Pietro Costa: 'Ora e Labora'

Pietro Costa

Enaltecer sessenta e um anos de histórias

É restabelecer autênticas memórias

 

Do chão seco do planalto

E sua poeira acumulada

Ergueu-se um sonho alto

De uma mente visionária

 

Nas asas vastíssimas do presidente J.K.,

Os destinos de toda uma nação a planear

 

Ora e labora, ora e labora,

Ansiedade capital!

 

Ora e labora, ora e labora,

Para um Distrito Federal!

 

Ora e labora, ora e labora

O deserto virou canto de obra

E uma lírica urbe aflora

Quem sabe, faz a hora

 

Cava

Corta

Serra

Solda

 

Engenho máximo de oportunidades

Labor árduo de candangos intimoratos

Mãos operosas em intensas atividades

Lapidando a preciosa joia do cerrado

Nos prédios de fachada envidraçada,

A magnitude da lírica urbe é realçada

A renomada profecia encontra reflexos

Sonhos futuristas e mistérios concretos

 

LBV e seus impressionantes vitrais

Templo Budista, máximas orientais

A Dom Bosco, a Catedral, a Igrejinha

O Vale amanhece com casos de ufologia

Credos e crenças coexistem, harmonia

 

Enfeitando as retinas com ipês amarelados,

Emolduro suas lembranças como um quadro:

Lágrimas de aurora florescem o imaginário

 

O entardecer que parece uma quimera

O sol a desmaiar no recanto das vistas

Sua rutilante luz se despede, pela janela

No anoitecer desprovido de ondas e praias,

Mergulho no âmago de sua orla estrelada

Até enfim encontrar, radiante, entrequadras,

A esperança, ao longo de postes e calçadas,

Revestindo Brasília e a sua aura iluminada

Nos olhares de crianças felizes e integradas

 

ORA Y LABORA

 Autor: Pietro Costa

Traducción Damelis Castillo

 

Enaltecer sesenta y un año de historias

es restablecer auténticas memorias

De la tierra seca de la planicie y su polvero acumulado

se irguió un sueño alto de una mente visionaria

en las alas vastísimas del presidente J.K.,

a planear los destinos de toda una nación

 

Ora y labora, ora y labora,

  ¡Ansiada capital!

Ora y labora, ora y labora,

 ¡Para un Distrito Federal!

Ora y labora, ora y labora

 

El desierto se volvió cantera de obra

y una lírica urbe aflora

Quien sabe, hace la hora

 

Cava

Corta

Sierra

Solda

 

Ingenio máximo de oportunidades

Labor ardua de candangos destemidos

Manos operarias en intensas actividades

lapidando la preciosa joya del “cerrado´´

 

 

Edificaciones de fachadas de vidrio,

realzan la magnitud de la lírica urbe

La renombrada profecía encuentra reflejos,

sueños futuristas y misterios concretos

LBV y sus impresionantes vitrales

Templo Budista, máximas orientales

La Don Bosco, la Catedral, la Iglesita

El Valle amanece con casos de ufología

Credos y creencias coexisten en armonía

 

Adornando las retinas con tabebuias amarillos,

enmarco sus recuerdos como un cuadro:

Lágrimas de aurora florecen el imaginario,

el atardecer que parece una quimera…

El sol se desmaya en el refugio de las vistas,

su brillante luz se despide, por la ventana

En el anochecer desprovisto de olas y playas,

sumergido en el gesto de su orilla estrellada

hasta al fin encontrar, radiante, entre cuadras,

la esperanza, a lo largo de postes y aceras,

revistiendo Brasilia y a su aura iluminada

en las miradas de niños felices e integrados.

Link para assistir ao clipe poético:

 

 




Fábio Ávila: 'A outra Brasilia'

Fabio Ávila

A Outra Brasília

A calçada larga e disforme, totalmente “forrada” de cimento, está sob pequenas mesas de plástico com suas horrendas e desconfortáveis cadeiras ora vermelhas, ora alaranjadas, ostentando em seu encosto marcas de cervejas populares como “Devassa, bem loura” ou “Skin”.

 

As lojas e demais estabelecimentos comerciais de “baixa estatura” ficam perdidos, submersos, afogados, entre placas de publicidade que conduzem uma promíscua poluição visual que nos faz lembrar, há décadas, as ruas movimentadas da antiga Madras, populosa cidade indiana.

O hotel onde hospedei-me não tinha nenhum charme em sua fachada ou na decoração interna. Encontra-se em uma movimentada avenida onde uma passarela nos permite atravessar a ruidosa via e caminhar até a estação de metrô Tabatinga Sul.

Alguns carros velozes, com suas janelas abertas, inundam o ar com estilos musicais nordestinos, música sertaneja e o batuque do terrível – e temível – atentado aos tímpanos, o indigesto funk.

O céu, de um azul translúcido, tem sons esmaecidos pela ausência de luminosidade no findar do dia. Poucas nuvens, esparsas, parecem salientar que o firmamento está prestes a acolher a hecatombe.

 

 

Vem-me à mente que, há décadas, esta região fora coberta de espécies vegetais endêmicas do Cerrado em suas formas retorcidas enaltecidas por pequenas bromélias arraigadas em seus troncos. Pequenos animais, pássaros diversos e aves de rapina compartilhavam esta abençoada porção de Brasil antes que o animal racional destruísse esse paraíso terrestre.

Tabatinga Sul, a Outra Brasília. A Brasília nordestina, o Distrito Federal desfigurado! Onde impera a desordem, a poluição visual e sonora. Onde reside o mau gosto.

Este é o Brasil profundo, a nação esquecida, terra longe dos holofotes e da maldição que paira no Senado, na Câmara dos Deputados, nos Ministérios e no âmago dos malditos que se intitulam “donos do Brasil”.

Sigo caminhando a favor da brisa e com documento.

 

Percebo, ligeiramente, a estética na inocência ainda existente ao presenciar a entrada, na igreja próxima, de uma noiva acompanhada de seu pai cadeirante cuja imobilidade física retrata fatos ao longo de sua história de vida com seus segredos.

Cena belíssima e comovente. Será o início ou a continuidade de uma complexa trajetória pelo destino?

Viva o Cerrado minguante!