Artigo de Celio Pezza:'O desastre de Mariana'

Celio Pezza: Crônica # 290: O desastre de Mariana

 

Colunista do ROL
Celio Pezza

O rompimento da barragem em Mariana-MG, em 05 de novembro de 2015, já é considerado um dos maiores desastres ecológicos do mundo, com consequências terríveis para toda a região por muitas dezenas de anos.

De acordo com o Relatório Anual de Sustentabilidade, a produção da mineradora gerou no ano passado, perto de 22 milhões de toneladas de rejeitos e o seu lucro no mesmo período foi de R$2,8 bilhões de reais.

O rio Doce morreu e o solo de toda região está contaminado por uma série de metais pesados, alguns cancerígenos e de vida extremamente longa na natureza.

A lama mortal atravessou milhares de quilômetros e atingiu o litoral, destruindo também a vida marinha.

Este episódio mostra o quanto a União e os estados brasileiros estão subordinados aos interesses das mineradoras, sob o discurso de manter um superávit primário.

Além da degradação ambiental, existem casos de evasão de divisas, sonegação de impostos, falta de controle sobre o que foi realmente extraído e comercializado no mercado internacional e outros crimes.

Apesar de tudo, o setor recebe incentivos fiscais para novos empreendimentos.

No caso desse desastre, a Samarco Mineração pertence a Vale (50%) e à inglesa-australiana BHP (50%), duas das maiores empresas de mineração do mundo.

De acordo com relatórios da Samarco, em 2014 faturaram perto de R$7,6 bilhões e investiram em meio ambiente cerca de R$80 milhões, ou seja, perto de 1% do faturamento.

A mineradora também aparece como uma grande financiadora de campanhas politicas de 2014, contribuindo com perto de R$48 milhões para diversos partidos.

Poucos dias depois da tragédia, a presidente Dilma assina o decreto 8.572, de 13 de novembro de 2015, onde passa a “considerar como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens, que ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais”, para que os atingidos possam sacar recursos do FGTS.

A subprocuradora Sandra Cureau, que atua na área de Meio Ambiente da Procuradoria-Geral da Republica, criticou o decreto, pois isso pode ser usado pela Samarco, alegando que se foi causa natural, não é de responsabilidade de ninguém.

Ela ressaltou que a liberação do FGTS já desvirtua o objetivo do fundo, que não poderia ser utilizado para reparar danos que são responsabilidade da mineradora.

É no mínimo um decreto infeliz, ainda que a intenção tenha sido boa.

Ainda de acordo com a subprocuradora, “a presidente não pode editar um decreto dizendo que um quadrado é redondo, que uma laranja é azul. Esse desastre não é natural”.

 

Célio Pezza

Novembro, 2015




Artigo de Celio Pezza: 'Fobias'

Célio Pezza – Crônica # 288: Fobias

Colunista do ROL
Celio Pezza

Existem mais de 400 tipos de fobias, algumas conhecidas de todos e outras bem estranhas.

Uma delas, mais recente, chama-se Nomofobia, que é o horror de ficar sem seu telefone celular funcionando.

Este nome surgiu na Inglaterra, onde uma pesquisa revelou que existem mais de 15 milhões de britânicos que sofrem desta síndrome e que não conseguem ficar sem o seu telefone celular ou mesmo sem linha ou bateria.

Identificaram que esta falta de celular causa angústias, ansiedades, pânico e mudanças na frequência cardíaca em pouco tempo.

Existem indivíduos que seguram o celular nas mãos para atender de imediato e não deixa o telefone de lado nem na hora de ir ao banheiro ou fazer sexo.

E, se ele tocar, deixa de lado o que está fazendo para atender.

É triste ver a que ponto chega o relacionamento de uma pessoa com seu celular.

É como uma droga e a pessoa viciada não consegue viver sem ela.

Em breve, teremos clínicas e remédios especializados para controlar esta fobia.

Outra interessante chama-se Ergofobia, que é o medo ou aversão ao trabalho.

É a famosa vagabundagem, que recebe o status de fobia e passa a ser considerada dentro da medicina.

São indivíduos que não trabalham, não querem trabalhar e passam mal só de pensar em arranjar um emprego qualquer.

Imaginem se no futuro começarmos a ter aposentadorias especiais para indivíduos que possuem este problema.

Aqui no Brasil, teremos uma enorme fila de espera para fazer uma perícia médica e conseguir um laudo de afastamento.

Enquanto isto, os que não têm a famosa Ergofobia, trabalham para pagar impostos e sustentar os portadores desta fobia.

Outra fobia interessante chama-se Afobia, que, pasmem, é o medo da falta de fobias.

Continuando, temos  Anatidaefobia, que é o medo de ser perseguido ou observado por patos, Epistemofobia, que é medo do conhecimento, Estupofobia, que é o medo de pessoas estúpidas, Sofofobia, que é o medo de aprender, e por aí vai.

É interessante notar que no meio de tantas fobias estranhas, não encontramos uma fobia da falta de vergonha, da corrupção, da ignorância e tantas outras que seriam especialmente benéficas ao nosso país. Mundo estranho este nosso.

 

Novembro, 2015