Celso Lungaretti: 'Matamos a cobra e mostramos o pau: com um presidente de verdade, o Brasil poderia ter uns 100 mil brasileiros a menos mortos pela Covid'
Celso Lungaretti
Calculamos quantas mortes por Covid poderiam ser evitadas sem o negacionismo do Bolsonaro. o resultado é chocante
NBelíndia: os impostos aqui existentes seriam tão elevados quanto os da rica Bélgica, mas a miséria que suportávamos equivaleria à da paupérrima Índia.
Acabo de constatar, numa rápida pesquisa, que a Índia continua pobre (PIB de US$ 2,59 trilhões para uma população de 1,26 trilhão de habitantes) e o Brasil nem tanto (US$ 1,26 trilhão x 212,77 bilhões), mas vem empobrecendo sistematicamente nas últimas décadas.
Chocante, no entanto, é verificarmos que a populosa Índia ocupa o segundo lugar na relação de contaminações pela covid (11,12 milhões de pessoas), tendo 157.248 morrido, enquanto o Brasil ocupa o terceiro lugar nessa lista (10,59 milhões de contaminados) e muitos, muitos óbitos a mais (255.720).
Tais números nos dizem que:
— dos contaminados indianos morreram 14,13%, enquanto 24,15% dos contaminados brasileiros acabaram no cemitério.
Várias vezes este blog já afirmou que a catastrófica administração da crise da pandemia por parte do governo Bolsonaro maximizou o número de óbitos evitáveis, mas não evitados.
PIB per capita é o 76º do mundo e o indiano, o 122º), acredito que tais dados nos permitam, a grosso modo e com uma simples regra de três, dimensionarmos quantos mortos devem ser colocadas na conta das lambanças e/ou sabotagens do negacionista Jair Bolsonaro.
CERCA DE 100 MIL!!!
(por Celso Lungaretti)
Sandra Albuquerque: 'O mal que nos assombra'
O mal que nos assombra
Evitei você
e nem percebi
a sua chegada:
– você veio de mansinho e adentrou no ambiente.
Nem, sequer, por mim
convidado foi.
Afinal, você é
um visitante
não bem-vindo.
Destrói sonhos:
Mutila, abate, corrói, ceifa.
Parece traças que trabalham no silêncio
e evoluem
como o passar
dos segundos.
Seu relógio é traiçoeiro, um tempo impiedoso
que caminha
para o tédio fatal.
É um tormento
quando você penetra
no ser
pois o deixa
vulnerável
sem ânimo
e sem forças.
Como uma serpente contorce a presa
Me a sufoca
você rouba o oxigênio. Você me pegou,
mas não vou morrer,
vou contar ao mundo
os seus efeitos
e que tentem evitá-lo.
Afinal…
Você é
o mal que nos assombra.
Porém, não se esqueça:
-sou mais forte que você.
Eu estou no leito
e é por pouco tempo, pois um dia desses
eu vou acordar
e dizer adeus
a você para sempre.
Autora: Poetisa Sandra Albuquerque
Em homenagem ao amigo Escritor Henrique Lucas- Hosane Henrique- que adquiriu Covid-19)
Rio de Janeiro,12 de fevereiro de 2021)
Direitos Reservados (Lei 9.610/98).
Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Uma crônica'
Uma crônica
“De repente, não mais que de repente”. Com esse verso o poeta Vinícius de Morais sintetizava a mudança brusca das coisas por conta da separação. A dor da separação transformou o mundo de “riso em pranto”, em triste o amante e o amigo próximo ficou distante.
Há algumas semanas esses versos soariam diferente. Hoje, com a pandemia do coronavírus (Covid-19), requer nova interpretação. As ruas cheias ficaram vazias. Triste cena a do Papa Francisco I, solitário na Praça de São Pedro (quando se imaginaria isso!), orando debaixo da chuva, o semblante alquebrado. De repente, não mais que de repente, o Papa que carregava a Igreja para o século XXI, retornava ao século XIV, aos tempos da pandemia que grassava a Europa e a Ásia daqueles tempos. De repente, não mais que de repente…
Londres esvaziou as suas ruas e os italianos ficaram presos em suas casas. A doença que começara a sua desgraça no Oriente, mais precisamente na China, atingia agora o berço do mundo ocidental. E em tempos de globalização, o vírus viaja de avião e de navio. Em primeira classe.
Pela primeira vez, quiçá, a doença começou atingindo aqueles que têm um poder aquisitivo maior. Os brasileiros infectados, por exemplo, pelo que se sabe, adquiriram o vírus em viagem pela Europa. Em tempos de crise, nem todo mundo pode viajar para a Europa. Nem para a Disney, porque o ministro achava que era pecado. Aliás, governos perderam destaque nas manchetes de jornais para um personagem invisível a olho nu. De repente, não mais que de repente.
O mercado não tem mais a força de obrigar os governos a tomar iniciativas. A despeito das gritas do mercado, os governos estão tomando atitudes sensatas de prevenção ao coronavírus. Digo governos porque alguns governantes nunca terão sensatez.
O discurso ignorante, de repente, sofreu uma freada. A ciência e as Universidades públicas não estão mais sofrendo os ataques que recebiam antes. Agora precisamos delas, não podemos prescindir de suas ações. Assim como a de todo profissional da saúde. Estádios estão fechados e ninguém reclama de não ter futebol. A frase de Ronaldo perdeu todo o sentido agora: “Não se faz Copa do mundo com hospitais”. Pois os estádios estão virando hospitais de campanha, esperando pelo pior.
Apocalipse e após-colapso. Tudo misturado, tudo junto e cada um na sua casa. Pensávamos que era impossível vivermos dentro de casa e agora isso se faz mais do que necessário. E tudo isso provocado por um ser minúsculo. Uma revolução silenciosa e maquiavélica.
De repente, não mais que de repente, a sanidade voltou. No Estado de São Paulo, que cumpre à risca as medidas de contenção do avanço da pandemia, incluindo aí a orientação para o isolamento social, o crescimento dos casos é 50% menor do que no resto do país. [1] O Estado em que o capitalismo é ideologicamente mais apreciado, a vida humana ficou mais importante do que a economia. Não importa, neste momento, se há algum interesse oculto nisso tudo. O que se destaca aqui é a mudança brusca de atitude, de pensamento.
E tudo aconteceu tão rápido. De repente, não mais que de repente.