Alta tensão

Eliéser Lucena: Poema ‘Alta tensão’

Eliéser Lucena
Eliéser Lucena
Silvana Lucena

Do alto da sacada parecia mentira

Energias se conectaram

Ninguém poderia saber

Entender? Melhor nem tentar

O corpo pede a alma implora

Aqui, agora é imortal

Mas nem tudo é perfeito

Tropeçamos em nós mesmos

Vítimas da nossa estupidez

Não se sabe quando é a hora

Só sentimos o impulso

Uma visão, um simples olhar

Um toque, uma centelha

O suficiente para um incêndio

Mas como pode?

Descendemos da mesma raiz

Não somos imunes ao que acontece

Apenas passageiros desatentos

Embarcamos ou não, a escolha é nossa

Ao escolhermos, um mundo deixa de existir

Outro começa a florescer

Caminho que pode ser sinuoso

Mas vale por si e pela viagem

Nota: Não acredito que exista um dia apenas para o reconhecimento de algo, alguém ou alguma coisa. É um trabalho árduo que deve ser feito todos os dias. Na verdade, acredito no resgate de nós mesmos, saindo de casulos imaginários, lugares onde somos imbatíveis. Hoje, um marco, uma data em que celebro mais um ano de casamento com a pessoa que escolhi e que, mesmo em momentos não tão bons, estava lá, um esteio de força e determinação… Silvana Lucena!

Bodas de Cerâmica ou Vime – 9 anos

Eliéser Lucena

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Horizontes aparentes

Eliéser Lucena: Poema ‘Horizontes aparentes’

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Eliéser Lucena
paisagem
https://pxhere.com/pt/photo/1522517 – Imagem gratuita

Olhando para a linha do horizonte

Percebo o quanto ele é longe, distante

E é sempre lá que queremos chegar

Nossos sonhos estão no limiar das nossas forças

Olhando para o Universo, desafio!

Ele tende a ser redondo, 360º

Por mais que caminhemos (cansaremos)

Chegaremos onde estamos, voltaremos ao início

A vida gira sempre em torno do que não temos

Buscamos o horizonte, uma obsessão

Sem atenção ao “onde estamos”

Como sempre sendo um lugar a ser melhorado

Assim o mundo anda e o tempo passa

Deixamos de viver aquilo que temos

Valorizamos o que não temos como sonhos

Desvalorizando nossas pequenas conquistas

O medo de um futuro que pode nem chegar

A negação dos pequenos dons que herdamos

Reações adversas ao que foi conquistado

Negações às dádivas diárias que recebemos

Algo que parece uma tendência

Correr atrás ao invés de andar na frente

Buscar objetivos distantes, remotos

Em detrimento ao palpável

Talvez assim se adquira aquela síndrome

De achar que o tempo se arrasta

Que não conseguimos nada sólido

Com uma leve pitada de fracasso

Mas e se pararmos e pensarmos um pouco?

O tempo de reverter o quadro não seria agora?

Recolocando a vida nos trilhos, simplificando

Vida longa, despretensiosa, despojada e feliz!

Eliéser Lucena

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O Homem do cobertor cinza

Eliéser Lucena: Crônica ‘O homem do cobertor cinza’

Foto do colunista Eliéser Lucena
Eliéser Lucena

E lá vem ele! Meio cambaleando, de vez em quando se equilibra. Não se sabe o motivo. Pode ser etílico, distúrbio ou padecimento, não se tem certeza. Certo mesmo é que ele estará lá, independentemente do dia, clima ou horário, é presença certa.

Causa repulsa em muitos pois está descalço, roupas rotas, fede, faltam alguns dentes, cabelos longos e barba desgrenhada. Magro e maltratado, dorme onde dá, debaixo de marquises ou paradas de ônibus, enfim, uma aparência realmente bizarra, medonha.

                Corre de um lado ao outro, conversa, faz discursos inflamados, mostra algo para alguém, discute e resolve problemas dos mais diversos, em um mundo paralelo com outra percepção ou fantasia mesmo, já que não se pode ver com quem nem os motivos que o levam a conversar sozinho.

                Muitos dizem ser desequilibrado, talvez algum tipo de patologia mental que o atinge de forma severa, talvez desilusão amorosa? Quem sabe não foi forjado assim com o tempo e hoje é apenas um reflexo de alguém que habitou aquele corpo? Um bom especialista poderia elucidar a questão.

                Há os que simplesmente ignoram, pensando se tratar de responsabilidade de algum órgão governamental, quem sabe alguma instituição religiosa (a mesma que traz a sopa). Alguns comparam com um animal a ser extirpado do convício das pessoas “normais” já que representa a sujeira a ser colocada debaixo do tapete. E diga-se: que não saia de lá.

                Mas todas as vezes que vejo o homem do cobertor cinza, muitas coisas permeiam a mente, com um olhar mais humanizado, uma vez que todos os outros olhares já foram lançados sobre aquela criatura decadente.

                Ora vejamos: é um ser humano, queiramos nós ou não. Nasceu, teve (ou tem) alguém por ele, uma família, uma mãe, um pai, irmãos, parentes, sei lá. É impossível alguém simplesmente brotar no mundo com aparentes 60 ou 70 anos, do nada e optar por viver em um mundo paralelo e pestilento.

                A partir daí começo a me perguntar quais fatores o levaram ao resultado que pode ser visto e, claro, os já citados voltam à mente. Álcool, drogas, erros de avaliações e/ou escolhas, quem sabe? Pode ser um ou todos eles. Difícil de avaliar.

                Olhando para os lados, no rumo de casa, ao atravessar a rua, temos templos religiosos de todas as vertentes. Será que até para eles o homem do cobertor cinza é invisível? Ou nem mesmo a misericórdia de Deus consegue alcançar alguém que de tanto cair, já nem tem mais identidade?

                Então vem o sentimento que nos permeia a existência, onde somos formados a reproduzirmos padrões, a acreditar em todas as certezas impostas. Somos todos seres humanos, todos irmãos e vindos da mesma raiz, ou seja, todos deveriam ao menos ter o mínimo de dignidade para sobreviver… será?

                E o pior de todos os sentimentos, o que me dá calafrios é a impotência de saber que não é o único, não será o último e, ainda assim, há uma fila para ocupar o seu lugar debaixo da marquise. Então como é que se resolve isso? Eu, infelizmente, não tenho a resposta, talvez não seja apenas uma.

                Mas uma coisa que tenho certeza é que todo mundo tem na sua rua, bairro ou cidade, um homem do cobertor cinza. Ele é praticamente uma entidade, uma presença constante, sem rosto, sem vontade e sem escolha, ele está lá, debaixo do tapete, mas à vista de todos. Ignorado como uma praga que não conseguimos nos livrar, portanto, tolerado.

                Parece que algumas percepções se perderam em um caminho de competição, onde a criação não importa, contanto que possamos crer em um criador que salve apenas a nós, os merecedores. E o que nos faz merecedores? Aí fica a cargo de cada um.

Eliéser Lucena

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