Referendo para aprovaçao da nova Constituiçao em Cuba

Claudio Bloch

Claudio Bloch, correspondente ROL

Hoje, dia 24 de fevereiro de 2019, o povo cubano vai às urnas, em consulta popular, para em referendo aprovar a nova Constituição do país.

Cartazes estão em toda a ilha e o assunto domina a midia oficial que procura atrair os 8 milhões de eleitores em condições da participar dessa consulta popular.

Os principais pontos da nova Carta são os seguintes:

1) Reconhecimento da propriedade privada, com limites. Isso permitirá o enriquecimento pessoal, mas com limites. O Estado mantém o monopólio da posse de terra.

2) cria o cargo de primeiro ministro que cuidará da agenda econômica, enquanto o presidente terá a responsabilidade pelos temas do Estado. O presidente terá mandato de 5 anos e apenas uma reeleição.

3) cria regras do estado do direito, como a presunção de inocência e o habeas corpus em processos criminais, bem como a possibilidade de os cidadãos denunciarem violações de direitos humanos por parte do governo.

4) Determina que o Estado é laico e estabelece a liberdade de imprensa, mas a mídia permanece com o governo, atendendo os ideais da revolução socialista.

5) Criminaliza a homofobia, mas não a legalização do casamento gay.

6) A nova Carta reafirma o caráter socialista do sistema político e o protagonismo do Partido Comunista Cubano (PCC).

Opositores e vítimas da repressão cubana veem com ceticismo a proposta.

Essa Constituição é uma mudança para manter tudo igual.

Segundo boa parte dos observadores, as mudanças devem ser ‘cosméticas’.




Celio Pezza: 'Fidel Castro'

Colunista do ROL
Celio Pezza

Célio Pezza – Crônica # 338- Fidel Castro

O ditador Fidel Castro, maior déspota da América Latina, finalmente morreu, com 90 anos de idade.

Durante mais da metade desse tempo, foi o chefe de um regime cruel, responsável pela morte de milhares de cubanos que se opuseram à sua ditadura de esquerda.

Assim que souberam de sua morte, no bairro de Miami chamado de Pequena Havana, onde moram milhares de refugiados cubanos, teve início uma grande comemoração, com todos nas ruas com bandeiras de Cuba, batendo panelas e gritando “Viva Cuba livre”.

Cuba está em festa, embora oficialmente todos tenham que aparentar tristeza pela morte do ditador, pois a ilha é governada por Raul Castro, outro ditador, irmão de Fidel.

No fundo, muitos esperam que, um dia, os irmãos se encontrem no inferno.

A irmã de Fidel, Juanita Castro, fugiu de Cuba há 52 anos e não foi ao enterro.

Em Miami, ela disse fazer votos para que todos os cubanos possam encontrar um melhor caminho, após a morte de seu irmão.

Como grande parte dos comunistas, Fidel adorava o comunismo e o socialismo, desde que fosse para os outros, pois para ele, só queria as benesses que o capitalismo podia oferecer.

Enquanto levou a ilha à miséria, com um médico ganhando míseros US$ 41,00 por mês e quase todos vivendo às custas de bolsas-família do governo, ele mesmo acumulou uma fortuna estimada em US$ 900 milhões, segundo a revista especializada Forbes.

Essa fortuna se deve a negócios controlados pelo governo que, na verdade, são da família Castro.

Enquanto Cuba mergulhava na miséria e no medo, a família Castro enriquecia.

Apesar de todos esses fatos, existe uma parte da mídia comunista e socialista, que se recusa a tratar essa figura hedionda como Ditador, Corrupto, Assassino e ficam chamando Fidel de Comandante, Presidente, Líder da revolução e outros títulos.

Lula e Dilma foram ao enterro e lamentaram a sua morte.

Lula o chamou de “o maior de todos os latino-americanos” e Dilma declarou que Fidel foi “um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte”.

O fato é que, para milhões de cubanos que sofreram e sofrem na ilha, morreu o ditador e eles festejam felizes a sua morte.

Célio Pezza

Dezembro, 2016




CELSO LUNGARETTI E DALTON ROSADO: 'O FIM DE UM DOS MAIS BELOS SONHOS REVOLUCIONÁRIOS DO SÉCULO 20'

 CELSO LUNGARETTI – O OUTONO DO PATRIARCA CHEGA AO  FIM: FIDEL CASTRO ESTÁ MORTO.

A entrada vitoriosa em Havana, no início de 1959.

Fidel Castro, comandante da revolução cubana e principal dirigente do país durante 47 anos, faleceu na noite de 6ª feira, 25.
Foi personagem marcante da segunda metade do século 20, mas sua estrela vinha se apagando desde o fim da União Soviética e do bloco socialista por ela encabeçado.
Em seguida foram suas forças físicas que declinaram, a partir da primeira hemorragia que sofreu em 2006, como consequência de uma doença nos intestinos.
Foi então que, sabendo-se impossibilitado de “assumir uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total”, ele, dignamente, trocou a farda pelo pijama.

Havia liderado uma heroica revolução em 1959 e depois tentou romper o isolamento a que os Estados Unidos submeteram Cuba incentivando guerrilhas similares noutros países do continente americano (enquanto Che Guevara tentava a sorte no Congo, igualmente em vão).
O resultado acabou sendo o mais indesejado possível: a ocorrência de banhos de sangue e a proliferação de ditaduras direitistas, pois os EUA cuidaram ciosamente de evitar a propagação do mau exemplo no seu quintal. [Êxitos verdadeiros, Cuba só colheu em lutas de libertação nacional, ao ajudar, com tropas, munições e outros recursos, países africanos que confrontavam o colonialismo português.]

Fidel e o Che, no melhor momento de ambos.

Curvando-se à evidência dos fatos, Castro foi obrigado a domesticar sua revolução para garantir-lhe a sobrevivência, ainda que desfigurada.
Desistiu de exportá-la e a institucionalizou, repetindo os mesmos desvios autoritários e burocráticos que engessaram a congênere soviética (a qual, com seu ímpeto transformador estancado, acabou sendo retirada de cena em 1989).
Aposentado compulsoriamente, Fidel durou até os 90 anos, mas os últimos dez não contam: tornara-se um inativo político.
Foi grande um dia, mas decerto não se interessava pelo rock, daí ter passado batido pelos conselhos de Pete Townshend (“Prefiro morrer antes de envelhecer”) e Neil Young (“É melhor consumir-se em chamas/ do que definhar aos poucos”).
O Che escutou: morreu na hora certa.
SEU PERFIL ERA DE LIBERTADOR – Castro nunca pretendeu revolucionar o mundo, como Marx, Lênin ou Trotsky. Aspirava apenas a ser o libertador de Cuba, livrando-a da ditadura corrupta de Fulgêncio Batista, que fizera da ilha um centro de entretenimentos para turistas ricos interessados em prostituição, jogatina, canciones calientes, drogas… e discrição.

Crise dos mísseis: Cuba humilhada.

Os tão alardeados paredóns (as execuções de inimigos, durante a guerra de guerrilhas e depois da tomada do poder) inserem-se perfeitamente na tradição sanguinária das rebeliões latino-americanas.
Até então, Fidel pouco mais era do que um caudilho típico da região, o filho de latifundiários que abraça a causa dos pobres e se torna seu general. Chegou a declarar enfaticamente que não havia “comunismo nem marxismo em nossas idéias, só democracia representativa e justiça social”.
A hostilidade exacerbada dos EUA ao novo governo acabou jogando-o nos braços da URSS, pois só a outra potência mundial poderia dar-lhe alguma chance de sobrevivência face ao poderoso vizinho que lhe impunha um embargo comercial, apoiava invasões armadas e promovia atentados terroristas (vários planos mirabolantes da CIA para matar ou desmoralizar Castro fracassaram).

A contrapartida ao guarda-chuva protetor foi a completa submissão da ilha às imposições soviéticas, com a adoção do modelo stalinista de socialismo num só país: economia totalmente estatizada, autoritarismo político e submissão da classe trabalhadora à burocracia que a deveria, isto sim, representar.
Aparentemente, Castro ainda tentou escapar dessa armadilha, ao concordar com os planos de Che Guevara para levar a revolução à África e, principalmente, levantar a América do Sul.
Com a execução a sangue-frio do Che e o extermínio dos principais movimentos revolucionários latino-americanos, Fidel teve de se conformar com o isolamento em relação a seus vizinhos e a dependência de um aliado distante e arrogante.

Sucesso incontestável: o sistema de saúde cubano.

Ao monumental sapo engolido em 1962, quando Nikita Kruschev nem se deu ao trabalho de consultar Cuba antes de acertar com os EUA a desmontagem das bases de mísseis instaladas na ilha, seguiram-se outros, sempre indigestos e, ainda assim, digeridos.
Para compensar, Castro obtinha ajuda econômica que lhe permitiu oferecer condições de existência minimamente dignas para o conjunto da população, com destaque para as realizações marcantes em educação e saúde.
Se pessoas mais capazes e empreendedoras se ressentiam por estarem sendo impedidas de obter a condição diferenciada que seu potencial lhes asseguraria alhures, acabando por emigrar de um jeito ou de outro, é certo também que a grande maioria considerava sua situação melhor do que era antes.
Daí a gratidão e carinho que tributava a Fidel, apesar da falta de liberdade e da gestação de uma odiosa nomenklatura, reproduzindo a distorção soviética: onde todos deveriam ser iguais, a burocracia partidária e governamental concedia privilégios indevidos aos seus membros, tornando-os mais iguais.
APÓS O FIM DA URSS, A AGONIA LENTA – A situação, que começara a mudar com a Perestroika, tornou-se crítica após a derrubada do muro de Berlim e o fim do socialismo real no Leste europeu.

Cubanos fugindo de bote: a mídia ocidental adorava.

Ao deixar de ser sustentada pela União Soviética, que lhe injetava recursos e a utilizava como um cartão postal do (que ela pretendia ser o) comunismo, Cuba atravessou uma gravíssima crise econômica, até reaprender a andar por suas próprias pernas.
Daí as fugas da ilha com barcos improvisados terem chegado ao auge na década de 1980, para júbilo da mídia ocidental. Até o remake de Scarface (d. Brian De Palma, 1983) a incluiu, fazendo uma marota atualização do filme original (d. Howard Hawks, 1932).
O pior acabou passando, mas os tempos heroicos também. O povo cubano não era o mesmo que se orgulhava de haver reconquistado sua dignidade, com a ilha deixando de ser bordel dos estadunidenses. Tais lembranças haviam se tornado muito distantes. E a penúria, muito presente.
Então, o debilitamento da saúde de Fidel veio a calhar para que Raul Castro, governante menos carismático mas também menos identificado com excessos do passado, lançasse e fosse implementando sua abertura lenta, gradual e segura (o paralelo com a flexibilização do regime militar brasileiro sob Ernesto Geisel tem tudo a ver…), visando ir normalizando pouco a pouco suas relações econômicas com os países capitalistas.

Quanto a Fidel, acabou tendo seu destino atrelado à bipolarização do poder mundial, que, enquanto durou, permitiu-lhe inflar demais o balãozinho cubano. Mas os ventos mudaram e, no fim da linha, o esperava a agonia lenta.

Última aparição em público

Em circunstâncias quase sempre dificílimas, Castro fez o melhor que pôde por seu povo e seu país – não pelo marxismo ou pela revolução mundial, que nunca foram suas verdadeiras devoções.
Quando se puder avaliar seu papel sem exageros propagandísticos e tiroteios ideológicos, deverá ser reconhecida, sobretudo, sua vontade inquebrantável, que o fez ser reconhecido como um titã, apesar da ínfima importância geopolítica da nação que representava.

O século 20 finalmente terminou. E o atual, em termos de grandes personagens históricos, é um deserto.
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DALTON ROSADO A ERA FIDEL

“Condenem-me. Não importa. 

A história me absolverá.”

(Fidel Castro, ao ser julgado  

pelo assalto ao quartel 

de Moncada).

No mundo todo, os inconformados com a tirania do capitalismo (que mantém cerca de 80% da população mundial em situação de pobreza crônica) viram com esperança a primeira experiência marxista tradicional ser vitoriosa nas Américas, a partir da deposição revolucionária do corrupto e submisso títere dos Estados Unidos, Fulgêncio Batista, pelos guerrilheiros do Movimento 26 de Julho (1), comandados por Fidel Castro, em janeiro de 1959.

Após a definição ideológica do governo de Fidel, houve uma tentativa de invasão estadunidense da Baía das Porcos, por meio dos contrarrevolucionários cubanos e mercenários latinos que financiou e armou; foi bravamente rechaçada pelo povo cubano, que conseguiu vencer a farsa.
Os Estados Unidos não queriam passar recibo ao mundo de seu tradicional belicismo intervencionista, em ação num país que se revoltara contra o corrupto de carteirinha que lhes servia de aliado. Cuba era a ilha do turismo e da jogatina nos cassinos onde tudo terminava em corrupção, embalada pela maravilhosa salsa cubana, regada ao rum nacional e aos famosos charutos de fabricação local.
Tal ousadia às portas da Meca do capitalismo mundial quase desencadeou uma guerra nuclear, esquentando a guerra fria cujo contraponto era a União Soviética. A instalação de misseis soviéticos na ilha caribenha era uma resposta à instalação de mísseis estadunidenses na Turquia.
A tensão chegou a tal ponto que John Kennedy e Nikita Kruschev tiveram enorme dificuldade para evitar que os falcões de seus respectivos países iniciassem uma guerra nuclear cujos resultados seriam catastróficos para a humanidade.

A crise que abalou o mundo

Tudo terminou com um acordo de retirada dos mísseis de Cuba e da Turquia (2), mais o compromisso de não invasão da ilha, o que significou um enorme constrangimento para o poder imperialista, que daí em diante passou a utilizar embargos financeiros, atentados e medidas diplomáticas para o combate a Fidel e seu governo.

O que os marxistas tradicionais não sabiam (por desconhecerem o Marx crítico dele mesmo) é que o regime de Fidel era tão capitalista quanto o imperialismo dos EUA, que tanto julgavam combater.
Divergências havia apenas na forma política de organização do governo e na forma de extração de mais-valia, que, ao invés de ser feita por empresas privadas cubanas e estrangeiras, seria agora patrocinada (de patrão, mesmo!) pelo Estado dito comunista. Ignorava-se e ainda se ignora a mecânica autotélica da forma-valor que não permite distribuição equânime da riqueza abstrata.

O heroísmo do povo cubano é uma lição deixada para a posteridade sobre o que um povo imbuído de sentimentos superiores de emancipação é capaz de fazer. Este é o maior legado deixado por Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Raul Castro e tantos outros que lutaram e viram o sangue guerrilheiro jorrar em Sierra Maestra e nas ruas cubanas, enfrentando as barbaridades do exército regular para, ao final, derrotá-lo.

Não se podem negar os ganhos de povo cubano, que tem os melhores índices de IDH quando comparados com os demais países caribenhos, com os centro-americanos, os americanos do sul e o México. Não se podem negar a vitalidade e capacidade dos atletas (majoritariamente) negros de Cuba, a conquistarem tantas medalhas olímpicas; nem os ganhos de sua etnia completamente alfabetizada, num país em que seus ancestrais foram alvo da escravização direta.  Não há como se deixar de aclamar Cuba como o país do preto Doutor, entre outros ganhos sociais.

Aonde vai a Cuba de Raul ?

Mas há que se reconhecer o fato de ser uma economia de mercado, na qual todas as categorias capitalistas estão presentes (trabalho abstrato, dinheiro, mercadoria, mercado, capital, Estado, política, riqueza abstrata, enfim, tudo que se traduz na forma-valor), daí necessitar de uma inserção mercadológica; daí padecer também quando ocorre a debacle do capitalismo globalizado.
Aliás, suas agruras aumentam em função da maior vulnerabilidade, pois é apenas uma pequena ilha que sofre com os embargos econômicos que lhe são oficialmente impostos pelos Estados Unidos e é alvo do preconceito capitalista de muitos outros países.

As restrições à liberdade de opinião e de locomoção bem demonstram a fragilidade de um pequeno sistema capitalista de Estado que nunca abdicou da força e do arbítrio como formas de sustentação política contra o capitalismo liberal e que, em tempos de crise globalizada, tende a passar pelas dificuldades inerentes ao estágio do limite da capacidade de expansão aumentada da forma-valor, principalmente na periferia capitalista. Cuba socialista, que é uma das versões políticas do capitalismo, sofre as consequências da crise deste mesmo capitalismo do qual faz parte.

A superação das relações sociais capitalistas não pode ter sucesso num único país, ainda que tenha extensão continental, como é o caso do Brasil, da China, da Rússia, dos Estados Unidos, da Austrália, etc.; e muito menos numa pequena ilha, uma vez que a produção de bens e serviços indispensáveis a uma cômoda e sustentável vida social mundial depende da interação transnacional de produção a partir das riquezas naturais existentes de formas diferenciadas em cada país.
Muito do que temos aqui, certamente não haverá noutro lugar e vice-versa; somente com um sistema de trocas sem mensuração econômica poderemos satisfazer nossas necessidades de modo sustentável. Isto não significa, entretanto, que devamos abdicar das tentativas localizadas de vida fora do mercado como embrião do que virá.

“Resultados” não são aqueles com que Che sonhava…

Uma produção de bens e serviços que não se baseie em mercado, mas num sistema de cooperação transnacional para a satisfação de necessidades, implica um novo conceito de vida e, consequentemente, a existência de uma estatura humana superior, solidária, contributiva, que em tudo difere daquilo que a lógica capitalista nos impõe.

Conseguiremos alcançar tal estágio? Creio que sim, desde que amparados por conceitos teóricos que demonstrem o equívoco no que estamos incidindo; e que confronte a cruel realidade social (que cada vez mais se torna bárbara, por conta do anacronismo de uma forma de relação social que chegou ao seu ponto limite de saturação). A realidade se aproximando da teoria poderá gerar saídas antes inimagináveis (as tais janelas revolucionárias de que fala Celso Lungaretti).

Tenho divergências conceituais profundas com o marxismo-leninismo cultuado por Fidel, ainda que consiga identificar nele boas intenções, o que não me impede de constatar seus equívocos fundamentais. Daí divergir de muitos dos conceitos de Fidel expressos em sucessivas frases e discursos, dentre as quais pinçamos as que abaixo citamos sucintamente e comentamos:

a) “Pátria ou morte, venceremos!”, com a qual passou a terminar os seus discursos, repetindo uma antiga frase da luta de independência cubana à colonização espanhola, capitaneada por José Marti. O conceito de pátria diverge do universalismo marxista do qual Fidel se dizia defensor;

O slogan caducou; é da etapa das revoluções burguesas.

b) “Socialismo ou morte! Marxismo-leninismo ou morte!”, sem compreender que o politicismo e o socialismo marxista-leninista jamais romperam com as categorias capitalistas. Portanto, talvez sem o saber, Fidel fazia a apologia do capitalismo, ainda que sob a forma de capitalismo de Estado;

c) “Jamais me aposentarei da política, da revolução e das ideias que tenho. O poder é uma escravidão e eu sou seu escravo”. Esta frase é a que melhor explica as contradições conceituais e os equívocos de Fidel. Primeiramente a política enfeixa uma ideia conceitual sistêmica e de Estado que é contrarrevolucionária; em segundo lugar, quem pensa deve estar aberto às mudanças que o pensar proporciona, pois a inflexibilidade do pensar é a antítese do próprio pensar e, portanto, contrarrevolucionária; e por último, considero que todo poder é escravista e a escravidão é contrarrevolucionária. O despotismo escravista é a marca mais característica do poder.        

Fidel Castro é história pessoal e conceitual relevante, como personagem icônica do século XX, pelo exemplo que encerra. Estou convencido de que seus erros e acertos servirão para a compreensão do que se apresenta hoje em termos de futuro, principalmente quanto à natureza capitalista do regime socialista cubano e, consequentemente, sobre a necessidade de superarmos todas as categorias capitalistas que hoje, mais do que nunca, corroem a vida social. 

Requiescat in pace, Fidel, pois, apesar de tudo, como dizia Rui Barbosa, “maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado.” (por Dalton Rosado)

  1. nome alusivo ao fracassado assalto ao quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, primeira ação guerrilheira de Fidel Castro.
  2. a dos mísseis soviéticos de Cuba, ostensiva; a dos misseis estadunidenses da Turquia, discreta. Os EUA faziam questão de posar de vitoriosos para fins propagandísticos, enquanto os soviéticos não se importavam com as aparências.



Artigo de Celso Lungaretti: 'CONY DESEJA QUE DILMA E LULA SE F… RAUL E OBAMA JÁ ESTÃO NUS NA CAMA'

Celso Lungaretti – CONY DESEJOU QUE DILMA E LULA SE F… O TROCO FOI UM CHUTE NA VIRILHA

Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.

 

O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony se tornou nonagenário duas semanas atrás.

Como não sou preconceituoso nem grosseiro, descartarei o peso da idade como causa de sua coluna infeliz deste domingo de Páscoa. Apenas lembrarei que celebridades idosas tendem a superestimar a própria genialidade e, às vezes, exageram na dose. Sabem como é, apos passarem tanto tempo sendo bajulados, acabam por acreditar no confete que os áulicos derramam incessantemente sobre eles.

O pomo da discórdia são os parágrafos finais de seu texto tedioso-divagativo O felix culpa. Estes:

A Páscoa é o ponto mais alto do calendário cristão, de certo modo, é a continuação de uma das mais importantes festas do judaísmo, o Pessach, que o próprio Cristo comemorou pouco antes de ser traído e morrer no calvário.

Enquanto a Páscoa cristã celebra a ressurreição de seu fundador, o Pessach relembra a noite em que os judeus se libertaram do jugo egípcio.

É uma festa de liberdade em que um povo inteiro prefere passar 40 anos no deserto, mas se liberta do cativeiro.

Agnóstico por convicção, gosto de comemorar as duas páscoas. Evito o terrível cativeiro de me tornar refém de Dilma e Lula. Desejo que ambos se f…

achado não é tão novo assim. Lembrei-me logo da música “Zebedeu”, que Sérgio Ricado gravou em 1967, quase meio século atrás. Refere-se a um violeiro que canta suas desventuras para os transeuntes, mas acaba irritado por não lhe darem esmolas e, ademais, zombarem dele e dos filhos. Então arremata:

A risada dos presentes, pelo amor de Deus/ Traz o sono à minha gente, pelo Zebedeu/ Eu encerro a cantoria, pelo amor de Deus/ Mandando vocês à merda, pelo Zebedeu.

Achei que Dilma e Lula entraram de gaiatos nessa incomum crônica pascal. Não vi motivo para o Cony citá-los, muito menos de forma tão estridente.

Mas, como sempre faço nesses casos, repudio também os que dão chutes na virilha como troco, assassinando reputações na base do ouvir dizer.

Um daqueles jornalistas que defendem incondicionalmente o petismo correu a comparar a besteirinha atual com dois editoriais golpistas publicados pelo Correio da Manhã (RJ) ás vésperas da derrubada de João Goulart: o Basta e o Fora. Cometeu exagero similar ao que vituperou.

Para começar, editoriais são a voz do dono, ponto final. Pouco importa quem o coloque no papel, tal profissional está apenas expressando a posição do veículo que o emprega.

E tem mais: o rumor de que teria sido ele o escrevinhador de tais editoriais, difundido por Elio Gaspari, foi desmentido pelo próprio Cony, que assim relembrou o episódio:

Até hoje não se sabe quem escreveu o Basta e o Fora, atribuídos a Edmundo Moniz, que era o nosso redator-chefe. (…)

Na crise de 1964, os editoriais eram discutidos exaustivamente pela equipe liderada por Moniz e da qual faziam parte Otto Maria Carpeaux, Osvaldo Peralva e Newton Rodrigues, entre outros.

Eu estava recém-operado, no meu apartamento em Copacabana, e Edmundo Moniz, que ia me visitar todos os dias, telefonou-me para comunicar que Carpeaux desejava pisar forte, com um editorial virulento contra Jango. O próprio Carpeaux sugerira que Moniz me consultasse, uma vez que nós dois éramos afinados, tanto em política como em literatura.

Minha participação limitou-se a cortar um parágrafo e acrescentar uma pequena frase. Hora e meia mais tarde, Moniz telefonou-me outra vez, lendo o texto final que absorvia a colaboração dos editorialistas, e, embora o conteúdo fosse o piloto elaborado por Carpeaux, a linguagem traía o estilo espartano do próprio Moniz.

Quem respeita as boas práticas jornalísticas, nestas situações nunca omite que o acusado negou a acusação. O leitor que tire suas conclusões.

De resto, Cony tem muitos altos e baixos na sua trajetória. Eu mesmo já o critiquei duramente, mas sem cometer injustiças nem fazer-lhe imputações duvidosas. Neste artigo.

Mas, assim agi porque ele tinha atropelado um princípio fundamental para jornalistas e para revolucionários: a firme rejeição a toda e qualquer forma de censura.

Nunca escreveria com tanta indignação na defesa de políticos, ainda mais quando se trata de presidentes e ex-presidentes cujos governos não foram revolucionários.

Talvez eu seja um pouco antiquado, mas sempre esquivei-me de qualquer identificação com o poder e suas benesses. Pois concordo inteiramente com o Millôr Fernandes quanto a jornalismo ser oposição, o resto não passando de armazém de secos e molhados. E, se a independência significa tanto para um jornalista, ainda mais imprescindível é para um revolucionário.

Numa sociedade capitalista o poder realmente corrompe. Fede tanto quanto esgoto, carniça e petrolões.

A LOVE STORY ENTRE CUBA E EUA, SEGUNDO DALTON ROSADO: A FOME DO MOLOCH CAPITALISTA DESNUDA A FARSA POLÍTICA.

 
Por Dalton Rosado.

O convívio fraterno entre os povos deve ser uma condição de coexistência saudável. Neste sentido, a reaproximação de Cuba com os Estados Unidos poderia ser elogiável, se não derivasse de um interesse econômico negativo na sua essência constitutiva original.

Há sutilezas nessa reaproximação que denuncia uma identidade que por 57 anos (1959 a 2016) permaneceu oculta. Trata-se da base capitalista que, durante tal período, permeia as relações de produção nas duas nações.

Ambos os países, embora com orientações políticas diferenciadas no que diz respeito à forma de comando governamental e à propriedade dos meios de produção (empresas produtoras de mercadorias), mantêm uma identidade quanto à forma mercantil da produção; ou seja, ambos os países produzem mercadorias, subordinadas às regras de mercado, à forma-valor e à mediação pelo dinheiro, modo de produção que tem uma lógica própria, fetichista, egocêntrica, excludente e segregacionista, ainda que sejam politicamente diferentes (aspecto de menor monta).

Acaso o enrolador de folhas no tabaco cubano, que produz os seus inigualáveis charutos, recebe, após um dia de trabalho a quantidade de valor que ele produziu na empresa estatal? Evidentemente que não, pois, se isto ocorresse, não existiria o capital estatal comunista.

Acaso o operário estadunidense recebe o valor integral produzido após uma jornada diária de trabalho? Evidentemente que não, pois essa é a fonte da acumulação capitalista privada e de sustentação do Estado liberal capitalista.

É justamente a produção de valor, aliada à apropriação indevida desse valor, aquilo que faz a roda do capitalismo girar, seja ele estatal ou privado, e essa é a identidade capitalista entre Cuba e EUA, razão primeira das suas necessárias aproximações no plano comercial, guardadas as diferenças no plano político.

Não é por acaso que Barack Obama em seu discurso falou da importância do intercâmbio comercial entre os dois países e do incremento de atividades empresariais de pequeno porte, no que foi aplaudido por Raul Castro. É que ambos precisam urgentemente da reprodução do capital nesses tempos de desemprego estrutural mundo afora e de depressão econômica fruto do limite interno absoluto do capitalismo como forma de suas próprias sobrevivências políticas, embora isso seja negativo para o povo.

A fome do moloch capitalista desnuda a farsa política.

O autor, Dalton Rosado, é advogado, escritor e compositor. Foi secretário de Finanças de Fortaleza no governo de Maria Luíza Fontenele.

 

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