi. Cada irmão e esposa cuidava deles. Era, no entanto, um sofrimento, um mal estar por parte da esposa. Elas tinham seus próprios pais para cuidar. No caso da Vera Maria, como filha cuidava melhor, embora também precisasse cuidar do esposo José Carlos que tinha problemas.
Mas todo mundo sabe como pessoas idosas quando são retiradas de suas próprias casas sofrem demais. É como suas raízes fossem ceifadas do local onde viveram e desejam morrer.
Assim, pelos anos que ainda restaram aos dois antes de morrerem, sempre implorando para voltarem para sua casa em São Manuel, foram ficando tristes, abatidos, sem suas coisas, seus costumes, seus amigos, perdendo tudo o que haviam tido antes.
Pela terceira vez, perdiam tudo. Parece que um poder supremo não humano foi retirando tudo de cada um para que morressem, materialmente, mentalmente, espiritualmente, sem nenhum tipo de bem, seja de que natureza fosse para nasceram em outra forma de vida.
Lembro bem quando a Vera Maria me telefonou dizendo que se eu quisesse ver o nosso pai com vida viesse logo. No dia seguinte embarquei e foi até o alto da serra onde era a chacrinha do Zé Carlos. Fomos até o quarto no qual meu pai jazia inerte, sem se mexer. A Vera Maria puxou o lençol que o cobria e não consegui falar nada, a não ser “pronto! Acabou!” e ela me reprimiu falando que ele ouvia tudo. O corpo dele era apenas ossos cobertos por uma pele. Rapidamente me lembrei das fotos dos judeus nos campos de concentração nazista.
Pronto, já falei do que havia prometido. Tudo foi bem pior mas não consigo contar. Sinto-me muito culpado como isso foi tragicamente acontecendo e eu, particularmente, fiz tão pouco para aliviar o sofrimento de ambos.
<> 
Cinthya e eu lemos esse primeiro depoimento, bem sensibilizados. Mas, mesmo assim, pedimos ao Lolou para falar um pouco mais de seus pais.
– Meu pai Uth Ricchetti faleceu em 18 de julho de 2001, aos 90 anos, de insuficiência cardíaca e minha mãe Lucila de Campos Mello Ricchetti faleceu no dia 11 de junho de 2006 aos 91 anos de insuficiência cardíaca. Em uma das fotos que tirei estão eles no sítio do José Carlos e também meu irmão José Eduardo Ricchetti que faleceu no dia 13 de setembro de 2011 aos 70 anos, de insuficiência cardíaca. Foram meus mortos que fui ver. Antes somente havia visto pessoas falecidas que foram a minha sogra Nori e o sêo Helio, ambos, pais da minha esposa Maria Julia. Sem a ajuda financeira da Professora Nory eu já teria morrido com pedra na vesícula e sem a ajuda de supervisão e da venda de um apartamento do seu Helio nós não teríamos esta casa para morar. Agora vou descansar.
Mas Cinthya insiste que ele fale mais sobre eles mesmo. Vô Lolou percebe que não conseguirá escapar desse assédio chinês:
– Vou tomar um café e depois continuo.
<> 
 (Segunda parte do depoimento do Lolou)
Nasci no dia 19 de novembro de 1939 quando Hitler já havia invadido a Polônia, com sua invenção infernal, a “blitzkrieg”. Eram tropas se deslocando rapidamente, sem parar para fazer trincheiras, pegando de surpresa todos e tudo. Usam uma força total com todos os recursos em alta velocidade, sendo a surpresa o fator decisivo para não haver contra ofensiva a esses ataques.
Fora esse acontecimento lamentável lembro outro bem brasileiro: Nesse dia 19 de novembro foi estabelecido que também fosse o “Dia Nacional da Bandeira Brasileira”. Por isso não posso ver uma bandeira nossa tremulando ao vento no céu do Brasil (desculpe a frase feita, mas esta combina bem aqui).
Minha mãe Lucila me contou que o irmão dela, o Nelito (Manuel de Campos Mello) ao me ver no bercinho, sacudindo pernas e braços, pegou um toco de lápis e colocou em minha mão dizendo:
– Esse é para você escrever muita música como seu vô, o maestro, Angelo Ricchetti, entendido?
Claro que não entendi nada e só fiquei sabendo por minha mãe. Esse meu tio foi gerente de uma grande multinacional em São Paulo e foi quem ajudou meu irmão Antonio Geraldo a se tornar um vendedor extraordinário.
Seguia o ano de 1939. Na vitrine da Casa Richetti, o pintor Juca Canella expunha retrato a óleo do saudoso Dr. Abílio Gomes, encomendado por um grupo de amigos do mesmo. Também o jovem pintor são-manuelense, Henrique Di Lello, expunha ali duas telas representando duas paisagens “cuja perfeição tem sido muito apreciada por quantos admiram a bela arte”.
 Naquele mesmo ano do meu nascimento, em julho de 1939, foi inaugurada a PRI-6, Rádio Clube de São Manuel. Minha mãe Lucila me contou que foi solicitada à população a doação de discos. Meu pai levou um deles com a música “Minha linda normalista”, em homenagem à minha mãe. Quando criança eu cantava muito essa música e sonhava ser locutor dessa rádio, o que nunca consegui.
“Minha linda normalista” era cantada por Nelson Gonçalves, cantor das multidões, como era chamado, preferido de minha mãe. Lembro quando estava na sala e a Radio anunciou a morte dele em acidente de carro, minha mãe arrumando as camas no quarto fez de tudo para esconder e barrar as lágrimas. Veja uma parte da letra:
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Mas, a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar…
<> 
Em 1954 terminei o Ginásio em São Manuel. Até então não pensava no que fazer mas certamente não seria naquela pequena cidade. Ela encolhera depois que o café sumiu. Lembro que nossa casa era na última rua de São Manuel e logo se estava na estrada para sair da cidade. Muitas vezes me peguei desenhando uma planta com ruas e praças que continuariam a ampliar a cidade. Será que desejava ser arquiteto e nem sabia o que era isso?
O que me lembro bem é que não queria ficar mais lá. Havia ido a São Paulo junto com os colegas das escolas pelo Campeonato Estadual dos jovens atletas. Em 1954, havia muita festa em local especialmente preparado para IV Centenário da cidade. Era um parque imenso, Parque do Ibirapuera, com obras do genial Oscar Niemeyer. A música Quarto Centenário, de Mario Zan, vencedor do concurso para o hino comemorativo tocava toda hora!
<> 
O Campeonato Colegial não tinha vinculação com a festa do Quarto Centenário de São Paulo.
Eu havia ido como nadador de longa distância e ficamos todos morando no Estádio do Pacaembu. Eu me aventurei sozinho pelas avenidas e ruas, pelas praças da cidade grande e amei andar de bonde, de ônibus, a pé. Uma das aventuras que não fiquei contente e nem o técnico foi escalar, depois do toque de dormir, 22 horas, a porta traseira do Estádio para assistir às festas no Parque Ibirapuera. Paguei um preço bem caro: fiz a prova de natação pessimamente devido à noitada fora. Cheguei em último lugar.
De fato sempre fui um fracassado desde criança, até quanto aos esportes. Fui goleiro, mas não crescia. Como nadador minha carreira foi bem curta.
Nunca tive tanta liberdade em minha vida antes. Iria morar lá custe o que custasse. Amei a cidade, os bondes, as pessoas, os ônibus urbanos, as avenidas, as ruas, as praças.
Então quase ao final do ano, em certa noite, em casa falei para meus pais que estava indo para São Paulo. Os dois ficaram abismados e não sabiam o que dizer. Minha mãe perguntou por que.
– Quero ser marinheiro e lá tem curso para isso!
– Mas filho como vai viver lá? Sozinho? Sem nós? Sem dinheiro, emprego, sem ninguém?
Ela não terminou de falar pois veio um choro sentido. Meu pai reagiu rápido.
– Deixa de bobagem! Não vai e pronto! Vamos ficar todos juntos sempre!
Então foi a minha hora de chorar. Mas não dei isso gostinho a eles. Segurei e fui para a rua. Havia uma procissão e fiquei bem no fim dela e o choro veio devagarinho. Ninguém notou.
Depois fui pego de surpresa quando meu pai anunciou que estávamos indo para São Paulo e disse para mim que eu iria trabalhar em uma grande loja, a Mesbla.
Essa ida da família à São Paulo sempre me fez sentir culpado de tudo de ruim que aconteceu: meu pai não conseguiu emprego, meus irmãos maiores, fomos entregues a familiares, os menores foram morar longe de tudo e nenhum deles, a não ser eu, puderam ser graduados em alguma faculdade. Tenho muito remorsos dessa chantagem que fiz com meus pais.
E assim foi. Não deu nada certo para meus pais. Fiquei em São Paulo com minha tia Linda. Sempre trabalhando na Mesbla e depois morando por conta própria em pensões, pequenos apartamentos, com meu irmão Manuel Fernando um tempo em um prédio que ele tomava conta.
Amava São Paulo, amava os cinemas, os filmes, o Cine Clube Bandeirantes.
Surgiu a primeira Escola de Cinema por iniciativa do dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand. Eu me inscrevi e passei nos testes e entrevistas. Passei a frequentar as aulas.
Em uma dela uma senhora japonesa que também fazia o curso me convidou para ser ator da companhia de teatro dela. Fui fazer o papel de um embaixador norte americano na capital do Japão.
Gostei da ideia de já fazer teatro e sai do curso de cinema. Por mim, ainda ia demorar muito para aquele curso me levar a fazer filmes.
Trabalhava na Mesbla durante o dia e a noite fazia os ensaios para as peças teatrais.
Conheci os atores e atrizes de renome no meio teatral. Passei a fazer parte de um grupo que ia fazer apresentações pelo interior do Estado de São Paulo.
Larguei do emprego da Mesbla para me dedicar ao teatro. Voltara a morar com meus pais na zona oeste da cidade de São Paulo.
Nessa viagem a Minas Gerais, depois São Paulo, fomos parar em uma cidade perto de São Manuel, Jaú. O nosso empresário fugiu com todo o dinheiro e cada um do grupo ia saindo sem levantar suspeitas.
Quando percebi sobrara só eu. A roupa que eu vestia era de um dos personagens que fizera nas peças teatrais.
Escapei sem nenhum dinheiro e fui até a empresa de ônibus e pedi para ir a São Manuel e lá meu tio Hermínio iria pagar. Como o conheciam aceitaram.
Cheguei à Casa Ricchetti, sujo, com roupas amassadas, muito triste e sem vontade de explicar.
Meu tio logo telefonou para os irmãos, meus tios dizendo que isso não podia continuar. Escutei-o falando alto no telefone:
– Nenhum Ricchetti vai viver assim! Teatro é o pior local que possa existir. Há muito tempo que é tudo de ruim. Mulheres da vida, pederastas, golpistas, tudo de pior da sociedade.
Tanto falou que meu tio Fausto, diretor da Secretaria Estadual da Fazenda informou a meu pai que ele iria dar um jeito na minha vida.
Deixa-me explicar sobre o meu tio Fausto para você compreender bem o que aconteceu.
Ele era uma pessoa importante no Governo Paulista.
Sem emprego, por indicação de minha mãe a um tio rico fui aceito a trabalhar em uma agência de banco e acabei rapidamente aprendendo as várias tarefas. Depois fui a uma Seguradora levar um papel do banco e um dos donos ficou conversando comigo em Inglês e me disse que devia vir trabalhar com ele. Havia gostado de mim.
Mas em menos de um mês na Seguradora meu tio Fausto avisou que eu ia prestar um teste para o cargo de Escriturário Extranumerário, ou seja, pago com verba extra no orçamento.
Fiz de tudo para errar e não ser funcionário público. Mas não adiantou pois o teste era somente proforma, eu já estava contratado.
Trabalhei muito tempo como escriturário e a noite fazendo teatro escondido. Em uma das férias até acabei sendo ajudante de câmera de filmar em um filme que acabou não sendo realizado por falta de dinheiro.
Nesse tempo fui morar com um amigo que era autor de peça, diretor e ator em uma vida nova no sentido que fazia tudo que se apresentasse para ajudar nos gastos do apartamento.
Continuava recebendo o pequeno salário de escriturário, mas complementava indo trabalhar em pequenos papeis no teatro, nas televisões, que ainda tudo era ao vivo, não havia gravação ainda, e ainda em circos, nas peças de teatro de picadeiro. Com esses extras podíamos sobreviver. Porém o mais importante era eu ganhar uma bagagem muito grande nessa arte.
<> 
Converso com o Lolou pela Internet.
– Você nasceu quando começou a Segunda Guerra Mundial. Naquele tempo em São Manuel do que você lembra?
– Sabe? Eu não sou como meu pai com aquela memória privilegiada. Não tenho muitas lembranças e a respeito de nomes de pessoas sou péssimo. Por isso não vou citar muitos nomes.
– Mas o que lhe marcou nesse tempo da Guerra?
– O que mais me marcou foram as aulas de catecismo dadas pelas freiras italianas. E os filmes. Porque no Jardim da Infância, como era chamado o local que as crianças ficavam até os sete anos de idade para os pais trabalharem, os padres tinham projetor de cinema e filmes trazidos da Italia. Eram filmes, em preto e branco, já falados e cantados. Lembro-me de um que se chamava “Ao telefone” no qual um cantor lírico o barítono Gino Beck cantava “La strada del bosco”. Desde cedo passei a amar o cinema.
<> 
(Terceira parte do depoimento do Lolou)
Na Secretaria da Fazenda conheci a moça por quem me apaixonei, a Munira Bechara. Tanta paixão não somente estava acabando comigo, como também com ela, com os colegas e chefe de trabalho e para me “curar” foi prestar vestibular na Fundação Getúlio Vargas para o curso de Administração Pública.
Já havia feito o que se chamava “Curso de Madureza” no qual o aluno estudava as matérias por sua conta e depois prestava exames e assim conseguia o necessário para curso universitário.
O Governo Paulista pagava o meu salário, mas me deixava livre para o estudo. Pagava também o curso de quatro anos, com algumas exigência como o meu desemprenho escolar.
Lá foi possível ir deixando apenas na memória a minha paixão por essa moça. Vivia na Faculdade, fiz grandes amigos, tanto entre os colegas alunos como com os professores.
Impossível eu poder citar todos ou alguns desses colegas e amigos. Foram muitos. Estão em minhas lembranças e morrerão comigo.
A minha turma era muito unida e todos se conheciam muito pois cada um de nós visitava a casa do outro. Todos eles foram conhecer a Casa Ricchetti em São Manuel. Nessa época meu pai voltara a morar lá.
Para se ter uma idéia, mesmo depois de mais de dez anos de formados ainda nos encontrávamos uma vez ao ano para comemorar nossa amizade. Não vou citar alguns nomes, pois são mais de quarenta e seria injusto com os demais.
Porém, para aguentar a separação forçada de Munira eu passei a usar bebida alcoólica.
Já havia experimentado o álcool quando uma certa noite, na saída do serviço no prédio da Secretaria da Fazenda faltou energia no prédio. Ficamos presos por duas horas e pouco em um elevador lotado, sem ar, com muito medo de morrer. Quando os bombeiros começaram o resgate, sabendo que a energia podia voltar a qualquer instante, eles abriram uma fresta junto a dois andares e ficavam mandando um de cada vez pular fora do elevador.
Saindo de lá indo pegar o trem de subúrbio para São Miguel Paulista parei no primeiro boteco, pedi para encher um copo de pinga e engoli aquilo de uma vez só.
O resultado foi crescer um medo pânico de locais fechados e, por outro lado, ficar bêbado sempre que via oportunidade. Bastava um dedo de pinga e já não sabia mais de mim. Eu tinha um problema sério que não sabia, a alergia ao álcool, que somente fiquei sabendo quando fiquei internado em um hospital. Depois disso parei de beber.
Quando ficava bastante ferido eu pedia para removido para a casa de minha irmã Vera Maria. Ela me tratava como se fosse o sexto filho dela. Passou a ser uma segunda mãe para mim. Dos ódios da minha infância para com ela para um respeito e uma amizade para com ela, com seu esposo José Carlos Meneguelli e para com os filhos.
A filha mais velha, a Tânia Valeria, se formou em Arquitetura e seu primeiro projeto foi de uma casa para mim, já casado com Maria Julia, em Itapetininga. Antes as casas eram desenhadas por engenheiros. Depois outros arquitetos passaram a desenhar novas casas.
Quem me ajudou na construção foi meu sogro Helio Fernandes, talvez a pessoa de mais bondade que conheci. Casado com a Nori, o pai da Maria Julia foi um esteio para que pudéssemos viver em uma casa nossa, a primeira casa nossa! Esta que até hoje vivemos. A Nori, professora de ensino primário, formada pela antiga e uma das primeiras Escolas Normais do Estado de São Paulo, lutou a vida toda para que seus alunos fossem melhores pessoas.
Assim também é a Maria Julia, professora de história. A mãe dela morreu de câncer. Não passou muito tempo sêo Helio também se foi.
Voltando à criação artística de minha sobrinha Tania Valéria, a minha casa, de qualquer ponto que você estiver, vai sempre ver formas, cores, diferenciadas. Não se repete, varia sempre, conforme muda de ponto de observação e de ambiente dia, meio dia, tarde, noite, verão, inverno…
Quanto ao tipo de claustrofobia que me acometeu, fiz tratamentos, porém sempre tenho um medo pânico de entrar em aviões de carreira. Pior ainda de ser preso algum dia. Essa claustrofobia me faz desejar morrer de uma vez só, de repente. Só de pensar que vou morrer fico mais apavorado ainda. E nem gosto de ficar pensando que estou isolado em uma ilha, sem saída.
Muitíssimo pior ainda é me imaginar preso em um planeta. Porém o pânico maior vem quando começo a pensar como serão os segundos seguintes à minha morte. Tenho a impressão que as religiões servem para nos confortar e nos livrar desse tipo de pensamento, para quem tem fé. Sou católico praticante, sempre vou à missa aos domingos e comungo.
Nessa época já havia me formado e já era funcionário do Governo de São Paulo como assessor técnico junto com alguns colegas da GV.
<> 
A Cinthya está lendo junto comigo o que o Lolou escreve. Ela faz perguntas pelo celular para ele.
– Lolou nessa passagem você conta como morou com seus pais e irmãos na zona leste de São Paulo.
– Isso mesmo. Lembro que foi também um tempo de grande agitação social. Foi quanto eu começava a me dedicar a estabelecer relações com os jovens que viviam no Jardim São Vicente, uma rua separada da Vila Rosária. Fundamos um clube das águias, as jovens, e os leões, os moços. Tínhamos sonhos de construir no espaço do campinho de futebol uma sede em madeira desenhada por um dos jovens, um colombiano.  Nesse bairro moravam muitas pessoas do Japão, da Europa, da América do Sul, vindas em busca de vida melhor do que nos seus países.
Uma pequena moradora, de cinco anos, nascida em Tóquio, Japão me batizou novamente com um nome que, traduzido para o português seria o Moço Louro ou Claro. O nome era “Yukio”. De outra moça, no meu aniversário ganhei um kimono! Eu almoçava ou jantava com eles, nos finais de semana, comidas preparadas em casa pelas mães deles.
Lembro também de pequenos namoricos que não davam certo tanto com uma colombiana, uma neta de italianos, japonesas, como com brasileiras. Lembro-me de uma que era filha de soldado da Polícia Militar, de cor jambo, muito linda. Lembro-me de outra que me levou a conhecer os pais e depois me mostrou um baú com o enxoval para se casar. Desta, fiquei bem distante. Tinha muitos medos e um deles era de me casar.
– E a revolução de 1964? Ou melhor, o golpe civil e militar? Você morava ainda com seus pais?
– Sim, morava com meus pais. Lembro que do alto do prédio da Secretaria da Fazenda onde eu trabalhava, ficamos vendo uma passeata com muitas pessoas marchando na Praça da Sé querendo que houvesse uma tomada do poder pelos militares com medo que viesse o comunismo. A revolução na verdade constou de um golpe de tomada do poder por militares. Mas não quero falar desse tempo. Foi muito doloroso para mim.
Intervenho na conversa dos dois.
– Lolou, já estudamos muito sobre esse movimento. Não precisa contar do que já sabemos. Uma ditadura militar que durou anos e muitas lideranças jovens foram castradas. Muitos anos depois esse triste momento na história do Brasil dificultou e ainda dificulta de certo modo a democracia. Fale apenas alguma passagem sua, pessoal.
– Eu participava naquele momento da Igreja Católica, uma parte que tinha um compromisso sério de se voltar às pessoas de baixa renda. Sempre fui uma pessoa minimalista em questão de bens materiais. Mas haviam falta de bens até para a sobrevivência dos mais pobres. Um amigo meu, filho de pais vindos do Japão, era meu colega nos atos que fazíamos junto com o padre da Paróquia.
Um certo dia ele me parou na frente da minha casa e informou que estava indo para a selva lutar contra a ditadura. Ele veio me convidar. Eu disse que não ia, em parte por sempre ser um medroso, em parte, que foi o que respondi a ele, que violência traz mais violência.
Tempos depois ele foi preso junto com muitos outros jovens. Muitos foram mortos. O grupo a que ele pertencia sequestrou o embaixador da Alemanha, se não me engano, e em troca da libertação dele, exigiu que os militares libertassem os jovens presos. E assim meu amigo acabou sendo mandado para Cuba.
– Pronto. Já falei muito sobre isso. Meu pai nem falou nada, lembra?
– Mas você não se envolveu em nada.
– Não me envolvi mas acabei fazendo algumas coisas. Eu lembro que a gente pedia para o dono de um caminhão que estacionasse ao lado das traves do campo de futebol e deixasse a carroceria aberta para fazermos pequenas peças de teatro que eu inventava. Juntava pessoas e éramos bem rápidos pois logo algum comerciante chamava a polícia por haver jovens comunistas perto do negócio deles.
– Não foi preso então?
– Não fui mas tive de fugir em um certo momento. Eu participava de um grupo de artistas de uma cidade vizinha. Enquanto o pessoal ensaiava teatro, outro músicas, outra pintava, um certo dia escrevi em um papel usado algo que estava na minha cabeça. Escrevi que havia encontrado o Super-Homem em um boteco bebendo pinga, sujo, barbudo, voz empastada e estranhei perguntando: O que é isso Super? Você um herói popular desse jeito? E ele respondia: Pois é, sou Super nada, nem minha namorada me quer mais! Escrito isso achei uma bobagem e amassei e joguei no lixo.
Passou um tempo e quando voltava para casa meu pai me esperou em uma esquina escondido e me entregou um pacote com alguma roupa e disse para eu sumir, Recado do meu amigo padre.
Então, sem saber o que era, eu sumi mesmo. O plano de fuga era de ir a uma cidade, tomar outro ônibus, ir para outra, sem parar, até se ver em um local deserto. Acabei ficando em uma praia ao sul da Bahia. Havia apenas um pequeno bar e algumas moças e rapazes hippies. Fiquei com eles, ajudando no que podia. Fiquei praticamente vivendo de natureza. Ao final de semana vinham famílias mineiras para passar o fim de semana na praia.
Vendíamos a nossa produção e com o dinheiro a gente pagava o bar. A filosofia do grupo era: só existe o presente. Para mim era verdade mesmo. Como ia ter passado se algo ruim havia acontecido? E o futuro? Que futuro seria?
Depois de alguns meses vieram estudantes da Universidade da Bahia me dizendo que o meu “caso” com a ditadura estava superado e que já podia voltar a São Paulo. Voltei.
– Mas afinal o que havia acontecido? Que “caso” foi esse?
– Acontece que uma das moças do grupo de São Caetano, nosso grupo, havia pego o texto amassado e resolvido ler em uma apresentação teatral como se fosse uma poesia. Com nesses festivais havia sempre policial da ditadura escondido, ela foi presa, torturada para explicar o que era aquilo. E também que havia escrito. Eles alegavam que o Super era o General no Poder. Ela nunca contou que fui quem escreveu. Mas os demais colegas do grupo mandaram recado para o padre e ele para meu pai.
Pronto. Agora chega de falar nessas coisas. Leiam o que já escrevi, certo?
<> 
(CONTINUA no ÚLTIMO PEDAÇO)



Angelo Lourival Ricchetti: Continuação do livro que conta a história de uma família, desde 1400 até 2023. Ficção com base em documentos e narrativas de pessoas reais

Décimo terceiro pedaço do romance Da arte de se criar pontes

Angelo Ricchetti Angelo Lourival Ricchetti:  Continuação do livro ‘DA ARTE DE SE CRIAR PONTES’ – 13ª PARTE

 

DÉCIMO TERCEIRO ‘PEDAÇO’ DO ROMANCE DA ARTE DE SE CRIAR PONTES
 (CONTINUAÇÃO)
<> 
Chegamos são e salvos à casa do vô Lolou.
<> 
Chegamos cansados e logo que abraçamos todos, peço licença eu vou para o quarto descansar. A minha namorada fica lá conversando com o Lolou. Depois vem até o quarto. Deita-se ao meu lado e conta:
– O Lolou queria saber do projeto da USP-ECA e eu…
Eu a interrompo dando um beijo em sua boca.
– Depois você me conta. Estou cansado… Ela fica brava:
– Me deixa terminar! Eu disse a ele que o projeto está pronto, não há nada mais a fazer. É um projeto de comunicação. Ele fica perplexo. Eu continuo dizendo que o desdobramento segue pelos demais departamentos da USP que são especializados em fazer comprovação científica conforme dito na Assembleia Legislativa.
– Tá bom, Cinthya, agora vamos dormir.
Ela se deita e fica abraçada em mim e de repente fico sonhando.
<> 
Estamos nos casando “a la” religião católica em uma Igreja lotada de pessoas. Trocamos anéis quando surge o rosto do Uth reclamando que devia ser pela religião chinesa. Ele quer desmanchar tudo, porém Lucila não permite e ele se cala. Vários rostos de pessoas que devem ser da família dela se apresentam sorridentes, falando. Não entendo nada porque o órgão tocado pelo maestro Angelo soa cada vez mais alto. Mais alto! Procuro pelo rosto do Lolou. Não acho.
Acordo suando muito e olho para Cinthya a meu lado na cama dormindo tranquilamente.
<> 
Na manhã seguinte saímos com o vô Lolou para ver o que as pessoas estão fazendo em seu Município Saudável. Muitas nos reconhecem e vem falar conosco. Outras, com raiva, nos olham e nós nos afastamos, por precaução.
Falo para Lolou sobre as últimas leituras dos textos do Uth.
– Quanto tempo seus pais ficaram em São Miguel Paulista?
– Cerca de 10 a 15 anos. Por quê?
A minha namorada entra na conversa depois de haver ido conversar com as crianças em um parque municipal.
– E nessas mudanças de São Paulo para Trieste, de lá para Jundiai?
– Aproximadamente o ano de 1955.
– Mas isso é muito estranho. Não entendo.
– Moça, não tem nada de estranho. Foi assim mesmo que aconteceu.
Eu olho para Cinthya e entendo o que ela quer dizer.
-Lolou, em um ano só ele contou detalhadamente tudo que acontece e depois, em 10 ou 15 anos conta tudo de modo bem superficial.
– Entendi.
– Não seu por que fez assim?
– Sêo Lolou será que ele quis pular vários acontecimentos? Por falta de memória não foi, pois a dele devia ser incrível.
– Será que ele estava cansado de escrever, ou melhor, de ditar para sua mãe Lucila o que aconteceu?
Vô Lolou pensa um pouco e conclui.
– Vocês devem ter percebido que ele somente conta a sua história. Nem a história de minha mãe ele diz muito. Sobre os filhos é a mesma coisa. Por isso é que eu pensei eu falar um pouco da minha história alguma vez…
– Somente de você? Igual seu pai?  A minha namorada reclama.
– Claro que sim, eu pouco sei o que houve com meus irmãos, com suas famílias. Acho que isso vale também para o pai Uth.
– Tal pai, tal filho, diz minha namorada dando uma das suas gargalhadas chinesas.
Eu completo dizendo que ele tem muito de seu pai. Não pode negar isso.
TIRA GOSTO DO DÉCIMO TERCEIRO PEDAÇO DO MEU ROMANCE  DA ARTE DE SE CRIAR PONTES
<> 
Nisso chega o Secretário de Esportes da Prefeitura de Itapelinda e vem nos cumprimentar e falar sobre como estão os projetos na sua área. Raul explica:
– Vocês sabem que não adianta eu conseguir que todos ou quase todos venham se exercitar praticar esportes etc, se essas pessoas também não forem a teatro, cinema, shows, etc. E ainda se não tiverem uma alimentação balanceada de ótima qualidade. Mas eu faço minha parte.
Digo a ele:
– Mas vocês se reúnem e trocam ideias de como cada área está se desenvolvendo?
– Estamos sempre juntos no sábado. Daqui a pouco vou lá na Prefeitura. Além de avaliarmos o que estamos conseguindo, sempre tem lá na reunião, o pessoal das estatísticas e dos testes.
Cinthya quer saber dos testes.
– Cada pessoa do município é avaliada em sua saúde física e mental, em seu desempenho, rumo ao melhor estágio possível de qualidade. Cada um é diferente do outro e não se busca ficarem todos iguais, é claro. Mas cada um vai percebendo como dá certo quando está praticando uma vida saudável. Nós também sabemos a influência positiva quando há os esgotos sanitários, as aguas servidas recuperadas, a geração de energias alternativas. Também há muitas campanhas contra a discriminação, a intolerância quanto a negros, índios, homossexuais, transexuais, bem como luta por melhor atendimento de crianças e jovens e defesa da feminilidade.
Ela sorri bem satisfeita com a explicação. O Raul, por sua vez quer saber como está o projeto na USP-ECA. E conta a ela a evolução de cada área de ciência quanto ao programa de Município Saudável, de acordo com as pesquisas que estão sendo feitas e sugere que os líderes aqui remetam essas avaliações que estão sendo realizadas, pois deve ser de interesse deles.
<> 
O Raul se despede de nós. Lolou olha o celular e diz que é hora do almoço.
Voltando para a casa no Jardim Deise ele diz que vai pensar em escrever um adendo explicando como foram para ele esses 10 a 15 anos que não constam dos textos do seu pai.
<> 
Depois do almoço leio texto do Uth. Não vejo a hora do Lolou escrever a sua parte para entender melhor toda essa história.
<> 
(Trigésimo segundo texto do Uth Ricchetti)
O casarão era formado, na parte superior por duas casas.
Minha irmã Helena e o filho Ulisses tinham se apossado das duas casas e acharam ruim a nossa vinda.
Custou, mas desocuparam a casa que era a parte mais velha e maior das duas.
Estávamos novamente em São Manuel.
Minha irmã Helena e o meu sobrinho Ulisses morando na outra casa e donos da “Casa Ricchetti”.
Na morte do marido da minha irmã Helena houve a separação da firma “Ricchetti e Alves” (eram Hermínio Ricchetti e Eduardo Alves).
O Hermínio ficou com o sitio e depois trocou por um apartamento na Capital onde passou a morar.
No antigo prédio, a parte onde havia a tipografia, foi alugada para o comerciante Rubens Bertozzo.
A Helena, depois da morte do marido, ficou muito nervosa e queria mandar em tudo como se fosse a única herdeira. Tornou-se (a Helena) supermãe, cuidando do filho moço como se fosse uma criança.
A “Casa Ricchetti”, que foi edificada com muito suor por meu pai, terminou num incêndio pavoroso.
Logo depois da morte de papai, o meu irmão Hermínio tomou conta da firma que passou a ser “Viúva Ricchetti e Filhos”.
O jornal “O Movimento” terminou em 1930. Era seu redator meu irmão Fausto Ricchetti. Veio o jornal “A Folha” (1931), mas acabou com a mudança do Fausto para São Paulo.
Eu não pertencia à firma “Viúva Ricchetti e Filhos” porque era menor de idade. A minha parte ficou nos prédios junto com mamãe.
O Hermínio comprou, mais tarde, dos irmãos Henrique, Linda, Fausto e mamãe, as partes deles no comercio.
Mamãe recebeu dez contos de reis pela sua parte e estava guardada com o Hermínio. A parte da Helena, ela entrou como sócia com o marido na firma “Ricchetti e Alves” e terminara a firma “Viúva Ricchetti e Filhos”.
Nessa sociedade eles acabaram com a tipografia e livraria. Colocaram à venda apenas artigos de presentes.
Começou a decadência da firma “Ricchetti”.
Pobre Angelo Ricchetti que tanto lutou para deixar alguma coisa aos descendentes.
No fim a Helena e o filho Ulisses tomavam conta de tudo.
A irmã de Ulisses, chamada Maria Helena, não tomou parte em nada. Não lhe davam satisfação.
De derrocada em derrocada, tudo chegou ao fim, num grande incêndio.
Tomava conta da firma um estranho de nome Mauro, na ocasião. O Ulisses nunca aparecia na firma. A “Casa Ricchetti” virou uma casa de venda de presentes.
Acabou a papelaria. O filho não aparecia para tomar conta da firma porque dormia até tarde.
Foi assim que minha irmã Helena, que nunca trabalhou no comercio, começou a tomar conta da “Casa Ricchetti”.
Os auxiliares eram ótimos empregados. Eram eles: José Monteiro e a Célia. Eram honestos e trabalhadores, pareciam os verdadeiros dono da casa comercial.
O Ulisses foi criado com os maiores luxos e todas as vontades possíveis. Era bom de coração e honesto.
A Helena, a mãe, como supermãe, estragou o filho.
Num dia de carnaval (8-2-1970) ele e mais um amigo, indo para Jaú, viu chegar o seu fim num desastre horrível de carro. O amigo estava bêbado e o carro capotou arrastando meu sobrinho Ulisses.
Foi daí que a mãe e a irmã dele ficaram sabendo que a firma estava com uma divida enorme.
Houve a concordata, pedida pelo meu irmão Hermínio, que ainda constava como sócio da firma.
O meu sobrinho Walter, filho do Fausto, deu vinte contos de reis para ajudar a pagar as dividas. Não sei o que foi feito com esse dinheiro.
Depois de tudo o Hermínio passou a “Casa Ricchetti” ao Mauro de Oliveira.
Não entendi esse negocio.
A Helena ficou sem nada. Nas prateleiras só restavam umas poucas mercadorias por ocasião da morte do Ulisses.
Ai terminou o sonho de papai, suas lutas e sacrifícios para deixar para nossa família, um prédio enorme, casa comercial com tipografia, livraria, papelaria e artigos para presentes.
Firma histórica acabando em cinzas.
O Mauro de Oliveira foi morto por uns maconheiros de Piracicaba logo depois do incêndio da “Casa Ricchetti”.
Hoje existe no local a Caixa Econômica Estadual, que comprou o terreno onde havia a “Casa Ricchetti”.
<> 
Pelo visto uma fortuna se foi. Lemos esse último texto a três: Lolou, Cinthya e eu. Tenho a nítida ideia que as grandes fortunas precisam de pessoas com mão de ferro. Estou pensando nas Indústrias Matarazzo, cujo capital não se extinguiu na divisão entre os parentes, mas cresceu e deu frutos, talvez ainda dê, até hoje em dia.
Lolou não quer comentar nada porque ele diz que no texto seguinte deve haver mais explicações. Inclusive o choque que ele teve quando chegou a São Manuel e não encontrou a Casa Ricchetti. No ônibus que o levava de São Paulo até São Manuel, nas paradas ouviu comentários sobre um grande incêndio, mas nunca poderia imaginar que seria na Casa Ricchetti.
Por sugestão dele resolvemos ler mais um texto do Uth
<> 
(Trigésimo terceiro texto do Uth Ricchetti)
Desse passado eu me recordo de minha sobrinha, Vera Silva, grande mulher, que muito me ajudou a suportar tanto mal. Consolou-nos espiritualmente e materialmente.
A sua morte há poucos anos muito me abalou, mas a sua lembrança permanece para sempre conosco.
Recordo-me do compadre Noé Pereira, padrinho do meu filho Antônio Geraldo. Homem bom honesto e amigo. Na doença de minha filha Vera Maria ele muito me consolou. A menina esteve à morte.
O outro grande homem e compadre também foi o Teófilo Lupercio (Tufi). Brigou e ficou do meu lado quando perseguido pelos políticos que nos governavam.
Foi contra o prefeito local e o vice-prefeito, arriscando a perder o emprego na Prefeitura.
Ambos já falecidos esses dois grandes amigos.
Por ocasião do memorável incêndio da Casa Ricchetti, eles não estavam mais do nosso lado porque já haviam partido deste mundo.
Sentimos até hoje as suas faltas em nossos meios.
Na ocasião do incêndio, a Lucila ficou quase louca de sofrimento.
Tudo virou cinzas.
Memoráveis lembranças se acabaram ali no meio da fogueira.
Os parentes todos (os mortos) que moraram nas casas e os objetos queridos se foram de vez.
Tudo acabou.
Os filhos traziam seus filhos para passarem as férias e todos tinham a sua acomodação. Os netos trepados num banco olhando o trem passar ao longe.
Esse banco foi a única coisa que restou do passado. Hoje ele está na chácara do meu irmão Fausto.
Lembrando o dia do incêndio da Casa Ricchetti, quero agradecer aqui ao Sr. João Evangelista de Mariano, Gerente do Banco Itaú, por ter corrido em nosso socorro salvando-nos do fogo.
À família do Sr. Laudelino Ricci por ter nos acolhidos em sua casa e vestindo-nos, pois na ocasião estávamos de roupa de dormir.
Ao Sr. Argemiro Sampaio por ter me levado até à chácara do Fausto para avisá-lo do incêndio.
Ao Sr. Luis Siccheira, por ter acolhido a família do meu filho José Eduardo (sete pessoas). Estavam dormindo na parte debaixo da casa Ricchetti.
À família Polano por ter dado uma casa para o meu filho José Eduardo morarem até arranjarem outra vez a vida deles.
À minha boa amiga Nena Paraíso e toda a família dela por nos acolher até comprarmos a casa que temos agora.
À família de Dácio Helene por ter socorrido com roupas, colchões e dinheiro ao meu filho José Eduardo.
Aos meus irmãos e aos meus queridos filhos que souberam me ajudar e como consolar no desespero da Lucila.
Foi um pedaço muito duro em minha vida.
Ao Dr. Portela que tratou da Lucila.
Obrigado ao meu filho Angelo. Esse levou um grande choque. Vinha nos visitar e só encontrou ruínas e não sabia de mais nada. Do paradeiro dos pais não sabia.
Estávamos indo para São Paulo, para a casa da nossa filha Vera Maria. Foi o meu irmão Henrique quem nos levou para a Capital.
O Antônio e o Fernando ficaram desesperados.
Meu genro José Carlos quase desmaiou vendo os sogros chegarem sem malas. Não queria acreditar no incêndio.
Foi mais um drama nas nossas vidas.
O que sobrou foi apenas o terreno de esquina, no centro da cidade e foi vendido para a Caixa Econômica que construiu um grande prédio onde funciona a própria Caixa Econômica.
Eu comprei uma casa na Vila Ipiranga, Rua Ademar de Barros, 359, onde estamos morando.
Esta Vila Ipiranga, e outras vilas, estão situadas onde outrora ficava a fazenda do meu sogro Bento de Campos Mello.
<> 
Cinthya recebe uma notícia triste em seu celular. Seu amigo Marco Antonio está sumido de novo. Ela me abraça muito forte. Diz pressentir algo ruim. Tento dizer a ela que logo ele reaparece estará tudo bem. Ela chora.  Conto para o Lolou. Ele fica nervoso, angustiado e se afasta de nós.
Depois volta e me mostra um texto sobre Vera Silva;
<> 
“Vera
Caia à tarde, os pássaros, em minha casa cantavam, eu e minha esposa Lucila estávamos tristes pela doença de nossa sobrinha querida, eis que meu irmão Fausto trouxe-nos a dolorosa notícia do seu falecimento.
De sua despedida deste mundo, foi o baluarte dos pobres, a boa samaritana que com lágrimas nos olhos socorria os necessitados, sem alarde e com sorrisos agradecia as pessoas que a ajudavam na sua missão.
Ainda a vejo com a chuva ou com o sol e o vento, ela com um carrinho de feira tirando o “quilo” com as palavras meigas “Deus lhe pague”.
Todos os anos no portão do cemitério, junto com seu marido José, desde as 6 horas da manhã às 6 horas da tarde, toda sorridente e com palavras meigas, agradecia os que davam esmolas, dizendo: “Um auxílio para os pobres do Asilo”.
Nos fins de ano com novenas de Natal, indo nas casas de pobres ou ricos rezando com devoção para os pobres terem um Natal feliz.
E fazendo essa missão, é que ela apanhou esse mal que mais tarde a levou para os braços da Virgem Santíssima.
Você nos deixou com muitas saudades, nos corações dos pobres, muitas lágrimas nos olhos dos parentes e amigos; para mim não partistes estás presente em meu coração, no coração de tua mãe, de teus irmãos tios e primos.
Lá onde estás, saibas que os teus pobres estão dizendo “Obrigado nossa protetora Vera”.
Beijos Uth.”
<> 
Pergunto a ele por que está me mostrando esse texto.
– Essa é uma carta do meu pai para a sua sobrinha Vera Silva, quando ela faleceu. Foi me enviada por um dos filhos dela, o José Luiz Silva Ricchetti como um exemplo que meu pai tinha para com sua mãe. Ela e o José Silva foram meus padrinhos de batizado. Eu tenho as datas de nascimento deles aqui no meu arquivo:
José Silva, esposo de Vera, em 03/04/1917; Vera Ricci Silva. Em 17/03/1920; filhos: Paulo Sérgio Silva em 18/07/1945; Carlos Roberto Silva, em 21/07/1948 e José Luiz Ricchetti Ricci Silva em 08/10/1952;
– Ainda não entendi por que está me mostrando esse texto agora.
– Tomara que sua namorada não tenha de escrever um texto assim.
– Entendi.
Fico calado um tempo. Depois pergunto se o pai do Lolou era religioso, pelo teor da carta, isso me é evidente.
– Ele se dizia espírita. Minha mãe era católica, embora não pudesse praticar. Eu lembro que eles tinham acima de sua cama um retrato enorme de Jesus curando uma criança nos braços da mãe. Minha mãe agiu como professora a sua vida toda quando aparecia oportunidade. Inclusive chegou a montar uma pequena biblioteca em sua casa na Vila Ipiranga. Lembro também que dos parcos 200 cruzeiros que eu dava por mês, ela separava uma parte para pagar a prestações uma coleção de livros de líderes mundiais. Quando saíram, para sempre, dessa casa, minha mãe me disse que era o presente dela para os futuros netos. Trouxe para cá, imaginando o sacrifício de quem tão pouco e assim mesmo comprara livros para meus netos.
Digo que os pais dele, meu avô Lolou, eram pessoas com muita bondade no coração, assim como o sogro dele, Helio Fernandes, e a sobrinha dele, A Vera Silva.
– Houveram outros além deles de muito bom coração. Mas, você está certo, Kainã, estes foram excepcionais.
<> 
Volto a ler para a minha namorada o texto do Uth para ver se ela esquece um pouco o amigo.
<> 
Os vizinhos muito bons.
A Lucila continuava nervosa, mas com ajuda de todos ia se recuperando.
As meninas de nossa rua muito cooperaram para a saúde de minha mulher. Entre elas a Vera Lucia Alves da Silva, a irmã Sonia Regina e a Márcia Terezinha Fuim, às quais eu agradeço.
Deram as boas vindas com flores e muitas alegrias a nós, novos vizinhos.
Foram verdadeiros anjos na ocasião. Estávamos precisando.
Hoje formando um bloco, todos sentam, à noite, nos bancos, nas cadeiras para um bate papo informal.
São os “amigos da sentação”.
Essas pessoas são: Maria Aparecida Fuim, mãe da Maria Terezinha, Dona Helena Duarte, avó da Márcia, Terezinha Alves da Silva, mãe da Vera Lucia e Sonia Regina, Dona Olímpia Conforti, que veio muito depois morar na Vila Ipiranga, Antoninha, ainda moça com seus seis filhos, Sr. Duarte, marido da Dona Helena, Dona Marina, casada com o senhor João (soldado) de Oliveira.
A Vera Lucia e a Márcia Terezinha, já casadas e com filhinhos, às vezes, vem sentar.
<> 
Cinthya comenta que foi uma nova mudança de endereço. Tem-se a impressão que ele conta sua história de acordo com os locais que se muda e novamente faz um relato minucioso detalhando objetos, pessoas e situações.
Vô Lolou fala sobre esse primeiro andar da Casa Ricchetti. O assoalho era de tábuas, na parte do quarto de sua vó Maria Joana e um quarto de fundos.
– Eu andava por ali sempre com muito medo. Tinha medo dessas tábuas e olhava para baixo, para o quintal e era muito alto. Lembro também desse banco de madeira e como dele podíamos avistar a Estação da Ferrovia Sorocabana, ramal de Botucatu a Bauru. Ficava em uma parte elevada da cidade, no alto do morro.
Mais para o alto ainda desse morro ficava o Cemitério. Em toda a volta da cidade cafezais ocupavam até onde a vista alcançasse. Isso na minha infância e depois juventude. Depois disso, da quebra da Bolsa, os canaviais de açúcar ocuparam os cafezais.
– Pergunto como era essa casa em Vila Ipiranga.
– Por incrível que pareça, essa casa, um quarto, sala, cozinha e banheiro, muito pequenos havia sido a caixa de água da fazenda dos parentes de minha mãe. Tanto que o quarto tinha paredes bem largas e era sempre bem úmido.
Esqueci de dizer sobre o quarto da minha avó italiana. Ela havia trazido da Itália o lavabo e inúmeros objetos usados para as mulheres se banharem e se se perfumarem. Não sei o que foi feito deles. Talvez, como tudo meu que minha mãe guardava na Casa Ricchetti, esses objetos devem ter sido devorados pelas chamas do incêndio.
Pergunto como é a topografia de São Manuel, uma vez que Lolou fala de altos e baixos e eu nunca estive lá.
– São Manuel do Paraiso como era chamado surgiu junto a esse rio, a parte mais baixa da cidade e depois cresceu para o alto do morro para o Cemitério e para o alto do outro morro para a saída da rodovia, ficando o último local da casa do meu pai perto dessa saída.
Cinthya quer a confirmação sobre a segunda vez que meus bisavôs perdem tudo de novo. Lolou confirma e avisa que haverá a terceira vez, mas contada por ele em um outro texto que ainda vai escrever.
<> 
O Secretário Municipal de Saúde de Itapetininga nos procura na casa do Lolou.
– A batalha pela saúde integral dos cidadãos corre um grande risco. Recebi um oficio da Associação dos Médicos do Brasil, juntando um texto oficial do órgão do Governo Federal responsável pela certificação dos alimentos, informando que nenhuma pessoa física ou jurídica pode alterar essa certificação, muito menos uma prefeitura municipal. Lolou pergunta:
– Doutor Adelson, o que isso quer dizer na prática?
– Que implica em ilegalidade para produtos certificados dizer qual faz bem ou faz mal para a saúde das pessoas.
Cinthya entra na conversa:
– Isso significa que não se pode colocar novo rótulo nos produtos para afirmar, como o cigarro e a bebida alcoólica, que o uso rotineiro faz mal para o cidadão?
– Nem precisa ser no produto. Nós temos colocado propaganda junto a quem vende cachorro quente ou fast food que usa carne vermelha alertando sobre o consumo e o mal que faz à saúde. Pelo visto nem isso podemos fazer mais. O risco também é grande quando taxamos os locais onde se vende produtos enlatados.
Eu comento:
– A briga pelo Município Saudável chegou ao Governo Federal e seus órgãos “protetores” dos cidadãos e também irá, sem dúvida, para o Legislativo e para o Judiciário. O cerco está se apertando… Certo Cinthya?
– Enquanto os comparativos que a prefeitura faz mostrando os efeitos nos organismos das pessoas, enquanto as áreas de ciências da USP não demonstraram que isso é verdade, corre-se o risco de todo esse trabalho magnífico feito pelo governo e cidadão de Itapelinda ser posto abaixo pela Justiça.
Ficamos todos em silêncio. O programa de Saúde e tudo mais pode se acabar em nada.
<> 
Vou ler outro texto do Uth. Se ele perdeu tudo por três vezes na vida quem sabe tem alguma dica, algo, para não deixarmos morrer o programa do Município Saudável.
<> 
(Trigésimo quinto texto do Uth Ricchetti)
Agora vou escrever sobre meus filhos. Passagens de suas vidas na infância, na mocidade e até agora quando casados. São muitas saudades.
Angelo, com alguns meses de idade, em uma caixa de madeira embaixo de uma parreira de uvas, em frente de um viveiro de pássaros.
Um dia a Lucila foi trocar o colchão em que ele ficava o dia todo na caixa e encontrou uma grande aranha cabeluda. Foi um milagre! Ele estava ali e não foi picado. Seu anjo da guarda sempre o protegeu.
Andou com um ano e três meses de idade. Quem o ensinou foi minha cunhada freira. É a tia Guida, irmã da minha mulher.
Aos dois anos de idade, quando íamos embarcar para São Paulo, ele ficou no portão esperando o automóvel e desapareceu.
Muito aflito, procuramos pelos vizinhos e nada. Pensamos até em roubo. Fui à Delegacia de Policia. De lá, todas as cidades de perto ajudaram a procurá-lo.
Encontramos o menino, são e salvo, brincando na casa do senhor Amadeu Leonardi.
O tal Sr. Amadeu disse que segurou o Angelo para brincar conosco. Brincadeira de mau gosto. Por esse gesto levou um pito do Senhor Delegado.
Quando ele completou quatro anos encontrou o portão aberto e juntamente com irmão José Eduardo, de quase três anos, foram ver o rio que ficava uns cinco quarteirões de casa.
O portão era trancado a chave, mas aconteceu que a Lucila deixou aberto aquele dia.
Um carroceiro que passava por eles, foi uma curiosidade!
Quiseram andar de carroça e o homem levou os dois sem pensar no mal que estava fazendo.
Mas graças ao meu amigo Benedito Portes, Administrador do Matadouro, reconheceu os meninos e me avisou na Prefeitura.
Outro dia, o Angelo, sem saber de nada, pois era noite escura, ele me disse:
– Cuidado papai ai está uma aranha.
E havia mesmo.
Um dia, estando na sala brincando de correr com o José Eduardo, tropeçou na irmã Vera Maria, que era pequenina, derrubando-a. Ela desmaiou na hora. A Lucila muito aflita gritou:
– Matou!
O Angelo ficou traumatizado com essa palavra.
Não queria saber da irmã.
Só muitos anos depois ficou amigo dela.
Levei a menina debaixo de uma torneira e ela voltou a si.
Sempre bom filho, bom aluno. Tirava boas notas no Grupo e no Ginásio.
Bati muito nele quando as artes apareciam, hoje vejo que foi um erro, eu devia dar conselhos, mas era inexperiente.
Passou a meninice e a mocidade dando gosto a mim e a mãe Lucila.
Hoje está formado em Administração Pública, casado com a Maria Julia Fernandes. Tem dois filhos: um menino e uma menina. O menino é o Leon Francisco e a menina é a Amanda. Cria os filhinhos com amor e conselhos.
É o nosso esteio, agora na velhice. Que Deus o abençoe. É o primeiro filho dos cinco que tivemos. São os nossos tesouros.
O Angelo mora em Itapetininga com a família, cidade grande movimentada e de muito futuro.
<> 
Depois havia uma frase assim:
Fim do 2º Caderno. LCMR.
<> 
Parece que muitos dos fatos já foram abordados pelo bisavô Uth, mas ele repete, não sei por quê. Será que deseja marcar bem esses eventos?
<> 
(Trigésimo sexto texto e final do Uth Ricchetti)
O segundo filho, José Eduardo, nasceu no dia 13 de fevereiro de 1941. Parto natural. Era um menino magro. O tempo era de carnaval.
Não aceitou o leite materno.
Aos quatro meses teve uma disenteria. O leite que tomava vinha de umas cabras que tínhamos no quintal.
Uma delas estava doente e a portuguesa que tirava o leite não percebeu ou por burrice não falou nada para gente.
Aos cinco anos sofreu a crupe. Ficou muito mal, mas aguentou tudo. Continuava magro.
Era e é muito inteligente.
As reinações que fazia eram tantas e levava o Angelo com ele.
Quando fugiram de casa a ideia foi dele.
Não gostava de escuro e combinava com o Angelo para irem ao cinema por causa da companhia do irmão maior.
Por ser muito magro só tomava castigos e o Angelo as surras.
Uma vez ele apanhou porque levou o irmão menor (o Antonio) para nadar numa lagoa suja formada pelas águas das chuvas.
Sendo eu sócio da piscina fiquei muito bravo e bati nele na rua mesmo.
Era trabalhador.
Gostava de passar bem. Não comia arroz e feijão.
Arrumou um carrinho de mão e saia pelas ruas procurando ossos e ferro velho. Vendia tudo e estava sempre com dinheiro para comprar as coisas que tanto gostava de comer.
Aos treze anos sofreu um desastre sério.
Indo comprar verduras na casa que ficava em frente da nossa casa, o cachorro o atacou e quase o matou. Apareceu cheio de sangue. No pescoço havia uma grande dentada.
Outro desastre.
Este foi com a bicicleta.
Um colega do ginásio tirou um parafuso da bicicleta e ele não sabendo disso saiu a pedalar.
Resultado foi de encontro com um muro e chegou desmaiado nos braços de uma vizinha.
Nunca repetiu um ano, nem no Grupo nem no Ginásio e se formou contador.
Casou-se aos dezenove anos. Tem cinco filhos: Estela, casada, com três filhos, José Eduardo Junior, Paulo Rogério, Lucimara e Márcia Andréia.
Ele é vendedor porque gosta desse ramo.
Vera Maria, terceiro dos filhos, a única mulher dos cinco filhos.
Era uma menina viçosa, loira, olhos verdes.
Aos sete meses, quase morreu tomada de forte gastroenterite.
Mudou tanto que quando tornou a ter saúde ficou careca. Os cabelos louros mudaram para pretos escuros e a pele ficou morena clara, os olhos continuaram verdes.
Quem salvou minha filha foi Dona Nena Paraíso.
Ela amamentava a criança de três em três horas.
A Lucila não podia dar os seios porque estava grávida de quatro meses do nosso quarto filho.
Comprei uma cabra para ajudar na amamentação.
Depois do que passou, ela cresceu forte e tomava parte em todas as brincadeiras dos irmãos (Angelo e José Eduardo).
Cursou o grupo Escolar Dr. Augusto Reis, (aqui em São Manuel). Nunca repetiu um ano.
Indo para São Paulo, com toda a família, ela foi morar na casa de Manuel de Campos Mello (irmão da Lucila).
Ficou com o tio porque fui para Jarinú esperando sair o emprego na Prefeitura de São Paulo.
Dias depois o Angelo trouxe a menina para Jarinú. A Vera Maria gostava do lugar. Andava a cavalo e arranjou amigos.
Entre as amigas havia uma de nome Mingas (Domingas). Era uma fazendeira. O café da manhã na fazenda era peixe assado e polenta e a Vera Maria gostava disso.
Em Jarinu não havia Ginásio e ela queria estudar por isso mudamos para Jundiaí. Lá conheci o diretor do Ginásio e ficamos amigos. Em Jundiaí, Vera Maria completou o 1º e o 2º anos ginasial.
Estamos outra vez em São Paulo (Capital).
<> 
(CONTINUA)