Claudia Carvalho: 'Depois do Adeus'

Pessoas, amores e desamores vêm e vão de nossas vidas​, mas a sua eterna companhia é você mesmo carregando suas lembranças e as consequências de suas escolhas

 

Pessoas, amores e desamores vêm e vão de nossas vidas​, mas a sua eterna companhia é você mesmo carregando suas lembranças e as consequências de suas escolhas.”

Tantos sentimentos e conflitos precedem ao inexorável instante do ultimato aceno do adeus.

As almas enrugadas pelos seus corações dilacerados na exaustão provocada pela dor colecionada e, por fim, potencializada pelo final abandono.

O nefasto fim de uma história de amor, pode ser comparado a um acontecimento catastrófico de dimensão de tal magnitude, a nos varrer da própria existência da alma.

Assim, impiedosamente atingidos, naquilo que nos é de preciosidade vital, passamos a vagar por solo inóspito, desabrigados de nossas almas, apenas como personagens errantes de nossa própria biografia.

O romper de uma história a dois, nem sempre significa o fim do amor, do qual o adeus insiste se despedir também agora.

E, por sobreviver esse sentimento, o amor, mesmo que soterrado aos escombros do próprio relacionamento, é muito difícil dissociá-lo dos sabores do ressentimento e do ódio pelo adeus.

O adeus contraria a própria vontade do amor em ficar.

Misto de alívio e repentino arrependimento na decisão terminal, o adeus, ardilosamente, confunde a racionalidade e a emoção humana, na medida em que a vontade é de ficar mas a decisão, ainda assim, é de partir.

E o adeus, aliado do orgulho e da limitação humana, é o vencedor entre os unânimes derrotados do amor.

Mas das ruínas desse acontecimento ainda podemos emergir em direção à pacificação existencial, se formos capazes de escolher pela suavidade e retidão do caminho.

O amor nos fará crescer em versões mais completas de nós mesmos desde que tenhamos responsabilidade emocional também com o outro e o compromisso incondicional com a dignidade.

Pior dor não é a da partida mas a das costas da indiferença e do desprezo.

É o sair da vida do outro como se nunca nela tivesse antes entrado, batendo a porta no vazio da ingratidão e do esquecimento.

Ao se despedir, somente a você caberá decidir a herança emocional que deseja transmitir e quais as marcas que tatuará na alma e na vida de quem está deixando.

Na partida pode ser grande, do tamanho da dignidade, ou encolhido na insignificância da decepção causada.

A escolha é sua em qual imagem deseja eternizar-se na lembrança da vida de seu despedido amor.

Pode ser a do doce rosto amigo de alguém que, até o último segundo depois do adeus, se importou com o outro, com os sentimentos que cativou no coração alheio, no mesmo coração em que fez a morada de seus sonhos um dia.

Ou da face assustadoramente cruel de um inimigo oculto até então despercebido eis que camuflado pela máscara que se apresentava diante do amor, dispensando ao então parceiro de outrora o tratamento de um algoz, ao ferir-lhe com a humilhação das armas cruéis do desprezo e da frieza ao completo abandono.

Insensível, a descartar ao lixo da humilhação o sentimento alheio, apregoa agora o ódio e a indiferença de sua imagem ao olhar do outro, antes tão bem cuidada, sobre si mesmo.

Ao término do relacionamento, será medido por suas atitudes, seus princípios e sua ética, podendo crescer ao topo de um gigante ou reduzir-se a um diminuto tamanho.

Encolhido, poderá assim ser invisível a todos, mas não escapará de ser observado pelos olhos da imagem tortuosa a refletir do espelho.

As pessoas são seres sentimentais, que carregam planos e sofrem traumas, não coisas para serem adicionadas e descartadas ao depois sem qualquer cuidado e compromisso.

A maturidade reside na preservação da integridade e do respeito à própria história, preservando o outro da destruição.

A escolha pode ser ainda pela vala do abismo emocional, ao tentar enxotar das lembranças a sua história de amor, repudiá-la em sua mente e em seu coração, ou alimentar seu ódio por ela.

É como se o ressentimento pudesse ocupar o lugar vazio do amor que partiu.

Iludido, acredita que pode assim esquecer os sentimentos de amor e de apego que ressuscitam a dor.

O desprezo e o ódio pelo que viveu lhe trarão uma aparente sensação de saciedade ao vazio de sua dor, e assim em desespero os tomará para si.

Então, o vazio lhe engolirá mais e mais pelas profundezas dos escombros, até que a luz desaparecerá por completo pelo cerrar das janelas e portas de sua alma.

Assim, se perderá da esperança, ficará cego perante as infinitas possibilidades de renovação da vida, e nessa aridez existencial se aprisionará no calabouço do conformismo da derrota.

Entretanto, poderá aprender e, ao mesmo tempo lutar com essa experiência existencial ao render-se à melhor das escolhas para a superação, sendo generoso consigo mesmo ao recusar o abismo emocional.

Compreensível não nos darmos mais em empatia por quem escolheu o caminho de nos soterrar impiedosamente a alma ao tripudiar sobre nossos sentimentos mais caros.

Por aquele a quem foram dadas várias oportunidades para repensar suas atitudes e corrigir a rota, mas decidiu por agravar ainda mais as feridas alheias.

Porém, não é preciso violentar-se extirpando aquele que amou do seu coração, mas é necessário exercitar-se a conviver emocionalmente com a perda ou a renúncia ou a decepção, pelo tempo e no formato que forem necessários para a sua superação.

Raízes dos traumas nascem das sementes vingativas do erro do rompimento forçado, imediato e a qualquer preço, com a dolorosa morte do outro dentro do coração, como meio de sobrevivência da alma cuja memória, entretanto, embora adormecida, é eterna.

Os sentimentos têm que ser trabalhados, compreendidos e aceitos e não abandonados em luto perpétuo pelas frestas do caminho.

Lembrar que as despedidas são portas para outras chegadas e para novos caminhos, no círculo dinâmico que é a vida.

E que o sopro do vento sempre muda de direção embaralhando as folhas na surpresa do inusitado.

Depois do adeus, que você, em trauma, não tenha medo de não esquecer, mas que consiga, mais do que suportar a lembrança, ser capaz de conviver pacificamente com ela e lapidá-la, gentilmente, até que, por fim, se encaixe confortavelmente dentro de você.

Pessoas, amores e desamores vêm e vão de nossas vidas, mas a sua eterna companhia é você mesmo carregando suas lembranças e as consequências de suas escolhas.

Escolha o certo, escolha ser feliz na paz do seu sorriso no acalentar do seu coração.

 

 

Inspiração , 13 de fevereiro de 2.018.

 

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Cláudia de Almeida Carvalho

Para satisfação nossa e atendendo a um convite do nosso editor Sergio Diniz da Costa, Cláudia de Almeida Carvalho é a mais nova colaboradora do nosso jornal.  Ela mora em Sorocaba/SP, é advogada e pós-graduada com capacitação para a docência em Direito e Processo do Trabalho. Tem sólido e profundo conhecimento no ramo do Direito, área onde atua, ininterruptamente, há mais de 32 anos , em especial nos campos do Direito e Processo do Trabalho, Direito do Consumidor e Direito Imobiliário. Já atuou como professora docente para o SENAC, na disciplina de Direito e Legislação voltada aos cursos técnicos. Cláudia escreve crônicas, poesias e reflexões e elabora trabalhos também em fotografia, jardinagem, scrapbook e decoupage em madeira. Abaixo, a primeira colaboração dela como colunista do ROL, a crônica “QUEBRA-CABEÇA”. Seja muito bem vinda, Cláudia! (Helio Rubens, editor)

Quebra-cabeça

 

Existem memórias que se eternizam em nós, de uma tal forma , que podemos dizer que integram o nosso próprio código genético.

Acredito mesmo que as nossas experiências de vida, nossos sentimentos e todas as sensações humanas, vão sendo entalhadas, como pequenas peças de um intrincado quebra-cabeça, e agregadas delicadamente em nossa alma.

E, durante nossa existência, a combinação dessas peças vai construindo uma estrutura de identificação personalíssima.

Cada ser, entretanto, vendo com os olhos que pode ter, combina as pequenas peças de acordo com a sua capacidade de entendimento do todo, partindo da compreensão de si mesmo.

Os mistérios existem e não é dado ao homem conhecê-los e a nenhuma fórmula científica decifrá-los.

Almas entrelaçam suas vidas, umas nas outras, nos mais variados formatos, com elos passionais próprios da natureza humana.

Encontros sucedidos de desencontros mal sucedidos, por obra do destino zombeteiro, imperador da lei do tempo e soberano das próprias vontades.

O elo do amor, vencendo a tirania do tempo, se mostra agora forte e poderoso para, finalmente, cumprir sua missão de resgatar o encontro daquelas almas até então separadas apenas por um olhar.

Elas não se viram até então. E, por décadas, sempre estiveram lado a lado, nos mais variados contextos da existência.

Mas não importa por quanto tempo as almas, então vizinhas, se perderam uma da outra, porque o aqui e o agora é o seu melhor presente, verdadeira dádiva da conspiração dos enigmas do universo.

E no presente, ideal ou não para o encontro dessas almas , não importa, é o palco onde está se apresentando, de forma inédita, toda a magia da vida, todo o encantamento.

Privadas há tanto tempo da comunhão, estão agora ansiosas para não mais se perderem, criando assim momentos únicos para se eternizarem entre si, para se gravarem um no outro de forma que nada possa apagar.

Nunca mais essas almas serão as mesmas de antes diante da magnitude desse encontro promovido pelos ecos sussurrados das profundezas insondáveis do cosmos.

Não serão as mesmas, serão muito melhores, adicionadas que estão por essa experiência única e sublime de amor que, então, simplesmente decidiram por viver e compartilhar intensamente.

Apenas a certeza do sentimento que pulsa presente importa, já que o hoje é a eternidade para essas almas, que se misturam e se combinam apaixonadamente, e se fundem no encaixe perfeito do jogo do destino.

 

Inspiração poética de 25/09/2017

Cláudia Carvalho –