Fábio de Abreu Ávila: '200 anos de Imigração suíça para o Brasil – (1819 – 2019)'. CAPÍTULO V

Fábio Ávila

SEBASTIAN GACHET E AS PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS

Os Suíços perdem a cidadania e se tornam súditos de Portugal

Quando Gachet oficialmente foi recebido por D. João VI, ficou acertado que os colonos suíços deveriam ser católicos e viriam ao país para cultivar terras na região serrana do Rio de Janeiro. No contrato estava prevista a instalação da nova colônia agrícola em terras do governo português.

As famílias imigrantes receberiam uma porção de terra e teriam suas despesas de viagens para o Brasil pagas pelo governo imperial. Elas seriam ainda isentos do pagamento de impostos por um período de dez anos, assumiriam a nacionalidade portuguesa e jurariam fidelidade ao rei de Portugal. Poderiam inclusive pleitear a nacionalidade brasileira, mas apenas uma década após sua chegada, e também utilizar a mão-de-obra escrava da mesma maneira que os portugueses o faziam.

O pagamento das despesas com a viagem dos colonos e os depósitos, acrescidos de juros de 6% ao ano, referentes ao pagamento das despesas, estariam a cargo de dois estabelecimentos comerciais, em Marselha e em Anvers, na França, através do principal sócio de Nicolas Gachet, Louis Bremond.

Gachet era o responsável tanto pela agência de imigração como pela sociedade de colonização buscando, assim, nas duas pontas do negócio, auferir altos lucros.

O ACORDO OFICIAL, 11 DE MAIO DE 1818

No dia 11 de maio de 1818 foi firmado no Rio de Janeiro o acordo oficial entre a Corte Real Portuguesa e o Governo de Friburgo. A viagem de Gachet para o Brasil foi financiada por Jean Baptiste Bremond, novo Cônsul de Portugal na Suíça, tio milionário do sócio de Nicolas Gachet, Louis Bremond.

Gachet e o seu sócio, entretanto, desconsideraram os termos exatos do contrato assinado com o governo brasileiro e até exigiram mais dinheiro para o que chamavam de gastos imprevistos. Ambos viam a emigração para o Brasil como uma maneira de conseguir altos lucros, muitas vezes, descuidando totalmente do bem-estar dos suíços. Por outro lado, algumas pessoas que vieram ao Brasil eram vistas, em sua maioria, com maus olhos pela sociedade helvética, pois lá recebiam ajuda financeira do governo para sobreviver.

Waldir Freitas Oliveira em “A Saga dos Suíços no Brasil (1557 – 1945)”, diz: “não se podendo, contudo, em todo esse conjunto de emigrantes, esconder um certo  interesse por parte, principalmente, dos Cantões de Friburgo e Berna se aproveitaram da ocasião para livrarem-se dos Heimatlosen, aqueles que não gozavam desses cantões dos diretos dos burgueses e eram considerados apátridas, mas que recebiam de seus governos subvenções para o seu sustento, o que os tornava uma carga incomoda, da qual procuravam então libertar-se; e ainda não se haja apurada, com precisão, a proporção em que participaram os Heimatlosen dessa leva de imigrantes, tem-se a presunção de que foi significativo”.

Dom João VI, por Jean-Baptiste Debret, 1817

Contrato de Sebastian Nicolas Gachet. Fonte: Acervo digital Biblioteca Brasiliana

 

 

 

Jean Baptiste Bremond. Fonte: Wikipédia

Porto de Estavayer-le-Lac, no lago de Neuchâtel, cantão de Friburgo. Fonte: Blog Sumidoiro

 

 

 

 

 

Região Serrana do Rio de Janeiro, 1819. Fonte: Wikipédia

Partida dos Friburguenses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




Fabio Ávila: 'Brasil: Celeiro do Mundo?'

Fabio Ávila

Brasil: Celeiro do Mundo?

O Brasil tinha, há 130 anos atrás , sua população residente sobretudo na zona rural.

Em 1889, no dia 15 de novembro, Marechal Deodoro da Fonseca pôs fim ao longevo período de governo imperial de 49 anos sob o comando de Dom Pedro II.

Desde então, tivemos 33 Presidentes da República, militares e civis, e a Nação buscou o caminho da industrialização e da prestação de serviços ao julgarem que esta seria a vocação do País ainda considerado ”jovem” após ter sido “descoberto” pelos portugueses em 1500 e ter obtido sua independência somente em 1822.

Muitas águas rolaram e no país dos superlativos, como exemplo, a cidade de São Paulo que contava com cerca de 300.000 habitantes em 1900 , passou a abrigar mais de doze milhões de cidadãos em seu território. O País que contava com cerca de 14 milhões de seres humanos em sua superfície total no início do século XX, hoje contém mais de 200 milhões de indivíduos em suas 27 Unidades Federativas e seus 5570 municípios espalhados em 6 distintos ecossistemas constantemente agredidos pelas mãos do pretenso ”ser racional” do Planeta Terra.

Atualmente, no Brasil, temos capitais de grande porte e cidades interioranas maiores do que muitas importantes metrópoles do milenar continente europeu. A paulistana Sorocaba é maior do que a secular espanhola Sevilha.

Embora a produção agropecuária tenha evoluído no Brasil, ainda há uma boa parte da população desnutrida e milhares de famintos pelas ruas dos maiores centros urbanos do país.

O gargalo da falta de logística para ecoar a produção alimentícia conflita com o desvio de bilhões de reais ocorridos nas últimas décadas, sem que o país se beneficiasse de um esforço verdadeiro na criação de infraestrutura competente de transporte rodoviário, ferroviário ou fluvial.

Os desmandos, a falta de preparo dos governantes, e a falta de cultura dos cidadãos fazem com que o Brasil esteja perdendo a oportunidade de ser uma grande nação que teria como papel principal ser o celeiro da humanidade e, com certeza, um país exemplar do Cone Sul das Américas e de todo o Planeta.

Vale lembrar que poucos foram os mandatários que chegaram a acreditar em um Projeto de Nação para este país gigante e arrogante. Vivemos momentos cruciais, desde a Primeira República (1889-1930), a Era Vargas (1930-1945), o Hiato Democrático (1945-1964), a Ditadura Militar (1964-1985) e a frágil Redemocratização que estamos vivendo, a partir de 1985, porém estamos despreparados para atender as necessidades das regiões agrícolas para transportar a sua produção de alimentos para os brasileiros e os demais países consumidores, pelo mundo afora.

A população está dividida, porém senta-se à mesa no momento de suas refeições e usufrui do resultado da produção agrícola deste país. Não abre mão de seu arroz com feijão, de seu bife acebolado, de sua farinha de mandioca ou de seu suco de laranja sem ter a devida consciência da origem do que come. Não sabe que o mundo rural emprega verdadeiros apaixonados que destinam suas vidas para produzir alimentos seja para os próprios brasileiros, seja para outros consumidores do mundo terrestre.

Poucos têm noção da importância do setor primário na vida de cada um. A Agropecuária ”segurou” o Brasil durante o cambaleante ano de 2015 e permitiu dessa forma que a Nação não fosse à bancarrota naquele período.

Entre aqueles que registram o potencial da produção de alimentos no Brasil, cito o fotógrafo Silvestre Silva que publicou anteriormente o livro ”Flores do Alimento” e ”Frutas no Brasil”.

Disponibilizamos aqui o nome de algumas das frutas que estão presentes na obra do fotógrafo anteriormente por nós publicada, ”Frutas Brasil Frutas’: Açai, Pinhão, Caju, Camu-camu, Cupuaçu, Goiaba, Pindaíba, Cambuci, Jabuticaba-branca, Jambo-vermelho, Sapucaia, Mandacaru, Pitanga, Manga, Pitomba, Uvaia, Pequi, Maracujá…

Qual é a origem do Coco? De onde vem a Laranja? A Manga é uma fruta brasileira? Onde se cultiva Uva no Brasil?

As frutas nativas e aclimatadas nos permitem ter uma alimentação saudável desde que saibamos quando e como consumi-las. O Brasil já é um país respeitado pela produção frutífera em seu vasto território e fornece alimentos a muitos estômagos de humanos terrestres.




Fabio Ávila: 'Domínio de Chantilly, o 'crème de la crème'

Fabio Ávila

 Domínio de Chantilly, o ‘crème de la crème’

Na Idade Média surgiu o Domínio de Chantilly, que teve alguns proprietários até chegarmos aos dias de hoje. No século 16, Anne de Montmorency; no século 17, os Bourbon-Condé, cujo representante da dinastia foi o “Grand Condé”, primo de Louis XIV.

O castelo, no estilo renascentista, foi construído por iniciativa do herdeiro e, posteriormente , foi criado o magnífico jardim sob a inspiração, profissionalismo e competência do renomado artista-naturalista-jardineiro, o genial Le Nôtre.

O castelo foi então transformado em um local luxuoso, onde ocorriam festas culturais e gastronômicas .

O quinto filho do rei Louis-Philippe (último rei dos franceses), o Duque d’Aumale , reconstruiu o Grande Castelo (que havia sido pilhado e destruído durante a Revolução Francesa) e abrigou suas coleções de quadros, livros e móveis e, desta forma, realizou seu sonho ao embelezar e restaurar Chantilly.

O Duque d’Aumale não tinha herdeiro direto e doou todo o precioso acervo artístico e cultural do ” Domaine de Chantilly” ao Institut de France, em seu testamento de 1884, cinco anos antes da proclamação da república no Brasil.

O Duque d’Aumale exigiu, em seu testamento que, ao disponibilizar a sua extraordinária coleção, nenhuma obra poderia ser ser emprestada ou retirada do Castelo de Chantilly. Desta forma, o Castelo passou a receber visitas do grande público, o qual fica fascinado com este maravilhoso domínio em terras gaulesas.

Não deixe de visitar Chantilly. São apenas 35 minutos de trem de Paris.

– Que mais posso saber sobre Chantilly?

Certamente você já degustou morangos silvestres com um delicioso creme chantilly, não é mesmo?

Caso você seja um bom pesquisador, segue a dica para que saiba quem foram os homens que marcaram a história fabulosa do Domínio de Chantilly: Anne de Montmorency (1493-1567), Louis de Bourbon-Condé (1621-1686) , André Le Nôtre (1613-1700) – o maior e mais famoso jardineiro da França,  François Vatel (1631-1671) – suicidou-se ao notar que a matéria prima para o jantar que seria oferecido à Corte do rei Louis XIV não tinha chegado a tempo. Vatel era um renomado cozinheiro; o Príncipe de Bourbon-Condé (1692-1740) Louis Henri; o Príncipe Henri de Bourbon Condé (1756 – 1830), cujo filho foi executado por Napoleão Bonaparte e deixou assim todo o Domaine de Chantilly ao seu afilhado Henry d’Orleans, Duque d’Aumale, quinto filho do Rei Louis-Phillippe.

 




Fábio Ávila: ' Imerso no Labirinto Existencial: Cemitério Père Lachaise'

Fabio Ávila

 Imerso no Labirinto Existencial: Cemitério Père Lachaise

Destinado a substituir os cemitérios paroquiais insalubres de Paris, o parque funerário foi desenhado por A.T. Brongniart, em 1804, e é considerado o mais vasto espaço da Cidade Luz. Um dos principais locais de memórias do mundo, o Père Lachaise abriga 70.000 túmulos, o Muro dos Federados, Monumento dos Deportados e dos Combatentes.

O Parque foi precursor da evolução de práticas funerárias e abriga os primeiros crematórios (O “colombarium”, 1887 e o jardim ”cinéraire” francês, 1889). O cemitério, um espetacular e aprazível local, está aberto diariamente das 9 às 17 horas no período do inverno e das 8 e trinta às 18 horas na primavera e no verão.

“Tenham uma atitude decente e façam silêncio em respeito aos defuntos, seus parentes e demais visitantes …” dizem as placas na entrada do Parque Funerário. Imerso no labirinto de sensações, emoções, reflexões e pensamentos que nos remetem ao questionamento ou à incompreensão da nossa efêmera passagem pela vida terrestre, levo os olhos à longa lista de personagens, personalidades, e seres especiais que culminaram sua trajetória humana no solo do espetacular cemitério.

– Miguel Ángel Asturias, escritor, diplomata guatemalteco e Prêmio Nobel da Literatura (1899/1974);

– Honoré de Balzac, escritor francês (1799/1850);

– Maria Callas, cantora, cinzas depositadas no Mar Egeu (1929/1977);

– Jean-François Champolion, egiptólogo,decifrador dos hieróglifos (1790/1832);

– Frédéric Chopin, compositor , pianista polonês (1810/1849);

– Eugène Delacroix, pintor (1798/1863),

– Condessa Elisabeth Strogonoff Demidoff (1779/1818);

– Isadora Duncan, dançarina e coreógrafa americana (1877/1927);

– Annie Girardot , atriz francesa (1931/2011);

– Georges Eugène Haussmann, Prefeito do Sena, dirigiu as grandes transformações de Paris durante o Segundo Império (1809/1891);

– Heloise e Abélarf,  casal legendário que morreu cada qual em um convento (1079/1142);

– Allan Kardec , pedagogo, fundador da filosofia espírita (1804/1869);

– Ahmet Kaya, cantor turco, ídolo dos curdos (1956/2000);

– Jean de La Fontaine, escritor renomado francês (1621/1695);

– René Lalique, mestre da arte em vidro, joalheiro (1860/1945);

– Ted Lapidus, costureiro francês (1929/2008);

– Amadeo Modigliani , pintor italiano (1884/1920);

– Jean-Baptiste Molière, autor dramático , comedista (1622/1673);

– Yves Montand, ator, cantor francês (1921/1991);

– Georges Moustaki, cantor e ator (1934/2013);

– Imre Nagy, político, herói da insurreição húngara (1896/ 1958);

– Victor Noir, jornalista assassinado por Pedro Bonaparte (1848/1870);

– Marcel Proust , escritor francês (1871/1912);

– Barão James de Rothschild, banqueiro, político;

– Oscar Wilde, escritor irlandês (1854/1900)…                

Se você for curioso o bastante , buscará informações sobre estes humanos terráqueos e ficará fascinado com essas múltiplas e intensas vidas. Vidas de gênios , criadores , amantes da arte, da literatura, da cultura e do fazer acontecer…

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Fabio Ávila: 'Paris na linha do tempo'

Fabio Ávila em Paris

O colunista do ROL em Paris



Às pressas me locomovi até o aeroporto internacional de São Paulo. O cansaço, resultado do grande numero de viagens incessantes pelo território brasileiro não permitiu-me gozar daquele precioso momento de uma retirada momentânea do quotidiano, interessante porém massacrante,que me propiciaria buscas de novos horizontes para o meu universo editorial e cultural.

O voo, tranquilo pela noite adentro e rumo ao Velho Mundo, levou-me ao fantástico aeroporto Charles de Gaulle-Roissy onde, tranquilamente e ainda sonolento, aguardei a chegada da mala, sem alça, que não suportou o peso dos livros em seu interior.

Ao perceber que a conexão por internet, wi-fi gratuito, disponibilizada no aeroporto me permitiria dialogar virtualmente com meu filho, resolvi então degustar meu primeiro café expresso em território gaulês.

Tomei a seguir o ônibus que me conduziria ao coração de Paris, junto ao espetacular Théatre National de l’Opéra.

Tudo fluiu tranquilamente e em meu labirinto sentimental senti o reencontro com a Cidade Luz, ponto de referencia em minha formação intelectual e humana.

Ao chegar meu filho, seguimos para o bairro onde eu encontraria o charmoso local onde me hospedaria por um mês.

O simpático proprietário do charmoso apartamento  deu-me dicas de como usufruir das facilidades e dos encantos daquele bairro nobre da capital francesa. Estaria então mergulhando no labirinto de minha existência quando, com apenas 19 anos de idade , adentrei a alma parisiense. Isso ocorreu em 1973, há 46 anos …

Após ter as chaves do apartamento e liberar-me do peso das bagagens, fui festejar, em um simpático café-bar tipicamente parisiense, o reencontro tão esperado com meu único filho e melhor amigo .Brindamos assim o reencontro, “les retrouvailles”…

Ao seguir meu filho para sua casa, senti a sensação estimulante e profunda de encontrar-me novamente na mais excêntrica, exótica, misteriosa e fantástica capital do planeta Terra. Terra de pensadores, de amantes da cultura…Terra de inspiração do genial escritor português Eça de Queiroz, de Émile Zola, de Honoré de Balzac ou de Hemingway que, entre tantos outros amantes da vida e da cultura, se tornaram imortais através de suas obras que transitam na busca da percepção da complexidade da essência humana.

 

 

 




Fábio Ávila: 'Igarapava. Porta de entrada'

Fabio Ávila

Convite aos leitores do ROL

Encontro-me novamente em Uberaba após uma viagem noturna, partindo de São Paulo e desembarque em Igarapava

Neste município paulista, cidade quase fronteira com Minas Gerais, desenvolvi o sonho de recuperação da antiga estação rodoviária que foi inaugurada nos anos 70 pelo então governador Orestes Quércia.

Em breve teremos, certamente, um oferecimento cultural à população local e aos brasileiros como um todo.

Buscaremos, também, os paulistanos e viajantes de todo o país para que, a partir de Igarapava, sigam rumo a Uberaba e ao Sítio Arqueológico de Peirópolis.

Desta vez envio imagens, pouco texto, e convido os leitores do Jornal Cultural ROL para mergulhar nos dados referentes aos atrativos turísticos existentes neste região que engloba uma pequena parte das duas unidades federativas do sudeste: São Paulo e Minas Gerais.

Fábio de Brito Avila
fabioavilaartes@gmail.com



Fábio Ávila: 'Brás, um Distrito de São Paulo'

Fabio Ávila

Brás, um Distrito de São Paulo

Na esquina das ruas Santa Rosa e Eurípedes encontro, finalmente, um pequeno bar que prima pela limpeza do recinto em um dos mais sujos, imundos, históricos e mutilados bairros do território paulistano. Estou no dinâmico e comercial Bairro do Brás, em plena Sexta-Feira Santa, e sigo atento as fachadas e anúncios das atividades de negócio aqui existentes: ”Casa do Mel, Empório Diamante, Bela Cerealista Fit, Empório Natural Foods…”

Algumas edificações estão sendo restauradas e seus proprietários buscam salvaguardar as fachadas com semblantes arquitetônicos de antanho.

Passo a sonhar, vislumbro e projeto em minha mente o Brás totalmente revitalizado. Restaurado e recuperado, para que possa ser o futuro Soho Paulista, bairro outrora abandonado, esquecido e deteriorado da rica e pulsante Metrópole Americana, Nova Iorque.

Tenho o privilégio de estar só. Literalmente solitário. Isolado de todos e onipresente na consciência de estar vivendo um momento onde a sensação de pertença é eficaz e total.

Estou no Distrito do Brás, vejo e percebo os passantes, transeuntes imersos em seus pensamentos, afazeres e ansiedades do dia-a-dia. Passa o catador de latas de alumínio desanimado e carregando o saco pesado repleto de sua preciosa mercadoria a ser reciclada.

Passa o catador de papel puxando penosamente a carroça repleta de jornais, de caixas de papelão e de matéria nobre para o reuso. Passa a prostituta com um olhar dengoso e ávida à busca de seus clientes…

Na pequena mesa vermelha de plástico, do outro lado da rua, trabalhadores jogam baralho e os gritos eufóricos anunciam a felicidade espontânea daquele momento de descontração. São risos e gargalhadas do grupo de marmanjos desocupados em um dia de feriado.  Sentados na carroceria de uma antiga caminhonete, quatro jovens fumam cigarro e sorvem a cerveja gelada adquirida no bar de esquina onde me encontro.

Presto atenção aos detalhes das sarjetas recém pintadas, dos postes de cimento raramente tesos a 90 graus e a fiação desordenada que transporta a energia, a tecnologia, a telefonia e outras opções por onde passam as informações através da comunicação neste século 21.

Passa, neste efêmero e sublime momento, o tempo. Passam os carrinhos de fruta e seus vendedores. Passa a vida…

Pois o tempo realmente passa e deixa seus rastros, seus testemunhos, manifestações humanas, artísticas;  expressão de uma época, de uma mentalidade de cultura que impregnava hábitos, costumes e crenças em momentos da trajetória da cidade de São Paulo.

Sigo caminhado e em meu trajeto encontro a Florêncio de Abreu, certamente a mais bela via pública da Capital Paulista. Os casarões, nem todos restaurados, constituem o charme da rua que representa dignamente a São Paulo de final do século 19,  início do Século 20.

A alguns passos, encontro o Mosteiro de São Bento, um espetacular exemplo de espaço de culto cristão e católico que transmite paz a quem busca refúgio na espiritualidade, na religião, na crença, ou simplesmente ao estar dentro de um templo onde impera visualmente a arte sacra.

Converso com o porteiro, ser discreto e educado que não tem informações suficientes para saber do privilégio que tem de estar neste raro templo ainda preservado da Capital Paulista.

 

Fábio Ávila