Pedro Novaes: 'Estressados'
Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘ESTRESSADOS’
Estamos, todos, estressados.
Foram anos e anos discutindo partidos, políticos, ideologias e gestões, embalados por redes sociais e noticiários escandalosos. Passeatas reuniram milhões.
Políticos presos, escândalos desvendados, delações inesperadas e o palco frequentado, como nunca, por procuradores, delegados, investigadores, juízes, ministros e advogados de renome.
O país foi virado ao avesso, e todos esperamos, a cada dia, a revelação de um desvio que não havíamos percebido, praticado por alguém de boa imagem. Um ser estranho assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, substituto eventual da presidente, e o suspense dominou, em ritmo de absoluta imprevisão.
Biografias foram diariamente demolidas, enquanto filmagens e gravações buscavam convencer incrédulos. Os que caíram persistiram jurando inocência, tal qual o Maníaco do Parque, condenado a séculos de pena.
Nas redes sociais, ministros do Supremo acordavam heróis e dormiam marginais, a cada sentença ou opinião. O terremoto cívico, inesperado, abalou as credibilidades, e acabamos só acreditando na imagem refletida no espelho.
O abalo foi tão intenso que chegamos a fingir que não notamos a tragédia síria, preocupados com a falta de água e o desemprego que ronda a vizinhança.
Parece que pouco importava os desvarios do governo norte-coreano e a tragédia da natureza, e um ou outro progresso da medicina, ainda que aplaudido, não seria capaz de atenuar nossa crise interna.
Estamos, ainda, estressados, partícipes de uma novela cujo final ainda não foi escrito. O país borbulha, famílias e amigos brigam, e toda informação parece mera militância.
Seguimos, todos, em trem descarrilhado, sem saber a que estação vamos chegar. A luta, titânica, segue em meio a pessoas poderosas, com poderes para legislar, sentenciar e até mesmo delinquir.
Somos, hoje, uma nação incrédula, um amontoado de ladrões e roubados, em plena crise social, econômica e ética. Em outros países, as crises geraram amadurecimento e firmaram cidadanias.
Talvez, de nossos destroços, nasçam instituições.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.