Uma série de debates e palestras vai definir alguns pontos importantes para o desenvolvimento cultural de Itapetininga
“A Conferência é uma possibilidade da população dialogar sobre o que é cultura e expor críticas e necessidades nas mais variadas ramificações como música, dança, teatro, gastronomia, artes plásticas, arquitetura, crenças, costumes, literatura e outras que compõe diferentes significados tanto do ponto de vista individual como coletivo”. As palavras do Secretário de Cultura e Turismo, Maurício Herman sintetizam bem qual o objetivo da ‘Conferência de Cultura’, que rola em Itapetininga, nos dias 2 e 3 de abril, no Auditório da Escola Peixoto Gomide.
Distribuída em 5 eixos (Estado e Participação Social; Infraestrutura Cultural; Patrimônio Cultural e da Memória; Diversidade Cultural; Economia da Cultura), a Conferência vai reunir os principais agentes culturais da cidade para uma ampla discussão sobre os rumos que a cultura deve tomar a curto, médio e longo prazo, em Itapetininga.
A programação também contempla várias palestras sobre os temas que compõe os cinco eixos de discussão. Entre os palestrantes estão a historiadora e especialista em gestão cultural, Débora Bergamini; a idealizadora do projeto ‘Coletivo Exclamação!’, Joy Izauri; o gestor de projetos do ‘Museu da Pessoa’, em São Paulo, Marcos Terra; a doutora em geografia humana, Roselina Burgos; além do sociólogo e especialista em gestão de projetos culturais, Tony Nakatani.
O DEBATE
Para Bob Vieira, um dos principais nomes da música em Itapê, debates como o que vão acontecer são muito importantes para o crescimento cultural,“ Vejo (a conferência) com bastante expectativa positiva, pois assim coloca-se em prática a necessidade de expor o pensamento de cada um, decidindo metas e anseios em geral”. Bob também explica que a realização do evento é uma das exigências para a efetiva participação da cidade no Sistema Nacional de Cultura, “Com isso, teremos maior autonomia na gestão de recursos, podendo criar os editais de apoio à cultura, com apoio financeiro às diversas áreas culturais, democratizando a participação e criando mecanismos efetivos para realizações”.
A professora e coordenadora de projetos de incentivo ao livro, leitura e literatura da Biblioteca Municipal, Milene França, reitera o valor de discussões em torno de vários temas que permeiam a cultura na cidade, “Os eixos discutidos certamente referenciarão iniciativas e ações para garantir tanto a produção como o acesso a cultura. Sob este olhar os envolvidos são considerados atores políticos de cultura, ou seja, representam, participam e consequentemente contribuem para todos os outros setores da sociedade”.
Outro objetivo bastante significativo é criar mecanismos que deem sustentação ao desenvolvimento cultural local, por isso, é fundamental que as ideias de todos os envolvidos na conferência sejam colocadas em pauta e discutidas com lucidez, como salienta o publicitário e criador da página ‘Coletivo Itapê’, Ednei Floriano “O documento final desta Conferência, ao lado daquilo que já foi proposto na primeira Conferência e das audiências públicas realizadas pelo Conselho Municipal de Política Cultural, serão as bases do Plano Municipal de Cultura de Itapetininga, um importante documento que norteará as ações do poder público nos próximos anos. Os pontos debatidos durante a Conferência de Cultura poderão, portanto, criar o caminho que garantirá o desenvolvimento cultural de nossa cidade. Todo esse trabalho faz parte de um processo iniciado há anos e que já teve a participação de diversas pessoas engajadas no setor cultural de Itapetininga”.
Déa Paulino, artista na acepção da palavra, e uma das mediadoras do projeto ‘Leia Mulheres’, também entende que o evento é uma semente para o surgimento de projetos maiores, “Acredito que a conferência será importante para principiar o debate sobre os conceitos de cultura e será proveitosa para o fomento da cultura local à medida em que tornar-se nascedouro de projetos gerados a partir da troca de conhecimentos”.
PARTICIPAÇÃO GOVERNAMENTAL
Para um desenvolvimento real da cultura em Itapetininga, o papel dos órgãos públicos é fundamental, neste caso, o apoio da Prefeitura e da Secretaria de Cultura e Turismo.
O secretário da pasta, Maurício Herman destaca a importância mediadora que o poder público deve exercer, “O papel do poder público é ser um agente facilitador que organize, realize, capacite e, principalmente, proporcione a comunidade manifestações culturais nas mais variadas vertentes da arte, de forma horizontal, descentralizada e com qualidade de conteúdo”.
A ‘tese’ de Herman de é replicada pelo músico Bob Viera, que também enxerga as esferas públicas como importante base de mediação e efetivação de políticas culturais, “O poder público deve dar suporte e criar mecanismos para a efetivação das políticas culturais a serem implantadas na cidade. Organizar e estimular projetos, utilizando o Sistema Municipal de Cultura, seguindo as diretrizes estabelecidas na Conferência e implementando a gestão cultural necessária ao desenvolvimento da cidade”, corrobora Viera.
Em todo esse contexto de participação governamental como vertente importante para o fomento cultural, a Prefeitura, através da Secretara de Cultura e Turismo, trabalha mais como parceira dos agentes culturais, sem se colocar como um órgão superior aos outros. O publicitário, Ednei Floriano acredita que essa ‘parceria’ é um dos pilares fundamentais para a democratização da cultura, “A Prefeitura, por meio das suas Secretarias, possui papel central. Sem ela e sem o legislativo, nada do que está sendo feito em diversas áreas seria possível. A comunidade tem a sua força, claro! Mas é preciso que a Cultura atinja um nível estratégico, ao lado da educação, para que a população possa viver a democracia plenamente. Somente uma representação política consistente poderá fazer com que o desenvolvimento cultural se transforme em política de Estado. Particularmente, vejo a Prefeitura como uma parceira e não apenas como executiva. Não consigo enxergar as secretarias, principalmente a de Cultura e Turismo, simplesmente como locais onde os servidores têm a obrigação de fazer aquilo que lhes é colocado.”
A Conferência de Cultura vem de encontro aos pensamentos tanto dos gestores públicos, como dos representantes civis e agentes culturais, servindo com agregador de pessoas, ideias, além de servir como um baú de ideias de políticas públicas que possam envolver todas as correntes culturais do município.
“A cultura como direito constitucional faz parte das políticas públicas, logo é função dos gestores públicos: valorizar a diversidade cultural, fomentar a difusão, produção e circulação de bens-culturais, integrando políticas e programas através de uma descentralização articulada e pactuada da gestão com a sociedade civil e entidades privadas”, finaliza a coordenadora da Biblioteca Municipal, Milene França.
RESGATE DA CULTURA ITAPETININGANA
Com mais de 30 anos de carreira musical e um dos mais importantes agentes culturais de Itapetininga, Bob Vieira fala da identidade cultural que foi perdida no município e de como a Conferência de Cultura pode ser um passe importante para esse resgate da cultura local, “Itapetininga já foi conhecida como a Rainha do Folclore sul Paulista, com manifestações como o fandango, catira, cururu, congada, bugrada, cavalhada, folia de reis, etc. Essas manifestações culturais foram todas extintas e hoje estamos órfãos de nossa própria história. A cultura sempre ficou em segundo plano diante da gestão pública. Mesmo assim muita coisa sobreviveu e muito foi passado de geração a geração até os dias de hoje. O nosso jeito de ser e viver e falar e muitas das nossas formas de agir e reagir diante do mundo, isso foi sendo transformado conforme o tempo, preservando a sua essência. Falando especificamente da área musical, a Conferência certamente vai expor as necessidades, a ideia é aumentar o apoio à Banda Municipal, à Banda Lira do Rosário, à Orquestra de Viola Caipira Teddy Vieira, ao projeto Guri, à Escola Livre de Música Municipal, Coral Municipal. Outros projetos devem ser ativados, disseminando para a periferia o acesso à educação musical, que também pode ser estimulada em parceria com a Secretaria de Educação”.
Do ponto de vista do poder público, o grande desafio é melhorar a gestão cultural da cidade, criando processos mais rápidos, distribuindo melhor os investimentos, melhorar a produção cultural e estar sempre atento as ideias e colocações do conselho de cultura, como explica o Secretário de Cultura e Turismo, Maurício Herman, “A Cultura de Itapetininga, caracterizando a palavra do ponto de vista do conhecimento apropriado, passa por uma série de desafios como, por exemplo, profissionalizar por parte do poder público a oferta de manifestações e desenvolver um mapeamento destes processos. Há também uma necessidade de se criar ofertas nos bairros e nos distritos, principalmente os que detém baixos índices de desenvolvimento. Da parte dos artistas, no que se refere a espaços, adequação de teatros e auditórios, há muito no que se investir tanto em equipamento quanto em infraestrutura para assim melhorar os espetáculos ou mostras”.
Um dos eixos que serão abordados na conferência e talvez o mais importante na questão do resgate cultural itapetiningano é o Patrimônio Cultural e da Memória. Para o representante em economia criativa, Ednei Floriano, não se trata apenas de um resgate cultural, mas sim de um resgate da nossa identidade como itapetininganos, “Infelizmente, temos visto a deterioração dos nossos valores culturais mais importantes com o passar do tempo. Desde a questão da arquitetura, com a demolição de diversos prédios históricos nos últimos anos, até a quase extinção de expressões como as danças, o tropeirismo, as referências histórias que se perdem. Arte é cultura, sim! Mas somente uma parte dela. A cultura abrange tudo aquilo que nos identifica como povo. A nossa “marca” depende da proteção a esses outros elementos também”.
CONSELHO DE CULTURA E PARTICIPAÇÃO POPULAR
Um dos pontos cruciais dessa Conferência Cultural e que também mostra um novo momento da cultura itapetiningana, é a parceria e o diálogo afinado entre a gestão pública e o conselho de cultura municipal. A união dos principais órgãos culturais e de seus representantes públicos e civis é a chave de uma porta para o fomento real da cultura em Itapê.
“Acredito que em curto espaço de tempo, principalmente ao sintonizar a Secretaria de Cultura e Turismo e Conselho Municipal, o município possa ter um Plano de Cultura ativo, expansivo, funcional e inclusivo”, afirma Maurício Herman, Secretário de Cultura e Turismo.
A comunicação constante entre o conselho de cultura, representantes cíveis e poder público deve ser via de regra, uma exceção. Nesse sentido, a Conferência vai servir para solidificar ainda mais essas relações.
Para o publicitário Ednei Floriano, essa parceria é essencial, com cada um representando o seu papel da melhor forma, “Os representantes da Sociedade Civil devem garantir a correta destinação de recursos dentro do setor, por meio da fiscalização e da criação de dispositivos que permitam uma distribuição justa e democrática entre todas as vertentes culturais. Seus membros também possuem a responsabilidade de ouvir os seus representados e trabalhar ao seu lado na busca de soluções. A proatividade é uma via de duas mãos e a representação civil é muito importante nesse sentido, pois ela expressa as vontades dos segmentos culturais representados e pode oferecer a eles respostas interessantes quando esse trabalho é construído junto à Secretaria”.
Professora e coordenadora da biblioteca municipal, Milene França, arremata o assunto, “A criação do Sistema Municipal de Cultura, que abrange o Conselho Municipal de Cultura, Conferência Municipal e outros, representa o esforço do poder público e sociedade civil para o fortalecimento, adequação, reflexão, discussão de propostas de valorização dos direitos de fruição à cultura”.