O que há para celebrar-se neste dia, senhor ministro? uma abominação?
Manda uma ordem-do-dia do ministro da Defesa recém-empossado para uma permanência mínima no cargo, pois o governo ao qual serve agoniza, que seja hoje (31) comemorado o aniversário da virada de mesa institucional responsável por 21 anos perdidos e por um festival de horrores que até hoje envergonha os brasileiros civilizados.
dia da mentiraaquicuervos que o totalitarismo criou.
sentinelasmemória não morresse – mas, pelo contrário, servisse de vacina contra novos surtos da infestação virulenta do despotismo.
genocídiocrime contra a humanidade, as discussões semânticas são um escárnio num momento destes!).
Mais de 100 mil conterrâneos já morreram de óbitos que poderiam ter sido evitados se o gerenciamento da pior crise sanitária de nossa História não estivesse entregue a um insano negacionista, sabotador dos esforços para a salvação de vidas.
E é incerto o número de mortes escamoteadas das estatísticas oficiais, a ponto de já terem sido desmascaradas tramoias para o ocultamento de cadáveres sob os tapetes burocráticos (quem nos garante que outras tramoias do mesmo tipo não tenham escapado à vigilância dos cidadãos decentes?).
Nessa efeméride negativa, o primeiro ponto a se destacar é que a quartelada de 1964 foi o coroamento de uma longa série de articulações e tentativas golpistas, nada tendo de espontânea nem sendo decorrente de situações conjunturais; estas foram apenas pretextos, não causa.
Há controvérsias sobre se a articulação da UDN com setores das Forças Armadas para derrubar o presidente Getúlio em 1954 desembocaria numa ditadura, caso o suicídio e a carta de Vargas não tivessem virado o jogo. Mas, é incontestável que a ultradireita vinha há muito tempo tentando usurpar o poder.
eminência pardado ditador Geisel.
Em fevereiro de 1956, duas semanas após a posse de JK, os militares já se insubordinavam contra o governo constitucional, na revolta de Jacareacanga.
Os oficiais da FAB repetiram a dose em outubro de 1959, com a também fracassada revolta de Aragarças.
E, em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, as Forças Armadas vetaram a posse do vice-presidente João Goulart e iniciaram, juntamente com os conspiradores civis, a constituição de um governo ilegítimo.
Mas, refugaram diante da resistência do governador Leonel Brizola (RS) e do apoio por ele recebido do comandante do III Exército, gerando a ameaça de uma guerra civil.
grupos dos 11 contragolpe preventivogolpe de Estado para usurpação do poder, meticulosamente tramado e executado com apoio dos EUA, como os documentos sigilosos que foram sendo revelados ao longo destes 57 anos comprovaram cabalmente..
Derrubou-se um governo democraticamente constituído, fechou-se o Congresso Nacional, cassaram-se mandatos legítimos, extinguiram-se entidades da sociedade civil, prenderam-se e barbarizaram-se cidadãos.
A esquerda só voltou para valer às ruas em 1968, mas as manifestações de massa foram respondidas com o uso cada vez mais brutal da força, por parte de instâncias da ditadura e dos efetivos paramilitares que atuavam sem freios de nenhuma espécie, promovendo atentados e intimidações.
Até que, com a edição do dantesco AI-5 (que fez do Legislativo e do Judiciário Poderes-fantoches do Executivo, suprimindo os mais elementares direitos dos cidadãos), em dezembro de 1968, a resistência pacífica se tornou inviável.
Foi quando a vanguarda armada, insignificante até então, ascendeu ao primeiro plano, acolhendo os militantes que antes se dedicavam aos movimentos de massa.
As organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no 1º semestre de 1969, mas já no 2º semestre as Forças Armadas começaram a levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais estadunidenses.
boom econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o apoio momentâneo da classe média.
Nos anos seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o extermínio premeditado dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados.
Casa da Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de suas vítimas, acrescentando às chacinas a ocultação de cadáveres.
milagre brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de investimentos estadunidenses em 1970, teve vida curta e em 1974 a maré já virou, ficando muitas contas para as gerações seguintes pagarem.
subversivo preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor em posse dos resistentes. Acostumaram-se a um padrão de vida muito superior ao que sua remuneração normal lhes proporcionaria.
Daí terem resistido encarniçadamente à disposição do ditador Geisel, de desmontar essa engrenagem de terrorismo de Estado, no momento em que ela se tornou desnecessária.
Mataram pessoas inofensivas como Vladimir Herzog, promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro, que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala) e chegaram a conspirar contra o próprio Geisel, que foi obrigado a destituir sucessivamente o comandante do II Exército e o ministro do Exército
Comissão Nacional da Verdade, pela prisão arbitrária de uns 50 mil brasileiros e pela tortura de, no mínimo, 20 mil cidadãos, afora ocorrências praticamente impossíveis de quantificar, como os abusos sexuais.
Há quem sustente consistentemente que outros 600 camponeses, sindicalistas, líderes rurais e religiosos, padres, advogados e ambientalistas tenham sido assassinados por motivos políticos nos grotões do país entre 1961 e 1988.
genocídio indígenaanos de chumbo.] É esta efeméride sinistra que sua ordem do dia manda ser comemorada nos quartéis, senhor general?
Isto me indigna tanto, como participante e vítimas desses acontecimentos –até hoje lesionado e até hoje inconformado com a morte de duas dezenas de estimados companheiros que entregaram a vida em nome da dignidade nacional!–, que evitarei dar-lhe uma resposta ditada por minhas emoções.
[Correria o risco de fornecer pretexto para uma intimidação como as muitas que têm sido perpetradas contra blogueiros e articulistas, lastreadas em lei que não passa de um repulsivo entulho autoritário.]
Pai, perdoai-o, pois ele não sabe o que faz!
.
(por Celso Lungaretti, jornalista, escritor e ex-preso político – a foto ao lado foi tirada no DOI-Codi/RJ em 1970, ainda na fase das torturas, durante os 75 dias de incomunicabilidade)
Celso Lungaretti: 'PARA AS NOVAS GERAÇÕES SABEREM COMO ERA VIVERMOS ESMAGADOS POR COTURNOS'
DOCUMENTÁRIO SOBRE A PRISÃO DE CAETANO VELOSO LEMBRA UM INFERNO PELO QUAL EU PASSEI 3 MESES DEPOIS
Marcado para 2 a 12 de setembro próximos, o 77º Festival de Veneza apresentará em sua mostra não-competitiva (ou seja, sem concorrer ao Leão de Ouro e demais prêmios da seleção oficial) o documentário brasileiro Narciso em Férias, sobre a prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil duas semanas após a assinatura do Ato Institucional nº 5 e os 54 dias em que permaneceram encarcerados na PE da Vila Militar (RJ).
Escrito e dirigido por Renato Terra e Ricardo Kalil, o filme é focado em Caetano, hoje com 77 anos. Mostra como ele e Gil foram mantidos em solitárias durante duas semanas e depois transferidos para celas.
Sobre a inferno da solitária, ele conta:
““.
Foi durante o cativeiro que ele viu as fotos inéditas do nosso planeta, tiradas do espaço e publicadas pela revista Manchete, que o inspiraram para compor Terra dez anos mais tarde.
E a lembrança das risadas da irmã mais nova lhe serviam de consolo, daí ter composto lá mesmo a pungente Irene.
Três meses depois foi a minha vez de passar por aquele quartel, talvez até na mesma solitária (eram três).
Afora comer no chão mesmo e sem talheres, havia também o buraco no chão como latrina, a falta de torneira ou chuveiro, o espaço ínfimo, o frio que fazia à noite (deixaram-me só com a cueca e sem coberta nenhuma), de forma que, mesmo sentando no chão e abraçando as pernas na tentativa de me esquentar, mal conseguia pregar o olho.
Irritava-me muito a jactância de um sargento, que fazia questão de repetir a toda hora que Caetano e Gil haviam chorado quando tiveram suas jubas raspadas a zero, ao passo que os militantes pelo menos mantinham uma compostura básica, na avaliação machista dele.
Não era esse o tipo de reconhecimento que eu queria do inimigo. E percebia muito bem que aquilo era demais para um civil, mesmo não tendo ele de passar pelas sessões de tortura a que nós éramos submetidos.
Governo totalitário transforma o que não era utopia em distopia
Os governos totalitários podem levar a um confronto social intenso
Mortes, depressões, submissões, luta, amor, dor e guerra, muita guerra. São diversos os cenários possíveis e transformam o que nem chegou a ser utopia em distopia. Dados alguns exemplos, como Alemanha de Hitler e Guerra Civil de Ruanda.
Muitos autores da literatura juvenil estão explorando a ficção distópica e é bem interessante ver como as ideias ficcionais são extremamente possíveis, por mais absurdo que sejam. E a jovem autora Ana Beatriz Brandão em seu livro Sob a Luz da Escuridão, publicado pela Verus Editora, apresenta esse universo em que as pessoas precisam lutar (e muito) pela própria sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico, onde a esperança está escassa e toda humanidade foi controlada por um homem ambicioso.
Entre a Luz da Escuridão é o segundo livro da prevista trilogia, que será lançado nesse ano na XIX Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Neste volume, a Ana Beatriz proporciona ao leitor, principalmente, relatos sobre modificações genéticas, ditadura de instituições burguesas e questões sociais relevantes que trazem a reflexão em relação a onde pode chegar um governo totalitário. São mudanças íntimas em pessoas que não escolheram isso.
As consequências são imprevistas e absurdas de uma pessoa que governa para um grupo específico e, além disso, veta leis e incentivos para toda uma população que não tem tantas condições. São medos diários, fome, frio, relento, entre outros problemas que podem atrasar uma nação inteira.
Diante do que está acontecendo com o mundo, a intenção da autora de apenas 19 anos, Ana Beatriz Brandão, é cuidado com quem você vota. Hoje pode ser o outro e amanhã pode ser você o marginalizado.
Sobre a autora: Com cinco anos já era uma ávida leitora, aos treze iniciava uma jornada cercada de magia junto aos seus personagens e atualmente, com dezoito anos, já publicou cinco livros e embarca na forte emoção de acompanhar o filme baseado em seus dois best-sellers, O Garoto do Cachecol Vermelho e A Garota das Sapatilhas Brancas. Targaryen, potterhead, narniana, semideusa e tributo, Ana Beatriz Brandão vive intensas aventuras todos os dias e celebra suas publicações, desde a mais recente obra Sob a Luz da Escuridão, até aquela que pela primeira vez cativou o público, Sombra de um Anjo. Não esquece as emoções vivenciadas em Caçadores de Almas que também tem um valor inestimável à jovem escritora. Seu maior sonho é poder continuar contando suas histórias para todos aqueles que, assim como ela, acreditam que os livros são a melhor forma de tocar o coração das pessoas e mudar suas vidas.
Celso Lungaretti: 'QUEM FAZ APOLOGIA DE DITADURAS DEVERIA RECEBER O MESMO TRATAMENTO DE QUEM NEGA O HOLOCAUSTO EM NAÇÕES CIVILIZADAS: A PRISÃO!'
CELSO LUNGARETTI: REDEMOCRATIZAÇÃO PELA METADE DÁ NISSO!
A meia centena de viúvas da ditadura grunhindo e zurrando no plenário do Congresso Nacional assustou o articulista Vladimir Safatle, professor de filosofia na USP, inspirando-lhe um alerta agourento: “Nada morreu, tudo pode retornar”.
Parece que as vitórias do Brexit e de Trump deixaram nossa intelligentsia à beira de um ataque de nervos, tendo pesadelos com Bolsonaro no papel de Hitler brasuca, prontinho para implantar o 3º reich (depois dos de Vargas e dos generais).
Há um tanto de exagero nesses receios, não só por se tratarem de épocas e crises diferentes, como também porque seria a repetição da História já nem mais como farsa, mas sim como chanchada da Atlântida…
Evidentemente, concordo com Safatle quanto à imperdoável omissão dos governantes brasileiros que deixaram de revogar a anistia de 1979, abrindo caminho para a apuração e punição dos crimes cometidos pelas forças repressivas durante a ditadura militar. Era algo a ser feito tão logo o País se redemocratizasse, mas a uns faltou convicção e a outros, coragem.
Collor, provavelmente, simpatizava com os pitbulls do arbítrio. Sarney, como governador e senador, servira repulsivamente ao regime de exceção que lhes retirou as focinheiras. Itamar Franco não era homem para comprar tal briga. Mas FHC, Lula e Dilma ficaram com suas biografias manchadas para sempre.
Quem teve de exilar-se e quem chegou a ser preso durante aquela ditadura jamais poderia sair pela tangente para evitar problemas, como os pusilânimes fazem; estava moralmente obrigado a defender os valores civilizados, custasse o que custasse!
FHC amarelou e, como prêmio de consolação para os humilhados e ofendidos, instituiu programas de concessão de reparações às famílias dos assassinados e aos sobreviventes do morticínio.
Lula se apavorou com uma nota oficial do Alto Comando do Exército (vide aqui) que não passava de blefe e, ao invés de destituir imediatamente os insubmissos, determinou a seus ministros que ficassem em cima do muro, nem sim nem não, muito pelo contrário, apontando aos que tinham sede de Justiça o caminho dos tribunais.
O Supremo Tribunal Federal tomou em 2010 uma das decisões mais infames de sua história (na contramão do entendimento sobre crimes contra a humanidade que vem se consolidando mundialmente desde o Julgamento de Nuremberg), ao outorgar a déspotas o direito de anistiarem a si próprios e aos seus esbirros com o arbítrio em plena vigência.
Dilma ignorou a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a necessidade de apuração integral da chacina do Araguaia e sobre a não-validade de autoanistias promulgadas por ditadores, montando, como alternativa meramente propagandística, uma comissão da verdade engana-trouxas.
Em meados de 2008 (vide aqui), percebendo que a falta de vontade política para se punir os algozes dos anos de chumbo inviabilizaria seu merecido encarceramento, eu já tentava convencer a esquerda e os cidadãos com espírito de Justiça a adotarem uma postura mais flexível: exigirem a condenação dos culpados, mas relevarem o cumprimento das penas, eliminando o ingrediente emocional que lhes poderia granjear alguma solidariedade na caserna.
Ou seja, como o Estado brasileiro demorara uma eternidade para fazer o que lhe competia e os réus, ou já haviam morrido, ou tendiam a falecer em breve, além de não representarem mais perigo para a sociedade, então que se concertasse alguma iniciativa no sentido da condenação inequívoca da ditadura de 1964/85, considerando criminosos os torturadores e seus mandantes, mas permitindo (sob pretextos humanitários, em funçao da idade avançada, etc.) que terminassem a vida fora das grades.
Propus, portanto, abdicarmos do que (saltava aos olhos!) jamais conseguiríamos mesmo obter, em troca do encerramento da questão em termos minimamente aceitáveis, legando um precedente jurídico correto para os pósteros.
Clamei no deserto, claro, porque no Brasil as bravatas que invariavelmente conduzem às derrotas tendem a prevalecer sobre a sensatez que permite salvar algo do incêndio.
E é graças aos erros por nós cometidos no passado que as atrocidades totalitárias voltaram a ser bandeira dos rancorosos anônimos. Como ressaltou Safatle:
“Esse é o preço pago pelo Brasil ser um país incapaz de encarar seu passado ditatorial, prender torturadores, exigir das forças armadas um mea-culpa pelo golpe contra a democracia, retirar o nome de membros da ditadura de suas praças e estradas, ensinar a seus jovens o desprezo por intervenções militares…
Não nos enganemos. Essas pessoas que estão a vociferar por mais um golpe de Estado não estão expressando uma opinião. Clamar por golpe militar não é uma opinião. É um crime, o pior de todos os crimes em uma democracia. Quem quer a causa quer os efeitos. Quem pede por golpe militar está a gritar por assassinato, tortura, ocultação de cadáver, censura, estupro, terrorismo de Estado.
Em qualquer democracia mais ou menos consolidada no mundo, o lugar dessas pessoas seria na cadeia, por sedição e incitação a crime“.
Veio, assim, ao encontro do que proponho desde a década passada: que apologias da ditadura passem a receber no Brasil o mesmo tratamento jurídico dado à negação do Holocausto nos países civilizados (talvez substituindo as penas de prisão por prestação de serviços à comunidade, pois as condições das penitenciárias daqui são tão terríveis que nelas correriam risco de vida, algo que nem mesmo os pregadores do ódio merecem).
O título é brincalhão, mas não incorreto. Os argentinos, que deverão sentenciar ainda nesta 6ª feira (27) 18 militares participantes da famigerada Operação Condor, realmente nos aplicaram sonora goleada em termos do tratamento que as nações civilizadas dão às atrocidades ditatoriais. E a presidente afastada ficará na História como a antiga torturada que desperdiçou uma grande e última chance de iniciar a punição dos torturadores no Brasil.
Segundo a ONU, um dos principais deveres dos países que se redemocratizam é apurarem e punirem os crimes praticados pelos agentes do Estado contra aqueles que resistiam ao arbítrio. Mas, não se poderia esperar tal atitude de um José Sarney, que atravessara o regime militar como um mero serviçal parlamentar dos tiranos fardados; de um Fernando Collor, que começou a carreira política nas hostes governistas e foi recompensado pela ditadura com sua nomeação para prefeito (biônico) de Maceió; de um Itamar Franco, que nunca se notabilizou por atos de coragem; ou de um FHC, contemporizador por natureza.
Do Lula esperávamos muito e obtivemos nada. Em 2007, quando do lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, um chocante levantamento de assassinatos cometidos pelos capangas da ditadura e apurados pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, o alto comando do Exército, passando por cima do ministro da Defesa Nelson Jobim, lançou uma nota oficial de repúdio à iniciativa.
Os ditadores Videla e Bignone no banco dos réus. Lá.
“Os crimes de desaparecimento forçado, de execução sumária extrajudicial e de tortura perpetrados sistematicamente pelo Estado para reprimir a Guerrilha do Araguaia são exemplos acabados de crime de lesa-humanidade. Como tal merecem tratamento diferenciado, isto é, seu julgamento não pode ser obstado pelo decurso do tempo, como a prescrição, ou por dispositivos normativos de anistia
Muito blablablá e nenhum torturador encarcerado. Aqui.
Se o Estado brasileiro aceitasse, relativamente às execuções no Araguaia, o que é praticamente uma obviedade no Direito Internacional –a de que leis de anistia não têm força legal para impedirem o julgamento de assassinatos e torturas perpetrados por ditaduras–, como poderia sustentar posição diferente com relação aos demais assassinatos e torturas cometidos pela repressão política do regime militar?
Lula, oportunisticamente, não tomou decisão nenhuma a este respeito no seu último mês de mandato, legando o abacaxi à Dilma. E esta mandou às urtigas a chance que teve de mandar apurar o banho de sangue no Araguaia não por iniciativa própria (o que provocaria muita grita da extrema-direita), mas cumprindo a determinação de um organismo internacional.
Ignorou olimpicamente tal sentença e, como contraponto propagandístico, criou uma Comissão da Verdade gorilas e respectivos paus mandados desde agosto de 2009 e já emitiu mais de 500 condenações à prisão. Agora, espetacularmente, vai punir militares argentinos responsáveis por operações conjuntas com as ditaduras do Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, no sentido de capturarem e/ou assassinarem militantes de esquerda no exílio.
Universindo Dias e Lilian Celiberti: sobreviventes.
Caso do nosso Joaquim Pires Cerveira, que sobreviveu ao inferno do DOI-Codi/RJ em 1970 (quando fui seu companheiro de cela), mas a ele retornou, para ser morto, no final de 1973, depois de ser capturado em Buenos Aires.
Em território nacional, o episódio mais famoso da Operação Condor foi o chamado sequestro dos uruguaios (o casal Universindo Dias/Lilian Celiberti e seus dois filhos menores) em novembro de 1978. A imprensa brasileira descobriu rapidamente o ocorrido e denunciou, sem, contudo, conseguir evitar que os quatro fossem despachados para o Uruguai. Mas, a repercussão internacional deve ter contribuído para que todos sobrevivessem.
Resumo da opereta: os argentinos se mostraram hombres e nós, poltrões, permitindo que o nosso país continuasse sendo o asilo dos torturadores reformados.
7×1? Pensando bem, está mais para 7×0…
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Se dizer as mais crassas asneiras sujeitasse presidente a impeachment, a Dilma estaria mais encalacrada ainda do que já está.
Como brasileiro, sinto imensa vergonha cada vez que ela recorre à demagogia barata, mero artifício propagandístico, de qualificar de golpe o que não passa de uma tentativa de afastar mandatário pela via constitucional. Isso é mentira cabeluda, Dilma! Isso é Goebbels sem tirar nem pôr! Presidente não se rebaixa a tanto, ou não serve para ser presidente, ponto final.
Agora, falando em nome da Dilma, a Advocacia Geral da União misturou soberania nacional com incontinência verbal e ingenuidade descomunal, ao sustentar que o pega na mentira divulgado pelo juiz Sérgio Moro teria colocado a Pátria em risco!!!
Menos, Dilma e AGU, muito menos! Ninguém vai invadir o Brasil só porque a presidente acrescentou a seu acachapante descrédito a ridicularia das paródias de filmes de espionagem…
Eis a aberração que mandaram ao STF, trazendo imediatamente à nossa lembrança o uso e abuso do clichê defesa da segurança nacional por parte da ditadura militar:
“…tomar a decisão de divulgar o conteúdo de conversas envolvendo a presidente da República coloca em risco a soberania nacional, em ofensa ao Estado democrático republicano…“
Pelo andar da carruagem, pouco falta para começarem a tratar o Moro como subversivo…
Se fosse o ministro do Supremo incumbido de apreciar tal besteirol, eu o fulminaria com apenas duas palavras: “Fala sério!”
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