A arquitetura e o tempo

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘A arquitetura e o tempo’

Marcelo Paiva Pereira
Marcelo Paiva Pereira
A arquitetura e o tempo
A arquitetura e o tempo
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Desde as primeiras civilizações temos transformado os espaços onde vivemos. Do surgimento de Jericó (7.000 a.C. ou mais) até os dias atuais criamos, construímos, destruímos e reconstruímos movidos pelas necessidades de sobrevivência ou por maiores interesses (conquistas de territórios e de civilizações, por exemplo). Seguem abaixo alguns comentários.

Diversas foram as civilizações da antiguidade, das quais várias obras chegaram ao presente: gregos, romanos e outras do ocidente, bem como assírios, babilônios, caldeus, cartagineses, egípcios, fenícios, hebreus, lídios, persas e sumérios do mundo oriental deixaram a escrita, a moeda, as pirâmides e a esfinge de Gizé, a geometria, a filosofia, os templos gregos e romanos, os aquedutos e o direito romano, o Pentateuco, o Antigo e o Novo Testamento, além de muitas outras.

Outras civilizações orientais, muitas também procedentes de famílias ou clãs, revezaram o controle dos países em que se fixaram (Camboja, China, Coréia, Japão e outros) e, assim como aqui, também deixaram várias obras, das quais são exemplos o papel-moeda, a pólvora, o canhão, a grande muralha, o Budismo, as artes marciais e muitas outras.

Na arquitetura e urbanismo diversas obras e cidades surgiram ao longo do tempo e a ele tem resistido com maior ou menor conservação. Várias urbes gregas, romanas, de outros países e outras obras, surgidas no curso dos períodos da história, também são monumentos ou documentos que trazem o passado até nós e nos levam de volta a ele.

Das portas, janelas, átrios, jardins, paredes, muros, colunas, pilares, pilastras e outros componentes entramos em espaços deixados para trás, ao mesmo tempo em que vem até nós na configuração dada pela atualização,  conservação ou modificação de cada obra. Ciências, costumes, crenças, mitos, política e religião de épocas remotas repercutem da razão da existência de cada e na dimensão entre tempo e espaço, pelas quais aludidas obras devem ser em relação ao tempo e estar em relação ao espaço.

Ser e estar numa delas podem significar o resgate psicológico ou afetivo de uma pessoa, em que ela faz uma viagem no tempo e resgata a própria origem (ser) enquanto se identificar com o espaço (estar). É uma relação personalíssima e espiritual, pela qual se incorpora no ambiente e o vivencia como se retroagisse aos primórdios daquela obra ou da própria origem genealógica.

Conclusivamente, a arquitetura e o tempo se relacionam na existência de cada obra, em que cada uma poderá ser transformada pela variação do tempo no espaço e a alteração deste no tempo, enquanto a cultura da sociedade de cada lugar em cada época requalifica os usos ou finalidades delas. Deixam de ser o que foram, sob outra configuração. A razão e a dimensão que as transformam para o que são (ou foram) e estão (ou estiveram), entretanto, não desaparecem. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira

      (arquiteto e urbanista)

Contatos com o autor

Voltar: https://www.jornalrol.com.br

Facebook: https://facebook.com/JCulturalRol/




Marcelo Paiva Pereira: 'A construção da cidade: o mito fundador'

Marcelo Augusto Paiva Pereira

A CONSTRUÇÃO DA CIDADE: O MITO FUNDADOR

Desde os primórdios da Idade Antiga, as cidades são construídas para satisfazer as necessidades e interesses das sociedades. Os fundamentos ontológicos das cidades são a natureza (ou origem), o tempo, o espaço, a condição humana e as regras instituídas, as quais resultam da identidade e da complexidade das várias culturas que as ergueram.

As concepções metafísicas (essência das coisas, como são os conceitos, noções, crenças, afetividades, imagens e expectativas) são a identidade histórica de cada cultura e servem de suporte para conhecer e compreender o passado. Neste contexto, as concepções de espaço dependem do conceito de mito – crença na existência do surreal – para justificar as cidades.

O mito era elemento psicológico e cultural dos povos antigos. Na Idade Antiga, mitos e ideologias eram fontes de normas de ordenação do espaço na arquitetura e no urbanismo. À cidade ou à construção de qualquer edifício atribuíam o “status” de ato ritual. Edificar era ato de poder e os ritos de implantação do espaço eram ritos de soberania.

Os ritos com os quais se erguiam as cidades e edifícios eram cumpridos por reis e sacerdotes em obediência a modelos ancestrais ou celestiais e conectavam o mundo material das cidades com as concepções metafísicas (transcendentes). Dentre os modelos celestiais havia o princípio do curso do sol, que definiu as primeiras bases do espaço regrado e as normas específicas de distribuição do espaço (dividiam o espaço e definiam a hierarquia social). Palácios e templos eram fontes de produção normativa e das realizações urbanas.

Nas sociedades gregas a esfera do sagrado – templos e altares – definia o espaço na delimitação do núcleo simbólico e o separava da área de habitação, comércio, serviços e dos limites urbanos. Em razão da esfera do sagrado organizar somente o núcleo simbólico, as outras áreas urbanas eram mal distribuídas, sem ordem ou racionalidade na organização espacial.

No século V a.C., o arquiteto Hipódamo de Mileto redesenhou o Pireu (porto de Atenas) sob plano ortogonal com quadras ordenadas em forma de grade, que em seguida o utilizou para reformar as cidades de Mileto, Priene e Olinto (estas se tornaram modelos urbanos hipodâmicos).

Hipódamo entendia o projeto urbano como fonte de uma ordem social racional. Nele influiu a ideologia da isonomia (simetria e proporcionalidade), ideal geométrico da igualdade que, institucionalizado, legitimou a democracia clássica e mensurou a ordem social. As escolas dele e de Hipócrates (“pai” da medicina) acolhiam as propriedades do corpo, a ordem do espaço e a circulação dos elementos. Com estes conceitos Hipódamo entendia a cidade ordenada como o lugar do corpo sadio.

Da atuação de Hipódamo resultou uma nova teoria urbanística, pela qual o plano urbano é desenhado em medidas de proporção entre elas (isonomia geométrica), ao encontro da nova ideologia da cidade (isonomia social e institucional), que Alexandre Magno a difundiu.

Na sociedade romana o mito da fundação de Roma – rito fundador – era a norma pela qual o rei (“rex”) realizava com linhas retas o traçado do território nacional (reino do sagrado) e o separavam do estrangeiro (reino do profano).

O centro da cidade era definido por duas retas ortogonais, em que uma fixava a orientação norte-sul (“cardus”), enquanto a outra fixava a orientação leste-oeste (“decumanus”). No cruzamento de ambas estava o “umbilicus” e sob ele estava o “mundus”, câmara subterrânea na qual enterravam-se oferendas em favor dos deuses. Os limites das cidades chamavam-se “promerius”. O rito fundador era imitado para definir o centro urbano, a distribuição das quadras e ruas e posicionar as habitações (“domus italica”).

As habitações romanas – “domus italica” – eram um modelo de origem etrusca, constituíam-se do “impluvium” (repositório das águas pluviais), o “peristilo” (espaço aberto contornado por colunas); o “atrium” (corredores circundantes do “impluvium”) e a “villa” (conjunto de células habitacionais ao redor do “atrium”e do “impluvium”). O desenho arquitetônico era introspectivo (voltado para o centro das habitações), recebia água e luz naturais (fontes da vida) e as distribuía pelos espaços de circulação e de moradia.

Séculos se passaram desde a Idade Antiga até a atualidade. Neste período, em muitas foram as descobertas (como as novas rotas comerciais), muitas inovações artísticas, científicas e muitas cidades foram erguidas, principalmente no novo mundo que surgia, a América. Neste continente encontra-se nosso país e Brasília (capital federal), que também tem o próprio mito de fundação.

Em relação à Brasília, o mito de fundação é a visão profética de Dom Bosco, padroeiro da cidade, que previu a construção da capital federal no planalto central do Brasil. Sem óbice deste mito, a legislação pátria previa a construção da capital no centro do país para protege-la de invasões estrangeiras, desenvolver e integrar todas as regiões, inclusive as mais longínquas.

Foi na administração de Juscelino Kubitschek – 1956 a 1961 – que a expectativa se realizou, na forma do plano piloto desenhado por Lúcio Costa e preenchido com os edifícios desenhados por Oscar Niemeyer. Ambos pertenceram à escola modernista, que veio ao Brasil em fevereiro de1922 com a Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo.

O modernismo reorganizou o espaço para suprir as necessidades oriundas da Revolução Industrial e do capitalismo. Diante da nova sociedade que surgia, os objetivos do planejamento urbano foram a moradia, o trabalho, a circulação e o lazer. Pretendia-se por um novo estilo de vida, igualitária, que modificou por inteiro o tecido urbano e introduziu novos (conceitos de) edifícios (por exemplo, o uso do aço e, posteriormente, do concreto).

O projeto e a construção de Brasília seguiram esses objetivos, princípios informadores do modernismo na primeira metade do século XX, e prometia ser o símbolo da ordem, progresso e desenvolvimento os quais o país estava conhecendo. Assim como nas sociedades da Idade Antiga, no Brasil de meados do século XX havia as crenças e expectativas de surgir uma nação forte e soberana.

CONCLUSÃO

Na Idade Antiga as cidades eram construídas conforme os mitos e ideologias que compunham modelos ancestrais ou celestiais, versões apriorísticas da tipologia urbana a ser seguida pelo rei ou sacerdote. Gregos e romanos pensaram a construção da cidade sob o modelo ancestral, mas os gregos as redesenharam com suporte na isonomia geométrica, enquanto os romanos as desenharam com suporte nas linhas que demarcavam os limites da cidade (“promerius”), do centro (“umbilicus” e “mundus”) e das habitações (“domus italica”).

Na Idade Contemporânea, Brasília surgiu como a realização de uma profecia em concomitância aos interesses políticos e econômicos de desenvolver o país à luz do modernismo, que em 1922 se instalou no Brasil e atendeu aos desejos de modificar os projetos urbanos e os costumes sociais, com vistas à uma nova ordem social e ao progresso do país.

Em suma, a construção da cidade tem origem nos primórdios da Idade Antiga e desde aquele período havia regras de elaboração que emanavam dos poderes de soberania ou da ordem social, com o objetivo de criar um Estado forte, rico, desenvolvido e soberano. A diferença para a época atual está na justificação: enquanto naquele tempo eram os mitos e ritos suas bases, atualmente são os interesses econômicos, sociais e políticos. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira.

(o autor é arquiteto e urbanista)

FONTES DE PESQUISA

https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31509/000289093.pdf?sequence=1. Acessado aos 23.06.2016.

http://docplayer.com.br/12212327-Arquitetura-modernista-e-a-transformacao-do-espaco-urbano-uma-reflexao-sobre-a-construcao-de-brasilia-e-suas-contradicoes.html. Acessado aos 27.06.2016.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3damo_de_Mileto. Acessado aos 27.06.2016.

 

“SITE” DA IMAGEM

https://pt.slideshare.net/AngySilva/roman-houses-131954442. Acessado aos 24.06.2019.




Marcelo Paiva Pereira: 'O tripé da arquitetura e urbanismo'

Marcelo Augusto Paiva Pereira

Arquitetura e Urbanismo: um tripé essencial

 

A arquitetura e urbanismo é uma corrente muito complexa do conhecimento, que envolve muitas disciplinas e ramos científicos, para elaborar o arcabouço de informações e conhecimento necessários ao estudo do espaço, a elaboração do desenho, a definição do projeto e a realização do referido “in concreto”.

Sem óbice desse amálgama de conhecimentos, a arquitetura e urbanismo possui um tripé sem o qual nenhuma disciplina, ramo científico, informação ou fonte de pesquisa seria oportuna ou conveniente.

O presente texto tratará, ainda que lacônica e superficialmente, o tripé sobre o qual assentam a arquitetura e urbanismo, necessário ao exercício das ideias postas no papel sob as escalas de projetos e realizadas a partir da implantação “in concreto”.

A arquitetura e urbanismo possui sua base de estudo, conhecimento científico, técnico e artístico no tripé formado pelo espaço, conforto e estilo (ou corrente artística). São estas as elementares, com as quais as obras são pensadas, desenhadas, dimensionadas, projetadas e realizadas.

As três elementares são definidas no projeto (“in abstrato”) e realizadas a partir da implantação (“in concreto”) até a ocupação da obra pelo(s) usuário(s). Delas, o conforto é a elementar subjetiva porque atinge a pessoa no entendimento e expectativa de conforto (ou bem-estar), enquanto as outras são elementares objetivas, porque atingem o desenho no dimensionamento, projeto e visual estético.

 

O conforto, entretanto, é muito complexo porque constitui-se de cinco componentes, todos de natureza objetiva:

  1. Ventilação;
  2. Iluminação;
  3. Temperatura;
  4. Acústica;
  5. Ergonomia;

Na arquitetura as três elementares são mais evidentes porque se reportam a desenhos pensados na escala humana, como são as casas, sobrados, salões, galpões e os edifícios residenciais e comerciais.

No urbanismo as três elementares são menos evidentes porque se reportam a desenhos pensados na escala urbana, maior do que a humana, como são os bairros, as vilas e cidades.

O espaço é examinado e distribuído em razão da destinação dada a ele no “croquis” e posteriormente no projeto, desenho final em que foi totalmente definido e dimensionado conforme a escala atribuída (humana ou urbana).

O conforto é o resultado do exame do espaço desenhado (projetado) em relação à ventilação, iluminação, temperatura, acústica e ergonomia. A mensuração do conforto depende do espaço desenhado (arquitetônico ou urbanístico) e da escala (humana ou urbana), varia em razão de ser privado (fechado) ou público (aberto) e, quando o projeto é realizado (“in concreto”), resulta das sensações dos usuários, habitantes ou visitantes.

A ventilação, iluminação e temperatura na arquitetura examinam os ambientes em razão das aberturas (janelas e portas) e vedações (paredes, forros e telhados), as quais dão causa às correntes de ar e à incidência de luz natural e calor, com vistas ao conforto dos usuários.

No urbanismo examinam a destinação de cada quadra ou setor do projeto urbanístico (fim residencial, comercial, misto, institucional, lazer, industrial, etc) em relação à geografia do lugar (acidentes geográficos, ventos dominantes, insolação, umidade do ar, etc), com vistas ao conforto dos habitantes e visitantes.

A acústica, na arquitetura, examina os ambientes em razão da absorção, propagação, ressonância e reverberação das fontes internas e externas de sons e ruídos, e mensura (quantifica) os limites máximos em cada ambiente, com vistas ao conforto dos usuários.

No urbanismo examina a destinação de cada quadra ou setor do projeto urbanístico em relação às fontes de sons e ruídos na urbe e mensura os limites máximos em cada setor com vistas ao conforto dos habitantes e visitantes.

A ergonomia é a técnica de dimensionar os equipamentos de uso privado ou público para o melhor aproveitamento do espaço e ao conforto das pessoas. Na arquitetura é aplicada no dimensionamento dos espaços e do mobiliário a eles inerentes, com vistas ao conforto mínimo aos usuários.

No urbanismo é aplicada na acessibilidade das pessoas em geral, tipologia dos pisos das calçadas, praças e jardins (evita a sensação de tridimensionalidade aos pedestres) e aos equipamentos públicos em geral (bancos e mesas das praças, brinquedos para as crianças e equipamentos para exercícios físicos, por exemplo), com vistas ao conforto – ainda que mínimo – dos habitantes e visitantes.

O estilo é a visão estética dada ao projeto e depende da corrente artística (ou arquitetônica) acolhida (modernismo ou pós-modernismo, por exemplo). É o arremate final dado ao projeto, que neste se apresenta na forma das elevações (ou fachadas) e das maquetes (eletrônicas ou materiais (3D)).

No projeto arquitetônico envolve a casa, o sobrado, o salão, o galpão, o edifício residencial e comercial e os atinge por inteiro, define como serão as portas, janelas, telhados, beirais, platibandas, divisórias, distribuição e funcionalidade dos ambientes e os materiais de acabamento.

No projeto urbanístico envolve as medidas e formas das quadras, a destinação e a distribuição de cada, as ruas e avenidas, a distribuição dos equipamentos urbanos, a visão estética e a funcionalidade dos setores urbanos e de todo o projeto.

O conjunto formado pelas três elementares estudadas, examinadas e definidas pelo arquiteto e urbanista no projeto (arquitetônico ou urbanístico) aperfeiçoa-se e constitui o partido arquitetônico, que será realizado “in concreto” a partir da implantação.

Conclusão

O conjunto das três mencionadas elementares se aperfeiçoa no partido arquitetônico por ser nele que preencherão todas as condições para ser executado “in concreto”. Referido partido se define na forma do projeto (“in abstrato”) e se realiza a partir da implantação (“in concreto”), sempre com a finalidade de oferecer melhor qualidade de vida aos usuários, habitantes e visitantes.

Junto às elementares que formam mencionado tripé, estão outras disciplinas e ramos científicos, informações e fontes de pesquisas que servirão para formar o arcabouço de conhecimento oportuno e conveniente para elaborar o desenho, definir o projeto e realiza-lo “in concreto”.

Mas, por ser a elementar subjetiva, o conforto sempre resultará das sensações tidas pelas pessoas que usarem, habitarem ou visitarem os espaços que foram realizados.

Em suma, o tripé da arquitetura e urbanismo sempre dependerá de outros ramos do conhecimento e da ciência, e também da interação dos usuários, habitantes e visitantes com as obras realizadas para que cumpram a finalidade de melhorar a qualidade de vida (conforto ou bem-estar) a eles. Nada a mais.

 

Marcelo Augusto Paiva Pereira
paiva-pereira@bol.com.br
O autor é arquiteto e urbanista




Maior concurso universitário de urbanismo do Brasil está com inscrições abertas

Urban21, parceria da revista PROJETOdesign e da Alphaville Urbanismo, elege os melhores desenhos urbanos feitos por equipes de acadêmicos

 

Estão abertas até o dia 8 de julho as inscrições para o Urban21, maior concurso universitário de urbanismo do país. A competição é uma parceria entre a revista PROJETOdesign e a Alphaville Urbanismo e visa incentivar os acadêmicos a desenvolverem projetos sustentáveis para áreas urbanas reais com no mínimo 300 mil habitantes. Esses projetos devem abranger uma área entre 10 e 25 hectares.

 

Podem participar acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo de qualquer região do país. O primeiro lugar leva um prêmio de R$ 10 mil e participa de um workshop na sede da Alphaville Urbanismo. Já para o segundo lugar, o prêmio é de R$ 6 mil. Os professores orientadores das duas equipes vencedoras ganham um Ipad Mini.

Em 2015, os grandes campeões foram os estudantes do Centro Universitário Univates, de Lajeado (R$). Eles elaboraram um projeto para o Baixo 4º Distrito, uma região de 24 hectares em Porto Alegre. A proposta urbanística previa ruas com áreas verdes ampliadas e espaços onde se priorizava a circulação de pedestres.

As inscrições podem ser feitos por meio do link www.urban21.org 

 




Artigo de Marcelo Paiva Pereira: 'Arquitetura orgânica: a fluidez do desenho'

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘ARQUITETURA ORGÂNICA: A FLUIDEZ DO DESENHO’

A arquitetura orgânica como a conhecemos foi desenvolvida pelo arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright (1867–1959), que criou o arcabouço principiológico dessa vertente arquitetônica. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, as características da referida, como abaixo segue.

Do conceito de orgânico

A palavra “orgânico” é utilizada há muito tempo na arquitetura. Michelangelo, no século XV, afirmou que não se compreenderá a arquitetura quem não conhecer profundamente a anatomia humana. Giorgio Vasari, em obra de 1568, fazia menção expressa da arquitetura orgânica, que para ele deveria aparecer como um corpo humano para comunicar os essenciais valores espirituais. Carlos Lodoly, no século XVIII, afirmava ser todo tipo de decoração interior, com origem nas formas da natureza.

A ideia de arquitetura orgânica esteve vinculada às formas da natureza e humanas, destas dependendo as medidas e as relações de proporção entre os componentes (cabeça, tronco e membros). Frank Lloyd Wright acolheu, mesmo parcialmente, esta ideia.

Da arquitetura orgânica de Frank Lloyd Wright 

A arquitetura orgânica por ele desenvolvida teve origem no período (1887) em que trabalhou no escritório dos arquitetos Adler e Sullivan, na cidade de Chicago. Ao lado de Sullivan ele conheceu os princípios de engenharia que faziam uso do aço e do concreto (novos materiais de construção).

Instruído com as novas técnicas construtivas da época, Frank Lloyd Wright montou seu escritório em “Oak Park”, subúrbio de Chicago, e lá permaneceu até 1909. Foi para Berlim (Alemanha), mas retornou aos Estados Unidos e se instalou com a mulher e os filhos na casa onde nasceu. Ele a ampliou e a batizou com o nome galês de “Taliesin” (cume brilhante).

No início da carreira ele criou o estilo pradaria (“prairie style”), com o qual suprimiu a ideia de “caixa” na arquitetura. Ao projetar seu escritório em “Oak Park”, elaborou-o com espaços fluidos entre o vestíbulo e as salas de estar e jantar, que eram espaços distintos, mas agrupados. Também criou um efeito de luzes artificiais batizado de “moonlight”, que iluminava a casa à noite.

Após reformar a casa onde nasceu (“Taliesin”), dela fez residência, estúdio e fazenda e a transformou num lugar voltado para a arquitetura, arte e agricultura. Do envoltório natural (área rural) fez total partido em cada estação do ano.

Ao longo da atividade profissional, criou o arcabouço principiológico da arquitetura orgânica, constituído por sete princípios, os quais abaixo seguem:

  1. Continuidade: é a fluidez do espaço e dos materiais. Há dois tipos de continuidade: a espacial e a formal. Pela primeira, ocorre a “Destruction of the Box” (destruição da caixa), em que são eliminadas diversas paredes entre os ambientes internos e entre estes e o exterior do edifício; o efeito é a confusão entre os limites do espaço construído e a paisagem ao redor da obra. Pela segunda, os elementos estruturais e estéticos do edifício devem formar uma unidade indivisível, íntegra;
  2. Escala (ou Proporção): princípio intrínseco ao da Continuidade Espacial, propõe uma nova relação de escala com a paisagem, em que nova proporção e simetria devem servir à destruição da caixa (“Destruction of the Box”), dissolvendo os limites entre o edifício e o entorno;
  3. Integridade (ou da Unidade): especificação do Princípio da Continuidade Física, as partes que formam o edifício devem se integrar em uma unidade indivisível. Caracteriza-se pelo uso do módulo na relação estrutural e espacial entre os elementos do edifício e pela relação espacial com o entorno (paisagem). O módulo serve de sistema de proporções para atribuir a unidade indivisível à estrutura do edifício com os espaços internos e a ele externos;
  4. Plasticidade: é a percepção que se tem da continuidade física (ou da integridade) do edifício. Relaciona-se com a fluidez do espaço e dos materiais;
  5. Natureza dos Materiais: a natureza (ou origem) indica as propriedades (características) dos materiais e suas qualidades; cada material tem a própria fluidez (propriedades) e esta resulta em um comportamento (material frágil ou dúctil, por exemplo);
  6. Gramática dos Materiais: é o conjunto de regras definidoras do projeto, com as quais torna homogêneo o discurso estrutural e estético do projeto e do edifício;
  7. Simplicidade: este determina que não deve haver elementos estranhos às regras definidoras do projeto. Deverão estar ausentes os elementos que não as compuser.

 Da Conclusão

A arquitetura orgânica criada por Frank Lloyd Wright vincula-se à ideia de fluidez dos espaços em continuidade entre os do edifício e os externos a ele. A modulação que faz dos espaços não tem relação com as proporções humanas (como no período renascentista, por exemplo), mas com proporções dimensionadas para atribuir continuidade e integridade aos espaços e à plasticidade com que os percebemos. Essa modulação (ou sistema de proporções) depende da natureza e gramática dos materiais e da simplicidade do projeto.

Em suma, a arquitetura orgânica é a fluidez do desenho porque ela orienta o projeto no sentido de continuar os espaços internos em direção aos externos, integrando-os sem que as pessoas façam a distinção entre o interno e o externo. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira
(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)

 

 

Fontes de Pesquisa

WWW.FAU.USP.BR. Disponível em: http://www.fau.usp.br/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/auh0313/Zevi_1945.pdf. Acessado aos 30.01.2016.

WWW.IAU.USP.BR. Disponível em: http://www.iau.usp.br/pesquisa/grupos/nelac/wp-content/uploads/2015/01/ARTIGO-2.pdf. Acessado aos 29.01.2016.

WWW.PORTALARQUITETONICO.COM.BR.  Disponível em: http://portalarquitetonico.com.br/frank-lloyd-wright/. Acessado aos 28.01.2016.

WWW.AU.PINI.COM.BR. Disponível em: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/168/artigo73554-2.aspx. Acessado aos 28.01.2016.




Artigo de Marcelo Paiva Pereira: 'Arquitetura moderna: a modernidade do tempo'

Marcelo Augusto Paiva Pereira: ‘ARQUITETURA MODERNA: A MODERNIDADE DO TEMPO’

villa

A arquitetura moderna surgiu das transformações do pensamento artístico, tecnológico e científico, cujas fontes remotas são do período do Neoclassicismo, e próximas do início do século XX, configurando-a com as características que a instruíram. O presente texto abordará, mesmo superficialmente, o percurso efetuado.

Do Neoclassicismo em oposição ao Renascimento

O Neoclassicismo foi um movimento artístico (e historicista) que surgiu no século XVIII fundamentado na teoria do Iluminismo e junto à descoberta dos novos materiais concreto e aço, com a finalidade de combater o princípio da autoridade, que não acolhia o método científico e legitimava a representação (cópia, reprodução) dos objetos.

Aludido movimento se opôs à intensa religiosidade da estética dos movimentos anteriores (Renascimento, Maneirismo e Barroco), dos quais o mais influente foi o Renascimento, que se fundamentava na teoria do Humanismo, pela qual o ser humano é a medida de todas as coisas, mas subserviente ao Criador (Deus fez o homem à sua imagem e semelhança).

No Renascimento acolheu-se as relações de proporção da harmonia musical de intervalos consonantes, de Pitágoras. Era um sistema matemático de intervalos proporcionais, que justificavam a harmonia universal, inclusive a alma humana. Eram:

  1. Oitava: relação de 1:2;
  2. Quinta: relação de 2:3;
  3. Quarta: relação de 3:4.

Alberti, no século XV, acolheu esse sistema, constituído dos números fundamentais definidos por Platão (1:2:4:8 e 1:3:9:27). No século XVI, Palladio criou o sistema harmônico de intervalos dissonantes, os quais não se restringiam à sequência dos números fundamentais.

Ambos os sistemas harmônicos – de intervalos consonantes e dissonantes – eram modelos apriorísticos, estáticos e externos às artes, porque fixavam regras pré-concebidas, imutáveis e oriundas da força divina, as quais eram utilizadas pelos artistas para mensurarem os objetos em conformidade com as proporções (das almas) humanas. Como resultado, as partes se uniam e formavam o todo, dele se tornando inseparáveis (assim como as almas pertencem a Deus).

O Neoclassicismo combateu e abandonou esses dogmas, acolhendo novos entendimentos para justificar suas obras, como seguem:

  1. Eliminou os modelos apriorísticos e conferiu autonomia às artes, permitindo conceber os edifícios e outras obras com princípios próprios das disciplinas;
  2. A natureza deixou de ser copiada (ou reproduzida) para ser examinada com critérios técnicos das disciplinas e dela extrair suas elementares;
  3. Em seguida, criou os tipos, formas a posteriori definidos por elementares, que se modificavam no tempo e no espaço;
  4. O projeto de cada edifício passou a ser composto pelos tipos e ter destinação própria, definida pela tipologia a ele conferido.

Com esse arcabouço principiológico, a proporção deixou de ser fixada pela matemática da harmonia universal e passou a sê-la pela sensibilidade individual do artista; as partes componentes se tornaram independentes e permitiram manipular a composição entre elas; a independência e a manipulação permitiram atribuir a cada obra o caráter e a monumentalidade (destinação); a arquitetura ganhou autonomia; a ornamentação, valiosa no Renascimento (também no Maneirismo e no Barroco), tornou-se equipamento acessório, decorativo.

Para desenhar os edifícios, porém, utilizava-se de dois eixos perpendiculares de simetria e dividia-se o edifício – preferencialmente – em quatro partes iguais e os espaços eram hierarquizados. No Neoclassicismo ainda havia muita rigidez (estética) compositiva.

O princípio compositivo – independência das partes – foi inaugurado pelos franceses Etiénne-Louis Boullée (1728-1799) e Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806) e sistematizado por Jean-Nicolas-Louis Durand, que foi aluno de Boullée (este priorizou os aspectos estéticos).

Durand quebrou a rigidez compositiva do Neoclassicismo para fazer uso de outro método, formado por um eixo principal cortado por diversos outros, perpendiculares a ele, e organizou os edifícios com simetria bilateral mais flexível. A ele o edifício era mais do que a composição das partes; era um conjunto de partes articuladas entre si (não se submetiam à rigidez compositiva, mas ainda se submetiam à hierarquia).

A ele a adequação e a estética do edifício resultavam – eram consequências – da correta aplicação dos princípios econômicos e funcionais ao projeto de cada edifício e priorizou os aspectos utilitários do edifício. Sua concepção estética ainda era acadêmica, mas como resultado.

O método de projeto de Durand fez uso de princípios analíticos, com os quais atribuiu utilidade aos espaços; este método não determinava – a priori – o aspecto final da composição. As lições de arquitetura de Durand, lecionadas na École Polytechnique de Paris, foram publicadas em 1801 e 1805, aperfeiçoadas em 1821 e difundidas por todo o século XIX e pelo início do século XX.

Posteriormente, ao final do século XIX, o professor Julien Guadet, da École de Beaux-Arts de Paris, foi o elo entre o método de Durand e o sistema compositivo empregado no século XX. Assim como Durand, Guadet dedicou-se ao exame da composição do edifício, que para ele era o modo de organizar espacialmente os elementos funcionais e estruturais, os quais estariam previamente estabelecidos pelas características dos materiais e pela análise do programa.

Guadet eliminou os eixos de referência que Durand usava para projetar e deixou de ser hierarquizado. Sua teoria vinculava-se à estética acadêmica, porém, como resultado, efeito. Ele fez a transição para a Arquitetura Moderna.

Da Arquitetura Moderna e Le Corbusier

A Arquitetura Moderna tem sua gênese técnica oriunda dos estudos do neoclassicista Julien Guadet, mas sua gênese etimológica encontra-se nas palavras gregas “arkhein” (primazia, superioridade ou preferência) e “tektonikos” (construtor ou carpinteiro) e na palavra latina “modernus” (modo + hodiernus), das quais se extraiu a gênese conceitual.

No período medieval o latim daquela época cunhou a palavra “modernus” (modo + hodiernus) com o significado de presente ou corrente. No século XVII a palavra “moderno” adquiriu o significado “novo” em oposição a “antigo” e, no século XIX passou a significar momentâneo, transitório.  Ao longo dos séculos a palavra “moderno” adquiriu o significado de tempo atual, do momento presente, em alusão à contemporaneidade da própria existência.

Derivada de moderno, a palavra “modernidade” indica as qualidades específicas do tempo presente que o distinguem do passado. São: novo, corrente, momentâneo e atual.

A palavra “modernismo” surgiu em meados do século XIX para identificar o pensamento, ideia, teoria, corrente ou movimento literário, artístico e técnico que aflorava. Visava abarcar os novos princípios e atuais propostas, do momento presente, em oposição a tudo o quanto fosse antigo.

A arquitetura moderna é a obra primaz atual, contemporânea, e os princípios que a informam conferem autonomia. Eliminou as proporções matemáticas, os eixos de referência, a hierarquia dos ambientes, a estética acadêmica e o historicismo.

Ela surgiu com o propósito de criar estilos novos, sem resgatá-los do passado. A ideia que se exteriorizava era criar obras inéditas, sem lastro com o passado, num processo criativo sempre presente, atual e contemporâneo. Tornou-se dominante no cenário das artes e das construções no início do século XX, após afastar os movimentos historicistas contra os quais concorria.

Os movimentos (ou correntes) historicistas surgiram no século XVIII e visavam resgatar e recriar a arquitetura dos tempos passados, acrescida das técnicas modernas de construção (aço e concreto). Foram historicistas (ou revivalistas) o Neoclassicismo, o Neogótico, o Ecletismo e o “Art Nouveau”.

Le Corbusier (1887-1965), apelido de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, é considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, junto a Frank Lloyd Wright, Ludwig Mies van der Rohe, Alvar Aalto e Oscar Niemeyer. A importância dada a ele está no enorme poder de síntese em abstrair a essência das obras visitadas e na influência doutrinária à Arquitetura Moderna.

Ele veio ao mundo por ocasião da Segunda Revolução Industrial (ocorrida na Alemanha ao final do século XIX) e conheceu a importância da indústria para a realização do conforto às pessoas na medida da condição econômica de cada, e também as transformações e as inovações tecnológicas do período, como são exemplos a invenção do automóvel de combustão interna, o telégrafo, o telefone, a lâmpada elétrica, o rádio, o avião, a televisão e a produção de veículos em série iniciada por Henry Ford.

Em muitas foram as contribuições de Le Corbusier para a formação doutrinária (teórica e principiológica) da Arquitetura Moderna, das quais três se destacam: a Casa Dominó, os Cinco Pontos da Arquitetura Moderna e o Modulor.

No período de 1914 a 1917 ele desenvolveu a Casa Dominó (ou “Dom-ino House”), sistema construtivo constituído de lajes planas, pilares e fundações em concreto armado com vistas a permear os edifícios de elementos formais, que abaixo seguem:

  1. Elementos formais abstratos: padronização (ou universalidade), redução de custos, rapidez, rigor técnico e precisão na construção;
  2. Elementos formais concretos: plantas e fachadas livres, uso de pilotis, pisos em balanço, etc;

No ano de 1926 foi publicada a síntese dos estudos que fez no início da carreira sobre as elementares que deveriam instruir a arquitetura de vanguarda – a arquitetura moderna – e o resultado foi os cinco pontos que abaixo seguem:

  1. Pilotis: colunas de sustentação do edifício recuadas das bordas, permitem no espaço urbano outra perspectiva entre o observador e o morador, também oferecem a oportunidade de redesenhar o espaço urbano, integrando os edifícios por outro enfoque urbanístico;
  2. Terraço-jardim (ou teto-jardim): espaço de lazer sobre a laje do último pavimento, simboliza a conquista da tecnologia industrial, capacitada a suportar as intempéries climáticas (chuva, neve e umidade);
  3. Planta livre: permite a elaboração de espaços divididos por paredes sem função estrutural, diminuindo custos e emprego de materiais;
  4. Fachada livre: a ausência de obstáculos permite o desenho de fachadas desimpedidas, com projetos flexíveis de aberturas para as janelas;
  5. Janela em fita: desenhada de um ponto a outro da fachada, orientada pela melhor orientação solar à iluminação dos ambientes do edifício.

Ao tempo da Segunda Guerra Mundial ele criou o Modulor, sistema de medidas baseada no módulo (unidade de medida) e na seção áurea, em que a divisão de uma reta deve ser efetuada de modo a ser a mesma razão entre o segmento menor para o maior e o segmento maior para o todo.

O Modulor está fundado da proporção áurea, com a qual fez duas séries de medidas, quais sejam a azul (composta de dois quadrados de 1,10 m de aresta cada) e a vermelha (um só quadrado, cuja aresta – 1,10 m – atinge o umbigo da pessoa). Delas se desdobraram medidas proporcionais, de 27 a 226 cm, distribuídas em degraus de 16 e 27 cm.

O Modulor nunca foi produzido industrialmente nem aceito comercialmente. Foi alvo de várias críticas, dentre elas as de Ernst Neufert. Serviu, entretanto, para estudos doutrinários e desenvolver as ideias de proporção, simetria (ou comodulação), harmonia e euritmia (ritmo equilibrado).

O modelo da casa Dominó e os cinco pontos da arquitetura moderna, entretanto, preponderaram nas suas obras. Seu projeto mais significativo, da Villa Savoye, localizada na cidade francesa de Poissy-sur-Seine, reproduziu-os inteiramente, expondo a funcionalidade dos espaços, fundada nas necessidades das pessoas.

A funcionalidade – realizada nas obras de Le Corbusier – não é exclusiva dele. Foi consolidada na frase “A forma segue a função”, de Louis Sullivan (1856-1924), arquiteto americano, pai dos edifícios “arranha-céus” de Chicago, E.U.A., que por primeiro defendeu essa ideia ainda na segunda metade do século XIX. Sua célebre frase foi acolhida pelos arquitetos e movimentos modernistas, dos quais Le Corbusier a e BAUHAUS eram dois deles.

A diferença entre Le Corbusier e Louis Sullivan está na aplicação da mencionada frase na elaboração dos projetos: enquanto para o autor da frase a arquitetura deveria ser orgânica (como efeito da função ou funcionalidade), para Le Corbusier deveria ser geométrica, sem contornos recortados ou detalhados (ele acolhia a arte ou movimento purista no desenho arquitetônico, em que as formas tinham contorno geométrico proporcional e todos os adornos e excessos deviam ser eliminados).

A BAUHAUS, escola de artes e ofícios criada por Walter Gropius em 1919 na cidade alemã de Weimar, também acolheu a frase “A forma segue a função” para justificar a oposição à ornamentação, por vezes exagerada, dos movimentos artísticos contra os quais ainda concorria – o “Art Nouveau” e o Ecletismo.

Na esteira da funcionalidade da célebre frase, Le Corbusier criou a frase “Máquina de Morar” em alusão à forma dada a cada elemento segue a função a que se destina. A ele a casa era uma máquina de morar porque a função de habitar – suprir necessidades – definia a forma de cada elemento (mobiliário e equipamentos domésticos, por exemplo).

Ao lado da funcionalidade, Le Corbusier também acolheu a ideia de monumentalidade às suas obras, tanto para os edifícios habitacionais quanto aos institucionais. Ele, entretanto, não a entendeu como causa determinante (suntuosidade memorial), mas como efeito ou resultado do projeto. São exemplos os projetos em grande escala de edifícios habitacionais sob autoestradas para a cidade do Rio de Janeiro (1929) e para a cidade de Algiers (1933). A realização dessa monumentalidade ocorreu com a construção do capitólio de Chandigard (1951) capital do novo Estado indiano do Punjab e, posteriormente, a “Unité d’habitation” de Marselha (1952), na França.

Em razão das teorias, princípios e projetos de Le Corbusier e de outros arquitetos e escolas de arquitetura, a Arquitetura Moderna adquiriu arcabouço doutrinário (teórico e principiológico) que a ela conferiu autonomia.

DA CONCLUSÃO

A Arquitetura Moderna tem origem remota no Neoclassicismo do século XVIII (ao tempo do Iluminismo) e origem próxima nas doutrinas de Le Corbusier e outros arquitetos contemporâneos a ele, no início do século XX.

Caracterizou-se a Arquitetura Moderna por ser autônoma, ter princípios próprios, ser contemporânea, visar à funcionalidade dos espaços e mobiliários, ter liberdade de criação, estética purista, monumentalidade e representação.

Distingue-se dos movimentos anteriores porque não se prende ao passado como fonte – ou causa determinante – dos projetos, não tem interesse de resgatar o passado para atualizá-lo com os modernos materiais de construção. A Arquitetura Moderna não é historicista; ela é contemporânea, por estar sempre pensando nos projetos do tempo presente.

A tipologia adotada também difere da existente no Neoclassicismo, porque enquanto no movimento mais antigo ela não se destinava à funcionalidade, no movimento moderno ela se destina à funcionalidade (do projeto).

Também se distingue dos movimentos anteriores em relação ao purismo, funcionalidade, monumentalidade e representação, pelos motivos que abaixo seguem:

  1. Em relação à estética purista (ou purismo), tem causa na racionalidade do projeto (precisão, simplicidade e harmonia proporcional ao desenho ou ao objeto) com vistas à funcionalidade do projeto, e não ao caráter dele;
  2. Em relação à funcionalidade, esta tem causa nas necessidades humanas, e não na destinação (caráter) dada ao projeto ou ao edifício;
  3. Em relação à monumentalidade, esta é efeito, resultado do projeto, que adquire a dimensão dos espaços destinados às necessidades humanas e na medida do projeto final; ela existe a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo);
  4. Em relação à representação, esta representa a industrialização dos materiais utilizados na construção dos edifícios, mas como efeito ou resultado do projeto, e não como causa determinante; a representação surge a posteriori e não a priori (como no Neoclassicismo).

Comparativamente, enquanto os valores pré-estabelecidos no Renascimento eram a ordem natural e divina e no Neoclassicismo (ou Iluminismo) eram a ordem racional e tipológica, no Modernismo (ou Arquitetura Moderna) são a ordem racional e funcional.

Finalmente, a Arquitetura Moderna é a modernidade do tempo porque ela é contemporânea do momento em que cada projeto é desenhado e realizado, e se prolonga no tempo pelo tempo com que se atualiza. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira.

(o autor é aluno de graduação da FAUUSP)

 

FONTES DE PESQUISA

  1. OBRAS:

AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. 4. Ed. Rio de Janeiro: Delta, 1958. 5 v.

 

  1. SITES:

 

 




Um desenho cubista do Marcelo Paiva Pereira

Encontrei mais um desenho de minha autoria, que gostaria que fosse publicado em seu jornal ROL

img200Fiz o desenho ao final do primeiro semestre letivo de 2011 e o fiz no estilo cubista da Igreja de São Francisco de Assis (1942-44), do bairro de Pampulha em Belo Horizonte/MG, para representar o Racionalismo no Brasil enquanto movimento artístico, arquitetônico, tecnológico e cultural, que ocorreu na primeira metade do século XX.

O cubismo foi fonte do mencionado movimento artístico e a referida Igreja foi autoria de Oscar Niemeyer (1907 – 2012), que se inspirou no racionalismo de Le Corbusier. O desenho, então, tem natureza racionalista e nativista.

Grato pela atenção,

Marcelo Augusto Paiva Pereira.