Artigo de Maria Dolores Tucunduva: 'Pensamento de Descartes'

Maria Dolores Tucunduva – Pensamento de Descartes

Maria Dolores Tucunduva: ‘Pensamento de Descartes’

No contexto histórico em que René Descartes viveu, foram observadas profundas mudanças nos contextos político, social e científico da época. A ideia de modernidade estava diretamente relacionada ao sentimento de mudança, através da valorização do indivíduo e a oposição à autoridade da fé.Durante a Idade Média, quase não houve questionamentos sobre as questões filosóficas feitas por leigos, já que a Igreja Católica tinha enorme influência sobre a sociedade e limitava a produção de conhecimento por aqueles que não pertenciam ao clero. Dessa maneira, a filosofia medieval era fortemente marcada pela religião.Contudo, as novas percepções trazidas com o desenvolvimento científico dos séculos XV e XVI, como os novos modelos astronômicos trazidos por Nicolau Copérnico e Galileu  Galilei, que contestavam a visão religiosa medieval de que a Terra era o centro do Sistema Solar, irão motivar uma nova forma de encarar o mundo.Dessa maneira, o pensamento cartesiano está fortemente baseado nesse novo modelo de se fazer ciência, a partir da busca do progresso e conhecimento. Assim, René Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno.Isso se deve ao fundamento de seu pensamento, baseado na “dúvida radical”: o filósofo parte do questionamento “Será que nossos sentidos não nos enganam sempre? O que garante que nossa existência não passe de um sonho?” para assim, chegar  a uma verdade sólida, incontestável. Contudo, deve-se levar em conta que Descartes não era um cético, mas sim, um racionalista que baseava sua filosofia a partir da razão.

Em sua obra Discurso do Método, Descartes afirma que o erro é resultado do mau uso da razão e por isso, seria necessário criar um método que evitasse esse erro, a partir de um procedimento que garantisse o sucesso do conhecimento, pautado por regras e princípios básicos.

Em Discurso do Método,  Descartes faz as seguintes considerações sobre seu método, enumerando as quatro regras básicas:

“Assim, em lugar desse grande número de preceitos que se compõe à lógica, julguei que me bastariam os quatro a seguir, desde que eu tomasse a firme resolução de jamais deixar de observá-los.

A primeira regra é a evidencia: jamais aceitar uma coisa como verdadeira que eu não soubesse ser evidentemente como tal.

A segunda, a regra da análise: dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas partes quantas possíveis e quantas necessárias para melhor resolvê-las;

A terceira, a regra da síntese: conduzir por ordem meus pensamentos, a começar pelos objetos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para galgar pouco a pouco, como que por graus, até o conhecimento dos mais complexos,.

E finalmente a quarta: fazer em toda parte enumerações tão complexas e revisões tão gerais que eu tivesse certeza de nada ter omitido”.

“Penso, Logo Existo”

A frase “Penso, logo existo” (em latim “Cogito ergo sum”) é uma das mais conhecidas expressões filosóficas. Entretanto, qual é seu significado? Trata-se da conclusão do “argumento do cogito”, em que o filósofo pretende encontrar um fundamento seguro para a construção do “edifício do conhecimento”.

Descartes procurava uma certeza que não pudesse ser contestada pelos céticos, através de um método seguro, reconstruindo seu conhecimento com uma base sólida, racional.

Para isso, é necessário colocar em questionamento tudo aquilo que parece ser uma verdade absoluta, já que, caso haja o menor motivo para a dúvida, toda e qualquer sentença deve ser rejeitada. Dessa forma, a dúvida torna-se um estimulo à certeza, à verdade.Descartes chegou a essa conclusão levando a dúvida “as suas últimas conseqüências”: ele afirma que não podemos confiar em nossos sentidos, já que não podemos saber se vivemos na realidade ou em um eterno sonho. O filósofo argumenta que poderíamos ter sido criados por um “gênio maligno”, que nos engana sobre a existência de todas as coisas.Contudo, Descartes afirmava que “por mais que eu seja enganado, ele jamais poderá  fazer com que eu não seja nada, enquanto eu pensar ser alguma coisa”. Ou seja, “eu penso, eu existo”, a verdade necessária do cogito. Assim, Descartes chegou a conclusão de que se ele estava pensando num certo momento, então sua existência era, naquele momento, certa e real.

As ideias

Desse jeito, Descartes mostrou que a mente é composta por ideias, que ter uma ideia é pensar sobre algo, ou seja, existir. O filósofo argumentava que “As idéias são em mim como quadros ou imagens”. Ele identificou três tipos de ideias:

-as idéias inatas, que não precisam de uma experiência anterior, mas se encontram na pessoa desde o momento de seu nascimento, como as idéias de infinito e perfeição;

-as idéias adventícias, que formamos a partir de nossa experiência e que dependem de nosso modo de sentir o mundo ao nosso redor sensível, podendo levar ao engano ou à dúvida (cada um sente de uma maneira diferente);

-e as idéias factícias, que formamos em nossa mente a partir dos elementos de nossa experiência, como por exemplo a idéia de seres fantásticos que aprendemos nas histórias.

O raciocínio cartesiano, com base nesses diferentes tipos de  ideias pode ser explicado a partir da concepção da existência de Deus, que funciona como a garantia do conhecimento do mundo.

O filósofo aponta que:

“Esse raciocínio parte do reconhecimento da idéia de Deus como um ser perfeito em minha mente, mostrando que essa idéia só pode acontecer porque eu sei que Deus é o símbolo da perfeição, já que não somos perfeitos. Isso, portanto, é uma idéia inata, colocada em mim por Deus, possuindo clareza e distinção, como uma ‘marca do artista’ impressa em sua obra”.

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