O leitor participa: Arvelos Vieira: 'A importância da ferrovia no contexto geral: Cruzeiro foi terra de abate bovino e feminino'

Arvelos Vieira

‘A importância da ferrovia no contexto geral: Cruzeiro foi terra de abate bovino e feminino’

Nas décadas de 40, 50, 60 e … 70, o Frigorífico Cruzeiro, da cidade de Cruzeiro/SP, foi um dos maiores da região, do estado e acredito, até mesmo do país. A empresa recebia bovinos de todo o Sul das Minas Gerais e Vale do Paraíba para o abate, comercialização e distribuição de suas carnes.

Nessa época tivemos também, em proporção igual a zona de meretrício”, outro destaque nacional, instalado no local que ficou conhecido como “Bairro do Norte” pelo fato das prostitutas pioneiras terem chegadas em Cruzeiro, a maioria, do “norte do país”, muitas, jovens viúvas ou abandonadas pelos maridos, convocados para servir fileiras na Guerra do Paraguai, ocorrido por volta de 1860.

O transporte de gado vivo era feito em grande escala pelas ferrovias que serviam e servem a cidade. A carga do Sul de Minas chegava em gaiolas de longas composições, e até mesmo em “trens mistos” (Compostos de vagões de carga e carros de passageiros!), pela Rede Mineira de Viação (bitola de 1 metro). Essas gaiolas tinham como destino final uma pequenina estação rural conhecida por Rufino de Almeida, há dez km antes de chegar no centro de Cruzeiro, onde havia rampa para o transbordo do gado, formando-se naquela localidade as famosas “boiadas” conduzidas por habilidosos cavaleiros, que vinham por dentro da cidade levantando uma nuvem de poeira infernal, passando pela hoje conhecida Lagoa Dourada, a Vila Paulo Romeu, adentrando pela famosa “Rua da Boiada”, nome dado por essa fato, antes da chegada no pasto do Frigorífico (onde hoje estão instalados todo o I e III Retiro da Mantiqueira e bairros adjacentes).

Já o transporte de gado vindo do Vale do Paraíba “fluminense” e “paulista”, chegava em vagões gaiolas pela ferrovia Central do Brasil (bitola de 1,60 m), e eram baldeados para dentro do Frigorífico, vez que existia um desvio apropriado para essa finalidade.

Nossas ferrovias foram também de grande importância para servir a “zona de meretrício” que tinha grande movimentação na época, pois, para quem não conhece, a nossa extinta e famosa “zona”, surgiu na cidade antes mesmo de Cruzeiro receber a sua certidão de nascimento, registro esse ocorrido no ano de 1901 (2 de Outubro). A zona se estabeleceu em Cruzeiro, salvo engano por volta de 1850, passando a servir os trabalhadores que por aqui se instalaram para trabalharem na construção das ferrovias do Rio de Janeiro/São Paulo (Central do Brasil) e em seguida a do Sul de Minas (Ferrovia Minas e Rio, nome inicial).

Vale ressaltar que haviam dois trens, ambos conhecidos por “noturno” e também “trem baiano”, da Central do Brasil, que estacionavam nas linhas secundárias da estação de Cruzeiro, um vindo do Rio de Janeiro, o outro, de São Paulo, que cruzavam e pernoitavam em nossa cidade, bem defronte a zona. A rapaziada do Vale do Paraíba Fluminense (Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Itatiaia e outros), vinha para a zona de meretrício de Cruzeiro, utilizando o trem noturno oriundo do Rio de Janeiro e que passava por suas cidades, com destino a São Paulo já a rapaziada que vinha do Vale do Paraíba paulista, utilizavam o “trem noturno” oriundo de São Paulo, da mesma forma, com destino ao Rio de Janeiro.

Ambos os trens chegavam em Cruzeiro por volta das 23 e “zero hora” e aqui pernoitavam até as 5h30 da manhã, quando cada uma das composições seguia o seu destino.

Após se esbaldarem na esbórnia cruzeirense, a rapaziada retornava para suas cidades de origem, trocando de composições. Isso aconteceu todos os dias e por anos a fio. Muitas vezes embarcamos, minha família e eu, ainda criança ou meninote, fosse para São Paulo ou para o Rio de Janeiro, nesses trens conhecidos por “baiano” e a algazarra predominava por igual, algumas vezes se tornando desagradável, com jovens “zoneiros” bêbados, rindo, falando alto e até mesmo besteiras, isso quando não provocavam discussões que tornavam o clima tenso, mas graças ao bom Deus nunca soube de gravidade maior. Era comum esses baderneiros terem a atenção chamada por passageiros.

Já a rapaziada do Sul de Minas que queria se divertir na “noitada eletrizante” de Cruzeiro, utilizada o TREM MISTO, que chegava em nossa estação entre 22 e 24 horas, e retornava impreterivelmente para os solos mineiros às 5h20 da madrugada.

E a nossa ferrovia não se fez importante apenas pelo fato de servir o Frigorífico e a “zona de meretrício”, teve participação efetiva na Revolução Constitucionalista de 1932, e também na Revolução de 1964, sendo Cruzeiro o ponto de transbordo de soldados e de material bélico, por ser o eixo de inªtegração do Rio de Janeiro/São Paulo/Minas Gerais.

Lembro-me que quando deflagrou a revolução de 64, eu completaria 9 anos de idade no final desse ano. Papai que era ferroviário, exercendo nessa época a função de Agente de Estação, me levou com ele e eu assisti, tanques de guerra, caminhões, metralhadoras sobre rodas, caixas e mais caixas de “tudo um pouco”, sendo baldeadas de vagões pranchas da Estrada de Ferro Central do Brasil para a Rede Mineira de Viação (Sul de Minas). Lembro-me ainda de inúmeros soldados em cima do telhado da estação, com metralhadoras em riste, vivendo eu todo aquele clima de apreensão pois, para onde seu nariz apontava havia soldados do Exército armados até os dentes.

Arrisco a dizer que a ferrovia mineira, surgida com o nome “Estrada de Ferro Minas e Rio”, passando a “Rede de Viação Sul Mineira”, depois “Rede Mineira de Viação” e ainda “Viação Férrea Centro Oeste” e encerrando suas atividades como “5ª Divisão Centro Oeste”, foi mais importante ainda, pois atendeu a Revolução de 32 durante todo o período de conflito, transportando soldados, alforges e material bélico para os “fronts de combates”, no alto da serra (tendo o grande tunel como pivô) e da mesma forma retornava a Cruzeiro trazendo os soldados feridos e mortos vitimados pelo confronto..

Mas não podemos esquecer que a cidade de Cruzeiro foi conhecida e admirada nacionalmente pelas suas carnes de primeiríssima qualidade, BOVINAS e …, FEMININAS, defumadas pelas brancas e densas fumaças das nossas sempre saudosas e queridas locomotivas a vapor, nossas singelas e belas MARIAS FUMAÇAS!




Arvelos Vieira, da Academia Cruzeirense de Letras – ACLA, presta homenagem ao editor do ROL Sergio Diniz da Costa, pela passagem de seu aniversário

“Além de pertencer à Academia de Letras da sua cidade, é parceiro da nossa Academia Cruzeirense e editor do Jornal Cultural ROL, onde temos participação com nossos artigos, incentivado por ele.

“ACRÓSTICOS – A EMOÇÃO DE ESTAR CONTIGO”

O CANTINHO DO ACRÓSTICO, se apresenta nesta sexta-feira, 08 de março, em caráter especial, para homenagear um grande amigo, escritor e poeta, residente na cidade de Sorocaba/SP, que hoje, no “Dia Internacional da Mulher”, completa mais um ano de vida. Além de pertencer à Academia de Letras da sua cidade, é parceiro da nossa Academia Cruzeirense e editor do Jornal Cultural ROL, onde temos participação com nossos artigos, incentivado por ele. Com vocês,

SERGIO DINIZ DA COSTA

S urpreso, fico sabendo que seu aniversário,

É hoje, 8 de Março, data bastante especial,

R eceba, meu nobre amigo poeta literário,

G rande e afetuoso abraço fraternal!

I mportante e bem quisto no meio cultural,

O nde se destaca como poeta impecável,

 

 

D edicado parceiro tornaste amigo especial,

I ncontestável é a sua verve admirável!

N este DIA INTERNACIONAL DA MULHER,

I luminado com sua comemoração natalina,

Z elamos e desejamos paz e saúde onde estiver,

 

 

D eus está e estará sempre presente na sua vida!

A cadêmico de letras da Sorocaba paulista,

 

 

C oroado de êxito, és por demais admirado,

O rgulho ser amigo desse poeta idealista,

S eus escritos sempre corretos e sensatos,

T ransmitem paz e ideia de um especialista.

A migo, minha admiração por ti é de fato!

 

OBS.: Todos os acrósticos inseridos nessa sessão CANTINHO DO ACRÓSTICO, farão parte do nosso livro a ser lançado brevemente e que receberá como título:

ACRÓSTICOS – A EMOÇÃO DE ESTAR CONTIGO!

arvelosvieiraneto@gmail.com

 

Nota do homenageado:

Queridíssimo amigo e Irmão das Letras Arvelos Vieira!

O que seria da vida sem os amigos? Um deserto, certamente! Entretanto, ainda que a vida fosse um deserto, mesmo assim, os amigos seriam o refrescante oásis.

Alguns amigos teimam em me julgar uma pessoa iluminada. E eu, da minha parte, respondo que, se assim o sou, é porque convivo com pessoas iluminadas; iluminadas, feitas você, meu queridíssimo amigo!

Gratíssimo por sua amizade!

E um mega abraço de luz!

 




O Leitor Participa: Arvelos Vieira, da Academia Cruzeirense de Letras e Artes: 'Oito de Março – dia Internacional de Mulher'

“AYN RAND, nasceu com o nome em russo, Alisa Zinov’yevna Rozenbaum, em São Petersburgo, no 2 de fevereiro de 1905 e faleceu em Nova Iorque no dia 6 de março de 1982.”

AYN RAND, nasceu com o nome em russo, Alisa Zinov’yevna Rozenbaum, em São Petersburgo, no 2 de fevereiro de 1905 e faleceu em Nova Iorque no dia 6 de março de 1982. Judia fugitiva da Revolução Rússia ela chegou nos Estados Unidos na metade da década de 1920. Foi uma escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana de origem judaico/russa, mais conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo e por seus romances.

Um texto de sua autoria eu transformei em poema e através desse poema, eu HOMENAGEIO TODAS AS MULHERES nesse dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher, na pessoa dessa grande escritora, corajosa de fibra e visão, AYN RAND.

CORRUPÇÃO vem de FAMÍLIA, A REAL!

O texto a seguir é interessante e muito bacana,

É de uma escritora judia de grande percepção,

Que nos anos 20 tornou-se cidadã americana,

Após fugir da Rússia em plena revolução!

 

“YAN RAND” esse é o nome da nossa enfocada,

De nítido conhecimento de causa e apurada visão,

Que fugiu da Rússia em plena crise deflagrada,

Elegendo os Estados Unidos, sua pátria por opção!

 

FILÓSOFA, DISSE ELA: “Quando você perceber,

Que para produzir precisa obter autorização,

De quem nada produz. Quando entender,

E comprovar que o dinheiro vai para a mão,

 

De quem não negocia com bens, mas com favores.

Quando perceber que muitos ficam ricos/abastados,

Pelo suborno e pela influência e nada de louvores,

E não com o trabalho, o que nos deixa desconsolados!

 

Que as leis não nos protegem deles, pelo contrário;

Eles é que se veem protegidos por elas. Um absurdo.

Quando perceber que a corrupção nos faz de otário,

E é recompensa para esses canalhas imundos!

 

Com a honestidade se convertendo em sacrifício.

Então você pode afirmar, sem medo de errar,

Que sua sociedade está perdida, eivada no vício,

Com a corrupção e o banditismo a lhe amargurar!”

 

Vejam caríssimos amigos leitores,

Um depoimento de 100 anos atrás,

Sobre a ação dos malditos predadores,

Tão revoltante, presente nos dias atuais!

 

A corrupção, a desonestidade e a roubalheira,

Impregnada na sociedade de modo geral,

Data do descobrimento da Nação Brasileira,

Iniciada pela “Sua Excia.” a FAMÍLIA REAL!

 

Arvelos Vieira – arvelosvieiraneto@gmail.com

 

 

 




O Leitor Participa: Arvelos Vieira, da Academia Cruzeirense de Letras e Artes: 'Tragédias sequenciais'

“Meu Deus, que inicio de ano violento,/ Começando com a barragem de Brumadinho,/ Que sofreu terrível e trágico rompimento,/ Arrasando todo o entorno vizinho!

Tragédias Sequenciais

Meu Deus, que inicio de ano violento,
Começando com a barragem de Brumadinho,
Que sofreu terrível e trágico rompimento,
Arrasando todo o entorno vizinho!

E a tragédia se arrasta há duas semanas,
Todos os dias corpos são encontrados,
O Brasil inteiro chora e se emociona,
Assistindo a dor de familiares desolados!

Mas de cem corpos desaparecidos,
Nesse desastre de grande repercussão,
Que é tido como o maior já acontecido,
Desde o surgimento dessa Nação!

E como desgraça pouca é bobagem,
Tivemos um vendaval no Rio de Janeiro,
Ventos e chuvas em grande dosagem,
Enlutaram o estado carioca por inteiro!

Morreram na calamitosa tormenta,
Seis pessoas na queda de barreiras,
Vitimados pela quantidade lamacenta,
Tragédia que marcou essa 4ª feira!

Não bastasse todas essas calamidades,
Aconteceu o incêndio no CR Flamengo,
Dez jovens foram vítimas da fatalidade,
Carbonizados, meu Deus que tormento!

Jovens que tinham um futuro pela frente,
Todos com condições de no futebol brilhar,
Craques da bola, atletas proeminentes,
Entristecido todo o país está a lamentar!

No Flamengo, no seu Centro de Treinamento,
Um curto circuito foi o causador da atribulação,
A legião esportiva entristecida nesse momento,
É solidária com o Flamengo nessa comoção!

O carioca se viu ainda em polvorosa,
Nessa sexta-feira de sofrimento coletivo,
Rivalidade entre facções criminosas,
Fez treze mortes por saraiva de tiros!

Se bem que essa violência não assusta mais,
Deixou de ser computada como calamidade,
No Rio de Janeiro tornou-se tão contumaz,
Mortes a bala em qualquer canto da cidade!

A verdade é que a violência social viralizou,
Nesse país que tinha tudo para ser maravilhoso,
Sempre crescente o crime organizado proliferou,
Hoje vive-se clima constante de pesar e temeroso!




O leitor participa: Arvelos Vieira, da Academia Cruzeirense de Letras e Artes: 'A lama da insensatez'

 Novamente a lama da insensatez,/ Desliza por vales e planícies,/ Violenta, arrebatando tudo outra vez,/ Um mar de tragédia, dor e imundices!

A lama da insensatez

Novamente a lama da insensatez,

Desliza por vales e planícies,

Violenta, arrebatando tudo outra vez,

Um mar de tragédia, dor e imundices!

 

Não bastasse a destruição em Mariana,

Três anos atrás, um espaço muito curto,

Agora é Brumadinho quem vive o drama,

Dessa tragédia que já virou um surto!

 

Morte, lágrimas e ilusões destruídas,

Até quando viveremos essa impunidade,

Temos que ter irrestrito respeito pela vida,

Chega, é insuportável tanta calamidade!

 

A Vale do Rio Doce, empresa mineradora,

Grande responsável por mais essa tragédia,

Sua importância econômica é apreciadora,

Mas sua ineficácia é muito abaixo da média!

 

Uma empresa de capital compartilhado,

De crescimento astronômico e arrebatador,

Parece gerir seus lucros descompromissado,

Sem atentar-se as tragédias que geram dor!

 

Centenas de mortes estão sendo computadas,

Nessa calamidade de proporções incalculáveis,

Aliás tragédia que fora previamente anunciada,

Não levada a sério pelos grandes responsáveis!

 

E a natureza outra vez mais é dilacerada,

De forma estúpida fruto da ignorância

Por décadas essa tragédia será lembrada,

Pela insensibilidade e feroz ganância!

 

A lama da tragédia e da insensatez,

Novamente causou um mar de infelicidade,

Varreu tudo com violência e altivez,

Arrasando Brumadinho, pobre cidade!

 

Muitos corpos estão sendo reconhecidos,

Outros tantos jamais serão encontrados,

Rolaram ou afundaram na lama do suplício,

Para sofrimento dos parentes transtornados!

 

A lama da tragédia e da insensatez,

Desliza pela planície ferozmente,

Arrasando tudo de uma só vez,

Causando desespero eminente!

 

E agora JOSÉ, como fica essa situação?

Duas barreiras romperam causando destruição,

Centenas de famílias jamais se recuperarão,

Ante acontecimentos de estrondosa repercussão!

 

Apelamos aos nossos governantes,

Para que tomem drásticas providências,

Tragédias dessa envergadura e montante,

Nunca mais, inadmissível tal abrangência!

 

O país não pode permitir passar em vão.

Empresas que se acham acima da razão,

Corrompam e ajam com insubordinação,

Impondo-se ante um país refém da submissão!

 

A hora agora é de mudança consubstancial,

O brasileiro precisa de respeito e amparo,

O que deve ser feito compete ao governo federal,

E o pulso firme do nosso presidente Bolsonaro!

 

Arvelos Vieira – arvelosvieiraneto@gmail.com




O Leitor Participa: Arnelos Vieira: 'Deus existe – uma história de Natal!'

“Foi quando, após um ‘estalo’, eu conversei e convenci minha esposa e funcionários, que revolucionaríamos mais uma vez a noite de Cruzeiro.

Minha mulher e eu éramos proprietários do “Emanuelle Bar”, que inauguramos em julho de 1988, no centro da cidade de Cruzeiro. Tratava-se de um bar/lanchonete/dançante noturno que funcionou de terça a domingo a partir das 20 horas, até às 5 da manhã, não raro, 6, 7 horas e às vezes até um pouco mais nos finais de semana, dependendo do clima, das presenças e da nossa disposição física.

Mas a atividade noturna sequencial dos anos seguidos nos saturou, levando-nos a encerrá-la após o carnaval, na quarta-feira de cinzas de 1991.

Naquela época os estabelecimentos comerciais do ramo encerravam suas atividades por volta das 23 horas do dia 24 de Dezembro. Essa data ainda era reservada para o recolhimento em família com ou sem a tradicional “ceia da meia noite”. Aqueles que não tinham o hábito de organizarem ceias, geralmente iam para a cama mais cedo ou para a casa de parentes ou amigos, mas sempre respeitando a reunião em família. ‘Carnatal’, muito comum nos dias atuais, naquela época, nem pensar.

Foi quando, após um ‘estalo’, eu conversei e convenci minha esposa e funcionários, que revolucionaríamos mais uma vez a noite de Cruzeiro. Já havíamos criado um bar decente disponível noite à dentro, tornando-o destaque e lembrado com saudades até hoje. Nós manteríamos aberto o ‘Emanuele Bar’ durante toda a madrugada de Natal, contando com o “pós-ceia” e quebrando outro tabu na cidade com muita música, alegria e animação até o dia raiar.

Conversei com clientes e a aceitação foi geral, inclusive com muitas as promessas do comparecimento maciço.

Fui para as duas emissoras de rádio da cidade, onde divulguei com entusiasmo a mais nova novidade, contando com a corroboração dos nossos amigos radialistas e apresentadores nos seus mais diversos programas. As pessoas nos cercavam nas ruas empolgadas com a nossa decisão e acenavam favoravelmente com suas presenças após os compromissos familiares.

Sabedores que seriamos a novidade e os “únicos” da noite, dobramos e até triplicamos tudo aquilo que disponibilizávamos para o funcionamento rotineiro do bar. Para ter-se ideia, comprávamos em média 50 caixas de cervejas por semana, nessa ocasião, foram 70; em média eram 30 frangos por semana, nessa oportunidade adquirimos 50, e assim com todos os demais produtos de consumo. Fizemos uma faxina especial no salão, as toalhas das mesas foram substituídas por novas, confeccionadas pela minha esposa. Minha cabeça parecia máquina registradora, imaginando os “cifrões” que essa noite especial nos proporcionaria.

E eis que é chegado o grande momento. Abrimos o ‘Emanuelle Bar’ exatamente às 20 horas do dia 24 de Dezembro. Música ambiente, o entusiasmo a flor da pele de todos nós, proprietários e funcionários.

Deu meia noite, havíamos vendido apenas 3 caixas de cervejas, outras 67 encontravam-se distribuídas em dois freezers e um grande balcão frigorífico que mantínhamos no corredor como suporte. Mesmo assim nos confraternizamos, família e funcionários. Colocamos nossas crianças para dormir, e seguimos entusiasmados pelo que estava por acontecer.

Confesso que a priori nos sentimos frustrados, pois esperávamos um movimento razoável até às 23 horas, mas tudo bem, nossos esforços estavam voltados mesmo era para a partir das 2 horas da madrugada.

E deu 2, 3, 4, 5 horas, fracasso total, a frustração desabou sobre todos nós.

Das 70 caixas de cervejas haviam sido consumidas não mais que 10. A cozinha se mantinha quase que intacta, pois pouquíssimas vezes fora acionada. Geladeiras, freezers e até a geladeira da nossa residência localizada no fundo do bar, não cabiam mais nada, lotadas que estavam de carnes, linguiças, queijos, baicons, calabresas, etc.

Por volta das 5h30, com as feições transtornadas, pedi à cozinheira que me fizesse o “prato do chefe”, que constava de quatro fatias de pão pullmann, queijo mussarela, presunto, filé de boi, dois ovos, alface, tomate e maionese, enquanto tomava um copo duplo de cachaça acompanhado de cerveja, inconformado e blasfemando pelo momento que estávamos vivendo.

De costas para a rua, ouvi três batidas cadenciadas com os nós dos dedos, num vidro imenso que separava o interior do estabelecimento com o externo. Virei-me e deparei com um ancião, estatura mediana, barba longa e cabelos desgrenhados, brancos, porém amarelados pela falta de asseio, trajes surrados e maltrapilhos, segurando um saco de estopa em uma das mãos.

Foi à gota d’água que levou-me a explodir todo o furor que se encontrava atravessado na minha garganta. Deixei rapidamente o balcão do bar, dei um murro na porta de vai e vem, daquelas tipo salão de filmes de faroeste que acessava à rua, dirigi-me aos berros contra o assustado e acuado ancião (Com essas mesmas palavras!) – ‘Porra, o que o senhor quer aqui? …’

Ele, com um olhar calmo, porém assustado, sofrido, quase que balbuciando disse-me – “Meu filho, por favor, estou faminto. Dê-me um pedaço de pão!”

Eu senti o chão sumir debaixo dos meus pés, o ar faltou-me nos pulmões, meus olhos inundaram-se de lágrimas, um nó doído de arrependimento apertou minha garganta quase impedindo a minha fala. Pela minha cabeça passou em segundos um turbilhão de pensamentos; meus filhos dormindo felizes com os brinquedos de Papai Noel, minhas geladeiras e freezers, empaturradas de comida, meus funcionários bem alimentados, minha família saudável, e aquele senhor, numa Noite de Natal, sem ninguém com quem confraternizar-se, sem um canto sequer para encostar, implorando por um pedaço de pão! …

Peguei o saco de estopa que ele carregava, segurei levemente em um de seus braços e lhe disse – “Entre, o senhor vai assentar-se a minha mesa e comerá comigo. Será meu convidado de Natal”.

Ele quis resistir, dizendo – “Mas eu estou sujo, mal vestido, não posso entrar na sua casa e nem sentar à sua mesa”.

Retruquei – “Nada disso, o senhor vai cear comigo, é o meu convidado especial de Natal”. E assim solicitei a minha cozinheira que fizesse um prato igual ao meu, para o nosso inesperado convidado.

Nos cerca de uns 40 minutos que levou da preparação do alimento até o seu consumo final, esse senhor comeu em silêncio, tomou refrigerante, e eu, sem abrir a boca, apenas observava-o. Depois de saciado ele levantou-se, e da mesma forma, em silêncio, pegou os seus pertences, deu a volta por trás de mim e com uma de suas mãos depositou-a em meu ombro, dizendo quase que em sussurro ao meu ouvido, com palavras cadenciadas e doces – “Meu filho, na tua casa nunca haverá de faltar nada. Deus sempre estará presente na sua vida”, e saiu tomando rumo ignorado.

Meditando suas palavras, levantei-me segundos depois e dirigi-me a rua, na esperança de vê-lo mais uma vez, porém ele já havia desaparecido como se fosse fumaça. Naquele momento, pensativo, eu assistia o dia amanhecendo e ouvindo os passarinhos despertando numa sinfonia de pios insistentes, numa árvore existente na porta de entrada do nosso estabelecimento, e vivenciando uma sensação de paz interior, uma calmaria há muito não experimentada e meio que inebriado com aquele acontecido incomum, fui trazido a realidade quando a Carminha, minha mulher, aproximou-se pegando um de meus braços e disse – “Vamos entrar? …, o pessoal está querendo ir embora”, referindo-se aos nossos colaboradores.

Ao voltar minhas costas para a rua com a intenção de arriar a porta de correr do nosso estabelecimento, isso, já por volta de umas 6h30 da manhã, para nossa surpresa começou a chegar e estacionar veículos que não paravam mais. Era gente a dar com pau, vinda de todos os cantos da região; Cachoeira Paulista, Lavrinhas, Queluz, Passa Quatro, e também de Cruzeiro. Parecia que haviam combinado de chegarem juntos. Dos dois lados da rua era só veículos estacionando.

Olhamo-nos assustados, funcionários e nós, proprietários, sem acreditar que aquilo estava acontecendo. O sorriso aflorou em nossas faces, e o ânimo tomou conta de todos, levando-nos a arregaçar as mangas e partir para a luta, numa corrente pra frente.

Resumindo; até as 13 horas dia do dia 25, as 24 mesas disponíveis no salão mantiveram-se ocupadas. A cozinha se perdia nas filas de pedidos de porções, caldos e canjas, as bebidas eram servidas celeremente. No final da festa, com o salão já fechado, estávamos moídos de tanto trabalhar, mas todo o nosso estoque de cervejas havia sido consumido, quase não sobraram comestíveis nas geladeiras, a cozinha parecia que havia sido tomada por um vendaval, tamanha a bagunça e o “caixa”, abarrotado de dinheiro. Até então eu nunca havia visto tanto dinheiro junto.

Como explicar esse ocorrido? …

Algumas pessoas afirmam ter sido a presença de Deus em nossas vidas, na figura desse andarilho, que nos recompensou pelo fato de termos lhe dado atenção. Mas eu acredito numa versão mais lógica. Mesmo revoltado e frustrado pela situação vivida até aquele momento, ao manter o bar aberto motivado pela presença misteriosa daquele nosso visitante especial, permitiu que essas incontáveis pessoas não batessem com a “cara na porta”, e assim, numa surpreendente invasão eles superlotaram e devastaram todo o estoque de consumo do nosso ‘Emanuele Bar’, como nunca havia acontecido antes. Tivesse eu apenas atendido o ancião na porta e mandado ele seguir, nada disso teria acontecido.

E assim vivemos esse momento mágico de intensa e rara felicidade, proporcionando-nos uma excelente soma de “cifrões” que se esvaíram no cumprimento de compromissos e aquisição de bens de consumo, porém a experiência inesquecível desse Natal, perpetuou-se para sempre em nossos corações, fazendo-nos acreditar que realmente DEUS EXISTE; ele está no meio de nós, nos nossos atos, atitudes, desejos e na nossa capacidade de perceber e sensibilizar que a vida é muito mais e maior do que imaginamos e que as soluções para os nossos problemas, que muitas vezes as vemos inalcançáveis, geralmente estão do nosso lado, bem próximo e não percebemos! …

QUE TENHAM TODOS UM FELIZ NATAL E UM ANO NOVO PROFÍCUO, DE MUITA PAZ, SAÚDE, MUITOS SONHOS REALIZADOS, AMOR E, PRINCIPALMENTE, O CORAÇÃO SEMPRE ABERTO PARA RECEBER NOVAS EMOÇÕES!  …

 

Arnelos Vieira – arvelosvieiraneto@gmail.com




O leitor participa: Arvelos Vieira: 'ACLA, uma Academia envolvente, surpreendente e diferente'

Somos gente,/ Gente igual a gente./ O nosso envolver?/ A cultura enaltecer!”

ACLA, uma Academia envolvente, surpreendente e diferente

Somos gente,

Gente como gente.

Temos os mesmos anseios e desejos,

Temos sede, temos fome e nossos fraquejos.

Só que temos um pouco mais de fome;

Fome por cultura, por literatura.

Gostamos de escrever, fazer acontecer.

Criar, trazer à tona o âmago do saber,

Não imaginam com que inebriante prazer!

Somos gente,

Gente igual a gente.

O nosso envolver?

A cultura enaltecer!

Não somos diferentes,

Não somos intransigentes,

Somos vaidosos? Talvez, nem todos,

A vaidade massageia a auto estima.

Joga o dinamismo para cima,

O mal estar elimina e tudo se anima!

Somos gente.

Nada diferente do convencional.

Somos um grupo informal,

Com reunião habitual,

Respirando clima cultural.

Não temos e por isso não usamos FARDÃO,

Não nos seduz, queremos liberdade de ação,

Nada de ostentação. Não queremos badalação.

Não queremos fugir da razão,

Pelo contrário, queremos é aproximação,

De uma sociedade tão carente de informação!

Nossa Academia de Letras, e Artes

Não traduz sapiência de baluartes,

Mas sim o desejo de fazer parte,

De um grupo decidido a fomentar a cultura.

Não precisamos de fardão para essa finalidade,

Precisamos é de disposição e muita envergadura.

Não vivemos e não queremos viver de aparências,

Pelo contrário é nossa meta sempre a transparência,

Queremos Cruzeiro destaque no campo da cultura,

Respirando e transpirando a literatura.

Essa será sempre a nossa propositura.

“Sopa de letrinhas” como quiseram nos escrachar,

Visando com isso nos diminuir, depreciar,

Só na cabeça de acéfalo de ignorância rudimentar,

Algum infeliz que não deve ter o que apresentar!

Somos um grupo de confrades e confreiras,

Que em agradáveis reuniões costumeiras,

Trocamos novidades de forma ordeira,

Enfim são horas marcantes de eterna magia,

Nas nossas reuniões da “Academia que virou mania!”

E assim com mais esse poema a todos eu desejo,

Um FELIZ NATAL e um ANO NOVO maravilhoso,

A vocês queridos ACADÊMICOS é tudo que almejo,

Que 2019 tenhamos um ano muito mais glamoroso!

Arvelos Vieira 

arvelosvieiraneto@gmail.com