Sergio Diniz da Costa: 'Os confinados'

Sergio Diniz

Os confinados

Diariamente passeio com meu cão (Tobby) pelas ruas do meu bairro e bairros adjacentes.

Esses passeios me levaram a constatar que em muitas residências e até mesmo em pequenas empresas têm cães, em alguns casos até dois ou três.

Num primeiro momento, a impressão é que, a cada dia, aumenta o número de pessoas que parecem gostar de cães. Essa impressão, entretanto, em muitos casos, é enganosa.

Constato, com uma imensa tristeza, que é significativo o número de cães que vivem confinados em suas casas ou em estabelecimentos comerciais. São animais que têm por espaço uma garagem (algumas com dois carros) ou um pequeno terreno ou quintal e por horizonte uma nesga de paisagem, vista pelas frestas de portões. Em alguns casos, os cães ficam presos por correntes o dia inteiro.

Esse enclausuramento, com o tempo, torna os cachorros doentes, física e/ou emocionalmente. Alguns se tornam violentos e, se conseguem escapar da casa, podem atacar pessoas; outros chegam a se automutilar.

A Lei nº 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências, prevê em seu art. 32, caput: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.

O citado artigo não esclarece e, muito menos, enumera o que se configura como ato de abuso ou maus-tratos. A prática, contudo, aponta os atos mais comuns: abandono, manter animal preso por muito tempo sem comida e contato com seus donos/responsáveis, deixar animal em lugar impróprio e anti-higiênico, envenenamento, agressão física, covarde e exagerada, mutilação e utilizar animal em shows, apresentações ou trabalho que possa lhe causar pânico e sofrimento.

Manter cães diariamente confinados se configura, indiscutivelmente, como um ato de maus-tratos, pois, com isso, “os impede de desenvolver atividade física, independentemente da raça. E essa energia não gasta vai se acumulando cada vez mais até o cão encontrar um jeito de eliminá-la, sendo maneiras mais comuns dessa energia ser dissipada roer ou destruir algo, latir, mostrar comportamentos compulsivos e às vezes até agressividade”.*

Outro aspecto do dano causado pelo confinamento reiterado se encontra no fato de que “os cães são animais gregários, ou seja, eles naturalmente vivem em grupos e precisam de interação social com os membros de sua própria espécie. Um cão que passa por essa privação social pode sofrer distúrbios emocionais e psicológicos graves, demonstrando timidez, medo excessivo ou agressividade com outros cães”.*

Presenciar diariamente esse atentado contra a saúde física e emocional de um animal historicamente alçado como paradigma da lealdade aos seres humanos leva-me a refletir que, ao contrário de seres humanos criminosos, os quais uma vez apreendidos pelos agentes policiais são posteriormente julgados, observando-se os trâmites e defesas legais e, somente depois, se condenados, encarcerados, os cães ‘de guarda’ de certas residências e empresas não têm o mesmo direito.

Até porque, o único ‘crime’ que cometeram foi o de confiar em seres humanos!

Humanos?

*  https://www.petlove.com.br/dicas/necessidades-basicas

Sergio Diniz da Costa   

  jornalculturalrol2@gmail.com




Pedro Novaes: 'Animais Amigos'

colunista do ROL

 Pedro Israel Novaes de Almeida: ‘ANIMAIS AMIGOS’

 

Quem convive com animais não admite a ideia de que sejam seres irracionais, movidos a instintos de mera sobrevivência.

A convivência estabelece um diálogo que dispensa palavras e submissões, e o mútuo amparo desafia solidões e carências. A fidelidade é a marca do relacionamento.

Cada pessoa possui um animal ou ave favorita. Pode ser um cavalo,  cabra, jiboia e até mesmo lagartos.

A preferência, contudo, é, mundialmente, exercida por cães e gatos. Ambos parecem dividir a humanidade, pois são raros os que gostam igualmente de ambos.

Situamo-nos dentre os que gostam de cachorros, e não sentem a mínima afinidade com gatos. Como castigo, amargo a desventura de ver que meus cães sequer latem para os gatos, com que convivem em harmonia.

Crianças adquirem responsabilidade e respeito, convivendo com animais domésticos. Idosos encontram amigos dependentes, que estimulam a sobrevida, e afugentam a sensação de serem estranhos no meio onde vivem.

Cães exercem vigilância, apontam drogas e salvam vidas, em ações espetaculares. Conduzem cegos, manejam rebanhos e até diagnosticam, ao primeiro contato, pessoas com quem não devemos conviver.

É incrível a personalidade canina, comum aos indivíduos da mesma raça. Um Labrador sempre será, por natureza, dócil, e um Pastor Alemão necessariamente fiel.

Vira-latas, especialistas em sobrevivência, mostram, vez ou outra, as raças de que descendem, na quase sempre longínqua e ignorada origem.

Assim como as pessoas, os cães demonstram os estímulos e estresses tidos durante a vida. Respeitados, dificilmente assumirão atitudes imprevistas ou violentas.

A humanidade sempre buscou moldar os cães às suas necessidades, gerando raças com tendências à ferocidade e combate. Também gerou miniaturas destinadas ao sofá e colo.

Na verdade, a função protetora integra a natureza dos cães. Compete ao cão latir, e ao dono morder.

O respeito aos animais, ainda distante, integra nosso ordenamento legal, e qualquer maltrato é criminoso. Houve um tempo em que as populações de rua eram, às escondidas, levadas ao município vizinho.

Atualmente, os poderes públicos atuam em centros de zoonoses, auxiliados por voluntários que castram, curam e promovem campanhas de adoção. Não raro, tais voluntários não recebem o necessário apoio, oficial ou privado.

A ação oficial ainda engatinha, no acompanhamento da qualidade das rações e produtos destinados aos animais. Rações desbalanceadas comprometem todo o desenvolvimento e o próprio bem-estar dos domesticados.

A saúde pública humana depende da saúde dos animais domésticos, e são raros os prontos-socorros a eles destinados.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.