Gabriela Lopes: 'A arte nas minhas mãos'
A arte nas minhas mãos
Falar sobre como se deu o desenvolvimento das habilidades artísticas é um processo simples e gostoso de lembrar. A simplicidade está por nunca ter feito curso de artes plásticas, eu sou autodidata. Aprendo olhando e observando.
Me recordo de um fato em específico de quando eu tinha 5 anos, no pré-escolar houve um dia em que a professora pediu para desenharmos a família, a casa, o pai, a mãe, irmãos e bichinhos de estimação. Lembro-me de como a chamávamos, Tia Zezé.
Nas fases escolares iniciais, atividades assim são muito comuns. Pois bem, realizei o desenho e, na hora de chegar a minha carteira, a professora parou, com olhar de espanto sorriu, pegou o desenho e falou: – Me aguarde que já volto.
Saiu da sala, passou na sala do lado mostrando outra professora, saiu da sala ao lado e foi até a secretaria mostrar à diretora. Eu fiquei olhando da porta da sala pensando: “O que eu desenhei de errado? Fiz minha casa, meu pai, minha mãe, meu irmão e nosso cachorro”. Fiquei preocupada achando que eu tinha feito algo reprovável e, como era muito tímida, já estava toda angustiada (rsrs). Quando a professora retornou, ela voltou e disse:
– Eu tinha que mostrar para as outras professoras seu desenho, ficou lindo, está muito fiel a seus pais e sua casa. Parabéns!
Ao ouvir, fiquei feliz, a preocupação foi embora. Só fiquei envergonhada com os outros amiguinhos ouvindo e prestando atenção.
O tempo passou e sinceramente não dava muita atenção a expor ou assumir que eu tinha um dom artístico. Com 8 anos, passei a sentir vontade de pegar as gravuras dos livros que lia, e através de observação, desenhar ampliando, sem uso de régua e uma tal grade que dizem ser necessário fazer na folha. Ampliava com a mão livre, fiz duas pastas de desenhos assim. Só que eu achava normal, achava que toda criança sabia fazer o mesmo que eu. Não achava nada de mais.
Com 12 anos comecei a receber pedidos de desenhos de outros alunos e escolas, para fazer mapas grandes de 2 metros, me encomendavam desenhos diversos de biologia, e até painel de festa junina em um Colégio de Freiras, tudo com quase 2 metros quadrados. Alguns queriam só a ilustração sem colorir, outros queriam coloridos, eu achava divertido, amava ver que conseguia, e que no final as pessoas gostavam e achavam bonito, ganhei até um dinheirinho na época (rsrs).
Com 17 anos, achei meu caderno do pré-escolar, guardado há anos, e vi o tal desenho sobre o qual a professora fez tanto alvoroço. Com a percepção de mundo um pouco mais amadurecida, entendi naquele momento o porquê da reação da professora. Era um desenho significativo para uma criança de 5 anos, só fui entender tudo aos 17.
E assim, com o passar dos anos sempre fiz algo envolvido na arte, sempre alguém pede algo, ou um quadro, uma ilustração, essas coisas. Olho hoje para essa habilidade como um dom real. Não coloco ele como o destaque primeiro das minhas ocupações. Mas a presença dele nos meus dias é minha pulsão de vida, é minha releitura do mundo. A vida ganha mais sentido com as cores que toco. Já fiz artes com desenhos a carvão, pinturas em telas, arte tailandesa, caricaturas em tecido de malha estendida, dentre outros.
Assim sigo os dias. Dentro das obrigações, mas sempre nas entrelinhas dos versos banhados nas paletas de cores.