O Jornal Cultural ROL crescendo sempre em colaboradores de escol: Adolfo Arvelos Vieira Neto!

O jornalista, escritor e ‘cordelista’ Arvelos Vieira é membro da Academia Cruzeirense de Letras e Artes – ACLA

 

A Família ROLiana não para de crescer! E, sempre, unindo a quantidade à qualidade!

Depois de ter algumas crônicas publicadas como leitor-colaborador, na seção ‘O leitor participa’, Arvelos Vieira, agora, resolveu aceitar o reiterado convite do editor Sergio Diniz da Costa e, definitivamente, ingressou no selecionadíssimo Quadro de Colunistas do ROL.

ADOLFO ARVELOS VIEIRA NETO, natural de Passa Quatro (MG), é jornalista, escritor e “cordelista” (dedicando-se à criação de poemas e acrósticos). É proprietário do JORNAL REGIONAL, o único periódico impresso a circular por mais de 20 anos nas regiões do Vale do Paraíba paulista (19 municípios) e Sul de Minas (35 municípios), atualmente transformando-se em divulgação eletrônica.

É integrante da Academia Cruzeirense de Letras e Artes – ACLA e  um ferrenho defensor da preservação da memória e cultura da cidade e região e, também, pelo retorno do Trem Turístico em Cruzeiro/SP, já tendo escrito vários artigos a respeito, além de ser um participante entusiasta e ativo pela preservação das nossas origens ferroviária e o seu ressurgimento.

Inaugurando sua colaboração como colunista, Arvelos Vieira presenteia os leitores do ROL com a crônica ‘Somos reflexo da vida que escolhemos’:

 

Somos reflexos da vida que escolhemos

Eu trabalhei no período de 1980 a 1986 numa empresa multinacional de nome ALCAN – Alumínio Canadense do Brasil S/A, na cidade mineira de Ouro Preto. Ela tinha filiais esparramadas em vários continentes. Respeitava e valorizava os seus funcionários, dando-nos o prazer de vestir sua camisa.

Certa vez, estávamos, minha esposa e eu, na Cooperativa de Abastecimento da empresa fazendo nossas compras mensais (naquele tempo era assim, hoje com essa política de promoções semanais nos supermercados, as compras passaram a ser quase que diárias), era um sábado ensolarado, e dia de compra era dia de motivação, pensando logo mais na cervejinha gelada e na carne no braseiro, coisas de sábado.

Ao passar nossas compras no caixa havia um funcionário de “baixa renda”, passando as suas. Por último ele apanhou um saco de papel imenso, abarrotado de milho a granel, tendo as suas laterais do fundo molhadas. Ao levantá-lo do carrinho para ser colocar sobre o balcão, esse fundo rasgou e tudo que estava dentro esparramou pelo chão; ou seja, o milho e…, os produtos congelados como danone, baicon, linguiça presunto queijo, e outros, acobertados pelos milhos..

Mediante aquela situação aflitiva, todos ao redor ficaram embasbacados, enquanto o camarada foi tomado por um choro convulsivo, seguido pela sua esposa,na frente dos filhos, diante daquela situação vexatória.

Imediatamente ele foi conduzido à sala da gerência da Cooperativa com sua família restabelecendo a normalidade.

O comentário viralizou não só fábrica, como em todo bairro vez que ele era praticamente da Alcan, contendo clubes para funcionários e elite da empresa, hotelaria para os solteiros e casas com telefone para os casados, tudo bancado pela empresa. Podemos afirmar que éramos uma imensa família.

Na segunda feira esse funcionário foi chamado no RH – Recursos Humanos da empresa, passando por acompanhamento psicólogo, sendo mantido no cargo, ou seja, Na hora que ele mais precisou foi-lhe estendida a mão.Ele errou? Sim, mas não era marginal, era um bom profissional e por isso teve a sua chance A política da empresa sempre foi voltada para a valorização e apoio aos seus funcionários.

Eu mesmo fui um desses beneficiados. Certa vez eu estava afundado em dívidas e me afundando cada vez, como num atoleiro, tendo perdido a paz, Meu gerente, de nome Vito Pascallichio, um paulistano, gente finíssima, percebendo que eu não estava bem, me chamou à sua sala e, após muita insistência, fez com que eu me abrisse com ele. Imediatamente ele ligou para a Cooperativa de Crédito da empresa, narrou minha situação e pediu providências.

No ato compareci a Cooperativa, fizeram meu cadastro e horas mais tarde eu saí com um empréstimo com mensalidades e juros generosos, que colocou minha situação em ordem. Coisas que a gente não esquece. Como gostaria de me reencontrar com esse amigo/gerente.

Em outra ocasião, dois funcionários tinham o hábito de levar marmita para o almoço dentro da empresa, enquanto os demais faziam suas refeições no restaurante interno que oferecia refeições fartas, variadas e saborosas à preço de “banana”. Àquela situação passou a chamar a atenção dos colegas levando o RH a chamar os dois para saber o motivo deles não fazerem uso do restaurante. Após muita insistência, eles disseram que levavam de casa “aquilo” que suas esposas e filhos comiam, muitas vezes arroz e ovo. Disseram que não se sentiriam bem, comer do bom e do melhor estando a família privada daquela refeição. E o que fez a empresa? Imediatamente forneceu uma cesta básica generosa para cada um deles, contendo inclusive carnes variadas e aumentou o salário de ambos com o compromisso deles passariam a fazer suas refeições no restaurante e não mais levariam marmitas para a empresa. E assim aconteceu.

Não poderia deixar de narrar um fato que se tornou inesquecível para mim, quando adolescente. Meu generoso e saudoso pai era Chefe da Estação de Cruzeiro. Certa noite em casam assistindo televisão conosco, ele foi chamado às pressas por um funcionário da ferrovia, dizendo que um colega, “guarda chaves” (aquele que engata e desengata vagões e muda o trem de linha através de chaves) estava trabalhando completamente bêbado, óbvio, correndo grande risco de vida. Nós morávamos em frente a estação, separados por uma rua movimentada a Engenheiro Antônio Penido e o galpão da ferrovia. Imediatamente o papai se vestiu e foi para o pátio da estação, determinando que esse funcionário fosse para sua residência, sendo escoltado por outro funcionário e ele próprio, o meu pai, assumiu os serviços da manobra, retornando ao nosso lar no início da madrugada. No dia seguinte esse funcionário se apresentou na agência da estação todo acabrunhado, esperando a maior das punições. Papai deu-lhe um sermão, mas foi incapaz de comunicá-lo aos seus superiores, em Belo Horizonte, o seu dever, pois sabia que a punição poderia ser a sua exoneração do cargo. A noite esse funcionário reassumiu suas funções e nunca mais causou esse tipo de problema. Saudades do já saudoso “Zé Pescoço”.

E por que me reporto a tudo a isso?

Para dizer que não faz muito tempo um funcionário de um conhecido e movimentado supermercado aqui da cidade de Cruzeiro, do setor do açougue, foi demitido por que trocou mercadoria de um cliente. O mais revoltante e covarde, é que ele “não foi demitido”, ele foi INTIMADO a pedir demissão, sob pena de sair algemado de dentro do supermercado, à frente de todos, pois a polícia seria acionada. Não foi lhe dada nenhuma chance. Ele foi condenado brutalmente por tão pouco. Faltou sensibilidade, generosidade e humanidade a esse gerente, que provou que seus funcionários são descartáveis e sem nenhum valor. A esse gerente, pela sua atitude estúpida, interessa-lhe apenas a sua abdicação e servilismo aos seus superiores.

Isso é coisa da mentalidade brasileira. Quando o infeliz está prestes a cair, difícil alguém estender-lhe a mão, para pisá-la forçando sua queda mais rápida isso acontece com frequência. É por isso que esse país está o caos que vivemos; país da corrupção, da inveja, da safadeza, da roubalheira, do “levar vantagem” em tudo. A empresa a que me referi, embora instalada no Brasil, era canadense, ou seja, mentalidade de primeiro mundo.

Se procurássemos enxergar os “faltosos” com olhos generosos, buscando entender o motivo do feito indesejável, tratando-os com dignidade, respeito e apoio psicológico no momento crítico, muitos não teriam cometido suicídio, ou afundado nas drogas, na violência e na lama.

Muitas prostitutas do passado que se amarguraram na vida difícil (“Vida fácil”, para quem nunca a viveu!), assim se tornaram, não porque queriam, mas porque foram escorraçadas por suas próprias famílias, jogadas na rua como se lixo fossem.

Em qualquer situação difícil, o apoio é de fundamental importância. Antes de apontar, criticar ou escorraçar alguém, devemos procurar entende-lo. Agindo assim poderemos estar salvando muita gente de praticar atos infortúnios, ademais, como é gostoso fazer o bem. Deus ilumina nossos espíritos e nos permite uma sensação impressionante de paz reinante.

Não devemos esquecer que aportamos nessa vida completamente nus e chorando muito, talvez já prevendo o que passaremos durante toda a nossa caminhada, umas mais longas, outras breves, e por mais que consigamos amealhar, retornamos ao planetário somente com a roupa do corpo, deixando para despedidas finais, uma quantidade de pessoas pesarosas proporcional às nossas práticas. E assim podemos dizer que SOMOS REFLEXO DA VIDA QUE ESCOLHEMOS. Apenas isso!

Portanto SER GENEROSO, além de beneficiar ALGUÉM, para a nossa caminhada só faz BEM, e é PROVEITOSO, vez que são essas as preciosidades que interessam para o nosso PÓS VIDA!

 

 

 




No Quadro de Colunistas do ROL, a poesia e a arte de Nilza Murakawa

Artista plástica, poetisa e amante da fotografia, Nilza Murakawa é a mais nova colunista do ROL!

A ‘Família ROLiana’ cresce cada vez mais! E as mulheres, no Jornal Cultural ROL, ocupam um espaço onde a sensibilidade é sempre muito bem-vinda!

Nilza Murakawa é paulistana, formada em Letras pela FMU, professora de Língua Portuguesa e Inglesa, artista plástica, poetisa e amante da fotografia.

Faz parte de grupos poéticos dos mais diversos e é autora do livro “Pássaros na Garganta” – editora Somar. Valendo-se de temas atuais variados e de elementos do cotidiano, a versátil escritora expõe toda sua sensibilidade e nos empresta novos olhares através da sua arte.

Seus versos são ouvidos em rádios e lidos em muitas antologias brasileiras, revistas e jornais.

Em 2013, recebeu dois prêmios com os poemas “Acinte” e “Ao teu gosto” no Concurso Celebração 100 anos do “Poetinha”, homenagem a Vinícius de Moraes.  E hoje, suas pinturas (óleo sobre tela) estão espalhadas em vários estados brasileiros, no Canadá e nos  Estados Unidos.

Nilza Murakawa já era colaboradora do ROL, mas, agora, ingressa definitivamente na Família ROLiana, como colunista. Seja muito bem-vinda, poetíssima!

E, como colunista, Nilza inaugura sua colaboração com o poema “Um sopro quente’

Óleo sobre tela ‘Anjo’, de Nilza Murakawa

 

UM SOPRO QUENTE 

Com minhas mãos mornas
Mansas
Quase maternas
Afago-lhe o rosto
Acolho-a sob minhas asas
E canto…

Enquanto você dorme
Com cuidado, colho algumas cores das flores
(daquelas que você cultiva em seu jardim)
Matizo mais um pouco seus sonhos profusos
Só para que acorde alegre
E faça bons pousos

Na noite passada
Era meu sopro quente
Secando sua lágrima…

 

Nilza Murakawa – nilzamurakawa@outlook.com

 

 




No Time de Colunistas do ROL, mais um grande colaborador: Ivan Vagner Marcon!

Um intelectual multifacetado, Ivan Marcon abrilhanta, ainda mais, o Time de Colunistas do ROL

Ivan Marcon nasceu em 1971 na cidade de Tatuí. É graduado em Pedagogia e Letras e realiza pesquisas em Linguística e Literatura, além de lecionar, escrever e traduzir. Filiado à SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) tem poemas, contos e crônicas publicados em uma dezena de antologias (virtuais e impressas) no Brasil, Portugal e Espanha.

No gênero poesia, publicou o livro ‘Em alguma parte inteiro (Scortecci, 2013) e em 2018 foi eleito Conselheiro de Cultura da cidade de Porto Feliz/SP, pelo Decreto 7.856, de 14 de maio de 2018.

Foi o vencedor de diversas premiações em concursos literários promovidos por universidades, prefeituras e fundações culturais, dentre as quais se destacam o X e XI Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho (Cerquilho/SP) – 2010 e 2011, o Mapa Cultural Paulista – categoria “conto” (São Paulo/SP) – 2014 e do I CATARSE: Festival de Cenas Curtas– categoria “melhor texto teatral” (Monte Mor/SP) – 2018.

Vencedor da categoria “MELHOR ESCRITOR DE PORTO FELIZ”, na enquete ‘Melhores do Ano 2017 em Porto Feliz,  organizado pelo Jornal Cultural Rol, Ivan Marcon foi, também, homenageado no ano de 2018 com a Medalha Patrono das Letras e das Ciências, o Diploma de Mérito Cultural e Social e o Prêmio Caneta de Ouro pela FEBACLA- Federação Brasileira de Acadêmicos das Ciências e Letras (Niterói/RJ).

Ivan Marcon estreia no ROL com a crônica ‘Memórias de Menino‘, finalista Estadual do Mapa Cultural Paulista 2011/2012.

MEMÓRIAS DE MENINO

Foto por Roberto Prestes de Souza – Porto Feliz

Minha noção de tempo não aconteceu em um aniversário como toda criança. Nem me lembro da idade ou dos anos que se passaram até a data… Oitenta e dois ou oitenta e três? Não sei ao certo. Minhas lembranças não conseguem cuidar disso. O que lembro é que toda tarde após as aulas eu caminhava até o bebedouro de cavalos na avenida central de minha cidade. Era na verdade uma grande bacia de cimento que para mim definia o caminho de ida e vinda dos carros e charretes que por ali passavam.

Ficava ali de pé frente ao bebedouro que me ficava na altura do peito. Às vezes subia e molhava os pés e ficava olhando as ondas que se formavam no indo e vindo.

Era isso. Simples assim.

Um dia não o encontrei e descobri a ausência… O tempo das coisas. O início, o meio e o fim de tudo.

Na verdade foi a primeira medida de tempo que participei. Sabia de contagens dos números que chegavam ao fim nas aulas de matemática na escola. Sabia dos parentes já idosos que também tinham um fim. Dos colegas, poucos, que mudavam de cidade, e eu acreditava que um dia voltaria a encontrar, mas não conseguia identificar nisso tudo a especialidade do bebedouro da avenida central.

Tenho certeza que neste dia perdi mais do que pessoas ou objetos. Me perdi. Perdi a infância. Ganhei data. Idade. Estava no mundo há 10 anos. Cresci.

Vários outros 10 se passaram e outros espaços sumiram também.  Casas, prédios, cancelas, os trens de passageiros com seus apitos avisando partidas ou chegadas. Imagens que passaram por minha vida e que não pude contar em números ou em outra linguagem matemática.

Hoje tudo é memória, lembrança, história de tio. Vestígios de uma eternidade perdida. Memórias que não existem mais ou que apenas deixaram pistas de sua existência. Cenários que convalescem e hoje estão com seus dias contados.

Continuo observando estes espaços e as transformações de minha cidade sabendo que na verdade é isso que me credencia a ver o mundo sob um novo ângulo, pois foi a partir do sumiço do bebedouro que passei a olhar tudo com mais carinho, com mais cuidado, mais amor e tolerância… até que um dia se conte também o meu tempo.