Apelo das entranhas

Cláudia Lundgren: Poema ‘Apelo das entranhas’

Cláudia Lundgren
Claudia Lundgren
Cláudia Lundgren

Meu silêncio ensurdecedor ecoa em minha mente;

ouço o apelo das palavras não ditas, dos gritos tolhidos,

dia e noite, tentando me convencer desesperadamente,

com chantagens inaudíveis, do meu interior, a expeli-los.

São segredos que guardo cativos nas cadeias da minh‘alma

e que hoje clamam, veementes, para que eu erga a aldraba.

Respostas que desejei vomitar, no ímpeto do furor,

retornam à garganta, flamejando-me tal qual tórrida brasa.

Meu silêncio desperta-me da inércia e do sono

e as vozes interiores suplicam por socorro,

enquanto as águas do rio correm tranquilas

e os meus lábios, feitos túmulos, nenhuma palavra anuncia.

Pobre de mim: um ser reservado com alma frenética!

Tapo os ouvidos; não ouço os apelos das minhas entranhas

querendo expor ao mundo as angústias morféticas,

meus medos secretos e os mais lúgubres dramas.

Meu sangue correndo nas veias, brados estridentes;

bacia hidrográfica que deságua no meu coração.

‘Tum-tum’ – quer ‘dar com a língua nos dentes’

revelar os mistérios; difamação.

Engulo o choro: com ele me engasgo; a tristeza alimento;

por não ter falado o que eu deveria em certos momentos.

E nesses instantes ouço alaridos, meu eu se revolta;

mas minha boca, uma moça covarde, de atadura, se envolta.

Cláudia Lundgren

Contatos com a autora

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Claudia Lundgren: 'Feliz aniversário, Jornal Cultural Rol!'

Claudia Lundgren

O que dizer sobre uma pessoa que completa 29 anos?

Bem, pressupõe-se, de um modo geral,  que ela já tenha idade suficiente para ter personalidade própria e inspirar, ou não, nos demais, credibilidade.

Um adulto com 29 anos já adquiriu certa maturidade, embora seja alguém em construção, o que, aliás, é uma característica de um ser humano em qualquer idade, porque jamais estamos prontos, sempre estamos sendo ‘reformados’, ‘ampliados’. É um jovem adulto com disposição;  é alguém querendo sempre mais. Como dizem por aí, é estar na ‘flor da idade’, buscando formação e aprimoramento.

Uma pessoa de 29 já não é o adolescente confuso de 18, mas talvez não seja o racional de 40; ela tem sonhos, com os pés no chão, que correm velozes a fim de realizá-los; em geral, sabe o que quer, não possuindo aquela dúvida sobre qual profissão seguir, porque já se conhece o suficiente.

São modernos em seus trajes e na linguagem;  já conseguem se expressar com clareza e traçar com segurança seus objetivos. São mais flexíveis em relação às críticas, e ficam satisfeitos quando conseguem sanar suas falhas. Desejam crescer em todos os sentidos.

O nosso Jornal Cultural Rol está completando 29 anos: um jovem adulto que possui a seriedade de um meio de comunicação que conquistou confiança e credibilidade. Completar 29 anos é sinônimo de maturidade com ampla possibilidade de crescimento, modernidade, evolução.

Ele não é um recém-nascido de 29 dias; não é criança de 9, nem o adolescente de 19. Vejam bem! São 29 anos!

Já conquistou o seu lugar ao Sol, possuindo colunistas e correspondentes no Brasil e no exterior. Tem sua própria personalidade, a cultural, divulgando eventos, instituições, lançamento de livros, publicando artigos, crônicas, poemas e muito mais, de excelentes escritores.

O Rol está a todo vapor, cheio de gás; todos os dias uma edição com muitas novidades para o leitor; todos os dias reconstruindo-se.

Quero parabenizar, primeiramente ao idealizador e editor, o jornalista Hélio Rubens de Arruda e Miranda; ao editor geral Sergio Diniz da Costa, que me ensinou e vem me ensinando tudo que sei até hoje no âmbito de jornais online; aos editores setoriais, meus parceiros de trabalho e principalmente aos nossos colunistas, que são nossos principais colaboradores e responsáveis pelo sucesso do Jornal, afinal, o que seria dele se não existisse ninguém que enviasse textos, matérias ou releases?

Parabéns Rol! Feliz 29 anos!

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com




Claudia Lundgren: 'Outonar é preciso'

Claudia Lundgren

Outonar é preciso



Observando minhas plantas perdendo o viço, suas folhas amarelando e caindo, percebo que, apesar de amar o outono e ser ela a minha estação preferida, como é dolorido de se presenciar o seu aparente efeito sobre elas.

Por que precisamos perder para ganhar? Morrer para viver? Descer para subir?

Por que as folhas devem cair das árvores e das roseiras e seus galhos ficarem pelados e desprotegidos?

Por que devemos nascer de novo se desejarmos viver uma nova vida?

Por que devemos morrer fisicamente para vivermos eternamente?

Por que Naamã teve que mergulhar sete vezes em um rio sujo como o Jordão para ficar curado da sua lepra?

Quantos questionamentos…

Mas a vida é mesmo assim. Outonar é preciso.

É preciso que as velhas folhas se desprendam dos galhos para darem lugar às novas. Outonar é dolorido, como o processo de metamorfose da lagarta para borboleta. Mas é momentâneo, e fundamental para que o melhor possa vir.

É preciso deixarmos para trás velhas práticas para nos aperfeiçoamos como pessoas. É preciso renunciá-las.

É preciso que esse nosso corpo material e perecível morra um dia, para que aquele, glorioso e incorruptível, possa nascer.

É preciso que desçamos dos nossos pedestais, pois somente com humildade galgaremos degraus maiores em nossa jornada.

A matemática da Vida é diferente da nossa: morrer para nascer; perder para ganhar; descer para subir.

Outonar dói, mas é necessário. É necessário viver cada estação com confiança no processo. Hoje vi minhas plantas secando, mas lá na frente, já as visualizo frondosas e floridas.

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com




Claudia Lundgren: 'Os sons do ontem'

Claudia Lundgren

Os sons do ontem

Se os sons do ontem não ecoassem

tão forte em mim,
certamente, como uma flor, eu os cultivaria;

mas não é assim.
Horripilantes, gritos agudos

de um passado distante,
me tiram a paz desejada no hoje;

alarido constante.

 

Momentaneamente, me distraio com aquilo

que me apraz,
mas logo as vozes dantescas ouço;

tormento voraz.
Liames que almejam me atar, tal como a serpente

faz com a presa,
deles anseio me desvencilhar; sair sã e salva;

ilesa.

 

Eu cuidadosamente os regaria, se não me arrepiassem

a alma;
se, como suaves melodias, me remetessem a momentos

de calma;
mas ao contrário: desejo extirpá-los do jardim

das reminiscências.
Meus tímpanos não mais suportam; prefiro a lucidez

da ensurdecência.

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com

 




Claudia Lundgren: 'Amo-te'

Claudia Lundgren

Amo-te

Ainda que, na lápide, cubra-te a mortalha,

mesmo que tua carne esfrie e enrijeça

e com o triste passar dos dias se desfaça,

amo-te; a tua lembrança me trespassa.

 

Desesperado, toquei tua gélidas mãos;

por nosso último encontro, quanta ânsia.

A terra cobriu-te, e agora estamos

a sete palmos de distância.

 

Fui poeta, dediquei-me meus versos fúnebres;

sonhei em descer contigo à sepultura.

Atraíram-me teus olhos cerrados;

serias minha no além, porventura?

 

Mas ainda que tua alma, desligue-se, alada

e mesmo que da minha face te esqueças,

‘Amo-te, oh virgem imaculada!’ –

no ataúde, ouças, e estremeças!

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com

 

 




Claudia Lundgren: 'Era catastrófica'

Claudia Lundgren

Era catastrófica

Tons cinzentos, cores sórdidas;

sangue escorrendo, cenas mórbidas;

Era catastrófica.

 

Morte, guerra, fome, pragas;

Ossos à mostra, na carne as chagas;

humana saga.

 

Violência doméstica, feminicídios;

pais e filhos, atrozes homicídios;

Covardes, apodreçam nos presídios!

 

Bandeira branca, amor!

Vamos hastear, basta de horror;

Mais amor, por favor.

 

E para o que está fora de controle (sofrimento atroz),

em preces, clamemos, a uma só voz;

que os Céus tenham misericórdia de nós.

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com

 




Claudia Lundgren: 'Elemento vital'

Claudia Lundgren

Elemento vital

Busco-te em lugares longínquos,

ou simplesmente em meu íntimo.

Sinto-te lendo um livro,

ou contemplando algo mágico;

ímpeto!

Uma pena e um papiro

é o que necessito comigo: arrimo;

para que de mim não fujas, me estribo,

nestes exímios apetrechos;

vitalícios!

És como o ar que respiro;

sem ti, compor, não consigo; impossível.

Meu sal, meu açúcar: aguças o meu criativo.

Crucial para todo artista;

precípuo!

‘Inspiração’ – és o termo sem o qual não vivo.

Quero escrever com primor, e para isso,

é mister que estejas sempre comigo.

Se um dia te apartares, pobre de mim;

bloqueio produtivo!

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com