Sandra Albuquerque: 'A espera'

Sandra Albuquerque

A espera

Uma data se aproxima.
E as ruas superlotadas
Gente para todos os lados.
As pessoas sorriem
Embaladas pela emoção
Sim! das compras de presentes.
E ali, eu, encolhida
atrás de uma velha porta
caótica de madeira,
jogada às traças
e ao tempo
e escorado   num velho móvel descartado
pelo dono da loja.
As pessoas passam por mim
e não me enxergam.
Eu sou , apenas, uma criança, sem infância,
numa  deplorável  miséria,
longe dos sonhos
e banhada pelas lágrimas da dor que o  frágil corpo corrói.

E mesmo no fim do túnel,
pois não vejo futuro pra mim,
ali continuo,
esperando que uma alma bondosa apareça e me faça renascer das cinzas como a fênix.
Eu preciso sair daqui.
Será que não tem ninguém
que me leve para casa?
e que pelo menos, me dê guarida, um banho descente,
uma comida quentinha
e uma roupa nova ?
já que é Natal!
E falam tanto em amor
quando só vejo desamor.
Olhem para meu rosto,
pois eu ainda não morri,
mas sinto o cheiro da morte.
Meus ossos estão frágeis e minha alma geme.
Por favor, olhem para mim!

(Poetisa Sandra Albuquerque)

Rio de Janeiro,23/12/2019.
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O leitor participa: Leontino Correa – O Poeta das Ruas -, com o poema: 'Criança de rua'

“Mendigando um pedaço de pão/ O desprezo tristeza me traz/ O meu leito são as pedras da rua/ Cobertor é a luz do luar.”

 

Criança de Rua

Nunca tive um carinho de mãe

Não sei quem é o meu pai

Noite alta e rua deserta

Curto o frio e o sereno que cai.

 

Mendigando um pedaço de pão

O desprezo tristeza me traz

O meu leito são as pedras da rua

Cobertor é a luz do luar.

 

As madames que pulam  meus pés

Em movimento que vem e que vai

Sei que estorvo as pessoas que passam

Mas não tenho onde ficar.

 

Ó, meu Deus! Porque vim a este mundo?

Onde estão minha mãe e meu pai?

Manda a morte aliviar esta dor

Vou-me embora e não estorvo mais.

 

*  O poeta das ruas e outros poemas – Sorocaba/SP: Crearte Editora, 2014.