Jairo Valio: Poema 'Sou criança'
Sou criança
Não tenho espaços, prisioneiro do barranco que me aprisiona,
Quero ver flores, passarinhos cantando, eu sorrindo,
Minhas energias quero gastar em campos floridos,
Correndo livre, recebendo a brisa que vem ao meu encontro.
No entanto, o que vejo me entristece e derramo lágrimas,
Logo em frente ao meu barraco o esgoto que corre solto,
Exalando mau cheiro, não tem pudor, pois traz desgraças,
E quando chove, ganha corpo ameaçando vidas.
É assim a minha vida que gostaria diferente fosse,
Ter um lar digno onde poderia sonhar meus doces encantos,
Pois ser criança é sorrir, saber brincar, correr solta, desimpedida,
Como outras fazem e eu não posso pela minha pobreza.
Na noite escura dentro de meu barraco igual aos muitos,
Ratazanas sinistras catam migalhas das sobras que não temos,
E ameaçam morder mostrando suas presas afiadas e venenosas,
Se nada encontrarem para saciar as suas fomes.
É assim a minha vida de criança pobre sem esperanças,
Sofro frio por não ter cobertas quando o inverno é rigoroso,
E nas chuvas que engrossam o córrego de sujeiras,
Podem levar nas águas sujas nossas posses que são poucas.
Jairo Valio
valio.jairo@gmail.com